domingo, 31 de janeiro de 2010

Promoção e deturpação

Tenho pensado demais na nova lei sancionada pelo nosso governador, que institui um projeto de promoção para professores da rede estadual. Segundo tal projeto, os professores farão uma prova, e um número que atingirá ATÉ os 20% melhores classificados nesta prova, terão um aumento de 25% em seu salário. Cada professor prestará esta prova, a cada três anos, se obedecer algumas regras, como poucas faltas, permanecer na mesma escola, etc.

Pra começar isto não é promoção coisa nenhuma. É quase um sistema de premiação por um desempenho em um determinado momento. Não se leva em consideração o histórico profissional do professor, nem sua capacidade, nada. Apenas um pedaço de papel, e sua estabilidade emocional em um determinado momento. O mais curioso nisso tudo é que temos uma enxurrada de pensadores, incluindo os oficiais dos nossos governos, em suas publicações institucionais, que nos condenam por pensarmos nas avaliações tradicionais, como provas, onde são simplesmente atribuídas notas para alunos, num critério classificatório. Então, deixa ver se eu entendi: nós não podemos fazer isso com eles, mas o governo pode fazer isso conosco.... interessante.

Mas um dos pontos que acho que seja provavelmente o mais grave, é a questão da quantidade de beneficiados por este plano. Teremos, dos cerca de 230.000 profissionais da área, um limite máximo de 20% beneficiados, ou seja, menos de 60.000. Isso se este número atingir a nota determinada pelo governo. Teremos então, cerca de 170.000 profissionais que estarão marginalizados do processo, continuando a ganhar muito mal. Isso gerará uma enorme divisão na categoria, obviamente pelo salário, e pela própria situação profissional, sabendo que cada um ganha uma quantidade diferente para exercer a mesma função, num processo que pode ser bastante questionado.

Mais estranho ainda é que o nosso ilustre governador não respeita a data-base, que apenas iria possibilitar a reposição com as perdas da inflação, o que geraria, anualmente, um reajuste bem baixo, para todos, não para uma parte, que tiver uma boa nota numa prova.

Os professores, em sua imensa maioria, se sentirão ainda mais desvalorizados, num sentimento de inferioridade extrema. Os problemas permanecerão os mesmos, e o salário da imensa maioria continuará muito defasado. Ou seja, esta lei vem criar mais um grande problema no meio deste mar que temos na nossa educação.

E para piorar, boa parte da mídia apóia esta aberração, com alguns jornais expressando em seus editoriais, como um ponto a ser enaltecido por nosso governador. Não percebem, ou não querem perceber, que é uma distorção imensa, que irá rachar em definitivo a carreira, irá afastar ainda mais profissionais da educação e contribuir para um imenso e desnecessário clima de competição. Então, só podemos pensar em duas hipóteses para justificar tal apoio: ou os jornalistas defensores desta proposta são completamente ignorantes quando comentam sobre educação, ou são totalmente mal intencionados.

Quanto ao nosso governador, não restam muitas dúvidas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A queda e o fim... – parte 2

Sou um confesso apreciador de vinhos. Tinto suave, gelado, bem docinho. Se puder acompanhar um espaguete com bastante molho bolognesa, melhor ainda. Meia taça deste vinho, e eu fico feliz. Mais meia taça, e eu fico meio tonto, e perco até a vontade de beber.

Saborear uma boa bebida, é algo muito bom. Existem bebidas muito boas espalhadas por todos os lugares. Mas, será que você perder o controle sobre sua vida por causa delas, vale a pena? Você beber até perder o juízo é algo não muito normal.

Começando por jovens, que gostam de “beber pra caralho”, ficando completamente doidos. Isso dá coragem, os faz diferentes, fazendo tudo aquilo que sóbrios jamais fariam.

Depois, isso passa a ser um hábito. Todo final de semana, encher a cara. Daí pode-se estender por mais alguns dias, até se tornarem todos. No fim, você já nem sabe mais quando está sóbrio, quando está bêbado. Sempre vai ficar agressivo, descontando a irá provocada pela bebida nos outros. Ou vai ficar chorando o tempo todo. Fedendo à álcool. Passará alguns dias sem tomar banho. Você vai deixar os seus filhos de lado (e em algum momento, eles não vão agüentar mais, e não vão mais querer saber de você). Você vai deixar a sua casa um nojo. Vai abandonar a sua vida.

Em pouco tempo, a bebida será a sustentadora de todas as suas frustrações. Será o porto seguro que fará você esquecer os seus problemas, mesmo que eles estejam sempre ali, para você enfrentar.

Em pouco tempo, você não será nada, exceto um morto vivo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A queda e o fim... – parte 1

Vinte e quatro horas por dia com uma máquina de oxigênio para poder respirar. Dezenove medicamentos, incluindo alguns para cortarem o efeito devastador de outros que agiriam no estômago. É o que vi acontecer com meu avô, por causa do cigarro. Ele sempre foi um daqueles caras meio “armário”, grande, forte, com uma voz impositiva. E, depois de doze anos consumido por um enfisema, terminou seus dias precisando de ajuda para tudo, extremamente magro, com olhar morto e com várias paradas respiratórias.

A cena de vê-lo daquele jeito jamais sairá da minha mente. É bem verdade que eu sempre tive muitos problemas de relacionamento com a parte da família a qual ele pertencia, mas nunca desejei nada de mau a ninguém, especialmente meus familiares. Mas, é de cortar o coração você ver alguém terminar seus dias assim. Uma morte que durou doze anos.

Graças a isso, eu tenho um ódio por cigarro, que não pode ser explicado em palavras. O efeito devastador que esta porcaria pode causar na vida de uma família, não pode ser descrito em palavras. É uma morte mental, lenta, dolorosa, torturante. E não há cura.

Eu costumo ser aquele cara chato, que fica enchendo o saco das pessoas fumantes ao meu redor. Via de regra eles me xingam, dão risada, dizem que vão falar. Na verdade, eu geralmente falo em tom de brincadeira, para não parecer mais chato do que eu sei que já sou, pois cada um tem direito de se matar da maneira que quiser, uma vez que são donos das próprias vidas. Mas talvez, se soubessem um pouquinho do mal que irão sofrer quando o tempo chegar, e mais, se soubessem o que farão com que seus filhos e irmãos passem, toda a dor que irão causar às suas famílias, creio que não fariam metade do que estão fazendo.

Logicamente, todos morreremos um dia. Poderemos ter o azar de contrairmos uma doença grave e incurável, como um câncer ou até AIDS, ninguém está livre disso. Mas, daí a fazer com que uma doença devastadora venha até nós por livre e espontânea vontade, é um pouquinho demais. Ao contrário do que dizem, creio que estas pessoas não fazem a menor idéia daquilo que fazem a si mesmas, e aos outros.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Perdendo a inocência

Ao longo da minha vida, sempre fui aquele cara certinho, que estudava muito, fazia tudo em casa, procurava agir sempre de maneira correta, nunca me envolvi com drogas, raramente bebia, sempre respeitei as mulheres, etc.

Quando resolvi cursar a faculdade, estudei feito doido por dois anos para entrar em uma grande universidade. Não consegui por pouco as duas vezes, e para não perder mais tempo, resolvi entrar numa paga. Ali, continuei estudando bastante, e praticando, sempre que tinha tempo. Comprei livros, fiz estágios. Meu pai gastou R$30.000,00 comigo ao longo da minha carreira estudantil (dado que surgiu numa grande briga de família, mas eu vou começar a usar como brincadeira).

Aí, eu, no auge do meu idealismo, passei num concurso público, para ser professor de arte do Estado. Tinha mil planos em mente. Queria mudar a vida de muita gente. Em pouco mais de três meses, meus sonhos tinham ido pelo ralo, e hoje, um ano e meio depois, estou doido para mudar de ares.

Tanto estudo, tanto investimento, e você encontra uma realidade completamente contrária. Temos um governo, que guia o nosso estado, há quase vinte anos, que “revolucionou” a educação, e instituiu a “empurração continuada”, atrocidade que defende até hoje. Arrochou os salários, deixou as escolas às moscas. Como resultado, a qualidade de ensino caiu cada vez mais, e com o passar do tempo, este mesmo governo, ao longo de seus representantes, foi colocando a culpa nos professores, como se estes não tivessem qualidade para exercerem a profissão. Pois é, 230 mil profissionais, que passaram em concursos bastante concorridos, que não sabem trabalhar.

Depois, a opinião pública, completamente despolitizada, que acredita em tudo que este governo joga. Acredita que somos maus profissionais. Acredita que estamos fazendo de tudo para não trabalharmos. E faz com que seus filhos pensem assim. E seus filhos, entram na escola prontos para explodirem o prédio. Destroem carteiras, luminárias. Gritam em sala de aula, não param de falar um minuto, dão de ombros quando você tenta explicar...

Aí, você, professor. Você prepara aulas, estuda, estuda, estuda, e quando entra em sala, ninguém dá ouvidos para o que você fala. Para cobrir a voz de quarenta falando ao mesmo tempo, você tem que se esgoelar, e com isso, acabar com suas cordas vocais. Mas, mesmo assim, não dá. Quarenta contra um só com uma caixa de som. Então você, enfurecido por não conseguir fazer o seu trabalho, começa a dar bronca nos alunos, e os manda calarem a boca. Então, ele gentilmente te manda receber no seu orifício anal, ou manda que alguém te use sexualmente, ou mostra que sua mãe na verdade é uma mulher da vida.

Provavelmente, você irá esmorecer com isso, pelo choque do momento. Mas, tem uns que são teimosos, e querem fazer o trabalho direito de qualquer jeito. Então batem boca, mandam para a direção, que não pode fazer muita coisa a não ser uma suspensãozinha, pra o traste voltar depois de uns três dias. Novamente, você vai bater boca com o camarada, mas desta vez, ele, irritado por ser contrariado, vai te dar um soco na cara. Ou, uma cadeirada. Ou vai ameaçar te matar na rua, riscar o seu carro, te seguir, chamar uma turma pra te pegar. Se você der sorte, ele vai ser expulso por isso. Mas vai levar seus sistema nervoso junto. Dali pra frente, você ficará doente com facilidade.

Mas não se preocupe, você vai continuar trabalhando, pois este ótimo governo te permite faltar pra ir ao médico apenas seis vezes ao ano. Não, não estamos na Inglaterra no século XVIII, nem na China ditatorial, nem no Iraque. Estamos em São Paulo, e não temos direito de ficarmos doentes.

No fim, só temos que trabalhar, não importa o quanto estejamos. Não teremos qualquer material para realizarmos uma aula de qualidade, nem um ambiente propício para darmos uma aula de qualidade. Teremos que lidar com pessoas que têm uma quantidade tão grandes de problemas, e uma perspectiva de vida tão reduzida, que fica quase impossível mostrar que ainda há esperança, pois quando seu pai é traficante, sua mãe prostituta, e os dois ainda deram uma grande sorte de estarem vivos, e fora da cadeia, creio que a vida não deva ser lá muito boa...

Ainda recebemos, de vez em quando, um material dizendo o que temos de passar para os alunos. Em geral, o material é simplista, e mostra um conteúdo longe da realidade. Os alunos fumam maconha ao redor da escola, enquanto a polícia está longe. Se falarmos alguma coisa, seremos ameaçados, assim como nossas famílias. Os pais, quando não estão no caminho errado, simplesmente não conseguem criar os filhos, e sofrem tanto, que não conseguem passar qualquer perspectiva para seus filhos.

E no fim, você fica tão desanimado com a sua impotência perante o sistema, que perde o tesão de trabalhar, e faz o serviço de qualquer jeito, ainda ouvindo que você tem culpa, que se o aluno não aprende a culpa é só sua, e que você não é um bom profissional. Até filmes mostrando professores que conseguiram “superar” o problema, abrindo mão do casamento, da família, e arrumando mais empregos para custearem materiais para os alunos nós temos que agüentar.

E cada dia mais, eu penso que ainda sou muito novo, e que poderia fazer qualquer outra coisa, onde me sentisse muito mais realizado. Mesmo sabendo o quanto eu amo arte (minha disciplina), o quanto amo falar sobre isso, e o quanto amo ensinar sobre arte, acho que tenho mais frustração em me sentir um inútil, do que propriamente o amor que tenho em lecionar. Para qualquer homem, a sensação de impotência é a pior que pode existir.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Você e mais ninguém

Eu ainda vou morrer do coração. Acho que é uma das poucas certezas que eu tenho na vida. Fico louco, enfurecido, perco o controle, toda vez que vejo um maldito desgraçado passar o sinal vermelho com seu carro. Me dá vontade de matar o cara que entra com tudo numa curva, fazendo com que as pessoas rebolem para escapar do seu “ataque”. Da mesma forma, é de matar quem entra com tudo na frente de outros carros, quase, ou provocando um acidente. O cara que fuma em lugar fechado, para todo mundo compartilhar aquela porcaria assassina. O desgraçado que entra no ônibus com um som ligado no último volume, tornando inviável ouvir até quem está conversando com você ao seu lado. O cara que entra numa sala gritando, sem pedir licença. Pessoas que deixam seus cachorros latindo a noite toda, fazendo com que a vizinhança toda não durma. E mais um monte de coisas, que mostram o profunda desrespeito que as pessoas têm umas com as outras.

Esse maldito “jeitinho” brasileiro de ser, fazendo com que as pessoas se atropele, sejam extremamente v, pensem em si mesmas, única e exclusivamente. Pra ajudar alguém, só quando esta pessoas está morrendo, quando ajudam.

A falta de respeito é algo que vai na contra-mão de uma vida em sociedade. Como pode ocorrer tal coisa? Como você age sem se preocupar com o pode causar com as pessoas ao seu redor? Você atrapalha a vida de um semelhante, e é problema dele? Então cada um tem que se defender com um revólver na mão?

A única maneira de fazer mudar tal quadro, é com educação. E a educação...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ailurófilo assumido

Eu confesso, sou um apaixonado incondicional por gatos. Desde pequeno. E já tenho consciência que este é um vício sem cura. E mesmo que tivesse uma, eu jamais iria querer que algum imbecil viesse me curar,

E ao longo destes meus míseros 28 anos de vida, ouvi um incontável número de vezes pessoas que jamais tiveram qualquer gato na vida dizerem que o gato é traiçoeiro, interesseiro, que ele não gosta das pessoas, só se apega ao lugar, e mais um caminhão de bobagens. A maior parte dessas pessoas gosta de cachorro, que é muito mais fácil de lidar. Nada contra os cãezinhos, mas, convenhamos, com um cachorro, você olhar pra ele, o bicho já quase se urina de tanta felicidade.

A diferença básica, é que o gato deve ser conquistado. Não adianta você querer estalar o dedo e esperar que o bichinho venha até você, todo feliz, achando que você é a pessoa mais importante do mundo. O gato só vai gostar de você, se você mostrar que merece que ele sinta isso por você. E como isto acontece? Primeiramente, você tem que gostar do gato.

Tive, ao longo da minha vida, quatro gatos. O primeiro deles, Mingau, um gatinho ciamês, ficou conosco seis meses, e sumiu. O segundo, meu gato preto, Oscar, viveu cinco anos conosco, até perder a vida de maneira misteriosa. O terceiro, Marx, durou um ano e meio, e sumiu, pois era muito bonito, e mais “dado” do que a maioria dos gatos. E o quarto, o Gordo, um persa legítimo, está comigo há mais de cinco anos.

Desde pequeno, eu acostumei o gato com carinhos, afagos, e palavras de agrado. O acostumei a estar sempre com a minha presença. Deixei que ele trafegasse livremente pela casa, especialmente pelo meu quarto. O regrei com relação à comida, hora do leite, e tudo aquilo que poderia ou não comer. E é impressionante o quão inteligentes estes bichos são. Ele sabe que por volta das 22h00 é hora de tomar leite. Sabe que não deve jamais subir na mesa, e muito menos nas cadeiras da cozinha (e olha que eu nunca esinei). Sabe o lugar de fazer suas necessidades. E mais incrível, sabe do meu humor só com o tom da minha voz.

As pessoas que convivem comigo, se espantam ao ver que o gato me segue pela casa inteira. Pode ter comida ou não comigo ( maior parte das vezes não tem, ou quando tem, é mais fruta do que qualquer outra coisa). Ele, se tem medo e não tem onde se esconder, corre para trás de mim. Se eu me mexo, ele vai atrás. Quando eu coloca a chave na fechadura, chegando em casa, ele se posiciona na porta. Dorme todas as noites ao meu lado, e quando o despertador me acorda, ele já está sentado, olhando pra mim, porque ele sabe que eu irei agradá-lo, como primeiro ato do dia.

Eu posso pegá-lo no colo, andar com ele pela casa, e ele até é capaz de dormir. Pelo que vejo, é mais ou menos a mesma reação que têm os cachorros, com os seus donos. E não é um caso particular do Gordo, pois o Oscar era ainda pior, miando até quando me via na rua, enquanto o Marx fazia tudo isso com o meu pai. Do mesmo jeito que fazem os gatos da minha namorada, com a mãe dela.

Ou seja, o gato requer mais paciência, e requer um “adestramento” melhor, pois ele será aquilo que você trasnformá-lo, assim como um filho. Se você der carinho e amor, ele sempre será um gato carinhoso, tranqüilo e extremamente companheiro. Se ensina-lo a ser agitado, ele sempre o será. E se for agressivo com ele, ele retribuirá da mesma forma. E isso é o que mais me fascina nos gatos: você tem que agir, tem que fazer por merecer as ações deste fabuloso animal. E ver que o bichano te segue por todos os lados, ronrona quando te vê, dorme ao seu lado, é um prêmio incrível. Não importa se eu tive um dia ruim, se eu estiver fedendo, se estou com a mente em outro lugar, ele sempre estará ali. Ele sempre está ali.

Mas, infelizmente, ainda veremos muitos boca-aberta dizerem que gatos são traiçoeiros, interesseiros, frios.... engraçado que eu sempre pensei isso de uma outra raça...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sim à pirataria

Sou formado em artes plásticas, sabendo de todas as dificuldades em se criar uma obra, sabendo o quanto se gasta na produção, qual o valor inestimável de uma idéia, e sua originalidade, assim como na extrema dificuldade para um artista ganhar a vida. E mesmo assim, atualmente, sou favorável à pirataria.
Creio que o artista deva ser valorizado, que sua obra deve ser recompensada. Mas, como artista, creio que todos precisam ter contato com a obra. E aqui no Brasil, alguns setores da indústria cultural ainda não conseguiram entender isso, especialmente quando o assunto é música e cinema.
Quando vamos comprar um cd em uma loja, pagamos uma média de R$30,00. O valor seria justo, se não fosse pelo fato de nosso salário mínimo ser de R$450,00 aproximadamente. Ou seja, pagamos 7% do salário mínimo em um cd. Se quisermos ouvir mais, o valor vai aumentando. Aí, ou você ouve música, ou paga seu aluguel, compra comida, paga a água, luz, telefone, etc. Será que alguém tem dúvida sobre o que será escolhido?
Então saímos da loja, e nos deparamos com uma barraca de cds piratas. Nesta barraca, são vendidos 5 cds por R$10,00, ou muitas vezes 3 por R$5,00. A diferença é que a gravação é caseira, e não temos encarte para acompanhar as informações do cd. Aí você pensa no seu orçamento, nas dificuldades que você tem em conseguir se manter, e se lembra que, como qualquer ser humano normal, você gosta muito de música.
O resultado é óbvio. Por mais que queiramos que nossos artistas preferidos prosperem e sejam afortunados, temos muito o que batalhar. Não da pra jogar dinheiro com arte assim, Apoiamos as campanhas que se colocam contra a pirataria. Não queremos defender nada de que seja ilegal, queremos que os impostos sejam pagos, para o bem do nosso país. Mas... que retorno temos com isso?
Ninguém se coloca contra o abuso dos preços dos cds. Ninguém tenta mostrar o quanto as pessoas têm dificuldade na sua aquisição. Ninguém quer saber por que um cd original tem que custar cerca de 15 vezes mais do que um pirata, só porque um tem encarte e outro não. O combate é feito somente com a polícia na rua, prendendo os camelôs.
Mas enquanto a situação econômica for esta, prenderemos dez hoje, surgirão vinte amanhã. Até porque essas pessoas se arriscam neste tipo de trabalho, porque muitas vezes as portas se fecharam para ele no passado, e foi a única maneira dele conseguir sustentar sua família. E mais: enquanto as pessoas puderem ter contato com a arte somente através da pirataria, elas irão faze-lo. Ou nós combatemos as reais causas da pirataria no país, ou eternamente viveremos nesta hipocrisia, com discursos emotivos, que só servirão como desculpa.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Punição Eterna

Estive propondo um debate sobre arte, em uma sala de aula, e por algum motivo que no momento não sou capaz de lembrar, o debate recaiu sobre crimes, e suas penalidades. Uma garota mostrou-se favorável a matar todos aqueles que cometem crimes hediondos, enquanto eu me coloquei contrário a isso. A garota se revoltou, dizendo que era absurdo defender um estuprador, um assassino, um pedófilo, etc.
Não costumo defender ninguém. Na verdade, me considero um cara bastante cri-cri. Mas como aprendi muita coisa nestes últimos anos, e entre elas, aceitar algumas coisas como elas são, prefiro pensar bastante antes de tomar alguma atitude, ou de condenar alguém. Isso não significa que não podemos punir quem erra, mas creio que uma punição “definitiva” não vai alterar em nada o quadro social.
Primeiramente, acho que temos que observar a situação como um todo. Não sabemos o que leva uma pessoa a cometer algum crime hediondo, como o assassinato. A pessoa pode ser problemática mentalmente, pode ser que seja uma pessoa revoltada da vida, que jamais recebeu qualquer tipo de apoio durante toda a vida, e acabou passando necessidade, pode ser que seja somente alguma pessoa maldosa e que goste de ver o sofrimento alheio (o que pra mim com toda certeza é um sinal de gravíssimo distúrbio mental). Enfim, podemos ter inúmeras possibilidades.
Não que nada justifique matar alguém. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, mas retribui um erro com o mesmo erro é um dos maiores sinais de burrice e de atraso que podemos presenciar. Me considero superior a esse tipo de criminoso. Jamais teria coragem de matar alguém, nem de estuprar, nem de roubar, nem nada. Então, como não quero ser responsável pela morte de alguém, não seria capaz de tirar a vida nem de um criminoso. E mesmo que fosse alguém que eu amo demais a vítima, qualquer vingança não traria a pessoa de volta, nem diminuiria o meu sofrimento. Ou seja, matar um criminoso não me ajudaria em nada.
Além disso, temos que considerar alguns fatores sociais, quando nos referimos ao nosso país. O grau de instrução do brasileiro está em um nível lastimável, a condição social também está longe do ideal. O nível de desemprego tem sido muito alto, mesmo nos nossos menores patamares. A corrupção e a impunidade são uma das mais altas do mundo, especialmente quando o criminoso é alguém que tem “poder”. O uso de drogas, por motivos diversos, está cada dia maior. Se tivermos que matar qualquer um, independentemente do que se passou em sua vida, creio que em breve reduziremos a população brasileira à metade.
Por fim, creio que ainda estamos muito longe de sermos perfeitos. Somos seres que cometem erros o tempo todo, sejam erros pequenos e rizíveis, sejam erros grandiosos. Como então, podemos acreditar que iremos sempre acertar quando estamos julgando uma pessoa? Por mais que a tecnologia esteja em alto grau, e que seja possível desvendar detalhes que eram inimagináveis antigamente, ainda assim, estamos sujeitos ao erro. E com isso, podemos levar à morte, alguém inocente.
Por isso, sempre fui contra a pena de morte. Sempre acreditei que são tantos pontos negativos neste tipo de penalidade, que não vale a pena o risco. Os benefícios ganhos com ela, em todos os lugares em que são adotadas, são quase desprezíveis. Nenhum país do mundo que adotou, teve diminuído o índice de criminalidade. Muitos erros já foram cometidos, e a qualidade de vida das pessoas não melhorou em nada. E ainda aqui somente alguns poucos miseráveis que são realmente punidos pelos seus crimes. Acho que existem muitas outras formas de fazer justiça, que não envolva mais derramamento de sangue.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O julgamento

Fico me perguntando o que pode levar uma pessoa a julgar outra. Como tanta gente tem coragem de ficar tirando conclusões sobre a vida e os problemas de outras, sem conhecer quase nada, ou nada, de sua vida. Criam punições, críticas excessivas, por opiniões que têm, sem qualquer conhecimento do que se passa com você.

Quantas vezes alguém vem nos criticar por alguma atitude, por termos nos mantido neutros, por rompermos um relacionamento, por cortar a amizade com alguém, por abandonarmos algum curso no último ano? Será que essas pessoas sabem o que realmente se passou durante todo esse tempo para que tenhamos tomado algum tipo de atitude? Será que a pessoa já parou pra pensar que muitas mágoas e feridas podem ter sido abertas, e que estas provavelmente nunca se fecharão, e que muitas vezes o melhor caminho será o que escolhemos?

Aliás, eu me pergunto o que tais pessoas podem fazer por nossas vidas, ou que fizeram, até então. Gostaria muito de saber se, quando alguém nos critica, se tem agido melhor. Será que a pessoa realmente cumpre o que prega? Será que ela tem sido um grande exemplo pra nos mostrar o que é certo? Será que ela tem agido com tanta qualidade em sua vida, a ponto de ter um relacionamento perfeito, ser uma excelente figura materna / paterna, está exercendo a profissão que gosta, num acerto de primeira, ou teve a sorte de ter encontrado amigos leais durante toda a vida?

Realmente é revoltante quando as pessoas querem cobrar, julgar, criticar, e condenar qualquer um, mas não conseguem enxergar o próprio rabo. Quando não ligam a mínima para os problemas que têm as pessoas, quando querem que você realmente se dane, se isso for conveniente a ela. E quando isso vem de alguma pessoa que seja sangue do seu sangue, pode ter certeza amigo, dói...