sexta-feira, 12 de março de 2010

O meu exemplo

Por quase toda a minha vida (até agora, obviamente) meu pai foi um dos meus maiores problemas. Foi um dos motivos de eu me sentir péssimo, me cobrar além das minhas forças e me achar um perfeito inútil. Algumas coisas eu fui entender muito tempo depois, mas naquele momento, era algo terrível.

Meu pai sempre foi o tipo do homem extremamente perfeccionista. Ele não aceitava um simples “bom”, tinha que ser perfeito. E isso se estendia a absolutamente tudo. Ele deve ter sido a cara que eu mais vi trabalhar na vida. Eu cheguei a algumas vezes a pensar que ele nunca tinha sono. Trabalhava de segunda à sexta em empresas, e de finais de semana dando aulas de para quedismo. Tanto que eu pouco o via.

Mas quando o via, ele me cobrava, e muito. Ele me cobrava seu perfeccionismo. Queria que eu estudasse muito, que eu fosse organizado e limpo em casa, que eu me relacionasse somente com boas pessoas, que eu estudasse ou fosse morar no exterior, etc. A maior parte das vezes, eu sentia uma pressão impressionante, e praticamente enlouqueci quando era adolescente.

Como dá pra perceber, ele era o extremo oposto da minha mãe (tem certas coisas na vida que agente não consegue entender de jeito nenhum). Os dois nunca se deram, mesmo que raramente brigassem. Meu pai também se sentia muito mal em casa. Provavelmente era um inferno tão grande para ele quanto era para mim. Por isso, ele nunca estava em casa. Acho que da pra dizer que era bastante ausente. E quando estava, vivia de mau humor. Eu particularmente me sentia ainda pior quando ele estava, por causa daquele humor ácido.

E em determinado momento as coisas ficaram tão ruins, que tivemos uma imensa briga. Foi logo depois que cometi aquela extrema besteira, e acho que ele pirou um pouco naquele momento. Acho que quase todos teriam pirado no lugar dele. Ele começou a ter medo que eu visse meus amigos, queria me prender em casa. Imagina um cara como eu, se alguém pode segurar... rs

Eu saí de casa, e fiquei uns seis meses sem falar com ele. Fiquei com muita raiva por aquele extremismo, mas segui a minha vida. Até ele me procurar no meu aniversário e tudo ficar bem de novo. E daí pra frente senti as coisas diferentes. Acho que ele era um outro homem daquele momento em diante. Minha avó sempre me dizia que ele era um cara amoroso, dócil, amigável e alegre, até se casar com a minha mãe. Pelo jeito, a separação trouxe a vida de volta para ele.

Ele se tornou de tal forma uma pessoa agradável daí em diante, que consegui lembrar de todas as boas coisas que ele havia me ensinado ao longo da minha vida. Ser um cara estudioso foi algo que me ajudou bastante na minha vida. Cumprir meus compromissos, tratar muito bem as pessoas, ser agradável, simpático, na maior parte das vezes bastante humilde. Tratar a todos de maneira igual, não importando de onde eles vêm. Tratar muito bem as mulheres, sendo cavalheiro sempre que possível. E até mesmo, ser perfeccionista.

É lógico que com o tempo, me apossei do que achava mais correto, modificando o que acho que atrapalha demais na vida. Por exemplo, sou levemente perfeccionista, mas também, quando acho que está bom, e não vale mais a pena ficar me matando, fico feliz com o que tenho em mãos. Mas, mesmo assim, acho que a maior parte do meu caráter se deve a este homem.

Fico imensamente feliz por ele ter sido recompensado na vida com uma ótima mulher, com quem se casou de novo, de ter uma boa vida, num lugar tranqüilo, como sempre quis. E até mesmo fico feliz com todos os conflitos extremos que tivemos ao longo de muito tempo, com toda a raiva que eu passei por alguns maus julgamentos da parte dele, assim como por todos os conselhos (às vezes horas ininterruptas de conselhos) e broncas, pois foi isto que me fez ser o que eu sou hoje.

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