quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

DEPRESSÃO

Um dos males mais comuns do nosso século. Muita gente já foi ou é vítima disso. Num mundo de perdas, estresse, violência e falta de respeito, cair nesse mal é a coisa mais fácil do mundo.
Padronizamos comportamentos, beleza, relacionamentos. Tudo o que foge desse meio é tratado como doença. Se você quer liberdade sexual com várias pessoas sem compromisso, se quer relacionamento aberto, se você se veste diferente da maioria, se tem uma religião diferente das grandes, se ouve músicas que ninguém conhece... tudo é motivo para você ser excluído e tratado como uma aberração que deve ser eliminada.
Eu já tive minha fase no fundo do poço. Final de 2004. Entrei num colapso total. Estava com incríveis 58kg, sem vontade de nada. A vida não valia a pena. Só via as coisas ruins. A morte bateu na porta. E vi cosias muita parecidas com muita gente, grandes amigos, familiares, conhecidos.
O tratamento é difícil. E pra caralho. Via de regra não muda de uma hora pra outra. Mas o ponto mais importante é que o depressivo precisa querer, e muito, mudar sua realidade. E este é o ponto que torna a coisa mais complicada, porque via de regra a pessoa se coloca num fundo tão grande que não quer sair de jeito nenhum (em sua mente não há um meio para escapar dessa realidade).
Eu diria que é preciso apoio de quem o ama, mas nem isso é tão simples. O trabalho de convencer uma pessoa depressiva a lutar é árduo, exaustivo e muitas vezes sem contraprestação. Ver uma pessoa escolher, mesmo que inconscientemente, se afundar, é um jeito muito bom pra afundar junto.
Mas apoio não quer dizer aceitar incondicionalmente tudo de errado que está sendo feito. Não é fechar os olhos tendo como justificativa uma doença que tem que ser curada. Não é fechar as portas para o mundo exterior, esperando que as coisas se recuperem. Você apoiar uma pessoa assim é muito, muito, muito cansativo. Com o tempo o equilíbrio emocional acaba, você acaba entrando num estado de exaustão total, perde a capacidade de raciocínio e acaba se isolando do mundo. Ingredientes totais pra se tornar um depressivo também.
E fica ainda piro quando a pessoa depressiva tem tendências agressivas, sendo aquele tipo que culpa os outros pelos seus problemas. Cria na mente dos demais um sentimento de culpa e de responsabilidade que não existe. E nisso nós temos quase uma bola de neve que vai passando e pegando todo mundo que encontrar pelo caminho, até colidir com o fundo do poço e deixar a todos destruídos.
Consigo lembrar que quando estava numa cama de hospital, recebendo um monte de visitas e ligações, ocorreu um estalo na minha mente. Um monte de gente sofrendo com meu estado, provavelmente com um sentimento de impotência. Eu estava afundando muito mais gente do que eu mesmo. Aquelas pessoas não tinham culpa e nem possibilidade de fazer nada. Lembro que muita gente ficou com raiva de uma ex minha, que nunca teve responsabilidade nenhuma pelas minhas escolhas.

Todos os erros aqui citados já foram cometidos por mim. Sou muito bem sucedido nesse checklist do mal. Em todas as posições da história. Porque essa merda é incrivelmente difícil. E quando você está no olho do furacão, fica ainda pior. E não há milagre, remédio mágico, nem nada disso. Pra vencer essa loucura é preciso que o depressivo tenha total consciência de seus atos, que queira mudar sua realidade, importe-se com as pessoas, e acima de tudo, se policie 100% do tempo, o que é um esforço absurdo no começo, mas torna-se um hábito com o tempo. É isso ou aceitar que a vida vai acabar, de forma lenta, tortuosa e cheia de sofrimento.

CRIANÇA MIMADA NÃO

Como é comum ver alguém que fica com pena de uma criança chorando porque não conseguiu alguma coisa que queria. Fazer as vontades do filho porque quer dar a ele tudo o que não teve na infância. Não quer vê-lo sofrendo pela negação.
Estou prestes a ter a experiência mais incrível e assustadora da minha vida, que é me tornar pai. Muita coisa é assustadora, num mundo praticamente sem regras, sem respeito e violento. Um mundo intolerante com o diferente. Mas sem dúvida o que mais tem me assustado ultimamente é a possível dificuldade do meu filho conseguir lidar com algum tipo de negativa.
Como me considero uma pessoa de relativo sucesso na vida, sem acreditar em divindades, acredito que o maior segredo para conseguir efetivamente ser um vitorioso é a capacidade de aprender com o fracasso. Em geral, na vida, acho que temos até mais derrotas do que vitórias, só que as vitórias são mais saborosas, especialmente quando estamos tentando arduamente. E cada derrota é uma espécie de aprendizado.
A vida em geral fala “não” o tempo todo. Você não consegue transar com todas as pessoas que deseja; não consegue ganhar o que quer em termos financeiros; não tem todos os pertences que gostaria; não viaja para todos os lugares que sempre sonhou; as pessoas que você ama não vivem pra sempre... isso é a vida. E sempre será.
Tenho observado muito que crianças tratadas dessa forma se tornam adultos intolerantes, frustrados e difíceis de conviver. Muitas vezes abatem-se com derrotas com uma facilidade absurda. Não sabem o que fazer quando escutam um não.
Mas o pior de tudo é que não têm respeito por absolutamente nada. Tratam mal quem os ama, quem tenta os ajudar. Não ligam para sofrimento alheio, apenas querem sua vitória e pronto. Não se importam em passar por cima do que quer que seja para obterem sucesso. Mas o pior de tudo, são os que apenas sofrem, sofrem e sofrem, sem condições de reagir a absolutamente nada.
Essa história que você não deve bater numa criança é a coisa mais ridícula, patética e idiota que alguém pode dizer. Porque a vida bate, sem dó, o tempo todo, e pra derrubar de vez. Um pai dá uns tapas e faz a criança aceitar que não é não. Talvez uma ou duas surras de chinelo, pra doer. Claro, nada que vá machucar ou pra descontar ódio. Mas uma vez que é preciso impor limites, uma chinelada é um meio que às vezes precisa ser utilizado.
Tenho uma preocupação muito grande em criar um homem, um cidadão decente que tenha respeito pela vida. Quero que o meu filho seja uma pessoa que sinta compaixão (o que é diferente de pena). E pra isso não vou fazer todas suas vontades.
Minhas duas gatas já tomaram alguns tapas, às vezes até forte, porque rosnaram para mim ou para minha esposa quando brincávamos, ou tentaram nos morder. Aconteceu umas duas ou três vezes, e atualmente elas não têm qualquer atitude agressiva. São duas gatas altamente carinhosas, companheiras e felizes. O fato de apanharem corretivamente não as tornou frustradas, agressivas ou qualquer merda dessas. As fez mais companheiras.

Acredito que Ghandi estava certo quando dizia que é preciso educar os meninos para não punir os homens. E educar é lançar mão do que é possível. Conversa, depois uma bronca, um puxão de orelha, e se não for possível sucesso com tudo isso, uns tapas. 

DESCRENÇA NA JUSTIÇA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Condução coercitiva do Lula. Pra quem acompanha nosso judiciário e tem um conhecimento relativo da justiça, podemos dizer que foi um ponto determinante para que nosso judiciário enfiasse de vez o pé na lama. Naquele momento tivemos uma divisão sem sentido, entre pessoas que queriam apenas a condenação e prisão do ex-presidente a qualquer custo, contra aqueles que o colocaram como vítima, também a qualquer custo.
O show midiático dado ao evento, bem como o tratamento de herói dado ao juiz, que já havia ganhado fama ao vazar um diálogo com a então presidente, fez com que o judiciário se tornasse um verdadeiro circo. Fatos, provas e procedimentos deixaram de ser importantes. O que passou a valer foi o aspecto justiceiro ou o carrasco perseguidor. A justiça estava morta.
Não sem antes passarmos por fatos absurdos espalhados por todo o país, como a fiscal de trânsito condenada a pagar R$60.000,00 a juiz pêgo dirigindo bêbado, que a desafiou e apenas ouviu que não era deus. E claro, o judiciário ficou ao lado de seu colega, para vergonha nacional.
Ou então o episódio absurdo da juíza que determinou a manutenção de uma mulher numa cela masculina, fazendo com que ela fosse estuprada várias vezes, todos os dias. E depois de ser solta, a moça que teve que mudar de cidade, pois ela havia exposto o judiciário, a polícia e o próprio crime. A vítima recebe várias penas.
Isso pra não falar, no caso da política, em como determinados grupos ganham privilégios. Até agora, nenhum político do PSDB, o segundo maior partido do país, preso, apesar de várias acusações. Aqui em são Paulo, apesar de várias denúncias, ou os processos são extintos, ou nenhum político é envolvido nas acusações.
O caso Aécio Neves é o mais emblemático de todos. Depois de tantas acusações e provas, gravações onde até mesmo seus familiares são ameaçados, o STF deu aval ao Congresso para manter seu mandato, fazendo com que o político se mantenha como Senador.
O resultado disso é que nosso judiciário está desacreditado. Ninguém imagina que há justiça no Brasil. E agora vemos Lula disparado na liderança das pesquisas, pois o que ficou como maior impressão para as pessoas é que houve uma exagerada perseguição, especialmente porque ele já estava na frente, bem como sua avaliação como presidente sempre foi muito positiva.
Fora que seu processo teve um resultado pra lá de estranho, onde não foi definitivamente provada sua culpa, sendo a condenação ocorrida por “fortes indícios”, o que em pessoas neutras cria uma evidente questão sobre a lisura do processo, seus reais interesses e sobre a possibilidade de Lula vencer a eleição e derrubar todo o grupo que está no poder.
Um questionamento que não traz esclarecimentos. O que temos é dúvida. Parece que Lula é realmente envolvido com corrupção, mas como saber se o processo apresentou tanta pirotecnia? Como ter certeza se a mídia traz um posicionamento direto e faz seu jornalismo de forma a defender com unhas e dentes o que acredita?
Aí você já aproveita e junta isso ao fato do ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ser o atual Secretário da Educação do atual Governo de São Paulo, comandado pelo PSDB, e tenta imaginar porque é quase impossível um cidadão comum vencer uma ação judicial contra o Governo, sendo quase certo que é preciso chegar até o STF para ter alguma chance.
Transbordam fatos que demonstram que nosso judiciário não é nada imparcial. Fatos que colocam grandes dúvidas sobre a lisura de decisões, sobre a culpa ou inocência das pessoas, sobre os interesses de juízes. Fatos que ajudam bandidos a serem tidos como heróis, mantidos no poder. Como acreditar na justiça num país que perpetua fatos dessa forma?

SEGUNDO PAÍS MAIS SEM NOÇÃO DO MUNDO

Tento entender neste momento como deve se sentir um sul-africano. Porque sendo brasileiro, já é de uma tristeza imensa saber que este povo não tem a menor ideia do que ocorre em seu próprio território. Nada surpreendente, pois as ações que vimos ao longo dos últimos anos deixam claro isso.
Pra começar, um grupo de pessoas que seguiu um outro grupo que se dizia apartidário e libertário, mas que colocou vários de seus integrantes na política, elegendo para cargos e colocando vários outros em funções de confiança, além de se mostrar o grupo mais conservador e reacionário que já tivemos. E isso estava na cara desde o começo.
Fora que aqui nós temos uma tendência maluca a apoiar um político como grande salvação em detrimento de outros, que não gostamos. Vejamos o caso Aécio, em que muitos artistas fizeram campanhas enfáticas a seu favor, e agora devem estar enfiando a cara no chão com tanta vergonha depois de tudo o que ele foi pego fazendo.
Outro ponto de demonstração claro que nosso povo não entende o que lhe é feito foi a aprovação da reforma trabalhista. Retirada de direitos de forma clara e sem nenhum pudor, onde pode-se pagar menos, exigir mais trabalho e menos estabilidade, e ninguém deu um pio contra. O mesmo tem ocorrido com a péssima reforma da previdência, apoiado pela mídia, que controla planos de previdência privada e tem interesse no assunto.
Aqui políticos ganham salários homéricos, com mais um montante absurdo de verbas de tudo quanto é coisa, mas a responsabilidade dos problemas recai sobre funcionários públicos, cujos salários em geral não chegam a R$5.000,00, nos casos mais altos. Além das repartições não serem aparelhadas dos materiais necessários para a realização do trabalho diário e muitos terem que comprar os materiais para que a coisa ande.
Um país onde todos querem se dar bem, a qualquer custo, onde é comum dar golpes em pessoas de bem, ou onde a cultura é desrespeitar regras de trânsito, mas quando se é multado coloca-se a culpa na indústria da multa. Onde pessoas morrem na fila de hospitais, muitas vezes por falta de espaço para serem atendidos.
Um país onde é bom policiais executarem suspeitos, sem qualquer julgamento, porque a multidão decidiu na hora que eles são culpados, mas se enaltece traficantes em morros, trazendo-os como heróis. Ou os caras que são famosos, mas batem em mulher ou financiam o tráfico.
Um país onde se abandona filhotes de cães e gatos na lata do lixo, porque não se pode cria-los. Onde crianças são deixadas na rua para conviver com o tráfico. Onde a educação não tem qualquer importância. Um país onde funk é considerado boa cultura.

Os fatos falam por si. Ainda me deixa incrivelmente surpreso que exista um país que esteja a nossa frente. Não consigo imaginar que tipo de vida se leva neste país. Mas sei que a coisa aqui vai mal. E com esse tipo de noção, a tendência é ficar ainda pior.