terça-feira, 19 de maio de 2020

O RETORNO


"Quantas vezes
Um homem precisa cruzar a linha
Pra encontrar seu verdadeiro caminho?"




Em algum momento de 2009. Ali eu pintava o meu último quadro. Por diversas razões me afastei da produção artística, de forma praticamente involuntária. E aos poucos, fui me afastando inclusive da produção cultural de uma forma ampla.
Se passaram onze anos. E eis que em 2020, no meio da pandemia, resolvi que era o momento de retornar. Primeiro porque minha mente já pedia isso. Não existe sanidade mental sem arte, ainda mais de quem viveu boa parte da vida nisso. Depois, porque foi erro abandonar dessa forma.
Naquele período eu percebi que a arte não era financeiramente viável. Eu não conseguia ganhar dinheiro com isso, e tenho até hoje um certo código de ética que limita minhas ações em termos financeiros. Fora que sou um péssimo vendedor. Se a minha vida fosse depender do meu talento pra ser empresário, provavelmente você já teria me visto em alguma calçada todo esfarrapado te pedindo dinheiro pra alguma coisa.
Aí eu resolvi casar. Tirando que a decisão por si só é uma merda, como todas as pessoas que querem casar, eu precisava de dinheiro. Entrei pro TJ, comecei a fazer hora extra, e depois que casei, os diversos problemas incríveis que apareceram consumiram todo o meu tempo, mas principalmente, minha saúde emocional. E isso foi piorando dia após dia. Aí, algo que era pra ser temporário, se tornou permanente.
E então eu me divorciei, em 2019. Com um caminhão de problemas emocionais a serem resolvidos, inclusive um transtorno de ansiedade que me consumiu por um bom tempo, eu inclusive esqueci até que a arte existia. Não senti vontade de rabiscar um papel, com raras exceções.
Só que minha psicóloga começou a me estimular a frequentar uma vida cultural novamente (o que foi interrompido por uma certa pandemia). E aos poucos eu fui me inteirando da vida artística. E já comecei a ter novas ideias pra produção.
Aí, por algum motivo inexplicável, nós colocamos no poder um dos seres mais boçais e repulsivos que existem. E este ser, além de muitas outras merdas, começou a avançar contra a arte. Quando eu vi o concurso que ele quer promover, enaltecendo uma arte basicamente nazista, aquilo foi quase que uma porrada no meu ego.
Fazendo uma breve pincelada histórica e filosófica, se você tem vontade, pessoal, de produzir uma arte nacional, patriótica e enaltecendo a beleza, é um direito seu. Se você quiser buscar padrões clássicos, eu sinto lhe dizer, mas vai servir apenas pra decorar parede, porque a arte deixou de ser isso há pelo menos uns 200 anos. E não volta mais. Sorry.
Mas se você quiser expressar de alguma outra forma, tudo bem também. Qualquer pessoa minimamente informada sobre o assunto sabe que a arte é pessoal. Você expressa o que você sente, cria o que faz sentido pra você. A partir de então, o céu é o limite. Dentro de uma circunstância contemporânea, você escolhe materiais, estilo, temas… não há como delimitar o que será arte ou cultura. Ainda mais um governo, que parece entender pouco sobre o assunto.
Feita a digressão, tínhamos mais um problema, que é a forma de produção. Antes da parada, cada vez que ia criar algo, fazia uma série de estudos, mudava a disposição das figuras, cores, tirava coisa, botava coisa… era um trabalho bem longo, até finalmente conseguir chegar no resultado final, que era uma tela. E geralmente, por todo esse processo, eu não me sentia plenamente satisfeito.
Aí, peguei minhas obras de novo. Quando minha ex-namorada viu, ela ficou encantada, olhando horas e horas, fazendo altos elogios. Eu fiquei feliz, e olhando aquilo depois de anos, vi que eu era bom nessa porra. Sempre me achei muito limitado, e de repente, comecei a gostar do que tinha feito. Aí fiz um desenho qualquer, e postei em sotories de redes sociais. E o resultado foi surpreendente. Várias pessoas elogiando, fazendo análises, perguntando por que eu parei. E eu me senti plenamente vivo.
E toda hora era um desenho novo.
Só que a minha decisão então estava diferente. Eu agora estou me permitindo, quando muito, apenas um único esboço. E nada mais. E vai ser o que eu sinto, na hora que eu sinto, e da forma que eu sinto. Se ficar ruim, paciência. E como antes, tento não me prender a um estilo definido. Apenas criar ou produzir.
O resultado até agora pra mim tem sido não só surpreendente como altamente satisfatório. É bem verdade que cada vez que olho pra algo que fiz eu fico pensando no que poderia ter sido diferente, no que está abaixo do que esperava, mas acho que isso é um defeito que vou ter que corrigir com o tempo. Uma grande amiga, muito querida, disse há pouco tempo que eu me cobro demais, e com isso me saboto. E o foda é que ela tem razão.
Então resolvi que essa parte vai ser completamente sem filtro. Eu faço, finalizo, fotografo, e posto. Se vai ter alguma divulgação fora das redes, pouco importa. E provavelmente eu nunca vou ter qualquer rendimento com isso, o que basicamente to pouco me fodendo, nesse momento. O que me importa agora, única e exclusivamente, é viver a arte, e fazer aquilo que eu amo.
Então, agora segura, porque eu estou de volta!

Instagram: @artistarlazaro