Nos últimos meses, talvez no último
ano, tenho abordado pouco, ou quase nada esse tema que tanto faz
parte da minha vida. A excrecência do atual presidente e suas
medidas tomam tanto esforço mental, que sobra pouco espaço para
comentar sobre outras coisas importantes da vida. E a meu, a negação
de deus está entre elas.
Não é novidade para ninguém que eu
passei por um período maldito nos últimos anos, tendo entrado numa
recuperação excelente nos últimos meses. Seria um período
excelente para entrar num desespero e buscar algo espiritual. Isso
ocorreu no fim de 2004, de forma ainda mais perturbadora. Em ambos os
casos posso dizer que meu ateísmo saiu incrivelmente fortalecido,
assim como pude perceber que não existe uma forma mais perfeita de
se enfrentar problemas da vida do que a busca em você mesmo.
Estou lendo “Fodeu Geral”, do Mark
Manson. Um livro excepcional, do autor de “A Sutil Arte de Ligar o
Foda-se”. Nesta obra ele trata da Verdade Desconfortável. Algo
ruim, muito ruim na vida, que temos por instinto de sobrevivência
fugir a todo custo. Inventamos maneiras mirabolantes para escapar
dessa verdade, para que alguma outra coisa a enfrente por nós. Na
maioria das pessoas, essa outra coisa chama-se deus.
E assim que deus é: uma maneira
desesperadora de fugir da realidade, de acreditar que algo
sobrenatural irá surgir e vencer todos os problemas que temos. É a
expressão máxima da vontade de não encarar o problema de frente.
Mas a verdade continuará lá. Irá
aparecer em cada momento que sua fé falhar. Irá surgir em cada ato
da sua vida, em cada relação frustrada, em cada negócio não
fechado. Ela irá surgir quando você tiver seus valores contestados.
A verdade não pode ser ignorada por muito tempo.
A ideia de deus, para a maioria
esmagadora das pessoas, é esse desejo de transferir a culpa. Você
coloca toda sua esperança nas mãos de um ser que não tem certeza
nem ao menos se existe. Você transfere a culpa para um outro ser,
ainda mais imaginário, definido como inimigo desse deus que você
precisa desesperadamente que seja a resposta aos seus problemas.
O ateísmo é a necessidade
irremediável de enfrentar o problema. Não há um ser superior
invisível que vai vir correndo te ajudar no momento de desespero.
Também não tem ninguém em colocar a culpa. Você está lá,
sozinho, diante de alguma merda imensa. Ou você enfrente ou é
destruído por ela. Simples assim.
E isso requer constante auto-crítica,
necessidade de mudança e muito, muito esforço. Milagres não vão
acontecer. Ou você resolve a coisa ou vai ser destruído por ela.
Sem maquiagem, sem choro.
E isso ocorreu comigo. Minha
recuperação deveu-se a uma análise profunda, inclusive das minhas
atitudes. Não necessariamente erros, mas ações que eu tomava que
estavam me levando a uma situação desastrosa. Eu tinha que tomar
uma atitude e responsabilizar a mim mesmo pelo que houve. Simples
assim.
Logicamente amigos e muita terapia
fazem diferença. Mas eu tive que enfrentar a verdade. Uma delas, que
tudo o que ocorreu comigo foi culpa minha. Sim, eu fui sacaneado com
meu filho, como escrevi aqui, porque eu permiti que a coisa chegasse
nesse ponto. Meu emocional não permitiu que eu me posicionasse de
forma diferente na época, e isso teve seu preço. Da mesma forma que
o abismo que me coloquei no fim do casamento. Aquilo ocorreu por
escolhas erradas que eu fiz na minha vida.
Eu poderia ter fugido dessas
informações, como ocorreu em várias outras. Mas isso só faria com
que eu cometesse os mesmos erros, repetidamente, e tivesse o mesmo
final em todas as situações. Se eu fosse um cristão, possivelmente
estaria correndo em círculos, até o fim da vida.
Mas graças ao fato de não ter alguém
pra responsabilizar, só me restou assumir a bucha, engolir o orgulho
e correr atrás. Não significa que as pessoas que fizeram mal
estejam isenta de sua culpa, ou que eu queira algum tipo de contato.
A única coisa é que eu tenho que assumir minha responsabilidade por
ter permitido que fizessem o que fizeram.
Dessa forma, vivo um momento
extremamente positivo por ser capaz de me criticar e me elogiar. Por
ver em mim mesmo como único responsável por solucionar a situação
e tentar algo diferente. O que me faz ter ainda mais certeza que o
ateísmo é a única forma de se buscar a solução real, sem maquiar
os problemas.