sábado, 25 de outubro de 2014

POR QUE VOTO NA DILMA

No dia 05 de outubro de 2014 meu voto foi em Luciana Genro, do PSOL. Juntamente com Eduardo Jorge, do PV, eram os dois melhores candidatos à presidência, disparados. Findo o primeiro turno, o povo, mais ou menos dentro do esperado, colocou Dilma Roussef e Aécio Neves no segundo turno.
            De lá pra cá ouvi centenas de argumentos sobre o não voto em um ou em outro. Eu mesmo deixei muito clara minha antipatia ao candidato tucano. Aécio Neves é o retrato maior da corrupção, além de tomar medidas ditatoriais em seu Estado e praticar nepotismo descaradamente. No entanto, tanto os argumentos anti-Dilma quanto os anti-Aécio nada mais são do que argumentos para que o eleitor voto nulo.
            Ainda não encontrei um único eleitor de Aécio Neves que consiga justificar o voto neste ser. Ao contrário, algumas vezes, poucas é verdade, já encontrei motivos para votar em Dilma. Ao que me parece, o voto em Aécio é o voto de protesto, por mudança. Mas um protesto meio sem sentido. Seria o mesmo que mudar da favela em Santos para uma favela em São Paulo, porque as condições em Santos não são tão favoráveis. Não da pra entender a razão disso.
            Então, agora tenho plena convicção de que o melhor a se fazer neste momento é o voto na Dilma, assim como o faria em qualquer candidato do PT, frente a algum do PSDB. E a razão para isto é a simples comparação das duas realidades. Pra começar, o governo tucano tem a ideia fixa em controlar a inflação. E pra isso não abre mão de medidas impopulares, como já afirmou o provável ministro de Aécio, Armínio Fraga, como arrocho salarial, diminuição de poder de consumo, aumento da dívida externa, etc. E estas ações não são possíveis invenções: foram tomadas durante o governo FHC.
            Se você acha que não faz diferença entre ter uma grande dívida externa e uma grande dívida interna, basta olhar para os países europeus: a dívida externa de países como Grécia, Irlanda, Portugal, etc. puxou o bloco europeu inteiramente para uma crise incomensurável. Além disso, gerou desemprego em massa nestes países, protestos gerais e mais dívida externa para conseguir recuperar o mercado.
            Se as pessoas não consomem, a indústria e o comércio não crescem. Se não crescem, não geram emprego. E pior: postos são fechados. Daí o índice de desemprego no governo tucano ser tão alto. Ao contrário, a dívida interna pode ser arrolada e renegociada. E possível calote não gera uma imensa reação em cadeia global, levando vários países ao caos. Daí eu dar ponto pro PT em relação ao PSDB.
            Se for analisar o desemprego, o melhor momento do governo FHC o desemprego era de 12%, contra o atual, pior momento do governo PT, é de 4,9%. Precisa dizer quem ganha ponto nesta?
            Na era FHC o país era a 12ª maior economia do mundo, em seu auge. Hoje, no momento de crise, somos a 7ª. Na era FHC a crise internacional levou o país a perder centenas de pontos na confiança internacional, enquanto atualmente, a perda foi bem leve. Naquela época o dolar chegou a valer R$3,95, enquanto atualmente, no momento mais crítico e de recorde histórico do governo petista, está em R$2,51. Com isso já temos 4X0 pro PT.
            Eu não sei deveria comentar as conquistas sociais, porque isso é uma barbada. Tenho sérias críticas ao bolsa família do jeito que está, mas ainda assim é melhor do que nada. Antigamente tínhamos uma imensa debandada do Nordeste, porque não havia meios de sobreviver naquela região. Hoje, ainda com uma grande pobreza, temos o míninmo necessário para que as pessoas vivam com dignidade. Pode não ser perfeito, mas é uma evolução. E isso tem que contar. Tanto que agora o governo paulista lançou o "Bolsa Crack", pra ajudar dependentes químicos, pagando um bom valor pra clínicas de reabilitação. Ação esta que eu fiz questão de elogiar. Se é assim, mais um ponto pro PT. 5X0.
            Corrupção como nunca vimos antes? Como quem nunca viu?  Claro, se você espera que a informação venha até você, você nunca terá visto mesmo, porque as principais fontes de informação sempre quiseram os tucanos no governo. Talvez porque metade do lucro da editora Abril esteja no governo de São Paulo, através da compra de assinaturas da revista Veja, o que justifica tantas capas desesperadas para tentar destruir o PT, assim como do jornal Folha de São Paulo e do jornal O Estado de São Paulo. Então você tem que pesquisar em outras fontes pra lembrar dos problemas tucanos: compra de votos na emenda de reeleição; corrupção nas privatizações de estatais; máfia dos sanguessugas; trensalão em São Paulo; mensalão mineiro... tem tanta merda dos tucanos no país, que deveria escrever um texto só pra isso. Sendo assim, ninguém ganha pontos.
            Controle da inflação? Hum... tenho minhas dúvidas sobre o real controle da inflação ocorrido no governo FHC. As medidas foram tomadas, como citei, baseado em empréstimo internacional, o que é péssimo, assim como aumento da desigualdade social, a maior da história do país, assim como um arrocho salarial muito degradante. O governo do PT aproveitou o plano, corrigiu erros e colocou a coisa no lugar. O que espero de quem entre no governo é aproveitar as benfeitorias do antecessor e melhorá-las. Desta forma, o PT ganha ponto por não zerar o que foi feito anteriormente, mas devo ser justo e dizer que foi dado um ponto de partida que possibilitou a melhoria. Então o PSDB também ganha ponto. Desta forma, 6X1.
            Então, nos pontos principais, o PT ganha de lavada. E pior: depois dos eleitores do Aécio não apresentarem sequer um motivo relevante pra votarmos nele, eu, que sou eleitor da Dilma neste segundo turno, tive que apresentar. Mesmo assim, é muito pouco, em relação aos bons motivos para votarmos na Dilma. Não da pra comparar os governos e ter alguma intenção de votar no Aécio.

            Mas claro, basta apresentar motivos relevantes para votarmos no Aécio (o que não é o mesmo que o não-voto na Dilma, pois isso é votar nulo), que podemos conversar num nível maior.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A assustadora volta ao conservadorismo

            Em meados do ano passado me sentia muito feliz em ver meu povo, pela primeira vez, saindo às ruas para lutar por algo. Por um pequeno ato dos governos municipal e estadual de São Paulo, as pessoas colocaram nas ruas toda sua revolta. Naquele momento senti esperança que as coisas poderiam melhorar, e que finalmente tínhamos entrado num ótimo caminho. Finalmente estávamos lutando. Pena que se mostrou apenas um sonho.
            Quase um ano e meio depois, o que vemos, especialmente neste ano de 2014, é um regresso dos mais desastrosos na nossa sociedade. O conservadorismo voltou, com uma força avassaladora e assustadora. O país vê, depois das revoluções do mensalão e das manifestações populares, o relógio andar para trás.
            Primeiro, no nosso futebol, começamos a ver tribunais mudarem o resultado dos jogos, favorecendo, com a desculpa de descumprimento administrativo, times  de grande poderia econômico e de grande torcida, como ocorreu com a virada de mesa do Fluminense, prejudicando a Portuguesa. Pouca repercussão teve o episódio, até porque os times de grande torcida não foram grandemente afetados.
            Neste ano, vimos o Tribunal Regional do Trabalho impor medida à greve do metrô determinando que em horário de pico 100% do contingente trabalhasse, e nos demais horários, 70%. Que porra de greve obriga o total de trabalhadores estarem na ativa? E pra piorar a situação, o contorno à situação feito pelo governador foi obrigar a polícia a agir com violência contra os grevistas, além de demitir, de maneira totalmente arbitrária e injustificável, vários dos que participaram da greve, atitude esta que ainda hoje é contestada na justiça.
            Mas a cereja do bolo está vendo neste momento, quando este governador, depois de um péssimo mandato, com crises nunca antes vista na segurança, na saúde e agora uma catástrofe anunciada no abastecimento de água em virtude da má administração, foi reeleito em primeiro turno, com uma maioria esmagadora. Fora que vimos o Congresso mais conservador já eleito desde 1964, o que significa que foi superado vários momentos da ditadura militar, que durou até 1985. A bancada religiosa aumentou significativamente, assim como a péssima bancada ruralista, ao passo que todos aqueles que defendem direitos humanos tiveram sua quota reduzida.
            Além disso, o fato de se propagar ideias, inclusive em jornais, onde pessoas podem fazer justiça com as próprias mãos, agredindo possíveis criminosos, divulgando fotos de possíveis estupradores torturados e mortos sem julgamento, além de centenas de outras barbaries que são totalmente contrárias a um estado democrático e legalista, demonstram que as coisas estão caminhando totalmente na contramão do que deveriam.

            É assustador, como nunca. Vemos direitos humanos, diversidade, conquistas e até mesmo o progresso social totalmente ameaçado. Temos um povo onde a maioria é pobre, ou de gente que, graças a um governo de esquerda, ascendeu a classes maiores, mas muito recentemente. É inconcebível que este povo tenha uma atitude tão conservadora. Nem mesmo países tradicionalistas adotam uma postura dessas. Dá medo até mesmo que essas discussões sobre pontos de vista estejam tão ameaçadas quanto as conquistas que obtivemos.