quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

DEPRESSÃO

Um dos males mais comuns do nosso século. Muita gente já foi ou é vítima disso. Num mundo de perdas, estresse, violência e falta de respeito, cair nesse mal é a coisa mais fácil do mundo.
Padronizamos comportamentos, beleza, relacionamentos. Tudo o que foge desse meio é tratado como doença. Se você quer liberdade sexual com várias pessoas sem compromisso, se quer relacionamento aberto, se você se veste diferente da maioria, se tem uma religião diferente das grandes, se ouve músicas que ninguém conhece... tudo é motivo para você ser excluído e tratado como uma aberração que deve ser eliminada.
Eu já tive minha fase no fundo do poço. Final de 2004. Entrei num colapso total. Estava com incríveis 58kg, sem vontade de nada. A vida não valia a pena. Só via as coisas ruins. A morte bateu na porta. E vi cosias muita parecidas com muita gente, grandes amigos, familiares, conhecidos.
O tratamento é difícil. E pra caralho. Via de regra não muda de uma hora pra outra. Mas o ponto mais importante é que o depressivo precisa querer, e muito, mudar sua realidade. E este é o ponto que torna a coisa mais complicada, porque via de regra a pessoa se coloca num fundo tão grande que não quer sair de jeito nenhum (em sua mente não há um meio para escapar dessa realidade).
Eu diria que é preciso apoio de quem o ama, mas nem isso é tão simples. O trabalho de convencer uma pessoa depressiva a lutar é árduo, exaustivo e muitas vezes sem contraprestação. Ver uma pessoa escolher, mesmo que inconscientemente, se afundar, é um jeito muito bom pra afundar junto.
Mas apoio não quer dizer aceitar incondicionalmente tudo de errado que está sendo feito. Não é fechar os olhos tendo como justificativa uma doença que tem que ser curada. Não é fechar as portas para o mundo exterior, esperando que as coisas se recuperem. Você apoiar uma pessoa assim é muito, muito, muito cansativo. Com o tempo o equilíbrio emocional acaba, você acaba entrando num estado de exaustão total, perde a capacidade de raciocínio e acaba se isolando do mundo. Ingredientes totais pra se tornar um depressivo também.
E fica ainda piro quando a pessoa depressiva tem tendências agressivas, sendo aquele tipo que culpa os outros pelos seus problemas. Cria na mente dos demais um sentimento de culpa e de responsabilidade que não existe. E nisso nós temos quase uma bola de neve que vai passando e pegando todo mundo que encontrar pelo caminho, até colidir com o fundo do poço e deixar a todos destruídos.
Consigo lembrar que quando estava numa cama de hospital, recebendo um monte de visitas e ligações, ocorreu um estalo na minha mente. Um monte de gente sofrendo com meu estado, provavelmente com um sentimento de impotência. Eu estava afundando muito mais gente do que eu mesmo. Aquelas pessoas não tinham culpa e nem possibilidade de fazer nada. Lembro que muita gente ficou com raiva de uma ex minha, que nunca teve responsabilidade nenhuma pelas minhas escolhas.

Todos os erros aqui citados já foram cometidos por mim. Sou muito bem sucedido nesse checklist do mal. Em todas as posições da história. Porque essa merda é incrivelmente difícil. E quando você está no olho do furacão, fica ainda pior. E não há milagre, remédio mágico, nem nada disso. Pra vencer essa loucura é preciso que o depressivo tenha total consciência de seus atos, que queira mudar sua realidade, importe-se com as pessoas, e acima de tudo, se policie 100% do tempo, o que é um esforço absurdo no começo, mas torna-se um hábito com o tempo. É isso ou aceitar que a vida vai acabar, de forma lenta, tortuosa e cheia de sofrimento.

CRIANÇA MIMADA NÃO

Como é comum ver alguém que fica com pena de uma criança chorando porque não conseguiu alguma coisa que queria. Fazer as vontades do filho porque quer dar a ele tudo o que não teve na infância. Não quer vê-lo sofrendo pela negação.
Estou prestes a ter a experiência mais incrível e assustadora da minha vida, que é me tornar pai. Muita coisa é assustadora, num mundo praticamente sem regras, sem respeito e violento. Um mundo intolerante com o diferente. Mas sem dúvida o que mais tem me assustado ultimamente é a possível dificuldade do meu filho conseguir lidar com algum tipo de negativa.
Como me considero uma pessoa de relativo sucesso na vida, sem acreditar em divindades, acredito que o maior segredo para conseguir efetivamente ser um vitorioso é a capacidade de aprender com o fracasso. Em geral, na vida, acho que temos até mais derrotas do que vitórias, só que as vitórias são mais saborosas, especialmente quando estamos tentando arduamente. E cada derrota é uma espécie de aprendizado.
A vida em geral fala “não” o tempo todo. Você não consegue transar com todas as pessoas que deseja; não consegue ganhar o que quer em termos financeiros; não tem todos os pertences que gostaria; não viaja para todos os lugares que sempre sonhou; as pessoas que você ama não vivem pra sempre... isso é a vida. E sempre será.
Tenho observado muito que crianças tratadas dessa forma se tornam adultos intolerantes, frustrados e difíceis de conviver. Muitas vezes abatem-se com derrotas com uma facilidade absurda. Não sabem o que fazer quando escutam um não.
Mas o pior de tudo é que não têm respeito por absolutamente nada. Tratam mal quem os ama, quem tenta os ajudar. Não ligam para sofrimento alheio, apenas querem sua vitória e pronto. Não se importam em passar por cima do que quer que seja para obterem sucesso. Mas o pior de tudo, são os que apenas sofrem, sofrem e sofrem, sem condições de reagir a absolutamente nada.
Essa história que você não deve bater numa criança é a coisa mais ridícula, patética e idiota que alguém pode dizer. Porque a vida bate, sem dó, o tempo todo, e pra derrubar de vez. Um pai dá uns tapas e faz a criança aceitar que não é não. Talvez uma ou duas surras de chinelo, pra doer. Claro, nada que vá machucar ou pra descontar ódio. Mas uma vez que é preciso impor limites, uma chinelada é um meio que às vezes precisa ser utilizado.
Tenho uma preocupação muito grande em criar um homem, um cidadão decente que tenha respeito pela vida. Quero que o meu filho seja uma pessoa que sinta compaixão (o que é diferente de pena). E pra isso não vou fazer todas suas vontades.
Minhas duas gatas já tomaram alguns tapas, às vezes até forte, porque rosnaram para mim ou para minha esposa quando brincávamos, ou tentaram nos morder. Aconteceu umas duas ou três vezes, e atualmente elas não têm qualquer atitude agressiva. São duas gatas altamente carinhosas, companheiras e felizes. O fato de apanharem corretivamente não as tornou frustradas, agressivas ou qualquer merda dessas. As fez mais companheiras.

Acredito que Ghandi estava certo quando dizia que é preciso educar os meninos para não punir os homens. E educar é lançar mão do que é possível. Conversa, depois uma bronca, um puxão de orelha, e se não for possível sucesso com tudo isso, uns tapas. 

DESCRENÇA NA JUSTIÇA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Condução coercitiva do Lula. Pra quem acompanha nosso judiciário e tem um conhecimento relativo da justiça, podemos dizer que foi um ponto determinante para que nosso judiciário enfiasse de vez o pé na lama. Naquele momento tivemos uma divisão sem sentido, entre pessoas que queriam apenas a condenação e prisão do ex-presidente a qualquer custo, contra aqueles que o colocaram como vítima, também a qualquer custo.
O show midiático dado ao evento, bem como o tratamento de herói dado ao juiz, que já havia ganhado fama ao vazar um diálogo com a então presidente, fez com que o judiciário se tornasse um verdadeiro circo. Fatos, provas e procedimentos deixaram de ser importantes. O que passou a valer foi o aspecto justiceiro ou o carrasco perseguidor. A justiça estava morta.
Não sem antes passarmos por fatos absurdos espalhados por todo o país, como a fiscal de trânsito condenada a pagar R$60.000,00 a juiz pêgo dirigindo bêbado, que a desafiou e apenas ouviu que não era deus. E claro, o judiciário ficou ao lado de seu colega, para vergonha nacional.
Ou então o episódio absurdo da juíza que determinou a manutenção de uma mulher numa cela masculina, fazendo com que ela fosse estuprada várias vezes, todos os dias. E depois de ser solta, a moça que teve que mudar de cidade, pois ela havia exposto o judiciário, a polícia e o próprio crime. A vítima recebe várias penas.
Isso pra não falar, no caso da política, em como determinados grupos ganham privilégios. Até agora, nenhum político do PSDB, o segundo maior partido do país, preso, apesar de várias acusações. Aqui em são Paulo, apesar de várias denúncias, ou os processos são extintos, ou nenhum político é envolvido nas acusações.
O caso Aécio Neves é o mais emblemático de todos. Depois de tantas acusações e provas, gravações onde até mesmo seus familiares são ameaçados, o STF deu aval ao Congresso para manter seu mandato, fazendo com que o político se mantenha como Senador.
O resultado disso é que nosso judiciário está desacreditado. Ninguém imagina que há justiça no Brasil. E agora vemos Lula disparado na liderança das pesquisas, pois o que ficou como maior impressão para as pessoas é que houve uma exagerada perseguição, especialmente porque ele já estava na frente, bem como sua avaliação como presidente sempre foi muito positiva.
Fora que seu processo teve um resultado pra lá de estranho, onde não foi definitivamente provada sua culpa, sendo a condenação ocorrida por “fortes indícios”, o que em pessoas neutras cria uma evidente questão sobre a lisura do processo, seus reais interesses e sobre a possibilidade de Lula vencer a eleição e derrubar todo o grupo que está no poder.
Um questionamento que não traz esclarecimentos. O que temos é dúvida. Parece que Lula é realmente envolvido com corrupção, mas como saber se o processo apresentou tanta pirotecnia? Como ter certeza se a mídia traz um posicionamento direto e faz seu jornalismo de forma a defender com unhas e dentes o que acredita?
Aí você já aproveita e junta isso ao fato do ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ser o atual Secretário da Educação do atual Governo de São Paulo, comandado pelo PSDB, e tenta imaginar porque é quase impossível um cidadão comum vencer uma ação judicial contra o Governo, sendo quase certo que é preciso chegar até o STF para ter alguma chance.
Transbordam fatos que demonstram que nosso judiciário não é nada imparcial. Fatos que colocam grandes dúvidas sobre a lisura de decisões, sobre a culpa ou inocência das pessoas, sobre os interesses de juízes. Fatos que ajudam bandidos a serem tidos como heróis, mantidos no poder. Como acreditar na justiça num país que perpetua fatos dessa forma?

SEGUNDO PAÍS MAIS SEM NOÇÃO DO MUNDO

Tento entender neste momento como deve se sentir um sul-africano. Porque sendo brasileiro, já é de uma tristeza imensa saber que este povo não tem a menor ideia do que ocorre em seu próprio território. Nada surpreendente, pois as ações que vimos ao longo dos últimos anos deixam claro isso.
Pra começar, um grupo de pessoas que seguiu um outro grupo que se dizia apartidário e libertário, mas que colocou vários de seus integrantes na política, elegendo para cargos e colocando vários outros em funções de confiança, além de se mostrar o grupo mais conservador e reacionário que já tivemos. E isso estava na cara desde o começo.
Fora que aqui nós temos uma tendência maluca a apoiar um político como grande salvação em detrimento de outros, que não gostamos. Vejamos o caso Aécio, em que muitos artistas fizeram campanhas enfáticas a seu favor, e agora devem estar enfiando a cara no chão com tanta vergonha depois de tudo o que ele foi pego fazendo.
Outro ponto de demonstração claro que nosso povo não entende o que lhe é feito foi a aprovação da reforma trabalhista. Retirada de direitos de forma clara e sem nenhum pudor, onde pode-se pagar menos, exigir mais trabalho e menos estabilidade, e ninguém deu um pio contra. O mesmo tem ocorrido com a péssima reforma da previdência, apoiado pela mídia, que controla planos de previdência privada e tem interesse no assunto.
Aqui políticos ganham salários homéricos, com mais um montante absurdo de verbas de tudo quanto é coisa, mas a responsabilidade dos problemas recai sobre funcionários públicos, cujos salários em geral não chegam a R$5.000,00, nos casos mais altos. Além das repartições não serem aparelhadas dos materiais necessários para a realização do trabalho diário e muitos terem que comprar os materiais para que a coisa ande.
Um país onde todos querem se dar bem, a qualquer custo, onde é comum dar golpes em pessoas de bem, ou onde a cultura é desrespeitar regras de trânsito, mas quando se é multado coloca-se a culpa na indústria da multa. Onde pessoas morrem na fila de hospitais, muitas vezes por falta de espaço para serem atendidos.
Um país onde é bom policiais executarem suspeitos, sem qualquer julgamento, porque a multidão decidiu na hora que eles são culpados, mas se enaltece traficantes em morros, trazendo-os como heróis. Ou os caras que são famosos, mas batem em mulher ou financiam o tráfico.
Um país onde se abandona filhotes de cães e gatos na lata do lixo, porque não se pode cria-los. Onde crianças são deixadas na rua para conviver com o tráfico. Onde a educação não tem qualquer importância. Um país onde funk é considerado boa cultura.

Os fatos falam por si. Ainda me deixa incrivelmente surpreso que exista um país que esteja a nossa frente. Não consigo imaginar que tipo de vida se leva neste país. Mas sei que a coisa aqui vai mal. E com esse tipo de noção, a tendência é ficar ainda pior.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

DÓRIA E O REALITY SHOW QUE NÃO DEU CERTO

Alberto Goldman, vice presidente do PSDB, afirmou que São Paulo ainda não tem prefeito, e que João Dória é a velha política, disfarçada. O prefeito é do PSDB. Dessa forma, deixando claro que, pelo menos metade do partido tem feito críticas abertas e duras ao modo de governar do prefeito.
Mas eu diria que governar não é algo que este ser tem feito. O que vemos é uma tentativa enlouquecida de transformar tudo em marketing, com vídeos e ações de publicidade, deixando perdidos até mesmo seus próprios funcionários, que depois têm que correr para tentar explicar e arrumar as ações do prefeito.
Até aí, poderíamos ter um governo populista. Isso tem seus problemas, como ações para a plateia, mas ainda assim seriam algumas ações que beneficiariam a cidade, mesmo que a intensão fosse outra. Mas isso não ocorre em São Paulo.
Quem acompanha as pesquisas de opinião deve perceber que na visão do paulistano, a cidade piorou, e muito. Pra começar, quase seis meses com semáforos queimados e sem manutenção, trazendo um caos generalizado às nossas ruas.
O número de infrações de trânsito disparou. Não sabemos se isso é porque as pessoas viram no novo governo algo bem mais permissivo, se houve uma mensagem implícita, com a recorrente acusação de indústria da multa, de que o povo poderia fazer o que quisesse, porque seria multado por um ato ilícito dos fiscais, ou seja lá o motivo. Mas o fato é que os problemas de trânsito pioraram demais.
Como ciclista diário, já via problemas no ano passado, mas este ano a coisa disparou. As pessoas perderam muito o respeito, seja os motoristas, os motociclistas, pedestres, ciclistas... ninguém mais se importa com a lei. Pra mim o resultado é um braço quebrado e dois meses de molho.
E agora temos as centenas de brigas de Dória com seus críticos, seja integrantes de partidos de oposição, seja com seu próprio partido. O cara chegou ao ponto de chamar o vice presidente de seu partido de velho, ultrapassado e improdutivo, tudo porque seu modo de governar foi contestado.
Agora temos a ração humana. Em geral, a ideia não é de todo ruim. Mas foi apresentado como alimentação completa para os pobres. E depois de críticas duríssimas de muitos especialistas, os integrantes da prefeitura tiveram que corrigir a cagada de seu líder, informando que trata-se somente de um complemento, que por si só tem suas críticas mantidas.
E agora será servido na merenda escolar, merenda esta que sofreu uma série de cortes de verba. Mas a ração humana, que irá dar uma folga na carga tributária de grandes empresas, se tornou a solução perfeita para o grande trabalhador ajudar seus parceiros sem investir em uma alimentação real de qualidade.
Fora o fato de criar um grupo de empresas ligadas à sua empresa, e estas vencerem todas as concorrências, quando existem, para prestarem serviço à prefeitura. Ou simplesmente serem contratadas sem licitação.
No geral, nada de melhoria para a cidade. Tudo piorou muito. Ou, na melhor das hipóteses, permaneceu estagnado. E isso já dispara a olhos vivos diante de toda a população. Na verdade ainda é inacreditável que cerca de 30% das pessoas acreditem que um caos desse nível reflita um governo bom ou ótimo. Gostaria muito que as pessoas pudessem dizer onde está a parte boa.

Deve ser por sair pintando tudo de cinza. Ou apoiar a queda de direitos trabalhistas com as desastrosas reformas. Ou talvez por criticar exposições de arte moderna. Ou talvez por elogiar a proteção ao trabalho escravo. Ou talvez pelo seu passa tempo preferido: criticar o PT. Até nas suas cagadas ele da um jeito de falar mal do PT. E talvez para um povo tão cego, falar mal do PT seja total sinônimo de coisa boa.

O RETROCESSO TOTAL

A reforma trabalhista aprovada no Congresso foi a clara demonstrava que vivemos um momento de total retrocesso em direitos, a maior parte deles em acordos internacionais, fruto de um governo ilegítimo, oportunista e altamente impopular, que serve interesses de um pequeno grupo.
A reforma trabalhista, em sua maioria, é inconstitucional. A Procuradoria Geral já ajuizou ação de inconstitucionalidade, bem como o Tribunal Superior do Trabalho já se manifestou, na maioria de seus ministros, no sentido de não utilizar as novas regras, uma vez que ferem, de forma clara, a Constituição.
Pra começar, a Constituição só permite jornada de trabalho de oito horas diárias, sendo vedada qualquer jornada que supere 10 horas, se as duas excedentes forem apenas em horas extras. Da mesma forma, há previsão de proteção ao mercado do trabalho da mulher, bem como proteção total a mulheres grávidas.
As negociações coletivas são previstas pela Constituição, no entanto, tais negociações envolvem toda a categoria, e não podem, de forma alguma, suplantar o que está descrito na lei, tanto na Constituição, quanto na CLT. Logo, um acordo entre patrão e empregado que firam o descrito na lei, além de como o próprio nome diz, ser ilegal, é inconstitucional.
Todas as polêmicas da desastrosa reforma trabalhista, aprovada por partidos de direita e por partidos que sirvam o interesse de alguma classe, estão dispostas no art. 7º da Constituição, não deixando nenhuma dúvida de sua fraude.
Ao longo de seu desgoverno, foram revogadas áreas de proteção ambiental, terras destinadas aos povos indígenas, que diga-se de passagem são bem limitadas na situação anterior. Tudo para que interesses econômicos de ruralistas fossem atendidos.
Recentemente, a portaria que dificulta o enquadramento de trabalho escravo. Portaria que foi condenada inclusive pela OIT, da qual o Brasil é parte e signatário de seus tratados. O Ministério Público do Trabalho, bem como o Ministério Público Federal já se posicionaram contrários a esse desregramento, que torna legal um crime definido no Código Penal.
Algumas piadas surgem no sentido de vermos um país caminhando de volta à Idade Média, até mesmo com religião única sendo professada nas escolas. Um conjunto total de absurdos que num país decente nunca seriam sequer toleradas como ideias. Mas aqui, onde se manifestar por uma causa que não seja impeachment contra um governo de esquerda é motivo pra apanhar da polícia, tudo bem.

Pensar num país que aceita aberrações desse tipo acaba por deixar claro porque tem tanta gente querendo votar em Bolsonaro, ou apoiando golpe militar, tortura  e caça até mesmo a quem tenha tendências a pensar de forma esquerdista. Uma aberração total.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A BIKE, ATÉ O FIM

Dia 28 de setembro de 2017. Tomei uma fechada de um motorista altamente folgado, que invadiu a ciclovia na rua Prates, sendo obrigado a frear bruscamente. Como o dia era de chuva, a pista estava molhada, e o pneu acabou escorregando com força, me fazendo cair sobre meu braço direito, quebrando o úmero. Consequentemente, dois meses de molho.
Diante do quadro de trânsito que temos, onde carros, bicicletas e pedestres não respeitam regra alguma, a pergunta que me fizeram repetidamente é se eu deixaria de fazer meu trajeto de bicicleta, para minha própria segurança.
Vejamos: por um erro praticado por um terceiro, algumas pessoas acham que eu sou “cabeçudo” por querer continuar indo trabalhar com um meio de transporte infinitamente mais saudável e menos estressante do que carros ou transporte público.
A bicicleta tornou-se no último ano e meio quase que uma extensão do meu corpo. São 25 km por dia, da Vila Gustavo até o Centro. Já cheguei a passar dos 600 km percorridos ao longo de um mês. Gostei tanto que enchi minha bike de parafernalhas, como retrovisor, luzes, bagageiro, etc. Tenho inclusive uma câmera que filma meu trajeto, já postando tanto ida quanto volta no youtube.
E por causa de erros de outros, e má conduta de pessoas que vivem no mesmo lugar que eu, eu sou obrigado a mudar algo que tem me feito bem? Quer dizer que por erro de outras pessoas nós deixamos de viver, ou viveremos com medo ou confinados num estilo doentio?
A inversão de valores, onde não se combate o infrator, mas tenta-se infringir medo às vítimas, é a cara da sociedade. As mulheres são responsáveis pelo estupro; os assaltados são responsáveis por vacilarem com seus pertences. Isso é insano.
Não sei que tipo de vida querem as pessoas. Parece que a vida sob medo e em pequenos quadrados delimitados têm feito muita gente feliz. Não a mim. Sou um inquieto por natureza. E não desisto fácil de nada. Algo que só tem me feito bem, menos ainda.

Se é para morrer, que seja andando de bicicleta!

PRIORIDADES NUM RELACIONAMENTO

Não faço questão que gostem de mim. Entendo que pelo meu jeito, algumas pessoas podem me admirar muito, e outras podem vir a ter repulsa pelo meu estilo. É direito de cada pessoa escolher e seguir feliz em sua vida, tendo minha amizade ou meu distanciamento. E não sinto qualquer tipo de mágoa por quem escolhe a distância.
Da mesma forma, não forço a barra. Se a pessoa quer contato, amizade, amor, ou seja lá o que for, a coisa virá naturalmente. O contato será agradável para ambas as partes, sem qualquer tipo de coação. Não vejo qualquer vantagem em obrigar alguém a me aguentar.
Da mesma forma, se eu eventualmente não gostar de alguém, vou manter o máximo de distância possível. Não quero me sentir irritado ou incomodado com alguma presença que não me faz bem. E se odiar alguém, o que é algo raro, aí vou manter deliberadamente a distância máxima, até conseguir esquecer por completo a existência desse ser.
Dito isso, a partir do momento que estamos em um relacionamento amoroso, partimos do princípio que a pessoa que escolhemos é especial, e queremos ao nosso lado em quase todos os momentos, mais do que as demais. Se você chegar ao ponto de casar, significa que realmente você quer essa pessoa ao seu lado em todos os momentos.
O casamento impõe, por uma escolha própria, a ideia que você é a pessoa mais importante para seu cônjuge, acreditando também que o contrário é verdadeiro. Claro, sempre tendo em mente que amor próprio é essencial e vem em primeiro lugar. Ninguém ficará com outra pessoa se estiver fazendo mal a si próprio.
A única exceção para isso são os filhos. Ainda não nasceu o meu, mas imagino que o filho venha em primeiro lugar, inclusive acima de você mesmo. De resto, se você escolheu, seja pela insanidade que for, estar casado, assumiu como seu cônjuge sendo sua principal família, bem como a pessoa mais importante na sua vida (ta até naqueles juramentos malucos que se repete quando casamos).
Daí vem a grande dúvida: como podemos considerar alguém que passa a colocar seus amigos em primeiro lugar? Ou futebol, vídeo game, cinema, ou qualquer merda que passe a superar quem você escolheu compartilhar sua vida?
Será que você se dedicar a uma pessoa integralmente e vê-la tomar como mais importante que você, um amigo, por maior que seja amizade, é algo que vá fazer algum relacionamento sadio e feliz?
Você se dedica loucamente a alguém, especialmente em momentos terríveis e insanos, deixando de lado sua própria saúde, seus projetos pessoais, suas metas, sua alegria, para que alguém consiga dar a volta por cima, acreditando nela e investindo muito mais que seria suportável. Aguenta o tranco, suporta sofrimento interminável, até chegar no limite da sua razão.
Não somente porque existe amor, ou porque exista respeito, ou mesmo uma admiração. Mas porque aquela é a pessoa mais importante na sua vida, e você acredita que seja também da dela.
Mas um belo dia você diz que não gosta de uma pessoa amiga dela, e não quer contato com essa pessoa (como descrito no começo). Não faz a menor diferença se seu cônjuge terá amizade ou não. Apenas não quer ter que sequer lembrar da existência desse ser. O que inclui eventos entre ambos, como nascimento do filho, aniversário do filho, ou coisas relativas ao filho, não ter a presença desta pessoa, como ocorreu no inverso, sem grande sofrimento.
Qualquer ser humano ponderado, que tenha você como a pessoa que decidiu amar e respeitar na saúde e na doença, na tristeza e na alegria, vai acatar o pedido, mesmo que não seja o que quer. Afinal, vocês são casados, têm uma vida juntos, um filho juntos, e isso é mais importante que a presença de um amigo.
Certo?
Completamente errado. Seu cônjuge vira pra você e fala que se você não quer, não participa. Que o amigo será chamado e possivelmente estará presente. Se você quiser, será assim. Amigo este que agiu deliberadamente para prejudicar seu relacionamento.
Será que algum ser seria tão passivo, submisso e sem personalidade, a ponto de se humilhar a aceitar esse tipo de coisa? Será que isso não é uma baita traição, com seu esforço, sua dedicação, seu amor e seu sofrimento nos momentos mais terríveis, sua abnegação, somente para ver a coisa funcionar?
E assim que você percebe que é um total imbecil. Que se meteu numa tremenda encrenca por alguém que não vai te colocar no posto que você merece, nem vai enfrentar tudo o que vier por sua causa. Assim você percebe que fez um monte de merda, que irão te prender pelo resto da vida, por alguém que não faz questão da sua presença, acima dos demais.
Assim você descobre que é um trouxa.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

DESILUSÃO

O sentimento de desilusão é forte. Saber que um grande esforço não foi recompensado. Você dedica seu tempo, sua alma, sua saúde, acreditando em um objetivo, mas ele nunca vem.
Acreditar que está em uma posição a ser considerado o mais importante na vida de alguém, ser o para-raio no momento de uma imensa tempestade, mas perceber que isso nunca aconteceu, nem nunca irá acontecer.
Perceber que nos momentos mais angustiantes, apesar de escolhas deliberadas e complexas, você nunca será colocado em primeiro lugar. Nem em segundo, nem em terceiro...
Perceber que quem está ali para destruir ganha mais crédito, não importa que o esforço tenha sido visível a todos. Que você será colocado para trás por não suportar conviver com situações tão falsas e hipócritas em algo que fez não só sentido para sua vida, como foi sua vida durante muito tempo.
Abrir mão de coisas importantes, acreditando que ao menos a sua importância está sendo incontestável, mas não está.
Não podemos nos arrepender. A vida é assim. Às vezes as coisas não funcionam como nós queremos. Possivelmente nós mesmos nos engamos, acreditando que seremos enaltecidos por fazer tanto por alguém. Não dá pra cobrar isso das pessoas. Não da pra imaginar que gratidão é inerente a todos.

Mas, a vida sempre segue.

TRAIÇÃO

Imagine que você pegue o celular da sua esposa e encontre um daqueles nudes, que viraram moda, com modelos inteiramente nus, corpos esculturais e alguma conversa altamente picante com as amigas. Você sem querer percebeu que ela sentiu-se excitada com a imagem, de repente até se masturbando, pensando no cara. Você se sentiria traído?
Ou de repente se sua esposa revela que sua grande fantasia é transar com dois homens (ou mesmo com você e mais uma mulher). Ou ser uma frequentadora de clubes de swing. Participar de orgias. Ter um relacionamento liberal no que diz respeito a sexo.
Pra muitos, traição. O corpo e a mente de uma pessoa, dentro de um relacionamento, são só dela.
Não posso entender dessa forma. Toda manifestação honesta no sentido de chegar a um resultado, seja ele aceito ou não, onde as partes tomam uma decisão e vivem firmes dentro dela, não pode ser considerada traição. Até porque não podemos dizer que somos possuidores de ninguém, seja do corpo ou seja da mente.
Você mentir no lugar que foi, mesmo que seja apenas pra não dar uma resposta mais complexa, é um ato muito maior de traição do que ter desejos sexuais por outra pessoa. Trair a confiança de alguém que tem a sua palavra como suficiente é muito mais complexo do que sentir-se excitado por outro.

Nesse sentido, qualquer tipo de mentira é uma traição. E relacionamentos não podem ser feitos sobre mentiras, porque uma hora ou outra serão descobertas.

A ESCOLHA E A EVOLUÇÃO

Para quem me conhece, sabe que sou um persistente nato. Acredito que tenha um ego altamente inflado, pois a negativa numa empreitada pra mim é motivo de não conformismo, ao invés de decepção. E como ateu confesso, vejo um fracasso como uma demonstração de onde erramos e o que podemos melhorar, partindo daí para uma nova tentativa, mais eficiente.
Disso posso dizer que tirei minha aprovação para Escrevente do TJ, em 2007, após não conseguir em 2004. Analisei algumas falhas, o que eu precisava melhorar, me esforcei, tentei de novo, e consegui.
Não acredito que isso seja uma característica pessoal. Acredito piamente que quem se esforçar, agir de acordo com uma auto-crítica total e estiver disposto a evoluir, vai conseguir. Não é fácil, e menos ainda rápido. É uma escolha, que leva a denegar algumas outras possibilidades. Mas é perfeitamente possível.
A evolução é uma escolha. Você pode optar por corrigir seus defeitos, ou colocar a culpa no outro. Pode encarar uma derrota como uma afronta, ou como uma oportunidade de dar a volta por cima. Até mesmo uma traição sexual pode ter seu lado proveitoso, se você tentar tirar daí alguma eventual atitude sua que possa ter levado à frustração do outro para que isso ocorresse.
Mas esta escolha tem seus limites. Um relacionamento amoroso, por exemplo. Você pode brigar por ele contra todas as adversidades que ocorrerem, trilhar um caminho juntos, ser um grande parceiro em todos os momentos. Mas isso só é possível quando o outro está em total consonância com a sua atitude. Se a pessoa não quer ficar com você, não importa o que você faça, ela estará ao seu lado somente para evitar um problema maior, ou por algum outro interesse, ou pelo simples comodismo, que ainda não tenha sido percebido, em alguns casos.
E neste sentido a própria ideia de evolução viria no sentido de entender que todo o esforço possível foi feito, que você lutou, batalhou, se esforçou, melhorou, se superou, mas nem sempre a vontade dos demais seguiu este mesmo ideal. Nada pra se envergonhar ou se frustrar, até porque, a luta é sempre digna.

Mas às vezes a evolução também requer a aceitação que não vencemos sempre. Aceitar que a experiência é válida, nos tornará ainda maiores, mas é preciso seguir a vida em frente, enfrentando os próximos obstáculos. É meio dolorido, um tanto quanto constrangedor, mas nem sempre a decisão pode estar em nossas mãos.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O QUE O FUTURO NOS RESERVA, QUANDO ANDAMOS PARA TRÁS?

A recente decisão do STF de permitir o ensino catedrático religioso nas escolas, demonstra como estamos andando para trás em passos largos, na nossa sociedade. Some-se a esta decisão a censura a uma peça de teatro que exibia Jesus Cristo com um transexual, ou anteriormente a proibição de exposições de arte por conteúdo dito impróprio.
Desde 1988 evoluímos para um Estado laico, livre de censura, com possiblidade de livre expressão, onde homens e mulheres são livres e iguais. Com o tempo, a homossexualidade ganhou o mesmo status, mesmo não sendo explícito texto de lei. Estávamos caminhando para o mesmo tratamento para animais.
De repente, o mundo começou não a andar, mas correr para trás. Um conservadorismo retrógrado, sem sentido e desprovido de conhecimento, que faz com que percamos tudo aquilo que conquistamos ao longo de séculos de muito sacrifício e luta.
A recente pesquisa que quase metade dos brasileiros quer uma intervenção militar, depois de amargarmos quase trinta anos dessa aberração, com muita gente torturada, morta ou desaparecida, simplesmente porque não concordava com o governo, mostra que a capacidade intelectual recuou absurdamente no nosso país.
Agora temos uma “bancada evangélica”, que quer trazer como norte para o país a crença que eles acreditam que está de acordo com a vontade deles, que não é compartilhada por todos nem mesmo no bairro de onde saíram. Uma bancada de políticos que traz seus interesses religiosos acima dos interesses da nação. E isso não é piada.
Como chegamos a este ponto? Será que é tão difícil de entender que estamos voltando no tempo, abrindo mão de todas as conquistas que duramente conseguimos?
Fico imaginando como será criado meu filho, por nascer, num país tão patético que não consegui aprender com sua própria história. Será que ele vai ser mais um machista ridículo que trata mulheres como inferiores e gays como aberrações? Será vai ser dos que acham os índios os vilões e pregam direito algum pra quem é minoria?
E as meninas que estão nascendo por estes tempos, serão meras submissas a seus maridos, correndo o risco de serem estupradas a cada saída de casa? Será que trataremos nossas mulheres como meras procriadoras e escravas sexuais, como foi um dia?
E de repente nos veremos jogando escravos para se matarem em coliseus, uns contra os outros, todos contra animais selvagens? Jogaremos gays de prédios em todos os cantos do mundo? Iremos declarar guerra contra todo aquele que não crê na mesma baboseira que nós? Que espécie de futuro vocês querem dar a seus filhos com esse tipo imbecil de pensamento? Porque desta forma, no momento em que eu deveria estar muito feliz pelo nascimento do meu, estou dominado pelo pavor do tipo de futuro que ele terá pela frente, num mundo, e especialmente num país, tão ridiculamente atrasado.

SE VOCÊ NÃO ENTENDE DE ARTE, O QUE VOCÊ QUER OPINAR?

A exposição Queer Musian e a recente performance com um homem nu, com a infeliz permissão de uma criança tocá-lo acenderam no país uma antiga e já superada batalha no mundo, sobre o que pode ser considerado ou não arte. Batalha esta que teve seu auge em 1917, bem como nos anos seguintes. Ou seja, estamos 100 anos atrasados em relação ao próprio questionamento.
E para piorar, não são levadas questões estéticas ou filosóficas, que são aquelas que guiam a arte ao longo do tempo. No Brasil estamos envergonhando grandes artistas ao colocar a arte dentro de um leque moral ou religioso, que era sua pauta no Século XVI. Neste caso, nosso atraso é colossal.
Mas o que me deixa mais perplexo é que as pessoas que passaram a criticar ou se manifestar duramente sobre a produção artística atual, em geral, não têm o menor conhecimento sobre o que é arte, como ela evoluiu ao longo dos séculos, e menos ainda, quem são os grandes expoentes que levaram ao que ocorre hoje.
Possivelmente há o conhecimento sobre Leonardo da Vinci, que por sua vez já trabalhava com a figura humana em nudez, cheios de conteúdos eróticos ou com mensagens subliminares, utilizando crianças, querubins e animais. Também devem conhecer Michelangelo, pela incrível fama de suas obras.
Mas será que tais pessoas seriam capazes de diferenciar suas obras renascentistas das que vieram posteriormente, barrocas? Será que com o estilo artístico que era utilizado, com técnicas pictóricas, seriam capazes de entender o que era uma coisa ou outra? Será que poderia diferenciá-las do realismo do século XIX, uma tarefa incrivelmente simples para qualquer estudioso da arte.
Mas conheceriam os principais conceitos da arte moderna, fruto da grande controvérsia da Semana de Arte de 1922? Saberiam qual teoria artística utilizou Picasso para ter a fama que tem hoje? Será que sabem quem é Henri Matisse e como ele foi o principal expoente do Fauvismo? Será que conhecem Renné Magrite, a meu ver, o maior nome do Surrealismo (ao contrário da crença popular, que é Salvador Dali)? E conseguiriam linkar com a criança de Paul Gaguin, cerca de um século antes?
Aliás, conheceriam essas pessoas o incrível trabalho de Marcel Duchamp, e como em duas obras ele revolucionou toda a história milenar da arte, dando início ao que vemos como arte moderna? Será que saberiam entender o que foi o dadaísmo, e como isso teve impactos irreversíveis para a arte atual?
Com algumas exceções, creio que não. Pelo que tenho visto, a arte tem sido objeto de duras críticas por quem sequer conhece sua história. Pessoas que cravam o que é o ou não arte, mas jamais tentaram entender os conceitos aplicados nos primórdios da arte. Como levar em consideração tais manifestações, totalmente desprovidas de conhecimento?
Claro que a arte pressupõe crítica. Nem todas as produções atuais poderão ser consagradas como obras de arte. Muitas são meras tentativas, frustradas. Outras talvez desprovidas de criatividade suficiente para sobreviverem ao tempo. Mas a gama de possibilidades de criação artística jamais poderia ser limitada por críticas, mesmo aquelas de pessoas que se dizem entendidas no assunto. Afinal, Van Gogh, Renóir, Monet, Picasso, entre tantos nomes imortalizados na arte foram duramente criticados por especialistas, que se mostraram pífios em seu trabalho.

No entanto, jamais, em qualquer situação, a arte pode ser objeto de crítica baseado em valores morais, totalmente parciais, e ainda mais em religiões. A arte não está a serviço dessas futilidades, mesmo que às vezes possa trazer tais temas em suas obras. E se você ainda não percebeu isso, é melhor se informar e estudar mais.

domingo, 24 de setembro de 2017

SEXO É VIDA

No momento mais conservador que já presenciei no nosso país, vivemos uma verdadeira cruzada contra a vida sexual, especialmente quando o assunto é o sexo entre pessoas do mesmo sexo (se é que me entende).
Graças a uma patética ideologia religiosa, existe uma mentalidade de que o sexo é errado pra muita gente. Serve apenas como procriação. E há até um pequeno grupo de pessoas que se diz “assexuado”, onde não existe um interesse real por sexo.
Particularmente, todas essas ideias pra mim demonstram nada mais que uma profunda perturbação mental. Bloquear o sexo é uma demonstração clara que seu organismo apresenta problemas a serem tratados, ou mesmo que a sua mente esteja em desequilíbrio total.
Existem necessidades biológicas inerentes a todos os seres vivos, como dormir, comer, evacuar, exercitar o corpo. E entre elas, está o sexo. Se não podemos viver sem nos alimentar, ou sem dormir, o que faz as pessoas pensarem que é possível viver sem sexo?
Talvez exista uma dificuldade em se descobrir qual modalidade que as pessoas realmente preferem, como que tipos de parceiros, quais  posições, modalidades, locais. Algumas pessoas preferem vidas mais liberais, outras relacionamentos abertos, outras relacionamentos grupais... não vejo problema alguma em buscar aquilo que realmente poderia saciar os desejos. Mas é importante chegar a tal busca.
E não existe nada pior do que sentir-se sexualmente desprezado. Especialmente quando você decide viver com alguma pessoa que manifesta esse desejo, mas que de repente ele acaba e que há uma resistência absurda em tentar se resolver tal problema, como se ele fosse insolucionável mas você se recusasse a seguir adiante.
A não correspondência quando o assunto é sexo, especialmente por um parceiro fixo de longa data também é algo danoso à saúde mental. É um golpe violento na auto-estima de qualquer pessoa. Faz com que ela se sinta muito mal. A negativa reiterada sem sombra de dúvidas pode trazer sintomas de depressão.
Obviamente que honestidade é tudo. É preciso saber se tem sido feito algo pra desagradar, se podemos melhorar, se é preciso mudar alguma coisa, se o estilo do relacionamento deixou de ser tão interessante. Mas se aquilo que foi colocado como problema foi superado e a coisa não mudou, não existe outra saída senão procurar ajuda especializada para colocar a vida nos eixos.

Não existe relacionamento amoroso sem sexo. O nome disso é amizade. Eu amo meus amigos, mas não transo com eles. E também não faço planos de morar na mesma casa que eles por mais que um curto espaço de tempo. Se o relacionamento chegou nesse ponto, deixou de ser relacionamento e passou a ser mera amizade.

DIÁLOGO SINCERO OU NADA

Casamento é uma empreitada dificílima. Duas pessoas altamente diferentes, com uma história de vida cada um, que se cruzam em um determinado ponto para colocar tudo num mesmo espaço. Tudo movido pelo intenso desejo de formar uma família feliz, perpetuar o nome e construir uma história.
No entanto, com duas mentes diferentes, por mais que exista amor, ele só irá perpetuar caso essas mentes sejam capazes de chegar a um equilíbrio sobre o modo em que a vida será levada. O que na prática parece extremamente fácil. Mas é absurdamente difícil.
Ter um ritmo de vida, com manias, costumes, objetivos e um determinado comportamento e de repente se ver no mesmo local que uma pessoa que traz tudo isso de sua forma mas totalmente diferente, é quase uma insanidade. É basicamente ver se o amor pode sobreviver a uma luta de gladiadores. Você começa a ter que ceder muito da sua personalidade para poder viver em paz e em amor, mas ao mesmo tempo tenta não anular sua personalidade.
E depois de muito tempo vivendo esta situação, fica claro que o amor não é a coisa mais importante para ter sucesso nessa empreitada. O que importa, acima de todas as coisas, é a possibilidade de poder conversar de forma honesta e sincera. Diálogo é a única forma de conseguir chegar a um senso comum dentro de uma família.
Você tem que ter a liberdade de falar o que pensa, de ser você mesmo, expor suas angústias, insatisfações e seus desejos. Tem que ser ouvido e nunca guardar aquilo que você acredita ser necessário para que o relacionamento possa evoluir. E claro, ouvir também, porque se há problemas no outro, certamente há em você.
Mas o diálogo inclui um profundo e insuperável desejo de melhorar a cada dia. Já escrevi que isso deveria ser um lema de vida para cada ser humano no mundo. Nossa vida deveria ser uma constante busca por evolução. E isso só pode ocorrer se nós desejamos corrigir erros e melhorar.
Dessa forma, acredito piamente que toda e qualquer crítica que venha de alguma pessoa que nos ama ou que demonstre se importar conosco, tem intuito de fazer com que sejamos pessoas melhores. Pode até ser que ao analisar aquilo que está sendo criticado, discordemos ou concordemos apenas parcialmente. Mas daí a importância do diálogo, onde os pontos podem ser debatidos e solucionados.

Neste sentido, um relacionamento envolve maturidade emocional, pois lidar com críticas não é a coisa mais fácil que existe. E querer melhorar exige muita força de vontade. Mas sem isso, não existe um relacionamento que sobreviva.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

CENSURA NA ARTE: VOLTANDO NO TEMPO

Recebi com surpresa uma informação de que uma exposição de arte havia sido cancelada por trazer obras que incentivavam a pedofilia e a zoofilia. Imaginando que estes atos constituem apologia ao crime, de bate  e pronto fui contra, imaginando que havia sido desta forma.
Vendo as notícias que vieram a seguir, foi apavorante perceber que nossa sociedade está regredindo a períodos medievais no trato com a manifestação artística.
Sendo minha primeira formação acadêmica artes plásticas, por si só a defendo, não importa se gosto ou não. O repertório histórico e contemporâneo trazem coisas que me agradam muito, e outras que acho de extremo mal gosto. O mesmo pode ser dito para outros apreciadores. Da mesma forma que entendo que algumas mensagens são contestáveis. Aliás, a ideia geral da arte é mexer com o imaginário, com emoções e fazer pensar (de uma maneira bem simplista para definir).
Não me lembro o nome correto da exposição ocorrida no Rio Grande do Sul, e isso pouco importa. O que chocou de forma intolerável foi saber que, por se tratar de uma exposição de abrangia sexo de forma bastante ampla, o que incluía homossexualismo e outras formas minoritárias, houve uma imensa contestação e informações inverídicas sobre o que estava sendo pregado.
Na data de hoje procuradores do Ministério Público averiguaram que não houve qualquer apologia a crimes. Mas uma análise bastante básica às obras já seria suficiente. Um apreciador mediano de arte já tem em sua mente que a obra em si é aberta (tomando emprestado o grande Umberto Eco). Isso quer dizer que existem centenas de mensagens contidas numa obra, uma vez que toda a composição é tratada para nos fazer viajar na proposta do autor.
E tratando-se de um tema tão polêmico, as possibilidade de conclusão são ainda maiores. É possível deixar o imaginário fluir até o infinito, tirar diversas conclusões, recuar, abraçar outras ideias. Não há um limite para chegar a algum lugar, mesmo que no fim das contas não gostemos das obras em questão.
Exceto para seres como os que compõe ou os que admiram o MBL. E a coluna deixada por um de seus fundadores na Folha mostra claramente que não há capacidade intelectual para que seus integrantes sequer tentem pensar no que estão observando. Não houve sequer um debate, que é basicamente aquilo que se espera da arte.
Assim como ocorre ainda hoje nos países mais atrasados do planeta, como Irã, Arábia Saudita, Coreia do Norte, este grupo arcaico executou e apoiou um ataque total à página do museu, até que a exposição fosse cancelada. Ou seja, censura ao que não se concorda.
Um retrocesso que beira o período medieval. Uma aberração em momentos em que liberdade se tornou o mantra de qualquer democracia.

Como artista plástico me sinto indignado. Mas como cidadão, sinto um profundo nojo deste grupo, mas mais ainda, uma tristeza imensa pela nossa sociedade se aproximar cada vez mais do fundo do poço.

sábado, 15 de julho de 2017

NÃO IRRITE AS PESSOAS COM SEU BICHINHO DE ESTIMAÇÃO

Já que comecei a falar sobre gatos, acho que podemos estender um pouco o assunto, tratando sobre animais de estimação.
Vejo muita gente que não gosta de gatos. Nem todos são idiotas de maltratar. Algumas pessoas simplesmente não gostam dos bichanos e não querem os ter em casa. Da mesma forma, muitas pessoas não gostam de cães. A partir do momento que não existe um tratamento maldoso, não há agressão, não é deplorável que alguém não queira um bicho desses perto de si. As pessoas têm todo o direito do mundo de gostar ou não de alguma coisa.
Sendo assim, ao contrário do senso comum, é altamente repreensível as pessoas que têm um bichinho e permitem que estes infernizem o ambiente em que vivem, seja com barulho, com sujeira ou com agressividade, obrigando pessoas que não querem ter o bicho a conviverem com ele.
Não sei quem já teve a oportunidade de presenciar um gata no cio. É um inferno. A bichinha mia escandalosamente, se esfrega em tudo, fica agressiva com outras fêmeas, atraia machos para sua casa e ainda faz com que estes tenham brigas violentíssimas. Além do acasalamento ser outro show de miadas gritados e agressões. Se um sujeito não gosta de gatos, possivelmente irá abominá-los quando presenciar tais espetáculos sexuais.
Da mesma forma, quando a pessoa deixa o cachorro latindo sem parar em sua casa, a qualquer hora do dia, quem não gosta de cães irá ficar enfurecido e ainda mais intolerante com esse show. Eu que não gosto do som do latido sinto como se fosse um martelo batendo interminavelmente, dia e noite, tirando totalmente a concentração e não deixando a pessoa dormir.
A nossa legislação obriga que os proprietários tenham os devidos cuidados com seus animais, sendo responsáveis pelos danos que causarem, inclusive se for o caso de danos por ruídos ou perturbação do sossego. Quem tem um bicho é responsável por evitar que ele infernize seus vizinhos.
Não quero que as pessoas sintam ódio das minhas gatas, então evitamos ao máximo que elas fiquem miando a esmo. Da mesma forma que tomamos cuidado quando elas passeiam nos jardins do condomínio, para não danificar nada que não seja nosso. E quando alguém que não gosta de gatos está próximo, evitamos até mesmo que ocorram tais passeios.
Não acho que ações assim farão com que as pessoas mudem de opinião. Mas imagino que isso fará com que pelo menos as pessoas fiquem mais tolerantes quanto à existência de tais animais. Isso com certeza irá ajudar a que não ocorram maus tratos, quando o ódio a ser canalizado é por um dono irresponsável, uma vez que o animal não tem a devida consciência de seus atos.

Sendo assim, se você tem um bichinho de estimação, cuide dele com todo amor possível. Mas cuide com responsabilidade, lembrando que a escolha de tê-lo em sua casa foi sua, e ninguém é obrigado a suportar algo que não foi escolhido. Não irrite seus vizinhos com o seu bichinho.

TELAS NAS JANELAS – GATOS FELIZES

Desde pequeno crio gatos, sendo um irreparável apaixonado por essa maravilhosa e fantástica espécie. Acredito piamente, e defendo isso aos quatro ventos, que o gato é o melhor animal para se ter em casa. Não que eu tenha algo contra as demais espécies, mas acredito que nada é tão maravilhoso e recompensador quanto o amor de um gato.
No entanto, vejo que as pessoas apenas têm em gatos em muitos casos. Possivelmente por acreditarem que os bichanos sejam realmente animais independentes tratam a casa como um espaço para que durmam e dão comida algumas vezes ao dia.
Esse tipo de ação é uma condenação para o bicho. Gatos que têm essa liberdade extrema são frequentadores de ruas, em geral passando a noite toda fora, voltando durante o dia para dormir. Muitos donos consideram isso como um ato de liberdade, mas não é.
Os gatos são apenas relativamente independentes. Nas ruas, estão expostos a todo tipo de perigo possível, desde atropelamento, ataques de cães, ataques de outros gatos, brigas sanguinárias e, principalmente, a imbecilidade de pessoas que tentam agredir ou maltratar os animais, talvez puramente por maldade.
Por mais que sejam livres, o gato não está, jamais, totalmente preparado pra isso. Apesar do costume de voltar todas as manhãs, vai haver uma que ele não voltará mais. A maior probabilidade é que ele tenha sucumbido aos perigos que a rua oferece.
Não vejo esse tipo de coisa como ato de amor. Pra quem acompanha comunidades de gatos nas redes sociais, há um número cada dia maior de pessoas que colocam anúncios na internet procurando gatos que sumiram, citando ser um bicho dócil, às vezes deixando crianças doentes.
Pois bem. As ONGs que maior sucesso têm no tratamento de gatos dão a possibilidade de adoção com uma gama imensa de escolha. O grande fato é que esta adoção precisa ser responsável. E isso significa que o gato não pode ter acesso à rua, até porque a ONG busca a felicidade do animal, não sua condenação.
Adoção responsável é colocar telas nas possíveis saídas do gato. Janelas teladas impedem definitivamente a passagem dele para a rua. A porta claro, não há como lacrar deste modo, mas ainda assim mantê-la fechada é impedir que o bicho suma.
Nossas gatas, Siana e Sofia, prestes a completarem dois anos, vieram para casa já com orçamento feito, e pouco tempo depois, telas foram instaladas. As gatas, desde pequenas, não foram acostumadas com a rua. Uma delas é fissurada em passear no jardim, até porque há plantas na área comum do condomínio em que moro. Não negamos isso à pobre esfregona, mas sempre o passeio é feito com supervisão, sendo que eu ou minha esposa ficamos o tempo todo ao lado das gatas, impedindo completamente que ela corra para a rua.
O costume foi tão grande que, quando ela chega perto do portão, vendo movimentos de carros ou de pessoas, já se assusta e volta para a área conhecida.
Não da pra vacilar e acreditar que ela sempre terá medo, porque a tendência do gato é enfrentar e vencer este medo. E uma hora ela vai chegar até a rua. Como não há qualquer tipo de costume, a duração de vida dele talvez não chegue a 24 horas.
No entanto, com cuidados básicos e supervisão, as gatas estão amplamente saudáveis, dóceis e muito amadas, super companheiras e parte tão integrante da família, que podemos dizer que são filhas. Meu persa viveu 12 anos, sempre com uma saúde de ferro, por ter um acesso restrito à rua.

Sendo assim, se você realmente ama o seu gato, e quer o melhor para ele, não deixe, sob hipótese alguma, que ele seja um frequentador do mundo lá fora. Ele não irá durar muito para expressar sua gratidão. Telar sua casa é um sinal de amor.

UM FATO QUE ME FEZ SENTIR UM IMENSO ÓDIO

Em meados de 2000, a pedido de uma pessoa que considerava minha amiga a época, tentei intermediar uma reconciliação dela com o namorado, após terem terminado o relacionamento. Tentando acalmar os ânimos, com outras pessoas fazendo o meio campo, conseguimos marcar uma conversa. Obviamente, não deu certo o objetivo, e o relacionamento manteve-se rompido. No dia seguinte, ouvi cobras e lagartos por não ter o sucesso desejado, de ambas as partes, no que perdi completamente a paciência e briguei em definitivo, encerrando também minha amizade com essa moça.
Desse dia em diante nunca mais tomei partido em qualquer relacionamento de pessoas próximas. Cheguei a ver um caso de um grande amigo que estava em um relacionamento visivelmente desastroso com uma garota, onde era evidente que havia mentiras e falta de respeito. Mas jamais emiti qualquer juízo de valor sobre o caso.
Acredito que duas pessoas ficam juntas porque, apesar de haver coisas ruins, sempre há boas também. Pode ser que a única coisa boa seja o sexo, mas que seja tão incrivelmente bom, que supere todas ruins. Eu não convivo no dia a dia com um relacionamento que não seja o meu, então não sei quais fatores levam as pessoas a manterem algo que a meu ver esteja ruim.
É bem verdade que amigos trazem informações. Mas sempre temos informações de somente um dos lados, o que é insuficiente para emitir qualquer parecer de forma imparcial, que venha a ajudar.
Dito isso, vejo com uma extrema e irreconciliável revolta quando alguém tenta, por qualquer razão, se intrometer negativamente no meu relacionamento. É absolutamente inaceitável, deplorável e imperdoável que tentem fazer a cabeça da minha esposa de forma negativa para que ela se decida a divorciar-se de mim.
Tenho um monte de defeitos, como todas as pessoas. E pode ser, como qualquer um, que meu relacionamento não tenha sucesso, por incompatibilidade de gênios. No entanto, depois de longos, difíceis e felizes anos, isso caberia exclusivamente a uma análise minha e dela.
Costumo conversar com algumas pessoas sobre meus problemas. Mas pessoas que tentam me acalmar e colocar panos quentes sobre a minha raiva, às vezes tentando me fazer ver o lado dela. Não tenho nem razão para tentar palavras de pessoas que queiram inflamar ainda mais o meu ódio.
Ao longo desses 11 anos de relacionamento, 5 de casados, enfrentamos os mais malucos e intensos problemas, como a morte do pai dela dois meses antes do casamento, extrema depressão por parte dela, um transtorno de ansiedade generalizado pelo meu lado, cujo tratamento continua até hoje. Muita instabilidade emocional, algumas mágoas de parte a parte.
Manter a coisa toda foi altamente difícil, para ambas as partes. Noites e mais noites sem dormir, uma auto-crítica constante, análises de erros, de acerto, do que valia a pena ou não ser tolerado. Muito dinheiro gasto com terapia, com remédios.
De repente me vem uma menina mimada, que conseguiu tudo o que quis, com constante ajuda pelos pais até para as eventualidades materiais, trazer juízos de valor sobre a minha pessoa, sem jamais ter uma única conversa mais aprofundada. Li uma mensagem que eu era um cara que era frustrado com a vida como um todo. Ao postar isso em redes sociais, todos os meus amigos rechaçaram energicamente tal frase, inclusive algumas constando que me viam como exemplo de perseverança e dedicação.
Eu nunca, em toda a minha vida, por maior que fosse a minha raiva, havia sentido qualquer vontade de matar, de verdade, um ser humano. Mas esse sentimento existe claro e indisfarçável dentro de mim. Por um ser altamente desprezível, que veio tentar, a troca de absolutamente nada, destruir um relacionamento que já enfrentou tantos problemas, problemas estes que claramente ela não teria qualquer possibilidade de enfrentar.
E este sentimento permanece, apesar de a raiva maior ter passado.
Gostaria de não sentir esse tipo de coisa. Gostaria de poder perdoar até. Mas mais do que isso, gostaria imensamente que esse ser desprezível e asqueroso mantivesse a máxima distância da minha família e de todas as pessoas que são importantes para mim, até mesmo para que eu possa tentar esquecer esse fato. Porque se esta vadia se aproximar daquelas que dependem de mim, por qualquer razão, é bem provável que meus próximos textos sejam escritos de dentro da cadeia, cumprindo pena por assassinato. E orgulhoso disso.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

A ONDA CONSERVADORA E SEUS EFEITOS DESASTROSOS

De alguns anos pra cá, estamos vendo crescer no mundo um movimento altamente conservador, em sua grande maioria, radical e perigoso. O Estado Islâmico no Oriente Médio, a onda neo-nazista em vários países da Europa, bem como a crescente xenofobia que tornou-se pauta governamental. A ascensão de Donald Trump nos EUA, o crescimento da bancada evangélica no Brasil.
É preciso deixar claro que eu sinto um profundo repúdio pelo conservadorismo. Acredito inicialmente que as leis da física deixam claro que conservar é algo bastante transitório e efêmero. Nem mesmo os continentes permanecem no mesmo local, apesar da movimentação ser tão lenta que sequer podemos perceber.
Como podemos imaginar que ideias podem ser mantidas por décadas e décadas, justificadas por uma tradição que começou com uma realidade totalmente diferente. As necessidades mudam, os desejos mudam, a velocidade da vida em si muda. Não há como manter uma relação estática segundo valores morais que são incapazes de se adaptar a uma realidade que se move em progressão geométrica.
Mas mais do que isso: o conservadorismo não é uma busca de estática para o eu. A ideia mais assustadora e perigosa da onda conservadora é a obrigatoriedade de fazer com que outras pessoas vivam sob um ditame moral que elas jamais aceitariam.
No Brasil temos visto a promulgação de leis como a obrigatoriedade do ensino religioso ou de orações em escolas públicas, prática que já abolida há muito tempo, diante de nossa inserção em um Estado laico. Ou pregações evangélicas durante sessões legislativas, no Congresso Nacional, em Assembleia de Vereadores ou tantos outros órgãos públicos, cuja função inclui manter distância de organizações religiosas.
Esta mesma religião que tenta condenar qualquer forma de aborto, mesmo quando traz grave risco de vida à mulher, ou quer controlar a vida sexual de toda e qualquer pessoa do sexo feminino, por ideias que não fazem parte de seus mundo.
Um conservadorismo que ainda hoje tenta diferenciar as pessoas pela cor de sua pele, mesmo sabendo quantos problemas sociais isso nos trouxe e nos traz nos dias atuais.
Este mesmo conservadorismo que quer fazer as pessoas acreditarem que alguém pode ser agredido e assassinado simplesmente porque tem desejos sexuais por pessoas do mesmo sexo. Desejos estes que não atingem em nada a minha vida, nem de ninguém, não tornando ninguém pior, nem melhor.

Por mais que se tente, não há qualquer possibilidade de se observar algum aspecto positivo de atitudes conservadoras. Sabendo que aquilo que eu considero correto e ético pode mudar de uma hora pra outra, diante da velocidade da informação e entendimento que os conceitos podem ter, como podemos aceitar como verdadeiro o fato de alguém querer manter as verdades paralisadas no tempo e se recusar a aceitar aquilo que nasce com o pensamento diferente?

BRASILEIRO NÃO TEM ÉTICA

Em princípio começo me desculpando pelo título tão generalizado. Sabemos todos que existem sim muitos brasileiros honestos e que vivem sob um rigorosa conduta moral. No entanto, com muita tristeza, devemos dizer que é uma pequena exceção.
Pelo que podemos observar, uns 90% da população brasileira está envolvida em algum ato ilícito, em algum esquema, ou em algum tipo de infração. Sonegação de impostos, corrupção, furtos, transgressão descarada de leis de trânsito, mentiras no trabalho... todos os tipos de “jeitinhos brasileiros” para se dar bem sem ter que se esforçar demais.
Acredito que há uma série imensa de fatores que levam a esta situação: um sistema de educação destruído; segurança pública, bem como saúde pública, praticamente inexistentes; um círculo vicioso que impõe a todos os que montam seu próprio negócio a necessidade de se associar a algum tipo de ilegalidade para se manterem de portas aberta. Daí podemos aumentar esta lista de razões até não poder mais.
São tantos problemas que levam a esta situação caótica, que atualmente fica difícil pensar em alguma medida para sanar o problema geral. Onde quer que olhemos, há corrupção e ilegalidade. A imagem que existe do nosso país é das piores.

Não há como sentir orgulho ou amor por um país assim, sabendo que esta situação não vai melhorar a curto prazo, e que pouquíssimas pessoas sequer se interessam pela melhoria. 

SUA OPINIÃO NÃO MERECE MEU RESPEITO 2

Você já tentou colocar uma imagem de Jesus dando a entender que ele era homossexual em algum local público? Já tentou ridicularizar alguma religião em virtude de alguma teoria ridícula? Se não o fez, pense bem antes, pois essa é a maneira mais fácil e rápida de se colocar a vida em risco.
Por motivos absurdamente estúpidos, as pessoas chegaram a um ponto em que a crítica a um ponto de vista, especialmente se este for extremamente polêmico, tornou-se o mesmo que uma ofensa pessoal irreparável. Desenhistas de um jornal foram mortos por fazerem desenhos do profeta do islã.
Estamos no Século XXI, em plena era da informação, onde tudo pode se disseminado em segundos, e as pessoas continuam se matando simplesmente porque você não concorda com a crença de outras pessoas. É preciso manter-se em silêncio, e em alguns casos aceitar o que você acha errado e prejudicial, para evitar uma grande briga.
Não existe conhecimento dessa forma. O que temos aqui é um medo extremo de que outros pontos de vista nos façam ver que estivemos errados por muito tempo. Um medo que se reflete somente numa fobia intensa de mudanças.
Colocar pontos de vista à prova é algo maravilhoso. Existem diversas de visões que foram proferidas ao longo da nossa história, sobre política, religião, espiritualidade, legislação, etc. E ao longo dos tempos, alguns grandes pensadores contestaram outros grandes pensadores, modificando a maneira de agir de todo o planeta.
O cristianismo em sua essência surgiu como uma contestação ao politeísmo, pregando que fosse seguido apenas um deus. Para os politeístas, o cristianismo foi uma ofensa e uma ameaça, tratada com perseguição e sangue. Porém, o cristianismo tratou assim o islã, assim como outras vertentes cristãs de interpretarem a Bíblia.
Em termos políticos, Marx trouxe à luz uma crítica feroz ao capitalismo e ao modelo liberal de produção, de Adam Smith. Hobbes e Locke foram altamente conflitantes em sua filosofia política.
Um tribunal é feito com a colisão de duas teses distintas para um mesmo fato, tentando ambas provarem que apresentam a visão verdadeira sobre o que ocorreu, bem como sobre quem é culpado do ocorrido. O debate é parte essencial da profissão, bem como a necessidade de conhecer, ouvir e contra argumentar a visão do “oponente”.
Porém, agora não se pode dizer que você discorda do outro. Não se pode criticar ideias que você vier a julgar errado. Se você considerar alguma teoria ridícula, o proponente da teoria irá se ofender, como se você o tivesse humilhado por inteiro.
Opiniões e ideias não possuem sentimentos. Não sentem nada. Não são humilhadas, não são ridicularizadas, nem enaltecidas. São apenas linhas de raciocínio, que muitas vezes sucumbem ao tempo. Existem para serem colocadas à prova, debatidas, atacadas e defendidas.

O que devemos respeitar é o direito de cada pessoa defender aquilo que entender mais apropriado. Ou o direito de não defender e apenas manter para si. As pessoas sempre precisarão de respeito por seus pontos de vista. Seus pontos de vista, não.

Sua opinião não merece meu respeito

Começo por dizer que considero o cristianismo uma imensa idiotice que traz imensos prejuízos para a raça humana. Considero também que uma mulher tem o direito de fazer sexo com quantas pessoas quiser, quando quiser. Sou amplamente favorável à reforma agrária. A favor do casamento gay. Contra a liberação das drogas. E por aí vai.
Acredito, pela experiência que tive, que meus pensamentos e opiniões são amplamente polêmicos, e em muitos casos acabam por incomodar quem pensa o contrário. Até porque eu, mais do que tudo, sou um amante incondicional da quebra de paradigmas. Acredito que o simples fato de mencionar quem o cristianismo é uma idiotice é algo ofensivo para muitos.
As pessoas devem ser livres para seguir, defender e propagar as ideias que consideram melhores e mais apropriadas, que acreditam que melhor serviriam à raça humana. Acredito piamente que o intenso debate de tais ideias é algo extremamente positivo para a evolução pessoal.
Considero que o direito de expressão é uma das coisas mais importantes que existe, até porque com ela podemos acertar caminhos, ter ideias, observar erros e aprender. Não existe nada que se possa considerar ofensivo na expressão de opinião de uma pessoa.
Primeiramente porque todos temos o direito de ter um posicionamento e um pensamento sobre cada assunto, de externa-lo e iniciar um debate sobre o ponto. Obviamente não iremos agradar a todos, talvez nem cheguemos a atingir a maioria. No entanto, isso nunca irá invalidar o fato de existir o direito de mostrarmos o que consideramos correto.
Mas o que mais me impressiona quando as pessoas afirmam que não estamos respeitando a opinião que elas têm é: desde quando opiniões exigem respeito? Uma ideia pode ter honra? Uma ideia sofre? Ela sente dor? A ideia poderia ser magoada por falarmos mal dela?
Me parece muito óbvio que nada disso faz sequer sentido. O fato de eu criticar, por mais dura que seja a crítica, o cristianismo, não faz com que haja qualquer falta de respeito com qualquer ser humano. Ninguém deverá, por minha causa, deixar de ser cristão, ou de propagar tal conceito, se entender ser o mais correto. Ninguém será impedido de acreditar em Cristo porque eu estou criticando.
Ninguém será obrigado a concordar com o meu pensamento, nem aceitar o que eu digo, menos ainda concordar só pra não “eu não me sentir ofendido”. Minhas ideias nunca precisaram de respeito algum. Muito contrário, se eu as coloco em um ambiente público, ou se falo sobre elas, significa que estou, mesmo que de forma implícita, me abrindo à possibilidade de receber alguma resposta, no sentindo oposto do que eu penso.
Dessa forma, só posso dizer que estamos vivendo em um mundo adulto, cujas informações explodem a todo momento, em todos os lugares. Existem diversos tipos de filosofias, pensamentos e críticas. Não há como fugir disso. Então, vamos deixar de agir feito crianças mimadas, e aceitar que o pensamento diferente é o que faz o conhecimento valer a pena, e talvez o que nos faça diferente da maioria dos animais. Vamos crescer um pouco.

O JUDICIÁRIO POLITIZADO

Dia 12 de julho. Lula condenado a 9 anos e meio de prisão por corrupção. O fato em si, nada de mais, não fossem as situações que cercam o caso, bem como outros que fazem parte da nossa realidade.
Pra começar, o caso Lula tornou-se um verdadeiro carnaval, desde que tivemos a condução coercitiva de Lula pelo pseudo-heroi Sérgio Moro. A politização do caso, associada a farta cobertura da mídia para todo e qualquer fato que tivesse relação ao processo criou um pulguinha de dúvidas sobre a seriedade da ação.
Junta-se a isso o fato do juiz do caso ter uma ligação bastante íntima com político do PSDB, principal adversário de Lula, culminando com fotos bastante constrangedoras com Aécio Neves e Michel Temer.
Por outro lado, Aécio Neves, pêgo em uma gravação claramente confessando atos corruptos e ameaças de morte a integrantes de sua família, foi mantido solto, e o Supremo manteve seu cargo intacto de Senador, com todos os benefícios e foro.
O presidente da República, no cargo do modo mais fraudulento possível, também foi flagrado na gravação, com posterior confissão indireta do ato em pronunciamento nacional, tendo cobertura plena do judiciário, com sentença altamente favorável pelo TSE, alegando “fartura de provas”, cujo voto decisivo veio pelo Ministro Gilmar Mendes, colocado no cargo por integrantes do PSDB, sendo que antes era claramente a favor da cassação de Dilma, quando presidente.
Eu sinceramente não ligo muito para a condenação do Lula. Se ele for corrupto, que seja condenado e preso. No entanto, as nuances que envolvem o caso, inclusive alegações que não houve provas suficientes para a condenação, e sim somente a delação, trazem um tremendo mal estar para quem acredita no papel do Poder Judiciário.
As ações que sempre se mostram favoráveis a políticos e grupos de direita, ao passo que temos uma mão extremamente pesada contra integrantes da esquerda, demonstram sem qualquer dúvida que não há imparcialidade, apesar de ser um preceito legal.
Deixam claro que todos os políticos integrantes de direita podem fazer a farra que quiserem, que terão ampla cobertura em seus julgamentos, enquanto a esquerda será condenada meramente com delações, mesmo que as provas não evidenciem as delações.
Pra quem não faz parte de nenhuma torcida organizada, os casos em questão são a pá de cal no caixão do país, uma vez que todos já sabemos de cor o péssimo nível de políticos que temos, bem como fica cada vez mais evidente que nosso povo não se mexe nem quando é prejudicado. Mas o judiciário sempre foi a esperança de dar um mínimo de moral nessa merda toda, quando os casos chegavam a ele.

E ver tudo isso em algo que eu realmente acreditava, dói mais que qualquer caso de corrupção já visto.