quarta-feira, 18 de outubro de 2017

DÓRIA E O REALITY SHOW QUE NÃO DEU CERTO

Alberto Goldman, vice presidente do PSDB, afirmou que São Paulo ainda não tem prefeito, e que João Dória é a velha política, disfarçada. O prefeito é do PSDB. Dessa forma, deixando claro que, pelo menos metade do partido tem feito críticas abertas e duras ao modo de governar do prefeito.
Mas eu diria que governar não é algo que este ser tem feito. O que vemos é uma tentativa enlouquecida de transformar tudo em marketing, com vídeos e ações de publicidade, deixando perdidos até mesmo seus próprios funcionários, que depois têm que correr para tentar explicar e arrumar as ações do prefeito.
Até aí, poderíamos ter um governo populista. Isso tem seus problemas, como ações para a plateia, mas ainda assim seriam algumas ações que beneficiariam a cidade, mesmo que a intensão fosse outra. Mas isso não ocorre em São Paulo.
Quem acompanha as pesquisas de opinião deve perceber que na visão do paulistano, a cidade piorou, e muito. Pra começar, quase seis meses com semáforos queimados e sem manutenção, trazendo um caos generalizado às nossas ruas.
O número de infrações de trânsito disparou. Não sabemos se isso é porque as pessoas viram no novo governo algo bem mais permissivo, se houve uma mensagem implícita, com a recorrente acusação de indústria da multa, de que o povo poderia fazer o que quisesse, porque seria multado por um ato ilícito dos fiscais, ou seja lá o motivo. Mas o fato é que os problemas de trânsito pioraram demais.
Como ciclista diário, já via problemas no ano passado, mas este ano a coisa disparou. As pessoas perderam muito o respeito, seja os motoristas, os motociclistas, pedestres, ciclistas... ninguém mais se importa com a lei. Pra mim o resultado é um braço quebrado e dois meses de molho.
E agora temos as centenas de brigas de Dória com seus críticos, seja integrantes de partidos de oposição, seja com seu próprio partido. O cara chegou ao ponto de chamar o vice presidente de seu partido de velho, ultrapassado e improdutivo, tudo porque seu modo de governar foi contestado.
Agora temos a ração humana. Em geral, a ideia não é de todo ruim. Mas foi apresentado como alimentação completa para os pobres. E depois de críticas duríssimas de muitos especialistas, os integrantes da prefeitura tiveram que corrigir a cagada de seu líder, informando que trata-se somente de um complemento, que por si só tem suas críticas mantidas.
E agora será servido na merenda escolar, merenda esta que sofreu uma série de cortes de verba. Mas a ração humana, que irá dar uma folga na carga tributária de grandes empresas, se tornou a solução perfeita para o grande trabalhador ajudar seus parceiros sem investir em uma alimentação real de qualidade.
Fora o fato de criar um grupo de empresas ligadas à sua empresa, e estas vencerem todas as concorrências, quando existem, para prestarem serviço à prefeitura. Ou simplesmente serem contratadas sem licitação.
No geral, nada de melhoria para a cidade. Tudo piorou muito. Ou, na melhor das hipóteses, permaneceu estagnado. E isso já dispara a olhos vivos diante de toda a população. Na verdade ainda é inacreditável que cerca de 30% das pessoas acreditem que um caos desse nível reflita um governo bom ou ótimo. Gostaria muito que as pessoas pudessem dizer onde está a parte boa.

Deve ser por sair pintando tudo de cinza. Ou apoiar a queda de direitos trabalhistas com as desastrosas reformas. Ou talvez por criticar exposições de arte moderna. Ou talvez por elogiar a proteção ao trabalho escravo. Ou talvez pelo seu passa tempo preferido: criticar o PT. Até nas suas cagadas ele da um jeito de falar mal do PT. E talvez para um povo tão cego, falar mal do PT seja total sinônimo de coisa boa.

O RETROCESSO TOTAL

A reforma trabalhista aprovada no Congresso foi a clara demonstrava que vivemos um momento de total retrocesso em direitos, a maior parte deles em acordos internacionais, fruto de um governo ilegítimo, oportunista e altamente impopular, que serve interesses de um pequeno grupo.
A reforma trabalhista, em sua maioria, é inconstitucional. A Procuradoria Geral já ajuizou ação de inconstitucionalidade, bem como o Tribunal Superior do Trabalho já se manifestou, na maioria de seus ministros, no sentido de não utilizar as novas regras, uma vez que ferem, de forma clara, a Constituição.
Pra começar, a Constituição só permite jornada de trabalho de oito horas diárias, sendo vedada qualquer jornada que supere 10 horas, se as duas excedentes forem apenas em horas extras. Da mesma forma, há previsão de proteção ao mercado do trabalho da mulher, bem como proteção total a mulheres grávidas.
As negociações coletivas são previstas pela Constituição, no entanto, tais negociações envolvem toda a categoria, e não podem, de forma alguma, suplantar o que está descrito na lei, tanto na Constituição, quanto na CLT. Logo, um acordo entre patrão e empregado que firam o descrito na lei, além de como o próprio nome diz, ser ilegal, é inconstitucional.
Todas as polêmicas da desastrosa reforma trabalhista, aprovada por partidos de direita e por partidos que sirvam o interesse de alguma classe, estão dispostas no art. 7º da Constituição, não deixando nenhuma dúvida de sua fraude.
Ao longo de seu desgoverno, foram revogadas áreas de proteção ambiental, terras destinadas aos povos indígenas, que diga-se de passagem são bem limitadas na situação anterior. Tudo para que interesses econômicos de ruralistas fossem atendidos.
Recentemente, a portaria que dificulta o enquadramento de trabalho escravo. Portaria que foi condenada inclusive pela OIT, da qual o Brasil é parte e signatário de seus tratados. O Ministério Público do Trabalho, bem como o Ministério Público Federal já se posicionaram contrários a esse desregramento, que torna legal um crime definido no Código Penal.
Algumas piadas surgem no sentido de vermos um país caminhando de volta à Idade Média, até mesmo com religião única sendo professada nas escolas. Um conjunto total de absurdos que num país decente nunca seriam sequer toleradas como ideias. Mas aqui, onde se manifestar por uma causa que não seja impeachment contra um governo de esquerda é motivo pra apanhar da polícia, tudo bem.

Pensar num país que aceita aberrações desse tipo acaba por deixar claro porque tem tanta gente querendo votar em Bolsonaro, ou apoiando golpe militar, tortura  e caça até mesmo a quem tenha tendências a pensar de forma esquerdista. Uma aberração total.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A BIKE, ATÉ O FIM

Dia 28 de setembro de 2017. Tomei uma fechada de um motorista altamente folgado, que invadiu a ciclovia na rua Prates, sendo obrigado a frear bruscamente. Como o dia era de chuva, a pista estava molhada, e o pneu acabou escorregando com força, me fazendo cair sobre meu braço direito, quebrando o úmero. Consequentemente, dois meses de molho.
Diante do quadro de trânsito que temos, onde carros, bicicletas e pedestres não respeitam regra alguma, a pergunta que me fizeram repetidamente é se eu deixaria de fazer meu trajeto de bicicleta, para minha própria segurança.
Vejamos: por um erro praticado por um terceiro, algumas pessoas acham que eu sou “cabeçudo” por querer continuar indo trabalhar com um meio de transporte infinitamente mais saudável e menos estressante do que carros ou transporte público.
A bicicleta tornou-se no último ano e meio quase que uma extensão do meu corpo. São 25 km por dia, da Vila Gustavo até o Centro. Já cheguei a passar dos 600 km percorridos ao longo de um mês. Gostei tanto que enchi minha bike de parafernalhas, como retrovisor, luzes, bagageiro, etc. Tenho inclusive uma câmera que filma meu trajeto, já postando tanto ida quanto volta no youtube.
E por causa de erros de outros, e má conduta de pessoas que vivem no mesmo lugar que eu, eu sou obrigado a mudar algo que tem me feito bem? Quer dizer que por erro de outras pessoas nós deixamos de viver, ou viveremos com medo ou confinados num estilo doentio?
A inversão de valores, onde não se combate o infrator, mas tenta-se infringir medo às vítimas, é a cara da sociedade. As mulheres são responsáveis pelo estupro; os assaltados são responsáveis por vacilarem com seus pertences. Isso é insano.
Não sei que tipo de vida querem as pessoas. Parece que a vida sob medo e em pequenos quadrados delimitados têm feito muita gente feliz. Não a mim. Sou um inquieto por natureza. E não desisto fácil de nada. Algo que só tem me feito bem, menos ainda.

Se é para morrer, que seja andando de bicicleta!

PRIORIDADES NUM RELACIONAMENTO

Não faço questão que gostem de mim. Entendo que pelo meu jeito, algumas pessoas podem me admirar muito, e outras podem vir a ter repulsa pelo meu estilo. É direito de cada pessoa escolher e seguir feliz em sua vida, tendo minha amizade ou meu distanciamento. E não sinto qualquer tipo de mágoa por quem escolhe a distância.
Da mesma forma, não forço a barra. Se a pessoa quer contato, amizade, amor, ou seja lá o que for, a coisa virá naturalmente. O contato será agradável para ambas as partes, sem qualquer tipo de coação. Não vejo qualquer vantagem em obrigar alguém a me aguentar.
Da mesma forma, se eu eventualmente não gostar de alguém, vou manter o máximo de distância possível. Não quero me sentir irritado ou incomodado com alguma presença que não me faz bem. E se odiar alguém, o que é algo raro, aí vou manter deliberadamente a distância máxima, até conseguir esquecer por completo a existência desse ser.
Dito isso, a partir do momento que estamos em um relacionamento amoroso, partimos do princípio que a pessoa que escolhemos é especial, e queremos ao nosso lado em quase todos os momentos, mais do que as demais. Se você chegar ao ponto de casar, significa que realmente você quer essa pessoa ao seu lado em todos os momentos.
O casamento impõe, por uma escolha própria, a ideia que você é a pessoa mais importante para seu cônjuge, acreditando também que o contrário é verdadeiro. Claro, sempre tendo em mente que amor próprio é essencial e vem em primeiro lugar. Ninguém ficará com outra pessoa se estiver fazendo mal a si próprio.
A única exceção para isso são os filhos. Ainda não nasceu o meu, mas imagino que o filho venha em primeiro lugar, inclusive acima de você mesmo. De resto, se você escolheu, seja pela insanidade que for, estar casado, assumiu como seu cônjuge sendo sua principal família, bem como a pessoa mais importante na sua vida (ta até naqueles juramentos malucos que se repete quando casamos).
Daí vem a grande dúvida: como podemos considerar alguém que passa a colocar seus amigos em primeiro lugar? Ou futebol, vídeo game, cinema, ou qualquer merda que passe a superar quem você escolheu compartilhar sua vida?
Será que você se dedicar a uma pessoa integralmente e vê-la tomar como mais importante que você, um amigo, por maior que seja amizade, é algo que vá fazer algum relacionamento sadio e feliz?
Você se dedica loucamente a alguém, especialmente em momentos terríveis e insanos, deixando de lado sua própria saúde, seus projetos pessoais, suas metas, sua alegria, para que alguém consiga dar a volta por cima, acreditando nela e investindo muito mais que seria suportável. Aguenta o tranco, suporta sofrimento interminável, até chegar no limite da sua razão.
Não somente porque existe amor, ou porque exista respeito, ou mesmo uma admiração. Mas porque aquela é a pessoa mais importante na sua vida, e você acredita que seja também da dela.
Mas um belo dia você diz que não gosta de uma pessoa amiga dela, e não quer contato com essa pessoa (como descrito no começo). Não faz a menor diferença se seu cônjuge terá amizade ou não. Apenas não quer ter que sequer lembrar da existência desse ser. O que inclui eventos entre ambos, como nascimento do filho, aniversário do filho, ou coisas relativas ao filho, não ter a presença desta pessoa, como ocorreu no inverso, sem grande sofrimento.
Qualquer ser humano ponderado, que tenha você como a pessoa que decidiu amar e respeitar na saúde e na doença, na tristeza e na alegria, vai acatar o pedido, mesmo que não seja o que quer. Afinal, vocês são casados, têm uma vida juntos, um filho juntos, e isso é mais importante que a presença de um amigo.
Certo?
Completamente errado. Seu cônjuge vira pra você e fala que se você não quer, não participa. Que o amigo será chamado e possivelmente estará presente. Se você quiser, será assim. Amigo este que agiu deliberadamente para prejudicar seu relacionamento.
Será que algum ser seria tão passivo, submisso e sem personalidade, a ponto de se humilhar a aceitar esse tipo de coisa? Será que isso não é uma baita traição, com seu esforço, sua dedicação, seu amor e seu sofrimento nos momentos mais terríveis, sua abnegação, somente para ver a coisa funcionar?
E assim que você percebe que é um total imbecil. Que se meteu numa tremenda encrenca por alguém que não vai te colocar no posto que você merece, nem vai enfrentar tudo o que vier por sua causa. Assim você percebe que fez um monte de merda, que irão te prender pelo resto da vida, por alguém que não faz questão da sua presença, acima dos demais.
Assim você descobre que é um trouxa.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

DESILUSÃO

O sentimento de desilusão é forte. Saber que um grande esforço não foi recompensado. Você dedica seu tempo, sua alma, sua saúde, acreditando em um objetivo, mas ele nunca vem.
Acreditar que está em uma posição a ser considerado o mais importante na vida de alguém, ser o para-raio no momento de uma imensa tempestade, mas perceber que isso nunca aconteceu, nem nunca irá acontecer.
Perceber que nos momentos mais angustiantes, apesar de escolhas deliberadas e complexas, você nunca será colocado em primeiro lugar. Nem em segundo, nem em terceiro...
Perceber que quem está ali para destruir ganha mais crédito, não importa que o esforço tenha sido visível a todos. Que você será colocado para trás por não suportar conviver com situações tão falsas e hipócritas em algo que fez não só sentido para sua vida, como foi sua vida durante muito tempo.
Abrir mão de coisas importantes, acreditando que ao menos a sua importância está sendo incontestável, mas não está.
Não podemos nos arrepender. A vida é assim. Às vezes as coisas não funcionam como nós queremos. Possivelmente nós mesmos nos engamos, acreditando que seremos enaltecidos por fazer tanto por alguém. Não dá pra cobrar isso das pessoas. Não da pra imaginar que gratidão é inerente a todos.

Mas, a vida sempre segue.

TRAIÇÃO

Imagine que você pegue o celular da sua esposa e encontre um daqueles nudes, que viraram moda, com modelos inteiramente nus, corpos esculturais e alguma conversa altamente picante com as amigas. Você sem querer percebeu que ela sentiu-se excitada com a imagem, de repente até se masturbando, pensando no cara. Você se sentiria traído?
Ou de repente se sua esposa revela que sua grande fantasia é transar com dois homens (ou mesmo com você e mais uma mulher). Ou ser uma frequentadora de clubes de swing. Participar de orgias. Ter um relacionamento liberal no que diz respeito a sexo.
Pra muitos, traição. O corpo e a mente de uma pessoa, dentro de um relacionamento, são só dela.
Não posso entender dessa forma. Toda manifestação honesta no sentido de chegar a um resultado, seja ele aceito ou não, onde as partes tomam uma decisão e vivem firmes dentro dela, não pode ser considerada traição. Até porque não podemos dizer que somos possuidores de ninguém, seja do corpo ou seja da mente.
Você mentir no lugar que foi, mesmo que seja apenas pra não dar uma resposta mais complexa, é um ato muito maior de traição do que ter desejos sexuais por outra pessoa. Trair a confiança de alguém que tem a sua palavra como suficiente é muito mais complexo do que sentir-se excitado por outro.

Nesse sentido, qualquer tipo de mentira é uma traição. E relacionamentos não podem ser feitos sobre mentiras, porque uma hora ou outra serão descobertas.

A ESCOLHA E A EVOLUÇÃO

Para quem me conhece, sabe que sou um persistente nato. Acredito que tenha um ego altamente inflado, pois a negativa numa empreitada pra mim é motivo de não conformismo, ao invés de decepção. E como ateu confesso, vejo um fracasso como uma demonstração de onde erramos e o que podemos melhorar, partindo daí para uma nova tentativa, mais eficiente.
Disso posso dizer que tirei minha aprovação para Escrevente do TJ, em 2007, após não conseguir em 2004. Analisei algumas falhas, o que eu precisava melhorar, me esforcei, tentei de novo, e consegui.
Não acredito que isso seja uma característica pessoal. Acredito piamente que quem se esforçar, agir de acordo com uma auto-crítica total e estiver disposto a evoluir, vai conseguir. Não é fácil, e menos ainda rápido. É uma escolha, que leva a denegar algumas outras possibilidades. Mas é perfeitamente possível.
A evolução é uma escolha. Você pode optar por corrigir seus defeitos, ou colocar a culpa no outro. Pode encarar uma derrota como uma afronta, ou como uma oportunidade de dar a volta por cima. Até mesmo uma traição sexual pode ter seu lado proveitoso, se você tentar tirar daí alguma eventual atitude sua que possa ter levado à frustração do outro para que isso ocorresse.
Mas esta escolha tem seus limites. Um relacionamento amoroso, por exemplo. Você pode brigar por ele contra todas as adversidades que ocorrerem, trilhar um caminho juntos, ser um grande parceiro em todos os momentos. Mas isso só é possível quando o outro está em total consonância com a sua atitude. Se a pessoa não quer ficar com você, não importa o que você faça, ela estará ao seu lado somente para evitar um problema maior, ou por algum outro interesse, ou pelo simples comodismo, que ainda não tenha sido percebido, em alguns casos.
E neste sentido a própria ideia de evolução viria no sentido de entender que todo o esforço possível foi feito, que você lutou, batalhou, se esforçou, melhorou, se superou, mas nem sempre a vontade dos demais seguiu este mesmo ideal. Nada pra se envergonhar ou se frustrar, até porque, a luta é sempre digna.

Mas às vezes a evolução também requer a aceitação que não vencemos sempre. Aceitar que a experiência é válida, nos tornará ainda maiores, mas é preciso seguir a vida em frente, enfrentando os próximos obstáculos. É meio dolorido, um tanto quanto constrangedor, mas nem sempre a decisão pode estar em nossas mãos.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O QUE O FUTURO NOS RESERVA, QUANDO ANDAMOS PARA TRÁS?

A recente decisão do STF de permitir o ensino catedrático religioso nas escolas, demonstra como estamos andando para trás em passos largos, na nossa sociedade. Some-se a esta decisão a censura a uma peça de teatro que exibia Jesus Cristo com um transexual, ou anteriormente a proibição de exposições de arte por conteúdo dito impróprio.
Desde 1988 evoluímos para um Estado laico, livre de censura, com possiblidade de livre expressão, onde homens e mulheres são livres e iguais. Com o tempo, a homossexualidade ganhou o mesmo status, mesmo não sendo explícito texto de lei. Estávamos caminhando para o mesmo tratamento para animais.
De repente, o mundo começou não a andar, mas correr para trás. Um conservadorismo retrógrado, sem sentido e desprovido de conhecimento, que faz com que percamos tudo aquilo que conquistamos ao longo de séculos de muito sacrifício e luta.
A recente pesquisa que quase metade dos brasileiros quer uma intervenção militar, depois de amargarmos quase trinta anos dessa aberração, com muita gente torturada, morta ou desaparecida, simplesmente porque não concordava com o governo, mostra que a capacidade intelectual recuou absurdamente no nosso país.
Agora temos uma “bancada evangélica”, que quer trazer como norte para o país a crença que eles acreditam que está de acordo com a vontade deles, que não é compartilhada por todos nem mesmo no bairro de onde saíram. Uma bancada de políticos que traz seus interesses religiosos acima dos interesses da nação. E isso não é piada.
Como chegamos a este ponto? Será que é tão difícil de entender que estamos voltando no tempo, abrindo mão de todas as conquistas que duramente conseguimos?
Fico imaginando como será criado meu filho, por nascer, num país tão patético que não consegui aprender com sua própria história. Será que ele vai ser mais um machista ridículo que trata mulheres como inferiores e gays como aberrações? Será vai ser dos que acham os índios os vilões e pregam direito algum pra quem é minoria?
E as meninas que estão nascendo por estes tempos, serão meras submissas a seus maridos, correndo o risco de serem estupradas a cada saída de casa? Será que trataremos nossas mulheres como meras procriadoras e escravas sexuais, como foi um dia?
E de repente nos veremos jogando escravos para se matarem em coliseus, uns contra os outros, todos contra animais selvagens? Jogaremos gays de prédios em todos os cantos do mundo? Iremos declarar guerra contra todo aquele que não crê na mesma baboseira que nós? Que espécie de futuro vocês querem dar a seus filhos com esse tipo imbecil de pensamento? Porque desta forma, no momento em que eu deveria estar muito feliz pelo nascimento do meu, estou dominado pelo pavor do tipo de futuro que ele terá pela frente, num mundo, e especialmente num país, tão ridiculamente atrasado.

SE VOCÊ NÃO ENTENDE DE ARTE, O QUE VOCÊ QUER OPINAR?

A exposição Queer Musian e a recente performance com um homem nu, com a infeliz permissão de uma criança tocá-lo acenderam no país uma antiga e já superada batalha no mundo, sobre o que pode ser considerado ou não arte. Batalha esta que teve seu auge em 1917, bem como nos anos seguintes. Ou seja, estamos 100 anos atrasados em relação ao próprio questionamento.
E para piorar, não são levadas questões estéticas ou filosóficas, que são aquelas que guiam a arte ao longo do tempo. No Brasil estamos envergonhando grandes artistas ao colocar a arte dentro de um leque moral ou religioso, que era sua pauta no Século XVI. Neste caso, nosso atraso é colossal.
Mas o que me deixa mais perplexo é que as pessoas que passaram a criticar ou se manifestar duramente sobre a produção artística atual, em geral, não têm o menor conhecimento sobre o que é arte, como ela evoluiu ao longo dos séculos, e menos ainda, quem são os grandes expoentes que levaram ao que ocorre hoje.
Possivelmente há o conhecimento sobre Leonardo da Vinci, que por sua vez já trabalhava com a figura humana em nudez, cheios de conteúdos eróticos ou com mensagens subliminares, utilizando crianças, querubins e animais. Também devem conhecer Michelangelo, pela incrível fama de suas obras.
Mas será que tais pessoas seriam capazes de diferenciar suas obras renascentistas das que vieram posteriormente, barrocas? Será que com o estilo artístico que era utilizado, com técnicas pictóricas, seriam capazes de entender o que era uma coisa ou outra? Será que poderia diferenciá-las do realismo do século XIX, uma tarefa incrivelmente simples para qualquer estudioso da arte.
Mas conheceriam os principais conceitos da arte moderna, fruto da grande controvérsia da Semana de Arte de 1922? Saberiam qual teoria artística utilizou Picasso para ter a fama que tem hoje? Será que sabem quem é Henri Matisse e como ele foi o principal expoente do Fauvismo? Será que conhecem Renné Magrite, a meu ver, o maior nome do Surrealismo (ao contrário da crença popular, que é Salvador Dali)? E conseguiriam linkar com a criança de Paul Gaguin, cerca de um século antes?
Aliás, conheceriam essas pessoas o incrível trabalho de Marcel Duchamp, e como em duas obras ele revolucionou toda a história milenar da arte, dando início ao que vemos como arte moderna? Será que saberiam entender o que foi o dadaísmo, e como isso teve impactos irreversíveis para a arte atual?
Com algumas exceções, creio que não. Pelo que tenho visto, a arte tem sido objeto de duras críticas por quem sequer conhece sua história. Pessoas que cravam o que é o ou não arte, mas jamais tentaram entender os conceitos aplicados nos primórdios da arte. Como levar em consideração tais manifestações, totalmente desprovidas de conhecimento?
Claro que a arte pressupõe crítica. Nem todas as produções atuais poderão ser consagradas como obras de arte. Muitas são meras tentativas, frustradas. Outras talvez desprovidas de criatividade suficiente para sobreviverem ao tempo. Mas a gama de possibilidades de criação artística jamais poderia ser limitada por críticas, mesmo aquelas de pessoas que se dizem entendidas no assunto. Afinal, Van Gogh, Renóir, Monet, Picasso, entre tantos nomes imortalizados na arte foram duramente criticados por especialistas, que se mostraram pífios em seu trabalho.

No entanto, jamais, em qualquer situação, a arte pode ser objeto de crítica baseado em valores morais, totalmente parciais, e ainda mais em religiões. A arte não está a serviço dessas futilidades, mesmo que às vezes possa trazer tais temas em suas obras. E se você ainda não percebeu isso, é melhor se informar e estudar mais.