sábado, 15 de junho de 2013

A LUTA PODE TER COMEÇADO

Relatei em texto anterior minha rotina no transporte público, que ainda é muito melhor do que a de qualquer pessoa que encare um bairro periférico, ou uma linha vermelha do metrô, ou more numa cidade vizinha de São Paulo. Não consigo entender como uma pessoa vive essa situação todos os dias sem se revoltar, assim como continua achando as pragas que fazem parte do partido tucanalha como bons governantes.
Depois lembro do meu período como professor, do qual amplamente relatei aqui. Problemas com crianças que vivem realidades trágicas, com pais traficantes e mães prostitutas, que são facilmente alicerçadas pelo tráfico de drogas e pelo crime em geral; professores que recebem verdadeiros salários de fome, tendo trabalhar mais de 60 horas por semana para conseguir um mínimo de conforto para suas famílias, conforto este que jamais poderão usufruir, pois passam o dia todo trabalhando, o que gera ainda maiores problemas, pois sequer tempo de preparar aula existe, o que claro, diminui imensamente a qualidade das aulas.
Olhando para a polícia, que chegou ao cúmulo de entrar em conflito consigo mesma, numa tentativa de greve que foi amplamente reprimida pelo péssimo José Serra, que para alguns ignorantes ainda deveria ter comandado este país. Uma polícia mal paga, mal preparada e praticamente sem direitos, devendo obedecer cegamente ordens de homens que querem mais é que o pobre morra.
Não sei quantas pessoas já precisaram de um hospital público, mas eu lembro que levamos minha irmã no hospital do Mandaqui, por causa de uma cólica renal, e não tinha médico pra atender. Eu lesionei o joelho em outubro do ano passado, rompendo o menisco, demorando sete meses para conseguir fazer a fisioterapia, sendo que ainda hoje não abriram vagas para que eu marcasse meu retorno para analisar como anda a lesão, e ainda correndo o risco de ver o dia descontado por causa de uma lei absurda do “melhor ministro da saúde do mundo”, que simplesmente tirou o direito dos servidores de terem sua saúde atendidas.
E isso ocorreu no Hospital do Servidor Público estadual, destinado somente aos servidores e seus familiares. Imaginem como é a situação de uma pessoa pobre, que não tem convênio de qualidade e precisa tratar de um câncer ou de uma doença grave e incurável. O que deve ser o sofrimento destas pessoas. E digo que o convênio deve ser de qualidade pois um meia boca vai ser ainda pior do que o público, pois minha sogra precisou de seu convênio, a péssima Greeline, pra tratar de seu câncer, depois de anos pagando a mensalidade, e teve que recorrer ao hospital público, pois fizeram todo tipo de sacanagem pra ela não ser atendida (e infelizmente minha esposa não quis entrar com ação contra esta empresinha de merda).
A criminalidade em São Paulo aumenta em níveis alarmantes. As pessoas são mortas quando entregam o que têm, ou quando não têm nada, sendo queimadas vivas por estarem numa situação economicamente desfavorável. Nunca vi a tropa de choque agir para garantir a seguridade dessas pessoas como fizeram com manifestantes que protestavam contra a situação. Mas entendo o lado dos policiais, pois vivem uma realidade profissional mais caótica do que a maioria das pessoas, assim como entendo que vivemos numa sociedade propícia a criar criminosos como os que estamos vendo hoje.
Daí eu pergunto: o normal neste caso é ficarmos quietos? Vivermos nessa pressão imensa, pagando quantidades altíssimas de impostos, tendo que pagar valores cada dia mais caro por seguridade, saúde, educação, se quisermos algo melhor, vendo milhares de pessoas sofrerem e serem corrompidas por não terem a mesma oportunidade que nós temos para pagar, e ainda assim viver com medo o tempo todo? Sermos estuprados por gente que quer mais é que você se foda, buscando apenas seu voto para o poder, e depois vir dizer que ninguém tem o direito a depredar o patrimônio público?
Eu queria saber se eles têm o direito a depredar a vida das pessoas como fazem constantemente, aumentando seus pomposos salários para singelos R$20.000,00, mandando a polícia descer o cacete em quem se coloca contra eles, provocando, criando factoides e armando ciladas.
As pessoas não cometeram excessos quando provocaram o quebra quebra nas últimas manifestações em São Paulo. As pessoas foram levadas por péssimos governantes, vindos de diversos partidos, ao seu limite. Foram levadas a se sentirem dentro de uma selva, onde cada um tem que proteger o que é seu se quiser viver. Se viram oprimidas, violentadas, massacradas, e agora resolveram dar o troco.
Somos infantis neste ponto, ainda não canalizamos nossa raiva, e infelizmente vimos pessoas destruírem lojas e bancas de jornais de pessoas que, em muitos casos, são solidárias ao movimento. Infelizmente é mais uma consequência de uma situação caótica, onde não há educação nem sequer um entendimento completo da realidade. E acho que quem comete esses atos contra quem não tem culpa da situação deve ser responsabilizado. Mas dizer que por conta desses exageros o movimento é ruim, é o mesmo que dizer que a polícia não presta por conta dos policiais corruptos.
Ainda é cedo pra dizer, pois não sabemos como será daqui em diante, mas espero estarmos vivendo o nascimento de uma nova realidade, onde este povo comece a lutar por seus direitos, e aprenda inclusive contra quem deve se revoltar. Pois só com um povo ativo e politicamente engajado poderemos ter qualquer tipo de melhoria na nossa realidade social.

Pela primeira vez em toda a minha vida, tive um dia em que senti orgulho de ser brasileiro.

A ROTINA NO TRANSPORTE PÚBLICO

Todos os dias eu acordo aproximadamente 4h50, às vezes durmo dez minutos a mais, porque o cansaço não permite acordar de pronto. Via de regra faço meu café, lavo o rosto, tomo café da manhã, brinco um pouco com o gato, dou comida e água para ele, troco de roupa, e vou pegar o ônibus. Começo com o intermunicipal, por volta das 6h15, num dos pontos da rua Pedro de Souza Lopes. Tenho três opções para ir pro metrô Tucuruvi: duas que passam na Parada Inglesa, uma custando agora R$3,35 e outra R$3,95 (já incluído o aumento de junho), além de uma linha que vai para o metrô Tietê, custando R$4,30.
Via de regra espero passar uns quatro ou cinco ônibus para conseguir embarcar em algum deles, pois os primeiros nem sequer param no ponto de tão cheios que estão, e os dois seguintes se param somos obrigados a irmos pendurados na porta. Às vezes até vem todos em seguida, e o mais vazio costuma aproveitar que os demais pararam no ponto e passarem batidos, ignorando quando damos sinal, o que nos faz esperar mais algumas oportunidades para conseguirmos ingressar no transporte.
Quando finalmente consigo pegar o ônibus, nunca vou sentado. Na verdade há anos eu nem mesmo tento. Primeiro porque muitas vezes nem é possível, segundo porque, quando é, não há espaços suficientes para abrigar idosos, portadores de deficiência (quando conseguem subir no ônibus), grávidas, etc. Eu sei que mais cedo ou mais tarde acabo por ter que levantar, o que me faz nem ter vontade de sentar. Mas claro, antes disso, pra pagar a tarifa devo passar pelo motorista. Sim, pelo motorista, pois a EMTU retirou os cobradores, e agora os motoristas devem dirigir e fazer a cobrança, contando quanto foi pago e quanto deve ser dado de troco.
Chego no metrô Tucuruvi por volta de 6h40 às 6h50, quando o trânsito não está caótico além da conta. Isso porque o trajeto da Vila Galvão até o metrô é bastante curto. Lá, algumas vezes pegamos filas outras não, para passarmos pela catraca. Via de regra, ao chegar à plataforma, espero o primeiro trem partir para ficar em boa posição para entrar. Quando o metrô chega, fico na parte destinada a cadeirantes, porque lá, por não ser área de embarque e desembarque, consigo me alojar para ler durante a viagem. Quando chega um cadeirante, cedo o meu lugar, e é o fim da leitura. Isto porque fora daquela região é uma lotação incrível, onde não há como uma pessoa se movimentar o suficiente sequer pra mexer no celular sem ficar dando cotovelada nos outros.
Em geral a viagem até a estação São Joaquim, local onde fica a faculdade, dura cerca de 30 minutos. Mas claro, uma vez por semana o metrô “viaja com velocidade reduzida e maior tempo de parada, devido à falha na estação X”. Nesses dias uma hora de viagem é um tempo excepcional. Neste dia as pessoas que estão indo pro trabalho ficam com medo de se atrasarem, e acabam por querer entrar todas ao mesmo tempo no mesmo vagão, pois sabem que o próximo vai demorar pra cacete. Neste dia não da pra abaixar o braço, nem coçar o nariz. É a típica situação de se viver como uma sardinha na lata.
Quando eu chego na faculdade em geral me sinto aliviado por ter passado dessa situação caótica mais um dia. Em geral, meu sono por acordar quando o dia está escuro fica ainda maior devido ao cansaço da viagem. Isso faz com que eu tenha maior dificuldade em me concentrar na aula, assim como me manter acordado, da mesma forma que prejudica bastante minha qualidade no trabalho. Mesmo assim ainda continuo tirando boas notas e tendo um excelente desempenho profissional.
Pago o preço, sem dúvida: vários problemas de saúde, sendo a maioria em grau de suspeita, poucas horas de sono, imensa irritabilidade, propensão a brigas... e o pior de tudo é a pouca vontade de ficar inventando coisas pra fazer nas minhas horas de laser, diante do extremo cansaço.
Meu relato é de alguém que mora pertíssimo da capital paulista, viajando poucos minutos dentro desse ônibus caótico, e consegue pegar o metrô na primeira estação da linha azul, a linha menos agitada de todas. Fico imaginando  cara que mora em Taboão da Serra e precisa trabalhar no centro de São Paulo, ou o coitado que mora em Itaquera, que está feliz da vida porque seu timão terá um estádio, custeado com SEU dinheiro público, enquanto você continua sofrendo feito um condenado pra conseguir voltar pra casa às 18h00. Podem ter certeza que quem vive esta realidade acha o que eu coloquei aqui como uma oportunidade de viver no paraíso por alguns minutos.

E é por isso que R$0,20 se tornam o tiro de misericórdia no meio de um massacre.