sábado, 22 de maio de 2010

Tarantino e a pregação de ódio


Acabo de assistir “Bastardos Inglórios”, filme de Quentin Tarantino. Já havia assistido alguns filmes do cara, e detestado todos, com exceção de “Um Drink No Inferno”, que achei divertido, mas besta. Este, apesar de ter achado o roteiro bastante interessante, os atores de primeiríssima qualidade, e uma história bastante criativa, mantive minha opinião sobre o autor.
Não sei por que razão, mas Tarantino gosta de provocar raiva descomedida em seu público, criar sensações de ódio e vingança, ver todos os vilões morrerem de maneira violenta e cruel. Isto já tinha acontecido no péssimo “Kill Bill”, e agora o autor repete a mesma loucura no filme citado inicialmente.
Desta vez, o roteiro cria um grupo de americanos judeus que mata nazistas, de maneira violenta, cheia de ódio, e algumas vezes utilizando até mesmo ironia. Que os nazistas foram péssimos para o planeta, é óbvio. Que Hitler tornou-se um exemplo do que não queremos como governantes, é mais do que irrefutável. Porém, mais uma vez, um americano mostra toda sua imbecilidade criando ódio por um sistema, sem analisar causas de terem sido criados, como se fosse o bem e o mal.
Acho curioso que praticamente nenhum filme retrate a história da Alemanha, especialmente desde a Unificação no final do Século XIX, os problemas enfrentados no período entre guerras, as condições que foram propicias para um regime extremista, a necessidade do povo alemão em se reerguer e recuperar seu orgulho, e o que fizeram de mal ao país os franceses e ingleses, nos tratados de paz.
Criar ódio por um povo é fácil demais. O problema é analisar sua história. Por que será que ninguém comenta o que os judeus têm feito com os palestinos desde que foram instalados por lá compulsoriamente pelos ingleses? Por que será que ninguém comenta que os judeus fazem o mesmo que os nazistas em relação aos muçulmanos?
Ao invés de tentarmos analisar os problemas, propor soluções e pregar a racionalidade em conflitos, vem um imbecil como este e prega o ódio. Eu sempre digo que criar um clima de raiva irrestrita a qualquer tipo de sociedade é apenas transferir os problemas. E quanto mais oprimimos uma nação, mais criamos as condições necessárias para o surgimento de um regime extremista e que crie destruição e morte.
Kill Bill, por sua vez, mostra a história de uma mulher, assassina profissional, que busca vingança contra aqueles que mataram seu esposo e os convidados de seu casamento. Ao longo do filme ela vai matando um a um seus inimigos, até matar seu ex-namorado. A idéia do filme é torcer para que ela mate a todos. Uma coisa terrivelmente estúpida e sem sentido. Cria-se um clima psicológico que deseja a morte de todos aqueles que nos fazem mal.
O pior é que os “heróis” de Tarantino são sempre pessoas desprezíveis ou que cometeram tantos erros quanto os “vilões”. Sempre pessoas de índole duvidosa. Sempre filmes sangrentos, cheios de mortes violentas, tortura, sadismo e prazer em matar. Sempre um clima de ódio que envolve o espectador, tentando fazê-lo odiar os vilões.
Sinceramente, este cara não tem nada de bom a acrescentar à humanidade. Não me surpreende que uma instituição tão medíocre quanto o Oscar tenha indicado este filme, e o premiado em alguns quesitos.

Onde está a mídia?


Esta semana tivemos uma overdose de transmissão quanto ao julgamento do casal Nardone. A mídia recheia sua programação com assuntos esportivos, especialmente futebolísticos. A mídia comenta o Big Brother como se fosse um assunto da mais alta importância para o país. Jornais sensacionalistas infestam a programação. E praticamente nada é comentado sobre educação.
Estamos vivendo uma greve de professores que atinge boa parte da categoria, e segundo informações divulgadas em alguns jornais da capital, atinge 4 em cada 10 escolas. Três semanas seguidas de passeatas e manifestações, confronto com a polícia, reclamações generalizadas quanto ao bônus, críticas imensas quanto à política de educação, e quando recebemos tais notícias, elas vêm em notas de rodapé, ou referindo-se aos problemas causados no trânsito.
A população conhece muito pouco sobre a realidade das escolas de São Paulo, assim como a rotina dos professores, com os problemas enfrentados, as questões de saúde, baixos salários, jornadas duplas, etc. Conhecem pouco da estrutura em que se encontram nossas escolas. Conhece pouco das nossas reclamações quanto às ações tomadas pelo governo do Estado (e não conseguem entender que se uma categoria inteira está se colocando contrária a tais medidas, é porque alguma coisa não está funcionando como deveria).
A mídia não se interessa em mostrar estes fatos, porque eles dão pouca audiência. Algumas vezes quando alunos agridem professores ou professores agridem alunos temos algumas informações em alguns jornais, especialmente porque os fatos são sensacionalistas. Mas pouco vemos sobre a realidade da situação. A Record ainda tentou alguma coisa, com uma série de reportagens sobre a realidade da vida de professores, em “Professor profissão de risco”. Mas é muito pouco, especialmente quando analisamos o déficit educacional em que estamos mergulhados.
O governo divulga índices de melhoras na educação, mas tais índices não são em nenhum momento questionados, quanto à sua metodologia e especialmente quem analisou a educação. Não questiona as razões de professores serem tão desvalorizados neste país. A mídia não traz uma discussão proveitosa sobre as leis que instituem a prova dos temporários, o fato de ficarem 200 dias longe da sala de aula e desempregados após este ano, a lei que institui aumento para alguns professores que se saírem melhores em uma prova, lei que inclusive contraria a própria Constituição Federal, e nem sequer a lei que limita o número de faltas médicas dos profissionais da educação.
Não temos qualquer discussão mais aprofundada trazida pela mídia. Talvez a ela interesse uma educação tão enfraquecida e superficial. Talvez a ela interesse que os professores percam o interesse pela carreira e mudem de ares. Talvez a ela interesse materiais didáticos tão simplificados e sem muito conteúdo. Talvez a ela interesse que a população continue ignorante, pois assim mais gente vai continuar dando audiência para o Big Brother.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Politicagem devastadora


Com a greve dos professores de São Paulo coloca-se à tona uma discussão bastante interessante: até que ponto movimentos sindicais são políticos?
A APEOESP está ligada ao PT, especialmente pelo fato de sua presidenta ser filiada ao partido. A greve está ocorrendo em ano político, contra um dos principais nomes ao cargo de presidente em 2010. O Governo de São Paulo, que não só é ligado ao PSDB, como buscam votos na próxima eleição, acusa o sindicato de ser exclusivamente político o objetivo da greve.
Está claro que o objetivo é político. Mas sejamos mais realistas: o objetivo de derrubar o governador, depois de quatro anos desastrosos não é só do sindicato, e sim toda a categoria do professorado paulista, uma vez que em sua grande maioria, estão insatisfeitos com os desmandos do nosso péssimo governador. E caso algum órgão tenha coragem de fazer alguma pesquisa com os servidores públicos estaduais, perceberão que todas as categorias preferem ver o próprio diabo a ver José Serra presidente.
E o mesmo mantém o mesmo discurso sempre, de que todas as greves e paralisações têm caráter político. Ele enfrentou de maneira desastrosa uma série de greves, e já mostrou que não possui qualquer qualificação de liderança que poderíamos desejar em nosso futuro presidente. Poderia ter tomado posições muito mais abertas ao diálogo e menos intransigentes, mas preferiu o ataque. Tivemos o desprazer de ver uma das cenas mais lamentáveis da história do serviço público, com o confronto entre policiais civis e militares.
A APEOESP cometeu uma série de erros na construção desta greve, assim como ocorreu na greve de 2008. O sindicato erra em algumas medidas em relação a seus filiados, e às categorias. O sindicato erra ao congestionar vias que não possuem muita relação com a secretaria da educação, irritando motoristas, e fazendo com que os mesmos se voltem contra a categoria. Mas o sindicato está certo naquilo que pede, independente de ideologia política.
Ao longo de 16 anos o PSDB já mostrou que não sabe administrar o serviço público, apelando para a privatização para arrumar sua incompetência. O partido mostra que não sabe administrar conflitos, e chamam de “analfabetos”, “energúmenos”, “ignorantes” e todos os tipos de adjetivos pejorativos todos aqueles que ousam criticar suas políticas de governo. Acho que está mais do que na hora de nossa população dar um basta a tais desmandos, e mostrar para estes caras que está politicagem que eles impõe ao nosso estado tem sido devastadora.

Desastrosa falta de disciplina


Sempre fui um cara relativamente liberal, muito favorável à democracia, adepto à liberdade de escolha e de expressão, e tenho levado esta minha personalidade às salas de aula, não só por ser impossível mudar completamente meu perfil, mas por achar que é uma das poucas maneiras de se conseguir alguma melhoria no desempenho educacional dos alunos.
Porém, hoje tive uma clara demonstração de que tal liberdade deve ser muito dosada, caso contrário, o processo de aprendizagem não funcionará. Dei aula para uma sétima série, mas anteriormente tinha enfrentado uma sexta, e posteriormente outra sexta. Os alunos passaram boa parte da aula trocando agressões, tanto física quanto verbais, arremessando objetos uns nos outros, correndo, pulando, gritando. Foi um verdadeiro inferno.
Não consegui dar aula. Poucos alunos realmente fizeram as atividades passadas. Percebe-se claramente que não há limites. Na escola em que trabalho, localizada na periferia da Zona Norte, ninguém toma qualquer atitude em relação a esta indisciplina generalizada. O diretor é totalmente omisso, a vice apenas fica gritando, dando broncas e em seguida dizendo que ama os alunos e professores, e as coordenadoras chegam a virar as costas para nós quando estamos falando. E todos ainda afirmam que os professores é que têm que segurar os alunos dentro da sala de aula.
É um banzé. Gritei tanto com os alunos, que estou completamente sem voz. Chego em casa exausto, morrendo de dor de cabeça e nervoso. Não consigo evitar de dormir uma meia hora para tentar recuperar a energia. E vejo que as reações são as mesmas vindas dos meus colegas.
Não há como o processo ser eficiente desta maneira. Os alunos, adolescentes irresponsáveis e espelhados no tráfico de drogas, são os que comandam a escola. Destroem e não ligam para nada. Desrespeitam professores, funcionários e até mesmo os colegas. Os pais, muitas vezes, são totalmente alheios, afirmam que os filhos não fazem nada disso em casa, e acham que pegamos no pé dos alunos.
Algumas vezes professores ou funcionários chegaram a chamar a polícia para denunciar problemas sérios dentro da escola, porém, a direção sempre impede a entrada da mesma, afirmando que ninguém os convocou. Cheguei a ouvir de uma policial que um diretor tão frouxo assim a escola estaria condenada. Depois de alguns meses consigo perceber que ela estava totalmente certa.
Algumas pessoas reclamam da falta de professores. Também, quem é que agüenta tal situação? Quem consegue suportar ser xingado tantas vezes? Ver esta loucura em sala de aula, sem a possibilidade de realizar um trabalho com um mínimo de qualidade? Quem consegue manter a saúde em bom estado vivendo tanto estress assim?
E não é à toa que nosso índice de Idesp foi menor do que 3 (apesar de tal bônus ter sido uma enganação para a maior parte dos professores, e do já comentado Idesp ser uma grande farsa). A escola está largada às moscas, e muitos de nós desconfiamos que existe um grande processo em segredo para que se feche o curso noturno, como já quase aconteceu em 2009. E fico imaginando quantas outras escolas não estão da mesma forma, ou até piores.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

TPM


Como podem três letrinhas, formando uma singela sigla, ser uma das mais perfeitas formas de emanação demoníaca já relatadas? Como pode um anjo singelo guardar um demônio assassino, com capacidade de atuar num período curto, de sete dias a cada mês, e mesmo assim, criar um rastro de destruição invejável? Como pode o ser mais maravilhoso da Terra se tornar um verdadeiro pé no saco por um pequeno espaço de tempo?
É incrível o quanto uma mulher é capaz de mudar da água para o vinho por causa da maldita tensão pré menstrual. Eu acho que o sangue que escorre leva embora uma carga de tensão, humor e ódio que se ficassem dentro da mulher por mais tempo a transformariam em uma carniceira.
Pior quando a mulher muda a maneira como a desgraçada da TPM age, de mês pra mês. E todos os meses temos a certeza única de que será um inferno. Alguns meses elas choram de olhar pra própria sombra, outros meses ficam desanimadas e deprimidas por causa da cor do cabelo, outros meses querem brigar até pelos passarinhos cantarem de manhã, e outros meses odeiam tudo aquilo que seja do sexo masculino.
A TPM é o pior pesadelo que um homem pode ter, ainda mais se contarmos que ele é inevitável e recorrente. Sempre que você se lembra que está chegando a revolução vermelha, você já começa a estremecer dos pés à cabeça. E ainda aquela sensação de não saber qual dos sete demônios virá desta vez deixa a situação ainda mais terrível.
No começo adotei a tática de dar chocolate para tentar acalmar o humor. Funcionou bem, mas depois você é acusado de tentar deixá-la gorda (mesmo que a acusação seja indireta). Depois você tenta melhorar a performance sexual. Depois de um período de alegria, você vira um tarado. Depois você passa a tentar deixá-la o mais quieta o possível, e em alguns meses você não da mais a devida atenção e nem tem a mesma paciência. Depois você começa a brigar, para ver se amansa a fera, mas aí parece que ela sente um prazer maior do que o próprio orgasmo, porque aí que a bicha vem pro enfrentamento com sede de sangue.
Ou seja, não há o que fazer. Por mais que você tente, no fim sempre você vai fazer alguma grande merda que irá provocar uma grande desgraça, que em qualquer outro momento do relacionamento nem seria dada importância. Então, como diz a nossa ilustre ex prefeita, é melhor relaxar e gozar.

Dimenstein: tendencioso ou ignorante?


Há algum tempo tenho acompanhado a coluna de Gilberto Dimenstein no jornal “Folha de São Paulo”, especialmente porque o mesmo se diz defensor da educação e prega a carreira de professor como a mais nobre e importante que possui um país. Porém, cada vez que ele resolve fazer um comentário sobre educação, é como se pudéssemos ver uma série de moscas voando sobre o jornal, e aquele cheiro putrefante empesteando o ambiente.
Ao longo dos últimos anos o colunista tem se tornado um verdadeiro divulgador de idéias propagadas pelo governo de São Paulo, sempre revelando as notícias de maneira parcial e tendenciosa. Antigamente ele tentava colocar a culpa dos problemas da educação exclusivamente nos professores. Agora está tentando voltar a população contra a categoria por causa da greve.
Em seus últimos textos o colunista comenta que a greve é contra os pobres, sendo que os professores têm medo de serem avaliados, assim como lutam contra a lei que institui o absenteísmo na rede pública. As únicas coisas que ele se esqueceu de comentar é que, qualquer pedagogo de meia tigela sabe que um sistema de avaliação competente reza que não deve se avaliar qualquer pessoa apenas por uma prova, se quiser saber a verdadeira qualidade do mesmo. Da mesma forma, como vai dar aumento para uma pequena parcela da categoria quando o método de fazê-lo inclui apenas uma provinha de um dia? Sem contar que nesta prova é decidido o conteúdo que quer a Secretaria da Educação, e as respostas que devemos dar para as questões abertas para serem consideradas corretas devem ser a que eles consideram corretas.
Por outro lado, a lei que institui o absenteísmo nas escolas, a famigerada LC 1041/2008 impõe um limite de apenas seis faltas médicas por ano a cada profissional. Se ele ficar doente sete vezes, as faltas subseqüentes deverão ser descontadas do salário. Ninguém critica qualquer medida para conter o número de faltas, mas não seria mais fácil reduzir os riscos de contrair doenças pelos profissionais, melhorando as condições de trabalho, reduzindo as jornadas com salários decentes e evitando que um mesmo professor dê aula em várias escolas? A própria Constituição assegura a todos o direito à saúde, o que tem sido claramente desrespeitado no Governo Serra.
Ele mesmo comentou que não iria entrar no mérito do aumento salarial. Verdade, porque não tem como debater algo do tipo. Nos últimos doze anos, apenas um pequeno aumento foi dado, em 2008, de 5%. O grande problema é que este aumento refere-se a incorporação de gratificações, o que quer dizer que é a mesma coisa que nada. Se formos bem bozinhos, daria uns R$50,00 a mais em alguns casos. Existe uma lei em São Paulo que estabelece a data base do funcionalismo público, onde todos os vencimentos devem ser repostos de acordo com as perdas da inflação. Não é aumento, é apenas uma reposição salarial. Mas isso ele pouco comenta.
Então, começa a tentar colocar os próprios pais dos alunos contra a categoria, por causa da greve. Faz afirmações covardes, como que o professor tem medo de ser avaliado, esquecendo-se que para fazerem parte do quadro, tiveram que prestar concursos públicos para serem nomeados. E veja que interessante: ninguém tem feito greve nem protesto contra tais concursos. Por que será que é só contra estas provinhas institucionais?
O sr. Dimenstein também não comenta que estes professores temporários que entraram na rede este ano através da provinha, que foi debatida judicialmente, irão lecionar por 200 dias, e depois deverão ficar afastados por outros 200 dias, ou seja, desempregados. Ele não fez comentários sugestivos de como tais profissionais deverão viver neste período de afastamento. Nem tampouco o vi criticar o fato de alunos de faculdades terem ficado com aulas na frente de pessoas formadas por causa da prova, fato contrário inclusive à LDB.
Um outro ponto importante que ele vive esquecendo de comentar é que sua ONG recebe proventos da Secretaria do Estado da Educação, para lecionar cursos e palestras para professores e diretores de escolas. Inclusive seu livro foi comprado pelo Governo do Estado para ser distribuído aos professores.
Eu só gostaria de saber quanto é que a SEE tem pago para que ele defenda veementemente as baboseiras tomadas pela mesma, tentando fazer com que a população se vire contra os professores, assim como a total falta de comentários pela real melhoria da educação estadual.
Quem quiser conferir seu texto “Professor ensina cego a ter visão”, o link é: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u708578.shtml .Reparem que abaixo do texto existem muitos comentários sobre seus dizeres. Todos eles são de críticas vorazes ao defecamento literário deste cidadão. Seria coincidência.
Com isso, temos duas situações possíveis para entender o posicionamento do sr. Gilberto Dimentein: ou ele é completo ignorante no assunto, demonstrando que não entende absolutamente nada do que ele escreve, ou ele é um dos muitos pilantras que existem neste país, que aproveita a coluna de um grande jornal para fazer propaganda de um governo que claramente tem o sustentado.

PS: enviei dois e-mails para o colunista, ambos afirmando que ele deveria começar a escrever sobre outros assuntos, pois de educação ele não entendia nada. O desafiei a entrar em uma sala de aula para saber qual é a realidade da carreira, assim como viver com o salário de um professor. Percebi que todos os meus colegas citados fizeram algo parecido. Constatei também a revolta em comunidades do orkut, fóruns e até mesmo na escola em que trabalho. É impressionante a capacidade deste cidadão em unir a categoria contra sua pessoa. Jamais obtive qualquer resposta, assim como não conheço qualquer pessoa que tenha recebido.

domingo, 9 de maio de 2010

O professor e o sistema apostilado


Hoje discutimos o sistema apostilado implantado desde 2008 pelo Governo do Estado na Educação. Existe quase um consenso entre os professores que o material é de péssima qualidade. Criado por grandes universidades, como a USP, a apostila é uma tentativa de padronizar os conteúdos curriculares e dar algumas aulas mastigadas para os professores.
Primeiramente, vamos ao mais óbvio: a pessoa que perde alguns anos de sua vida para ser professor tem alguns sonhos e ideologias, especialmente em dar sua contribuição para mudar o mundo.  Suas atitudes buscarão trazer a reflexão para seus alunos, fazendo com que os mesmos aprendam a pensar e tirar suas próprias conclusões, diante de algumas situações problema propostas. Quando você joga uma apostila que deve ser seguida aula por aula, o papel do professor é reduzido a um mero executor de tarefas, mais ou menos como um carimbador de papéis. Isto constitui uma grande frustração para os profissionais, que se vêem como meros fantoches, e bonecos desprezíveis na constituição da educação.
Um segundo ponto a ser destacado é que o Estado de São Paulo possui uma diversidade incrível de populações. Se ainda formos um pouco mais bonzinhos, e ficarmos apenas na cidade de São Paulo, já encontraremos grupos bem diferentes um do outro de bairro para bairro. Determinar alguns conteúdos mínimos que todos tenham que aprender pode até ser uma medida interessante, mas despreza totalmente a realidade de cada um dos grupos, seus conhecimentos e experiências, assim como dificuldades. Um aluno que não conheça o que tem sido proposta na apostila irá se desestimular rapidamente em virtude da dificuldade encontrada, assim como um aluno que esteja muito à frente do que é proposto pelo infame livrinho irá achar a aula um saco, desestimulando-se da mesma forma.
Por outro lado, para quem já teve o desprazer de ler um destes livros, irá perceber que os cadernos de alunos trazem algumas imagens, e uma série de questões, a maior parte das mesmas bem simplificadas, e que muitas vezes não trazem muitos conhecimentos para o alunado. A maior parte das questões adota um cunho filosófico, quando muito. Em termos práticos, poucos conhecimentos trazem para as crianças e adolescentes.
Alguns países do mundo adotaram o sistema de currículo unificado, mas não apostilas. Tais países entendem por currículo algumas diretrizes a serem ensinadas que são entendidas como conhecimentos obrigatórios para todas as pessoas da nação. Porém, a maior parte destes países é bem menor que o Estado de São Paulo, e com uma diversidade populacional bem inferior. Além disso, os professores são bem melhor remunerados, a estrutura escolar é infinitamente superior, e a própria população da uma grande importância para a educação.
Acho realmente engraçado que alguns tecnocratas de plantão continuem apoiando este sistema, sendo que os professores, aqueles que são responsáveis por ministrar conteúdos, pelo processo de ensino-aprendizagem, e que lidam com a realidade de uma sala de aula todos os dias, estejam criticando veementemente este procedimento mal implantado. O dinheiro de impostos de grande parte da população tem sido investida nesta porcaria, e ninguém faz uma pesquisa para saber a qualidade de tal investimento.

Futebol: um convite a deixar de estudar


Ouvi alguns comentaristas esportivos dizerem que jogadores de futebol merecem ganhar os salários que ganham. Os mesmos proporcionam espetáculos para multidões, envolvem patrocínios milionários e trazem milhões de lucro ao espetáculo, e por isso merecem o que ganham. Alguns ganham mais de R$500.000,00 por mês, jogando futebol. É bem verdade que exige disciplina, concentração e muito treino. Mas será mesmo que merecem tanto?
Como exemplo, falarei de mim e da minha noiva. Eu sou formado em Artes Plásticas. Pagava em média R$500,00 por mês na faculdade, o que conseguia somente com a ajuda do meu pai, pois minha carreira é um tanto quanto fechada para oportunidades imediatas. Tive que trancar a matrícula por dois anos, por falta de dinheiro. Gastava com condução, livros, materiais, etc. Quando terminei a faculdade, tive muita dificuldade em conseguir empregos. Fiz entrevistas em museus, mas não obtive sucesso. Consegui algumas aulinhas, até ser aprovado no concurso para professor do Estado. Hoje, ganho R$1500,00 para trabalhar com 26 aulas semanais, mais duas horas de reuniões obrigatórias, e o óbvio trabalho extra classe. Logo irei remar para um trabalho de nível médio, porque conseguirei um salário melhor, de R$2.700,00.
Minha noiva, nutricionista, gastou ainda mais com a faculdade: em média R$650,00 ao mês. Mais condução, alimentação, livros, etc. Como nutricionista responsável pela merenda escolar do Estado de São Paulo, ganha cerca de R$1.600,00 para uma jornada de 40 horas semanais. Além disso, ela é responsável pelo controle de qualidade da comida, uma baita responsabilidade. Ela andou vendo como está o mercado, e a base salarial anda ainda menor, com empregos que misturam a nutrição com vendas.
Imagino que tenhamos zilhões de exemplos como estes. Pessoas que gastam muito dinheiro com estudos, investem tudo em suas carreiras, se dedicam, e ganham um salário apenas para sobrevivência, enquanto jogadores de futebol,  que mexem apenas com entretenimento, e muitas vezes não têm sequer o ensino fundamental concluído, ganham fortunas por mês.
Esta disparidade retrata bem o que é o pensamento brasileiro: estudar pra quê? Uma profissão tão idolatrada, onde o que conta muitas vezes é ser malandro, é algo bem mais vantajoso do que pegar um bom livro pra ler. Você não precisa ser um bom aluno, não precisa respeitar os professores, não precisa se preocupar com nada, apenas ter habilidades futebolísticas.
E o pior são estas pessoas com o poder que lhes é dado pela mídia, defendendo este absurdo. Cada dia mais e mais pessoas se interessam menos pelos estudos por causa desta situação. E muitas se desiludem, pois não é a maioria dos jogadores que consegue chegar a esta valor salarial. A maior parte ganha salário mínimo, quando muito.
Não defendo que os jogadores devam ganhar mal, mas não vamos exagerar. Os salários poderiam ser altos, mas existem profissões infinitamente mais importantes que são muito desvalorizadas. Isso é distribuição de renda, refletindo o que o país considera importante e quais as diretrizes que vai tomar para o futuro. E pareça que as do Brasil não andam muito bem das pernas...

sábado, 8 de maio de 2010

Big Bosta: com a cara do Brasil


Como alguém formado em Artes, ainda professor, sou totalmente favorável a entretenimento, mesmo que alguns inúteis, como é o caso do futebol e das novelas. Entendo que na situação em que estamos vivendo atualmente, com toda pressão que enfrentamos, os problemas diários e os obstáculos que temos que superar, se não tivéssemos coisas para distrair a nossa mente, provavelmente enlouqueceríamos rapidamente.
Porém, isso não se aplica ao Big Brother. Poderia entender tal programa como diversão, mas jamais poderei considerar aquela defecação midiática como alguma coisa do tipo. Mas uma coisa eu concordo com os defensores: ele tem a cara do Brasil...
Primeiramente, a base do programa é ficar espiando a vida íntima dos outros: como se comportam em casa, os relacionamentos, brigas, vida sexual, etc. tudo o que vivemos dia a dia está lá.
Depois, somos brindados todos os dias com assuntos dos mais estúpidos, inúteis e que não nos dizem respeito, como é o caso de se saber quem é mais falsa, quem é mais mandão, quem é o comedor, etc.
Além disso, ainda temos que ouvir debates sobre o programa em outros, como os de auditório, ou em jornais. Da mesma forma que temos que ouvir as pessoas comentarem sobre esta merda em todos os lugares, como ônibus, trabalho, mercado, etc. Cheguei ao ponto de ouvir professores discutindo sobre o programa na escola.
Este programa nada mais faz do que estimular as pessoas a se intrometerem na vida alheia. O maior objetivo dos participantes do programa é um ferrar com o outro, indicando pela eliminação. E para isso, criam tramas, que fazem com que os demais pareçam vilões em determinados momentos. Daí, o público liga, paga, e escolhe quem deverá ser o mais fodido do dia, e deixar o programa. Sensacional.
Então, pessoas que não têm qualquer relação com as pessoas participantes comentam sobre um cara que está pegando todas, as meninas que dão pro cara debaixo do cobertor, o gay que se exibe, a moça pobre que largou do namorado para ganhar dinheiro, etc. Discussões que em nada contribuem para  a vida de ninguém, assim como não trazem qualquer conhecimento ou experiência para a vida.
Mas o que mais me irrita é que esta desgraça é campeã de audiência. Sabe-se lá quantos milhões de imbecis param suas vidas todos os dias para assistirem este completo excremento visual, pensarem em coisas completamente sem sentido, e ainda por cima pagarem ao ligar e escolherem quem elas querem que se prejudiquem. A maioria do país faz isso. A cara do Brasil.

Um sindicato sem noção


Greve dos professores. Justa e desejada por muitos. A greve entra na sua terceira semana, e o movimento ganha força. Depois de tantas mazelas do péssimo governo Serra, estava na hora de tomarmos alguma atitude. Ele quer ser presidente, e este é o momento certo para pressioná-lo. Seria perfeito, se quem estivesse fazendo o movimento não fosse a APEOESP, o sindicato dos professores.
Na verdade, o sindicato tem razão em praticamente tudo o que deseja: a prova dos OFAs e prova do mérito vai contra toda a idéia de uma pedagogia moderna, aliada ao construtivismo, assim como é contrário a tudo o que o próprio governo prega como metodologia eficiente de ensino. Os professores estão com salários congelados há anos. A estrutura de ensino é precária. A empurração continuada já se mostrou ineficiente para nosso país. Enfim, tudo está ao lado do sindicato.
Daí, ao invés deles conscientizarem todos os professores da importância da luta, da necessidade de irmos às ruas e mostrarmos para a população qual é a verdade no governo Serra, com uma campanha educativa e amigável, não. O sindicato espalha alguns dizeres em seu site, e simplesmente decreta a greve, numa assembléia de 5 mil pessoas (num universo de 250000). Depois disso, começa a tentar convencer os professores a necessidade de tal greve.
Cerca de 40% dos profissionais aderiram a greve após sua decretação. Com a situação caótica que está, o número deveria ter sido em cerca de 90%. Porém, o movimento também foi caótico. Não houve construção do movimento.
Cheguei a mandar e-mails para eles, desde 2008, fazendo tais críticas, pedindo algumas atitudes e perguntando sobre ações judiciais. Apenas uma vez fui respondido, com uma resposta que tinha pouca coisa relacionada com minha pergunta.
Os professores são despolitizados. Poucos têm coragem de lutar por ideais. A maior parte tem dificuldade em lidar com avaliações. Muitos não dominam suas disciplinas, ou não têm condições de ministrarem aulas (o que esta provinha inútil não é capaz de mostrar). A maior parte tem medo de perder o bônus pelo número de faltas, assim como tem medo de não ter direito a fazer a prova do mérito(que por sinal são inconstitucionais). Se a decretação ocorre do dia para a noite, a tendência é de que a adesão seja pequena. Já fico surpreso com o crescimento do movimento.
Ao contrário do que o governador diz, a maioria dos professores não está ao lado de suas medidas. Todos sabem que o que ele fez é um desastre sem precedentes, mas com o salário que ele paga, logicamente todos querem os valores de bonificação que são pagos no início do ano, nas fraudes que ele denomina Saresp e  Idesp. A maior parte dos servidores públicos do Estado sabe que o governo Serra é o mesmo que um apocalipse, e que a tragédia vai ser bastante sentida no futuro. Mas todos ainda têm medo de ir à luta.
E infelizmente o sindicato errou nas medidas para mudar este quadro. A sorte é que a revolta contra tal governo é tão grande, que existe a possibilidade de sucesso, motivada pela raiva e pela insatisfação com a profissão.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Convivendo com a ansiedade


Hoje, 19 de março de 2010. Acredito que estejamos em época de nova leva de nomeações para o Tribunal de Justiça de São Paulo. Restam 70 nomes até chegar a minha vez, e apenas 213 pessoas para que a lista seja efetivamente zerada. Em cada leva, chamam em média 200 pessoas, o que me faz crer que na próxima vez a lista será zerada.
Estou realmente de saco cheio da educação, por não acreditar mais que as pessoas, especialmente as que deveriam divulgar informação, estejam realmente preocupadas com ela. Relatei anteriormente sobre os problemas que temos enfrentado, e a escolha, entre algo que eu estudei para viver, e outra coisa que me permitiria um pouco de paz. Além de tudo, ganhar o dobro.
Estou esperando esta nomeação há praticamente dez anos. Tudo começou quando fui reprovado na prova de aptidão da Unicamp, em 1999. Passei da primeira fase depois de um ano terrível, onde estudei como louco para recuperar o tempo perdido da escola pública. Consegui atingir a segunda fase, fui bem em todas as provas, mas por causa de uma nota 2,5 na prova de artes fui reprovado. Nunca engoli aquilo. Jamais me considerei o melhor, mas sempre soube que era relativamente bom no que eu faço.
Em 2004, o ano mais terrível da minha vida, prestei pela primeira vez o concurso para Escrevente. Nunca tinha estudado nada de legislação, aprendi praticamente sozinho, tirando algumas dúvidas com meu grande amigo Renato. Consegui chegar à prova de digitação, ou seja, a segunda fase, e só fui eliminado porque fui inscrito indevidamente como deficiente físico (o que é história para outra conversa).
Dali em diante virei um verdadeiro concurseiro. Pus na cabeça que eu ia ser servidor (e daqueles que trabalha, pois não gosto de ficar ocioso). Estudo regularmente e passei a me familiarizar com matérias de prova. Em 2007 prestei o concurso para Escrevente novamente e passei novamente para a prova de digitação. Desde lá foram quase três anos de angústia. Primeiro para saber se o concurso seria ou não prorrogado, uma vez que minha nomeação dependia disso. Além disso, esperava ansiosamente por novas nomeações, esperando que a fila andasse o mais rápido possível, para que chegue ao 2109º, minha colocação.
E no meio do caminho tivemos alguns percalços, como a revogação da Lei 500, o que foi indeferido pelo TJ; greve dos peritos do Estado, atrasando ainda mais a nomeação, entre outros problema. Cada vez que surgia algo novo era um desespero.
Desde então prestei alguns concursos, boa parte em que mantive tal média de classificação, evoluindo minha performance apenas. O maior de todos foi o já referido concurso para professor da prefeitura, a prova mais difícil e sem noção que já fiz, na qual obtive a 50ª posição, já convocado para escolher vaga. Outros não tive a oportunidade de estudar como deveria, ficando abaixo da minha possibilidade.
Porém, agora está para chegar a minha vez no TJ. Todas as noites estou olhando o Diário oficial antecipadamente, na esperança de ser hoje o dia. Todos os dias busco mais e mais informações esperando alguma boa novidade que acalme este sofrimento. Todos os dias divido estas altas emoções com muitos companheiros do fórum PCI, que vivem o desespero da espera, assim como muitos outros que a viveram, e que agora estão curtindo a vitória após a nomeação. Todos os dias, de um tempo para cá, freqüento a comunidade “TJ/2007 – Aguardando nomeação”. Posso dizer que não penso mais em nada.
Estou com dificuldades tremendas para dormir. Deixe minha casa praticamente jogada (Exceto hoje, que tomei vergonha na cara e limpei com vontade). Não faço mais nada da vida exceto esperar esta merda.
Cheguei ao ponto de estar insuportável viver ao meu lado. Sábado passado minha noiva até chorou, de tão chato que eu estava. Minha sorte é que ela sabe o quanto eu quero esta nomeação, e que meu humor só chega a esta nível uma vez por ano, senão eu tava ferrado.
E agora tento controlar esta emoção. Tento respirar fundo e esperar a minha vez. Tento não brigar com todos os objetos inanimados da minha casa, assim como me controlo para não esmurrar meu computador, xingar a descarga do banheiro por não parar quando eu quero, ou resistir à vontade de botar fogo no chuveiro, porque aquela merda não para de vazar. Eu sinto como se todos os objetos estivessem realmente fazendo um complô contra a minha pessoa, agora que eu estou nessa ansiedade...
E enquanto não chega a bendita nomeação, todos os dias é esta mesma loucura...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sugestões de melhoria


Citei anteriormente os problemas enfrentados pela política educacional do nosso Estado, tentando mostrar a relação entre educação e política, vivida hoje. Quando você começa a vivenciar demais uma determinada área, você começa a mergulhar nos problemas enfrentados e “desenhar” algumas pequenas soluções, ou possibilidades de mudanças. E aqui tento expor alguns pensamentos sobre soluções para a educação. Tudo muito cru, mas algumas idéias, que poderiam ser trabalhadas ou aproveitadas em parte.
Primeiramente, acho que é imprescindível que se diminua o número de alunos dentro de uma sala de aula para o máximo de 20. Enfrento aulas com 30 para cima, e é humanamente impossível acompanhar o desenvolvimento de todos. Eu não consigo diagnosticar absolutamente nada em duas aulas semanais de 50 minutos cada. Não há como dar a devida atenção ao processo de aprendizagem quando temos um exagero destes.
Um segundo ponto seriam as reprovações. De alguns anos para cá as universidades adotaram o sistema semestral, e tem dado muito certo. Não há como ligar a qualidade ensino com a semestralidade, mas o fato é que o aluno pensar em um semestre de cada vez tornou-se inclusive algo motivador, pois se acontecer de ser reprovado, o mesmo terá a chance de cursar somente os seis meses. Este sistema é bem aplicado com o EJA (antigo supletivo).
Poderíamos adotar a idéia de que o aluno só refaça a matéria na qual foi retido, em horário diferenciado, podendo seguir com seus estudos normalmente nas demais. Caso ficasse retido em muitas matérias, aí sim faria o semestre novamente. Uma idéia interessante seria adotar um sistema bimestral, o que encurtaria ainda mais o tempo de reprovação e o desânimo causado por ter que cursar novamente uma determinada série. O grande problema é que isso exigiria um sistema logístico muito mais potente do que temos hoje.
A estrutura das escolas precisa mudar, e radicalmente. O giz faz mal, tanto ao professor, quanto aos alunos. Todo mundo praticamente usa o computador em tudo na vida. Não há razão para que alunos de escola pública vivam numa situação tão retrógrada. O uso da informática é essencial para a inclusão verdadeira. Além disso, cada disciplina exige uma determinada quantia de materiais e uma estrutura determinada, que em não havendo, tornam a aula algo muito teórico e massante. Como professor de artes, por exemplo, fica muito difícil sempre exigir desenhos à lápis, em folha sulfite, pintado a lápis de cor.
O professor não é um vagabundo,e não pode ser visto desta forma pela sociedade. O cidadão que entra em uma sala de aula deve passar por um curso específico, onde, além de aprender a disciplina que escolheu, deve aprender questões ligadas à didática, pedagogia, psicologia do ensino, etc. Os jovens conseguem melhores notas em provas porque ainda estão motivados e desconhecem a realidade da educação. Quando estão há tempos na escola, a tendência é uma completa desmotivação. Com isso, a qualidade profissional cai sensivelmente.
Se tivermos um governo que acredite no potencial dos professores, os valorize de verdade, pague salários condizentes com a formação e a responsabilidade da profissão, e ainda tenhamos uma sociedade que privilegie a importância do professor, teríamos um pouco mais de chances de sermos um país evoluído. No Japão um professor é tratado como um rei. Não digo que isso deve ser desta maneira radical, mas pelo menos deve-se saber da importância que tem o professor na sociedade brasileira.
Sendo assim, um aluno agredir um professor, seja verbal ou fisicamente, é inaceitável. Não há qualquer justificativa que possa ser aceita para que um pirralho que mal conhece a vida xingue um professor. E não quer dizer que deva ser proibido debater idéias. A maior parte dos professores que conheço conseguem debater com seus alunos sem preconceito, assim como dão ouvidos aos seus pensamentos. O que não podemos aceitar é a agressão. E agora parece que virou moda os alunos se gabarem de xingar os professores, ou humilhá-los. Você iria gostar de trabalhar numa profissão em que você fosse xingado quase todos os dias?
Se o aluno xingasse o professor, a lei deveria ser cumprida à risca: os pais responsabilizados, multados e obrigados a cumprirem a pena. A punição deveria sim ser severa e exemplar, e algo que os fizesse lembrar das conseqüências pelo resto da vida, assim as coisas começariam a mudar, e todo pai babaca que incentiva o aluno a xingar o professor iria pensar duas vezes antes de ficar ensinando seu filho a ser um bosta.
Algumas disciplinas devem ser incorporadas no currículo escolar, como economia, noções de contabilidade, direito (noções da legislação), marketing, nutrição, noções de primeiros socorros, etc. A escola está fechada em alguns tópicos há anos, alguns deles exageradamente explorados, enquanto as pessoas saem sem conhecer um monte de coisas. Ninguém conhece seus direitos constitucionais, nem direitos do consumidor, nem a maneira correta de se alimentar, como administrar contas de uma casa, etc. A escola no modelo atual não consegue preparar ninguém para a vida.
Estas são apenas algumas idéias para que a educação realmente dê um salto de qualidade. Provavelmente alguns pontos importantes eu deixei de abordar, assim como algumas idéias podem não ser aplicadas com qualidade (ou seja, mostrem-se fracassadas). Também devo ter deixado de citar algumas disciplinas importantes a serem inseridas, uma vez que utilizei as citadas apenas como exemplo do que nos falta. O certo é que os nossos governantes vêem a educação como um custo. Isto é errado. Educação é investimento. Quanto mais educadas as pessoas forem, mais o país irá prosperar, e mais “lucrará”  com nossas mentes pensantes. Isso significa imediatamente que haverá melhor distribuição de renda, o que leva ao fim dos benefícios que muitos dos nossos políticos possuem, o que obviamente eles não querem. Mas é a única saída para que as coisas realmente melhorem algum dia.

A inseparável associação entre educação e política


Tenho recebido algumas críticas por fazer demasiada associação entre política e sistemas de educação no Brasil. Uma delas afirma que deve-se preocupar em agir e fazer algo de significativo para o país, e não falar sobre política. Outra delas afirma que meus textos contém um tom muito mais anti-Serra do que propriamente afirmações em defesa da educação.
Infelizmente a educação oficial, ou seja, aquela passada pelo governo está intimamente ligada a um forte sistema político. Este sistema cobre alguns interesses, assim como alguns objetivos traçados pelos governos. Todo aquele funcionário que faz parte do sistema educacional oficial deve seguir as regras impostas.
Falando especificamente do Estado de São Paulo, o governo lançou um programa curricular que está sendo constantemente analisado em exames de final de ano, como o Saresp, sistema este que, se negativado, pode apresentar dados que reflitam o mau desempenho da unidade escolar. Sendo assim, cria-se um sistema de medo nos professores para que sigam o currículo, caso queiram ser bem avaliados. Não se questiona a qualidade do mesmo, que jamais foi debatido com qualquer professor (eu mesmo cheguei e enviar algumas críticas à proposta curricular de artes, outras sugestões, mas jamais recebi qualquer resposta). Chegamos ao absurdo de ter dois “paraguais” no caderno de Geografia, puramente pela falta de revisão quando elaborado o mesmo. Um currículo imposto, que não se preocupa com questões didáticas primárias, como o nível em que se encontra determinado grupo social, os conhecimentos e experiências adquiridas, etc.
Outro ponto importante é a prova que faz a seleção dos professores temporários. Tal prova é questionável no sentido de avaliar os melhores profissionais, como insiste em afirmar o governo. Existe uma série de métodos avaliativos, e tudo se resume a um pedaço de papel que determina um momento enfrentado pelo profissional, sobre conhecimentos somente teóricos. Alguns estudos apontam inclusive problemas emocionais que poderiam afetar desempenho na prova. Além do mais, não é analisada a real capacidade do profissional em estar em sala de aula, assim como não há diagnóstico que possibilite a correção de possíveis erros. O método é extremamente subjetivo e falho, com caráter exclusivamente eleitoreiro.
Na mesma linha de pensamento seguimos quando analisamos a prova de promoção por mérito. Primeiramente, a prova é inconstitucional, pois cria profissionais que fazem parte da mesma categoria que ganhariam salários diferentes. Não existe qualquer promoção, pois os profissionais exerceriam a mesma função de seus colegas, que ganhariam salários inferiores. Depois, temos o reconhecimento mais uma vez de conhecimento teórico, medido exclusivamente por um punhado de horas, realizada em um único dia. Não é medida a competência do professor na sala de aula, sua dedicação, a capacidade efetiva de ensinar. Ou seja, não prova coisa alguma.
Um outro imenso problema que temos na educação de São Paulo, estreitamente relacionado à política chama-se Idesp. Uma grande idéia que deveria existir para guiar a educação para rumos melhores, mas que claramente é manipulada, onde alunos retidos são sumariamente aprovados para que os índices evoluam, assim como abandonos são transformados em excesso de faltas ocasionais para que o nível de evasão diminua. E esta política direciona o bônus recebido pelo professor. Sabemos que o professor ganha os menores salários dentre todos os profissionais de nível superior, então os mesmos acabam “se vendendo” em função de tal bônus (e aqui também assumo a culpa por esta falha).
Mas o mais conhecimento dos sistemas políticos que determina os rumos da educação no nosso país chama-se aprovação continuada (para os mais íntimos empurração continuada). Como afirma o governo foi uma idéia que deu certo em países desenvolvidos, pois foi implantada da maneira correta. Aqui, tudo feito de qualquer jeito, e deu no que deu. Já está mais do que provado que o sistema adotado não funcionou. Tal sistema funciona em outros países porque o número de alunos por sala de aula é bem pequeno, os professores são bem remunerados, com quantidades limitadas de aulas, o que lhes permite um trabalho exclusivo para determinadas turmas e acompanhamento integral. Além disso, em países desenvolvidos os pais são extremamente presentes na educação dos filhos.
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Outro fator a ser criticado é meu posicionamento frontalmente contrário ao governo de José Serra. A maior parte das pessoas deve conhecer pelo menos um servidor estadual. Quando tiver a oportunidade de conversar com o mesmo, questione-o sobre sua opinião a respeito do atual governo. Eu poderia afirmar sem medo que cerca de 90% dos atuais servidores sentem um profundo desejo de matar o nosso governador, da maneira mais tortuosa o possível. Alguns líderes ou dirigentes podem até serem favoráveis a seu governo, mas também não são a maioria.
Na educação, ele consegue ser pior. Ele conseguiu aumentar os erros de seus antecessores, erros estes que não são poucos, pois é de conhecimento de todos que a educação em São Paulo vai de mal a pior. Ainda dificultou ainda mais a vida dos professores, com leis e medidas esdrúxulas.
Porém, a verdade deve ser dita: José Serra consegue ser pior que os demais governos, mas a maior parte dos nossos governantes, em termos de educação, são todos muito ruins. Uma das promessas de campanha do presidente Lula foi de acabar com a aprovação continuada, discurso que eu escutei do mesmo em 2005. Até agora ainda não vi nenhuma ação para mudar tal sistema. No governo do PT pouca coisa evoluiu na educação. Eu diria que a única ação realmente boa foi a implantação da Lei do Piso para os profissionais da educação, mas é muito pouco para um governo que se diz defensor das causas sociais. Sinceramente, eu consideraria que o governo Lula foi idêntico ao governo FHC quando o assunto é educação no país.
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Por estas razões afirmo que não há como separar a educação da política no Brasil. Os profissionais fazem parte do sistema, que segue suas próprias leis. Não há como desobedecê-las, até porque os Estatutos afirmam que os servidores devem cumprir as leis e ordens superiores, exceto quando forem manifestamente ilegais. As medidas são contestáveis, mas poucas são ilegais.
A criação de ONGs ou entidades que busquem melhorias para a educação através de ações sociais são extremamente eficientes, mas elas não conseguem atingir nem sequer uma pequena fatia da quantidade de estudantes que fazem parte da nossa nação.
Enquanto não houver uma mudança radical na mentalidade sobre educação no nosso país, com a valorização extrema deste setor, colocando-a como o item de maior importância para a sociedade, juntamente com a saúde, não haverá qualquer possibilidade de uma evolução efetiva do nosso país. Sempre seremos um país economicamente próspero, com muita miséria, injustiças sociais e criminalidade em alta. E não há como separar esta situação dos nossos regimes políticos.