domingo, 24 de setembro de 2017

SEXO É VIDA

No momento mais conservador que já presenciei no nosso país, vivemos uma verdadeira cruzada contra a vida sexual, especialmente quando o assunto é o sexo entre pessoas do mesmo sexo (se é que me entende).
Graças a uma patética ideologia religiosa, existe uma mentalidade de que o sexo é errado pra muita gente. Serve apenas como procriação. E há até um pequeno grupo de pessoas que se diz “assexuado”, onde não existe um interesse real por sexo.
Particularmente, todas essas ideias pra mim demonstram nada mais que uma profunda perturbação mental. Bloquear o sexo é uma demonstração clara que seu organismo apresenta problemas a serem tratados, ou mesmo que a sua mente esteja em desequilíbrio total.
Existem necessidades biológicas inerentes a todos os seres vivos, como dormir, comer, evacuar, exercitar o corpo. E entre elas, está o sexo. Se não podemos viver sem nos alimentar, ou sem dormir, o que faz as pessoas pensarem que é possível viver sem sexo?
Talvez exista uma dificuldade em se descobrir qual modalidade que as pessoas realmente preferem, como que tipos de parceiros, quais  posições, modalidades, locais. Algumas pessoas preferem vidas mais liberais, outras relacionamentos abertos, outras relacionamentos grupais... não vejo problema alguma em buscar aquilo que realmente poderia saciar os desejos. Mas é importante chegar a tal busca.
E não existe nada pior do que sentir-se sexualmente desprezado. Especialmente quando você decide viver com alguma pessoa que manifesta esse desejo, mas que de repente ele acaba e que há uma resistência absurda em tentar se resolver tal problema, como se ele fosse insolucionável mas você se recusasse a seguir adiante.
A não correspondência quando o assunto é sexo, especialmente por um parceiro fixo de longa data também é algo danoso à saúde mental. É um golpe violento na auto-estima de qualquer pessoa. Faz com que ela se sinta muito mal. A negativa reiterada sem sombra de dúvidas pode trazer sintomas de depressão.
Obviamente que honestidade é tudo. É preciso saber se tem sido feito algo pra desagradar, se podemos melhorar, se é preciso mudar alguma coisa, se o estilo do relacionamento deixou de ser tão interessante. Mas se aquilo que foi colocado como problema foi superado e a coisa não mudou, não existe outra saída senão procurar ajuda especializada para colocar a vida nos eixos.

Não existe relacionamento amoroso sem sexo. O nome disso é amizade. Eu amo meus amigos, mas não transo com eles. E também não faço planos de morar na mesma casa que eles por mais que um curto espaço de tempo. Se o relacionamento chegou nesse ponto, deixou de ser relacionamento e passou a ser mera amizade.

DIÁLOGO SINCERO OU NADA

Casamento é uma empreitada dificílima. Duas pessoas altamente diferentes, com uma história de vida cada um, que se cruzam em um determinado ponto para colocar tudo num mesmo espaço. Tudo movido pelo intenso desejo de formar uma família feliz, perpetuar o nome e construir uma história.
No entanto, com duas mentes diferentes, por mais que exista amor, ele só irá perpetuar caso essas mentes sejam capazes de chegar a um equilíbrio sobre o modo em que a vida será levada. O que na prática parece extremamente fácil. Mas é absurdamente difícil.
Ter um ritmo de vida, com manias, costumes, objetivos e um determinado comportamento e de repente se ver no mesmo local que uma pessoa que traz tudo isso de sua forma mas totalmente diferente, é quase uma insanidade. É basicamente ver se o amor pode sobreviver a uma luta de gladiadores. Você começa a ter que ceder muito da sua personalidade para poder viver em paz e em amor, mas ao mesmo tempo tenta não anular sua personalidade.
E depois de muito tempo vivendo esta situação, fica claro que o amor não é a coisa mais importante para ter sucesso nessa empreitada. O que importa, acima de todas as coisas, é a possibilidade de poder conversar de forma honesta e sincera. Diálogo é a única forma de conseguir chegar a um senso comum dentro de uma família.
Você tem que ter a liberdade de falar o que pensa, de ser você mesmo, expor suas angústias, insatisfações e seus desejos. Tem que ser ouvido e nunca guardar aquilo que você acredita ser necessário para que o relacionamento possa evoluir. E claro, ouvir também, porque se há problemas no outro, certamente há em você.
Mas o diálogo inclui um profundo e insuperável desejo de melhorar a cada dia. Já escrevi que isso deveria ser um lema de vida para cada ser humano no mundo. Nossa vida deveria ser uma constante busca por evolução. E isso só pode ocorrer se nós desejamos corrigir erros e melhorar.
Dessa forma, acredito piamente que toda e qualquer crítica que venha de alguma pessoa que nos ama ou que demonstre se importar conosco, tem intuito de fazer com que sejamos pessoas melhores. Pode até ser que ao analisar aquilo que está sendo criticado, discordemos ou concordemos apenas parcialmente. Mas daí a importância do diálogo, onde os pontos podem ser debatidos e solucionados.

Neste sentido, um relacionamento envolve maturidade emocional, pois lidar com críticas não é a coisa mais fácil que existe. E querer melhorar exige muita força de vontade. Mas sem isso, não existe um relacionamento que sobreviva.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

CENSURA NA ARTE: VOLTANDO NO TEMPO

Recebi com surpresa uma informação de que uma exposição de arte havia sido cancelada por trazer obras que incentivavam a pedofilia e a zoofilia. Imaginando que estes atos constituem apologia ao crime, de bate  e pronto fui contra, imaginando que havia sido desta forma.
Vendo as notícias que vieram a seguir, foi apavorante perceber que nossa sociedade está regredindo a períodos medievais no trato com a manifestação artística.
Sendo minha primeira formação acadêmica artes plásticas, por si só a defendo, não importa se gosto ou não. O repertório histórico e contemporâneo trazem coisas que me agradam muito, e outras que acho de extremo mal gosto. O mesmo pode ser dito para outros apreciadores. Da mesma forma que entendo que algumas mensagens são contestáveis. Aliás, a ideia geral da arte é mexer com o imaginário, com emoções e fazer pensar (de uma maneira bem simplista para definir).
Não me lembro o nome correto da exposição ocorrida no Rio Grande do Sul, e isso pouco importa. O que chocou de forma intolerável foi saber que, por se tratar de uma exposição de abrangia sexo de forma bastante ampla, o que incluía homossexualismo e outras formas minoritárias, houve uma imensa contestação e informações inverídicas sobre o que estava sendo pregado.
Na data de hoje procuradores do Ministério Público averiguaram que não houve qualquer apologia a crimes. Mas uma análise bastante básica às obras já seria suficiente. Um apreciador mediano de arte já tem em sua mente que a obra em si é aberta (tomando emprestado o grande Umberto Eco). Isso quer dizer que existem centenas de mensagens contidas numa obra, uma vez que toda a composição é tratada para nos fazer viajar na proposta do autor.
E tratando-se de um tema tão polêmico, as possibilidade de conclusão são ainda maiores. É possível deixar o imaginário fluir até o infinito, tirar diversas conclusões, recuar, abraçar outras ideias. Não há um limite para chegar a algum lugar, mesmo que no fim das contas não gostemos das obras em questão.
Exceto para seres como os que compõe ou os que admiram o MBL. E a coluna deixada por um de seus fundadores na Folha mostra claramente que não há capacidade intelectual para que seus integrantes sequer tentem pensar no que estão observando. Não houve sequer um debate, que é basicamente aquilo que se espera da arte.
Assim como ocorre ainda hoje nos países mais atrasados do planeta, como Irã, Arábia Saudita, Coreia do Norte, este grupo arcaico executou e apoiou um ataque total à página do museu, até que a exposição fosse cancelada. Ou seja, censura ao que não se concorda.
Um retrocesso que beira o período medieval. Uma aberração em momentos em que liberdade se tornou o mantra de qualquer democracia.

Como artista plástico me sinto indignado. Mas como cidadão, sinto um profundo nojo deste grupo, mas mais ainda, uma tristeza imensa pela nossa sociedade se aproximar cada vez mais do fundo do poço.