sábado, 20 de agosto de 2011

Uma tentativa de explicar o inexplicável – o novo convite, com um fim diferente


Voltei de férias, e foi indescritível a zona que estava minha mesa. Trabalho acumulado de duas semanas, muita coisa bagunçada, e minha chefe quase chorando ao me ver. A Cleusa teve que acumular a função de chefe com a de supervisora, pois a mesma saiu de férias juntamente comigo (substituto imediato na chefia), e ainda tivemos que conviver com a desistência da Djuli na quinta câmara. Então, a Cleusa teve que fazer as vezes de chefe da quinta também. Assim, ela era supervisora, chefe da sexta, da quinta e ainda por cima fazia o serviço que a mim competia. Seria algo totalmente anormal e assustador se eu dissesse que ela deu conta.
Com isso, houve uma insatisfação generalizada com a nossa atual supervisora, inclusive da direção do prédio. E assim, ela acabou sendo pressionada a largar o cargo. E graças ao bom desempenho da Cleusa, ela acabou sendo convidada a ser supervisora, e depois de algum pensamento, ela acabou aceitando. E para minha surpresa, acabou por me indicar à chefia da sexta câmara. E então eu fui chamado para conversar com o coordenador, pra que me fosse feito o convite formal.
A conversa seguiu num rumo diferente do que eu esperava. Eu comuniquei a ele o meu desejo de cursar uma nova faculdade o ano que vem, e que isso ocorreria no período da manhã. Disse que eu era novo demais, e que poderia cometer uma série de erros, e precisaria de muita ajuda e paciência se por acaso fosse chefe. O que me deixou pasmo foram as respostas do cara: para ele, um funcionário que busque estudar e se aperfeiçoar é positivo, mesmo que perca uma hora de trabalho, assim como ele disse ter ouvido coisas ótimas de mim, de todos, e que minha indicação para o cargo tinha sido uma unanimidade.
Diante das condições e das informações, acabei por aceitar o cargo. Pois é, cerca de um mês depois, mudei de opinião. Naquele mesmo dia, tive uma dor de barriga como raras vezes na vida tive. E quando a dor passou, veio uma enxaqueca daquelas de derrubar. Quando conversei com a Cleusa, percebi que ela também estava bem nervosa com a nova oportunidade. Me senti como numa sala de espelhos, vendado, onde agente sai correndo tentando encontrar a saída.
E tentei eu mesmo entender porque raios eu aceitei esta loucura. Eu nunca na vida quis ser chefe. Nunca sequer cogitei essa possibilidade. Na verdade eu nem sei mandar. Eu costumo ser o cara que faz a sua parte, e deixa que, democraticamente as pessoas decidam como querem agir. Sou um dos gênios mais fáceis do cartório, um dos que menos reclama e que mais tenta deixar as coisas em ordem.
Mas no fim das contas, tirando o fato de ter largado a minha área para entrar no judiciário, eu nunca assumi grandes riscos. Nem me testei em situações extremas. Então, o que eu tenho a perder? Se eu não funcionar direito, volto pro meu cargo de escrevente. E no mais, creio que, mesmo que não dê certo, e que eu acabe por desistindo (ou que desistam de mim), vou ter uma experiência que pode ser considerada única. E, cacete, eu consegui isso pelo meu esforço, porra! Não puxei o saco de ninguém, nem fiz conchavos, nem precisei falar mal, me juntar a panelinhas, nem nada disso. Eu consegui os dois convites pelo meu trabalho e pela dedicação que tive durante este tempo. Então, porque não aceitar uma vitória pelo esforço?
Claro, eu vou ganhar mais. Obviamente aceitar uma responsabilidade dessas num lugar que ferve todos os dias, pelo mesmo salário, seria o cúmulo da insanidade. E isso me motivou também, porque vou casar este ano, e já temos grandes dívidas, que serão maiores no ano que vem. Temos que mobiliar uma casa. E isso vai sair carinho. Então, uma ajudinha, mesmo se ela for temporária, vai cair bem.
Também pesou o fato de o povo ter ficado no meu pé o tempo todo pra mudar de idéia. Muita gente pediu que eu aceitasse (e alguns reclamaram que eu não aceitei a câmara deles, pra aceitar a minha). Isso é sem dúvida gratificante, porque mostra que as pessoas gostam de mim. E por pior que seja meu desempenho, não acredito que isso possa mudar radicalmente. Então acho que poderia também ter uma chance de tentar coordenar o povo, sabendo que tenho a simpatia da grande maioria.
Mas, claro, a razão maior é a que mudou o quadro. O fato da Cleusa ser supervisora me deu um pouco mais de coragem. Não que eu tenha qualquer coisa contra a Ana Paula, muita pelo contrário. Acho a moça gente boa pra caramba. Mas os estilos de trabalho são diferentes. A Cleusa é do tipo que tenta resolver tudo na hora (e muitas vezes fica nervosa com isso, mas consegue). Nunca vi na minha vida uma pessoa que trabalhe tanto, tão rápido, e com tanta eficiência como ela. Em muitos momentos, foi inspirador conviver com ela. E em um determinado momento, foi terrível, quando ela era o poço de estress. Eu quase saí do cartório, mas ela me conquistou ainda mais quando veio se desculpar e me elogiar, e mudou suas atitudes comigo. Ela é do tipo que realmente apaga o incêndio e da a cara pra bater quando a coisa ferve. E do tipo que um cara totalmente inseguro como eu precisa pra entrar numa loucura como essas. Com isso, achei que seria menos complicado.
Depois de três dias do ocorrido, ainda tenho algumas pequenas dores de barriga, e minha noiva e meus colegas parecem terem ficado mais felizes com a situação do que eu. Mas aos poucos vou tentando ordenar as idéias, e curtir o momento (sei lá quanto ele vai durar). E tento me entender, uma vez que nunca fui de mudar de opinião tão rapidamente assim. Mas, independente de qualquer coisa, feliz pelo que plantei ao longo do tempo que estou no tribunal. Se alguém teve dúvida sobre a escolha que fiz em abril de 2010, agora está totalmente claro se acertei ou não.

Um bom tempo de sumiço


Fiquei cerca de seis meses sem saber qualquer notícia do André. O cara não respondia e-mail, nem sms, nada. Resolvi ligar pra casa dele pra saber se ele não estava em coma, e me passaram o celular dele de Rio Claro. Quando conversamos, ele me disse que tinha que deixar tudo em dia para o casamento. Então se programou por completo, pra não ter qualquer pendência em dezembro. Ele guiou sua vida e aceitou sacrifícios, pra conseguir cumprir com sua promessa no momento exato.
E isto tem ocorrido comigo nos últimos anos. Depois de longos anos de incertezas, depressão e problemas, consegui me recuperar, e aos poucos, crescer. Mas não foi sem esforço: horas e horas de estudos, entrevistas, entrega de currículos, aperfeiçoamento, etc. Praticamente deixei muita coisa de lado pra conseguir melhorar profissionalmente. E obviamente, estive sempre sem dinheiro.
Consegui passar no concurso de professor, e comecei a dar um rumo pra minha vida. Mas ainda assim trabalhava demais, e não ganhava bem. Então continuei estudando e me concentrando pra passar em outros concursos, por salários melhores. E depois de três tenebrosos e esfolantes anos, consegui ser nomeado Escrevente do Tribunal de Justiça. Salário melhor, e mais tranqüilidade, certo? Errado.
O sonho da minha noiva era casar, e com todo ritual que tem direito a noiva. Só que este ritual é bem caro (um carrinho popular, fácil). Isso significa que tive que fazer muitos sacrifícios financeiros ao lado dela, deixar de lado passeios, shows, viagens, etc. Guardamos dinheiro e começamos a pagar a paulada. Fora que foi um ano inteiro fazendo hora extra todo dia, exausto e com insônia.
Também conseguimos a realização da compra do nosso apartamento, pago em 24 parcelas na entrada, e o financiamento, que deverá ser de 20 anos. Muita coisa pra pagar, e muita coisa ainda por conquistar. E foi a isso que me dediquei nos últimos anos. Resolvi aceitar os sacrifícios e as dificuldades, para poder arrumar de vez a minha vida. Tinha a intenção de conquistar as coisas que nunca conquistei, e abri mão de tudo para conseguir tal objetivo.
Só que isso teve seu preço: as pessoas quase não me viram mais, exceto por e-mail, redes sociais e blog. E como não estava postando muita coisa exceto casamento, ficava difícil de saber se eu estava bem ou não. Pessoas da minha família chegaram a acreditar que eu simplesmente tinha desistido da família, e estava com raiva deles, ou coisa parecida. Meu pai, que mora numa cidade a 70 km de mim, coisa rápida, eu via uma vez a cada seis meses. O André, mais que isso. E meus amigos, que moram em São Paulo, se for uma vez por trimestre, é muito.
Nesse meio tempo dá saudade das reuniões, churrascos, reuniões pra jogar vídeo game. Dá saudade das viagens com a namorada, dá saudade de simplesmente resolver pegar o carro e ir passar o final de semana na casa de algum parente no interior. Nem no show do Helloween eu fui neste ano, pela primeira vez em dez anos! Foi dureza.
Mas o bom é ver as conquistas se realizando. Temos o nosso apartamento, chegaremos no fim do ano sem dívidas, e ainda temos ótimas chances de comprar um carro à vista. O casamento está indo de vento em popa, e como fizemos a maior parte das coisas, as pessoas começaram a reconhecer o trabalho, gostando do convite, e elogiando a originalidade. E o melhor é ver a felicidade das pessoas, vendo que não era mentira, e que eu só me afastei porque eu realmente tive que fazer uma escolha, e naquele momento, precisava mesmo pensar em mim.
Fico feliz que depois de todo o sacrifício, as coisas estejam caminhando para um desfecho positivo, com ótimas perspectivas para o futuro. E hoje tenho certeza que temos que ralar muito, muito mesmo pelos nossos sonhos, mas se acreditamos de verdade em que estamos perseguindo, mesmo que demore alguns anos, o esforço no final vale a pena.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mais uma pequena pá de cal na educação


Encontrei meu colega Marcos, professor de biologia, indo pra escola que eu trabalhava. Ele me contou sobre o novo e espetacular plano do novo secretário da educação, reduzindo as férias dos professores para apenas um mês por ano, divididos em dois períodos de quinze dias. Ele mesmo falou que o desânimo reina na educação, e muita gente já tem a certeza que faltava que é melhor sair.
O problema maior é que os professores terão que voltar no meio de janeiro, só que sem alunos. A idéia inicial é planejamento de aulas. Só que existe uma lei, que o governo do estado faz questão de não cumprir, já aprovada pelo STF, onde um terço da carga horária será destinada a tal tarefa, não sendo necessária qualquer disposição de dias pra planejamento.
Por outro lado, todo mundo sabe que um professor ganha uma mixaria, e que precisa trabalhar em duas ou três escolas pra um salário decente. Com isso, o cara fica imensamente cansado. E por isso um mês de férias em janeiro, mais os quinze dias de recesso em julho (que não acarretam custos, pois não são pagos) são essenciais pro professor manter pelo menos sua sanidade mental.
O que vai acontecer é que o professor vai ficar ainda mais cansado, desanimado, e frustrado com a profissão. Mas este parece ser mesmo o objetivo deste péssimo governo tucano (mas, como eu citei anteriormente, as pessoas ainda acham que está indo tudo bem). A defasagem de profissionais é gigantesca, e vai ficar ainda maior.
Não haverá planejamento em janeiro, até porque você tem que planejar como impedir as feras de se matarem. Em geral, uns três ou quatro dias serão de planejamento, e o resto, um vai ficar olhando pra cara do outro. O governo vai apenas obrigar o professor a estar lá quando ele não quer. A estrutura será a mesma merda que tem sido nos últimos anos, o salário será a mesma vergonha (mesmo que alguns ainda tenham se iludido com um aumento divulgado), e os alunos ainda estarão mais preocupados em transar, se drogar, brigar e quebrar a escola. Tudo vai ser a mesma merda, com o agravante de que o professor terá menos tempo pra descansar.
Daí algumas pessoas me perguntam se eu não tenho saudade de dar aulas. Você está louco? Você acha que alguém tem saudade de que enfiem uma faca no peito todo dia? Você acha que alguém pode ter saudade de ver crianças quebrarem o nariz uma das outras? Acha que alguém pode ter saudade de ficar fora de casa de manhã até a noite, pra no fim do mês ganhar um salário que no máximo da pra pagar as contas do mês, se você for bem econômico? Você acha que alguém em sã consciência, ou que tenha um mínimo de qualificação, vai realmente se interessar em ser professor hoje em dia? E você acha que existe algum atrativo para que os bons profissionais fiquem nessa área? Você tem merda na cabeça?
Por isso, dou mais uma vez parabéns pra todos aqueles que têm votado nas pérolas mor, como Alckimin, Serra, FHC, Covas e toda essa corja, que ano após ano vem fuzilando a educação, criando uma realidade cruel e implodida, onde nem sabemos se voltaremos vivos pra casa. E você, depois de vinte anos, continua achando que está tudo bem. Parabéns!

O fim da revolução


Estava na casa da minha tia no final de semana, e ela comentou, em tom de piada, que eu nasci socialista. Ao longo da vida, sempre fui um cara com fortes tendências de esquerda, e acreditei por muito tempo na idéia revolucionária de esquerda. Inicialmente, revolução armada mesmo (tanto que eu sempre brinquei dizendo que faria uma guerrilha com meus filhos e filhos dos meus amigos). Depois, passei a acreditar que a esquerda surgiria nas urnas, e que teríamos aos poucos uma transformação mundial, fato este que pode ainda ocorrer.
Por fim, acreditei que o nosso país mudaria quando a situação chegasse ao fundo do poço: quando a criminalidade estivesse insuportável, as pessoas não tivessem mais qualquer segurança, ou as drogas tivessem dominado o país, assim como todo nosso sistema fosse corrupto. Minha idéia está indo por água abaixo, porque agora estamos vivendo mais ou menos isso, com a polícia extremamente corrupta, o tráfico de droga domina os bairros pobres, você pode ser assaltado, assassinado e até mesmo estuprada em qualquer lugar a qualquer hora do dia. Grandes bancos e sistemas de saúde assaltam você o tempo todo. Companhias de telefone te assaltam todo dia. Os políticos aumentam seu salário, já estratosférico, em progressão geométrica. Todos os ingredientes possíveis para que o povo se revolte, e crie uma insurgência, exigindo mudanças. Mas isso não acontece.
Na verdade, o povo aceita toda essa merda, e cada um tenta levar vantagem do seu jeito: sonega impostos, aproveita o início do sinal vermelho, corre pra pegar seu lugar no metrô, inventa mentiras pra ferrar com o colega e ganhar um posto de trabalho melhor. Tudo o que sempre aconteceu, num momento em que você não sabe se estará vivo no próximo segundo. É como se estivéssemos no fim do mundo, e cada um quer garantir sua sobrevivência no purgatório.
E é mais incrível ainda o quão pasmo e inerte é este povo. Depois de dois anos dando aulas, percebi que as pessoas se apegam demais a tradições religiosas e conservadorismo, tentando manter valores já superados, como heterossexualismo e catolicismo, ou apenas defende a liberação do uso da maconha, mas não se dão conta do que ocorre em sua realidade. E se recusam a abrir os olhos pra enxergar.
Nas eleições, como pode ser conferido no blog, fiz campanha declarada anti-serra. Não porque antipatizo com ele simplesmente, mas porque vivi dentro de seu regime, e me informei o suficiente sobre suas atitudes, assim como analisei diante da legislação, e observei as conseqüências de seu governo. Eu sei que ele seria uma tragédia incomparável para este país, o que nos custaria anos de retrocesso. Ninguém me disse isso, eu estava dentro do sistema pra ver a realidade. Mas, mesmo assim, as reações à minha campanha variaram entre ignorar totalmente o que estava acontecendo, à acusação de loucura, passando pelas respostas com uso de jargão popular da mídia ultra direitista.
Recebi e-mails que simplesmente defendiam o Serra porque a Dilma era terrorista. Ao longo dos meus 30 anos, nunca li nada tão estúpido e sem sentido quanto isso, ainda mais quando até mesmo um professor fala esse tipo de merda. Especialmente esquecendo que o terrorismo foi contra quem matou e torturou centenas de pessoas ao longo de mais de vinte anos, e que mantinha o pensamento sobre estrito controle. Da mesma forma, recebi pessoas que reproduziam frases da Veja, o que mostra ainda mais estupidez, porque qualquer pessoa com meio neurônio com 10% da sua capacidade de funcionamento sabe que a Veja não serve nem sequer pra limpar a bunda, uma vez que já vem toda cagada.
Fui chamado de louco, exagerado, radical, e tudo quanto é tipo de nome que se pode imaginar. Teve gente que chegou a dizer que eu tinha caído na lavagem cerebral do PT (mesmo sem jamais ter feito campanha pelos candidatos do partido). Foi um show de falas sem pensamento. E isso me fez ver que as pessoas simplesmente não querem pensar. Votam por interesse, por antipatia ou por pensamentos prontos e pré concebidos, passados de pai pra filho, que muitas vezes nem sentido fazem. Elas não conseguem conceber a realidade, e apenas recebem o que a mídia transmite, sem ao menos procurarem fontes alternativas pra compararem os focos. Mas o que esperar de um povo que não sabe sequer que a igreja católica construiu sua história através do sangue e da dor de centenas e milhares de pessoas, torturadas e mortas porque sua fé era um pouco diferente?
E então eu me dei conta que as pessoas não querem pensar, e não querem que as coisas mudem. Contanto que consigam comprar sua geladeira nas casas Bahia pagando em 200 vezes com juros de 150%, e tenham seu carrinho, comprado em três vezes o que vale, tudo bem. Nós temos casa própria, carro na garagem, um baita televisor, vídeo games e computador, o resto não interessa. Podemos beber até cair no fim de semana, transar com quem quisermos, fazer filho e largar pra mãe cuidar. Pra que mudar isso? Nada de mal vai acontecer, não conosco!
Por isso abandonei de vez a idéia de revolução. Não senti um segundo de remorso ao abandonar a educação, porque as pessoas não querem educação, e não ligam se tudo está uma merda. As pessoas se recusam a pensar sobre assuntos polêmicos, e refletir sobre as próprias atitudes. Não adianta querer mudar o mundo, quando todo mundo se acha feliz com a merda em que vive. Então, por que não curtir a minha vida? Sim, pela primeira vez, sou egoísta. Quero saber da minha família, fazer meu trabalho bem feito, e ter lazer no fim de semana.
Continuarei com minhas idéias de esquerda, e continuarei com a esperança que sempre tive (e por favor, não venham me dizer que a esquerda é algo como Chavez e Fidel Castro, não ofendam ainda mais a minha inteligência). Mas não levarei isso a termos em que será necessário quebrar o pau toda hora com as pessoas, arrumar centenas de inimigos e deixar minha família de lado. Este povo simplesmente não vale o sacrifício.

Alguém sempre está com você


Mais uma vez lembro daquele fatídico ano de 2004, e o ano renascente de 2005. Mas minhas lembranças pairam sobre os fatores que me ajudaram a sair do buraco. Obviamente, ver que muitas pessoas estão não só tristes, como desesperadas por você, é algo que mexe demais. Mas acho que você ter pessoas que realmente se importam, e muitas vezes deixam de lado o próprio conforte pra te ajudarem, sem cobrar nada por isso, é algo realmente indescritível.
Eu sou um afortunado, tenho muitos bons amigos. E como já citei anteriormente, não só os amigos de sangue, que algumas pessoas têm a infelicidade de chamar de família (porque aí você acaba incluindo os familiares que são seus amigos, e outros que mesmo tendo seu sangue, querem a todo custo te foder), como os amigos que você encontra na vida. E foram muitos os nomes que me ajudaram naquele momento, como meu pai, meus avós, o André, etc. Mas ninguém fez mais por mim do que fez o Igor. O cara morava numa situação complicada, cheio de brigas de família, e mesmo assim, encarou brigas pra poder me ver sair da crise. Foram nove meses de tortura, e mesmo assim, o cara acreditou em mim, como ninguém mais acreditou. Como nem eu mesmo acreditava.
E hoje eu estou muito bem. Fui convidado a um cargo de chefia, tenho um bom emprego, comprei meu apartamento, moro muito bem sozinho, continuo tendo os melhores amigos que um homem pode ter, tenho o gato de estimação mais especial do universo, e tenho uma noiva incrível, da qual faz a vida valer a pena. Se ele não tivesse feito esse pequeno sacrifício por mim, pode ser que eu demorasse bem mais pra conseguir chegar onde cheguei. E isso me abriu os olhos, porque eu entendi que muitas vezes, por mais que agente queira desistir, não podemos fazer isso, não temos o direito, porque tem sempre alguma pessoa, que mesmo que agente não saiba, está colocando sua fé em nós. Uma pessoa que sofreria muito se por acaso tomássemos algum rumo idiota na vida. Não temos o direito de destruir a vida de alguém agindo como fracos e perdedores.
Engraçado ver como a vida da voltas, e hoje eu me sinto um pouco na posição do Igor anos atrás. Tudo bem, não é nem metade do que eu vivi naquela época, porque acho que ainda está pra nascer algum posso de depressão maior do que foi Roberto Lazaro até 2004. Mas a dificuldade em se lidar com alguém que se acha o pior ser humano do mundo é indescritível.
Gostaria de me sentir uma ótima pessoa fazendo isso, mas na verdade, sinto como se estivesse pagando uma dívida que eu tenho com a própria vida. É como se, um dia eu precisasse de uma grande ajuda, e agora, é a vez de eu oferecer ajuda. E só agora que eu vejo como é difícil fazer uma pessoa tirar a venda dos olhos. E como é terrivelmente difícil manter a calma em todos os momentos, quando eles vão se sucedendo. É algo como um campo minado, totalmente pressionado, onde qualquer passo em falso desencadeia uma série de explosões nucleares.
Fazia tempo que eu não agia tão dominado pelos nervos. Fazia tempo que eu não tinha uma crise de fúria. E fazia tempo pra cacete que eu não sentia a situação tão fora de controle. Parece que eu sou impotente em tentar reverter uma catástrofe, por mais que eu me esforce. Parece que o mal é tão forte, que palavras são somente como um mosca diante de um incêndio. E agora eu vejo que tantas pessoas tentaram falar pra mim, tentaram me fazer ver o mundo com outros olhos, e demoraram tanto tempo pra conseguir, até eu chegar no extremo.
Mas eu tenho um consolo. A dificuldade é imensa, mas quando a pessoa vale a pena, agente aceita o desafio, e suporta a provação (mesmo que de vez em quando com o humor meio deteriorado). Quando você vê uma pessoa incrível em um momento terrível, você percebe que não pode assistir esse tipo de injustiça em silêncio. Você percebe que por mais que você sinta dor, você tem obrigação moral de dar pelo menos um apoio pra essa pessoa enquanto ela retoma o caminho.
E eu tenho essa pessoa na minha vida, a mais especial de todas. Uma pessoa encantadora, esforçada, inteligente, simpática, alegre e agradável, que faz não só da minha vida algo melhor, como de todos os que estão ao lado dela. Uma pessoa que merece a suprema felicidade. E por algum motivo, está vivendo um pequeno nevoeiro. Mas está tão desesperada, que o vê como uma terrível tempestade sem fim. E é como tentar salvar uma pessoa se afogando, já em desespero, onde ela se debate e parece afundar mais e mais, sem nenhuma corrente puxando. E você toma uma série de bordoadas quando tenta impedir esse afogamento. Mas no fim, você sabe que ela vai ficar um pouco assustada, cuspir um pouco de água, mas vai voltar a te dar aquele lindo sorriso, como sempre fez.
Por isso eu entendo e aceito a importância que pessoas queridas têm na nossa vida. Eu precisei desesperadamente de uma, de várias. Hoje uma pessoa precisa de mim, e algum dia alguém irá precisar dela. E todos precisarão, precisam, ou precisarão de alguém em algum momento. Não há verdadeira felicidade em se viver sozinho. Nem há qualquer tipo de felicidade em se agir como covarde, e deixar alguém na mão quando ela te oferece problemas por causa da infelicidade. Por isso eu acredito que alguém sempre estará ao nosso lado, quando a situação parecer insustentável. É só ter paciência e o coração aberto, que as coisas sempre darão certo.