quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

PELO MENOS TIRAMOS O PT

 

Em 2009 eu comprei, conjuntamente com minha namorada na época, que viria a se tornar minha esposa, meu primeiro apartamento. Na época pagamos o total de R$90 mil, com uma entrada pequena e parcelas que variavam em torno de R$660,00 após a entrega. Em 2011 o primeiro carro, um Celta, 2004, pagando R$15 mil.

Nessa mesma época tínhamos uma vida social possível, de vez em quando viajando, comendo fora, etc. Eu era professor da rede estadual e ganhava um salário baixo. Ela também funcionária pública ganhava pouco a mais que eu. Mas eu sei que eu não era o único que tinha uma vida relativamente confortável. Boa parte das pessoas conseguiu comprar imóvel com projetos sociais. A indústria automobilística explodiu, vendendo horrores, fazendo com que o número de veículos superasse o de pessoas.

Em determinado momento do governo petista, que durou de 2003 a 2016, encerrando por um golpe parlamentar, a grande maioria das pessoas tinha um excelente poder de compra. O país fora tirado do mapa da fome. Foram gerados muitos empregos, chegando num dos menores níveis de desemprego da história. O Brasil passou a ser credor do FMI, chegamos à sexta maior economia do mundo.

Eu não sei em que planeta as pessoas estiveram esse tempo todo, se estiveram em universo paralelo, mas os avanços conseguidos através do governo petista são inegáveis. E basta procurar dados, em todo tipo de reportagem, índices históricos, registros oficiais. E realmente, existe o mérito do governo anterior, do FHC. O que o PT fez foi dar continuidade ao que estava indo bem, e corrigir o que não estava, como todo governante deve fazer. Até porque FHC foi uma continuação do governo Itamar, e algumas coisas do governo Collor.

Mas isso não quer dizer que devamos fechar os olhos para os erros petistas, como muitos querem fazer. Houveram muitos. Especialmente no governo Dilma. Existem muitos escândalos de corrupção, alguns provados. Não é o maior escândalo de corrupção da história, como muitos dizem, mas é muito grande mesmo. Na última divulgação era o quarto partido como maior número de políticos presos, perdendo pra PP, PSDB e DEM. O que realmente é algo sério.

O partido se recusa a assumir os seus erros, o que é inexplicável, uma vez que todo mundo comete. E a oposição feita ao atual desgoverno é vergonhosa. O PT espera apenas o circo pegar fogo pra tentar voltar como salvador da pátria, enquanto tudo vai indo ladeira abaixo. Isso não é o que se espera de uma oposição de verdade.

Mas os ganhos são inegáveis, como citado. O PT não quebrou o país. O índice de desemprego deixado em seu final não foi o maior da história como muitos dizem. No governo FHC era maior. A taxa de juros era menor do que no governo anterior, e o país ainda era uma economia maior. Como informei, não era o partido com maior caso de corrupção. Os citados tinham mais casos. E muita gente tinha ascendido à classe média.

Atualmente tivemos o congelamento de investimento em serviços básicos, inclusive educação. Perda de direitos trabalhistas, perda de direitos previdenciários, ameaça de perda de direitos civis, administrativos, liberação do direito de matar da polícia. O desemprego explodiu, o poder de compra afundou, e a imagem do país no exterior simplesmente desapareceu. O desmatamento, que já era alto, agora virou uma política de Estado. Tudo, absolutamente tudo, piorou. E com muitos casos de corrupção, como sempre foi.

Ninguém saiu às ruas para protestar contra a corrupção pos-PT, nem pela piora do nível de vida. Nunca foi pela corrupção. Citando mais uma vez Jessé Sousa, o que existe é um preconceito enraizado no brasileiro, onde não se pode ver pessoas de classes inferiores melhorarem de vida. Igualdade social basicamente é algo combatido.

A vida dos brasileiros piorou absurdamente em apenas quatro anos. Mas pelo menos tiraram o PT.

SOCIEDADE DESTRUÍDA

 

Você já teve o desprazer de estar em casa, num sábado à noite, super cansado, precisando dormir, e um filho da puta maldito ligar aquela merda de som estourado de carro no último volume, fazendo tremer o bairro todo, e acabar com qualquer possibilidade de você ter sua boa noite de sono no único dia possível? Se você está vivendo no Brasil, certamente passou por isso. E sabe que pra esse tipo de coisa a polícia é completamente inútil, pois não faz absolutamente nada para quem precisa descansar.

Eu não tenho nada contra festas. Já participei de várias. Mais ainda de shows, que eu amo e sinto falta nessa pandemia. Mas estamos vivendo em uma sociedade, um grupo de pessoas. E dentro desse grupo há regras que fazem com que as pessoas precisam respeitar para conseguir viver harmonicamente.

Eu não vou relatar aqui problemas sociais gravíssimos que temos, em geral pautados na extrema desigualdade social e de renda que existe nesse país, assim como a péssima educação oferecida em praticamente todas as instituições de ensino (recomendo muitíssimo o livro “A Elite do Atraso”, de Jessé Sousa, pra aprimorar alguns conceitos). Mas a vida social requer limitações.

Eu amo sexo, de verdade. E hoje, com minha namorada, ainda mais. Eu acho que todas as pessoas deveriam transar muito, para serem felizes. Mas você já imaginou chegar um casal (ou várias pessoas) numa praça, e começarem a transar? Ou de repente no meio do seu escritório, no lugar de trabalho? E por que você não faz isso? Simples: existe uma convenção social, onde pra viver dentro dessa sociedade de forma harmônica, convencionou-se que você tem relações sexuais no seu ambiente privado, e em geral, sem espalhar a notícia pra niinguém.

Então por que eu tenho que aguentar um bosta ligando o som dele, numa música que no geral eu odeio, no meio da madrugada? Ou em qualquer horário do dia! Eu tenho direito ao meu sossego, e ter minha privacidade dentro da minha casa, ouvir as músicas que eu gosto, ver os filmes que eu gosto, ou deixar tudo desligado, ler alguma coisa, sem ser atrapalhado, ou sem atrapalhar nenhuma outra pessoa.

Viver em sociedade é isso. Você abre mão de fazer aquilo que lhe dá na telha porque algumas coisas interferem no direito do outro. Ao mesmo tempo que tem alguns direitos básicos respeitados, e não interfere na vida do outro. Isso tem muito a ver com empatia, e respeito aos direitos e necessidades alheias

Mas aqui isso está cada vez mais fora de sintonia. Temos uma porrada de fiscais de cu, pessoas que estão preocupadas com o que fazem homossexuais, e o que pensam. Pessoas que querem impor alguma maldita religião aos outros. Chegamos ao ponto de termos pessoas agredindo outras porque têm uma visão política diferente.

A mais notória fase dessa incapacidade de viver em sociedade é esse movimento retardado anti-vacina. As pessoas decidiram, sabe-se lá como, que as vacinas fazem mal às pessoas. As mesmas pessoas que usam celular, fazem compras online e usam Google acham que a vacina chinesa vai colocar um chip nas pessoas e rastrear cada movimento (eu até acho que essas pessoas precisam de camisa de força, e realmente, não de vacina). Mas não se incomodam em espalhar doenças pra todo mundo, só pra não se vacinarem. E quando o STF, num acerto total, determina que as pessoas são obrigadas a se vacinarem, se querem fazer parte dessa sociedade, começam a falar que é uma violência, igual a um estupro, fere a liberdade individual… um show de horrores!

Se você não está inserido nessa sociedade, e acredita que seus direitos individuais são muito mais importantes que o coletivo, a melhor coisa que você pode fazer pra si e para os outros é se isolar. Vai pra uma fazenda no meio do mato, uma ilha deserta, um local de difícil acesso no meio das montanhas. Lá você vai poder viver da forma que achar melhor, sem ter que prestar contas. Mas enquanto estiver em sociedade, aja a contento. Não seja mais imbecil.

LINCHAMENTO PÚBLICO

 

Essa semana ouvi uma notícia que me fez refletir sobre uma grande ferida que ficou na minha vida.

Alguns anos atrás uma pessoa tentou de todas as formas possíveis, numa briga, provocá-la para que eu a agredisse. Inclusive dando pequenos “tapinhas” no meu rosto pra ver se me tirava do sério (e quem já passou por isso sabe o nível de ódio extremíssimo que isso causa). Foi um dos dias que eu fiquei mais nervoso na minha vida. E eu percebi que apesar de ter um gênio muito forte eu sou um cara pacífico, porque minha vontade realmente era de ter matado na porrada.

O simples fato de eu ter segurado o punho dessa pessoa e a afastado, com um “sai de perto de mim” foi o suficiente para ter acusação de agressão (se ela soubesse qual era o meu real desejo naquele momento, ia chamar isso de carinho). E isso me causou um problema imenso.

Aconteceram coisas correlatas a essa no seguir dos dias que me fizeram inclusive querer ajuizar uma ação contra essa pessoa, e alguns amigos estúpidos dela. No dia já tinha procurado uma delegacia de polícia para relatar o ocorrido. E eu só fui convencido a não judicializar o problema graças à minha excelente advogada, que me mostrou o que poderia gerar de sofrimento para inocentes próximos, bem como meu pai, que me acalmou bastante ao longo dos dias.

Mas ambos sofreram bem pra me tirar essa ideia da cabeça. E até hoje eu tenho dúvidas se eu tomei a melhor solução. Eu realmente acho que eu deveria ter ajuizado a ação. Uma das coisas que eu mais me importo na vida é com caráter e honestidade. Minha namorada foi conquistada pelo meu caráter, assim como já recebi diversos elogios por isso, de várias pessoas ao longo da minha vida. Eu não aceito que tenham me colocado essa situação.

Além disso foram envolvidas diversas mentiras posteriormente. Algumas envolvendo pessoas que eu amo. E isso me trouxe consequências. Muita gente virou a cara pra mim, do dia pra noite, sem nunca ouvir minha versão. Pessoas que até então eu gostava muito. Essa situação me causou uma imensa e irremediável mágoa, além de uma revolta que perdura até hoje. Pessoas que eu considerava amigos tomaram alguns depoimentos e se voltaram contra mim. Não tiveram sequer a vergonha na cara de investigar os fatos.

Eu fui atrás de todas as pessoas que colocaram fogo na situação. Arrumei algumas brigas e xinguei alguns até a última geração. Uma dessas brigas está registrada em whats app, e já prometi que será mostrado ao meu filho quando ele tiver idade suficiente para entender, porque eu faço questão dele saber quem são essas pessoas e o que fizeram com o pai dele.

Recebi também um pedido de desculpas da pessoa que fez a merda. Mas eu nunca senti sinceridade. E mesmo que tivesse sentido, nunca vi uma mudança de comportamento que justificasse o arrependimento. Bem como quando você leva uma dessas se abre uma ferida que eu acho que nunca mais se cura. O que aconteceu naquele dia eu lembro, como se fosse hoje, segundo por segundo. E isso não tem mais volta. Uma atitude impensada, com raiva, que poderia ter gerado ainda mais prejuízos. Eu poderia ter sido agredido por pessoas que acreditaram nessa merda, poderia ter sido prejudicado profissionalmente, poderia ter sido preso. Seria até que fácil provar a inocência, como foi. Mas a merda estaria feita, como realmente está. E em nenhum momento se pensou nos danos emocionais que são causados com isso.

E eu vejo isso, todos os dias. As pessoas olham manchetes de jornal, e julgam. Qualquer fato, narrado, especialmente com sensacionalismo, vira um linchamento público imediato. As pessoas nem sabem o que realmente ocorreu e já tomam partido. Viram acusadores, juízes e carrascos. Destroem vidas pelo que escutam. Lembram do caso da mulher que foi linchada e morta por ter sido confundida com uma pedófila, e no fim era inocente? Ela deixou filhas, e o que foi feito a ela, e à família dela, jamais poderá ser reparado. Tudo por um ato impensado de alguns idiotas.

Existem instituições específicas pra fazer justiça. Algumas investigam, outras acusam, outras defendem, e outras julgam. Elas estão legalmente constituídas dessa incumbência. E toda e qualquer punição seguirá os trâmites. Se a lei está errada, muito frouxa, ou não é corretamente aplicada, deve-se cobrar as autoridades competentes, com vontade, para que as cumpram. Votar em pessoas que busquem essa aplicação. Justiça com as próprias mãos é o ápice da barbárie, e um prato cheio para fazer merda, matar pessoas inocentes (o que o torna também um assassinato), ou destruir a vida de alguém que não tem qualquer relação com o ato criminoso.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

UM BRINDE À VIDA

 

Eu não sei se em virtude da nossa realidade, se existem fatores sociais, a mídia digital, a velocidade… de repente tudo, mas nunca ouvi falar tanto sobre suicídio quanto agora. Além de ouvir vários relatos de pessoas que tiraram a própria vida, ainda ouvi algumas tentativas e pessoas que têm esse interesse. E parece que o tema traz um tabu imenso, porque poucas pessoas falam abertamente sobre isso.

Esse assunto deve ser abordado, como qualquer outro. E é algo que me sinto incrivelmente confortável em conversar. Quem me conhece mais intimamente sabe, mas eu passei por isso. Exatamente dia 30 de novembro de 2004. Eu posso dizer que sou uma pessoa que já atentei contra a minha vida. Já vivi a sensação da vida não fazer sentido e não querer mais saber dessa merda toda. E hoje, quinze anos depois, posso dizer que é algo que não vale a pena.

Existem momentos merda na vida. Todo mundo passa por isso. E se não passou, vai passar. Perder uma pessoa que amamos muito, ter uma infância difícil, viver um relacionamento abusivo, ter problemas profissionais… se for pra relatar os problemas que a vida impõe eu teria que fazer uma planilha gigante. Não tem como escapar disso. Mas tem como mudar o modo como as coisas são vistas.

Geralmente os momentos ruins não são pequenas brisas que passam e derrubam os guarda napos na mesa. São tornados em graus mais elevados que arrasam toda a cidade. Quando você está no meio, tem certeza que vai morrer. Quando vê os resultados, parece que não tem mais como arrumar aquela merda toda. Mas tem sim.

Depois da minha incrível estupidez na vida, eu vivi momentos muito ruins. Apesar de ter feito isso em 2004 considero o ano de 2018 o mais desastroso e esquecível da minha existência. Se eu pudesse passar uma borracha nesse pesadelo maldito, eu faria sem pensar duas vezes. É bem verdade que foi o ano que meu filho nasceu, mas ainda assim foi uma das coisas mais malditas que eu já vivi. Nunca tantas coisas deram errado em sequência. Eu considero que tive uma involução pessoal que tento arrumar até hoje (já chegando muito próximo de colocar a casa em ordem). Mas a diferença é que eu não vejo mais as coisas como acontecia naquele momento. Hoje eu sei que momentos vêm e vão. Alguns são muito ruins, outros muito bons. Mas tudo passa.

Hoje eu me sinto realmente incrivelmente bem. Apesar do ano ruim pra todos que foi 2020, eu posso dizer que tirei o ano pra filosofar muito. Me entender, entender o que eu quero da minha vida. Conheci a Adriana, que está entre as pessoas mais incríveis que conheci na vida, de uma forma absolutamente impensável (um grupo de gatos no Instagran), e há seis meses tenho o relacionamento mais espetacular que já vivi, e que nunca imaginei ser possível. Daquelas coisas tão perfeitas que parecem que tem uma pegadinha escondida (calma, brincadeira esse final. É só perfeito). Tenho três gatos maravilhosos e carinhosos, um filho lindo e incrivelmente engraçado, e moro sozinho, que é algo que sempre desejei. Como qualquer um, tenho muitos problemas, e esse ano eles estiveram presentes. Mas acho que o tornado já virou uma tempestade de verão, com o sol raiando a cada manhã.

Eu sei que existem pessoas com a doença da depressão. Algo que faz com que você simplesmente não consiga ver nada além da tristeza. Mas sério, se você está vendo essa realidade que estamos vivendo, pessoas altamente individualistas, desumanas e cheias de ódio, e não tem algum dos milhares de problemas emocionais da modernidade, você não entendeu nada. Não tem como sair ileso.

Então, se você tem isso, você faz parte do mundo. E não há nada de errado em tratar isso, pra tentar uma vida equilibrada. Não que os momentos de tristeza vão sumir, mas pelo menos você vai viver mais emoções ao longo da sua vida. E a partir do momento que você conseguir enxergar as coisas de uma forma mais ampla, com várias possibilidades, e sabendo que você está vivendo apenas um dos milhares de momentos da sua vida, você vai conseguir superar tudo.

Fora o fato que você vive em uma comunidade. Você tem pai, mãe, irmãos (ou pode ter vivido com eles um dia, e eles já partiram). Mas sempre há um bom grupo de pessoas que nos amam muito. Algumas pessoas simplesmente não conseguem demonstrar, mas sentem isso. Então um ato impensado e idiota como esse pode levar pro buraco uma cadeia imensa de pessoas, que você nem pensava. Imagina o que é ter que superar uma pessoa amada tirando a própria vida.

O sol sempre vai voltar a brilhar pela manhã. Pode ser que essa manhã demore uma semana, pode ser que seja um pouco mais demorada. Pode ser que você esteja vivendo o inverno nórdico, que dura seis meses. Mas ele acaba. E tudo vai ter uma nova cor. Você tem que fazer sua parte, sem dúvida, mas a vida muda, o tempo todo. E sempre há um excelente motivo pra seguir. E você vai encontrar motivos pra sorrir, mais cedo ou mais tarde.