quarta-feira, 13 de setembro de 2017

CENSURA NA ARTE: VOLTANDO NO TEMPO

Recebi com surpresa uma informação de que uma exposição de arte havia sido cancelada por trazer obras que incentivavam a pedofilia e a zoofilia. Imaginando que estes atos constituem apologia ao crime, de bate  e pronto fui contra, imaginando que havia sido desta forma.
Vendo as notícias que vieram a seguir, foi apavorante perceber que nossa sociedade está regredindo a períodos medievais no trato com a manifestação artística.
Sendo minha primeira formação acadêmica artes plásticas, por si só a defendo, não importa se gosto ou não. O repertório histórico e contemporâneo trazem coisas que me agradam muito, e outras que acho de extremo mal gosto. O mesmo pode ser dito para outros apreciadores. Da mesma forma que entendo que algumas mensagens são contestáveis. Aliás, a ideia geral da arte é mexer com o imaginário, com emoções e fazer pensar (de uma maneira bem simplista para definir).
Não me lembro o nome correto da exposição ocorrida no Rio Grande do Sul, e isso pouco importa. O que chocou de forma intolerável foi saber que, por se tratar de uma exposição de abrangia sexo de forma bastante ampla, o que incluía homossexualismo e outras formas minoritárias, houve uma imensa contestação e informações inverídicas sobre o que estava sendo pregado.
Na data de hoje procuradores do Ministério Público averiguaram que não houve qualquer apologia a crimes. Mas uma análise bastante básica às obras já seria suficiente. Um apreciador mediano de arte já tem em sua mente que a obra em si é aberta (tomando emprestado o grande Umberto Eco). Isso quer dizer que existem centenas de mensagens contidas numa obra, uma vez que toda a composição é tratada para nos fazer viajar na proposta do autor.
E tratando-se de um tema tão polêmico, as possibilidade de conclusão são ainda maiores. É possível deixar o imaginário fluir até o infinito, tirar diversas conclusões, recuar, abraçar outras ideias. Não há um limite para chegar a algum lugar, mesmo que no fim das contas não gostemos das obras em questão.
Exceto para seres como os que compõe ou os que admiram o MBL. E a coluna deixada por um de seus fundadores na Folha mostra claramente que não há capacidade intelectual para que seus integrantes sequer tentem pensar no que estão observando. Não houve sequer um debate, que é basicamente aquilo que se espera da arte.
Assim como ocorre ainda hoje nos países mais atrasados do planeta, como Irã, Arábia Saudita, Coreia do Norte, este grupo arcaico executou e apoiou um ataque total à página do museu, até que a exposição fosse cancelada. Ou seja, censura ao que não se concorda.
Um retrocesso que beira o período medieval. Uma aberração em momentos em que liberdade se tornou o mantra de qualquer democracia.

Como artista plástico me sinto indignado. Mas como cidadão, sinto um profundo nojo deste grupo, mas mais ainda, uma tristeza imensa pela nossa sociedade se aproximar cada vez mais do fundo do poço.

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