Não consigo entender o que faz as
pessoas retrocederem no tempo com tanta frequência. Estamos vivendo
um momento absurdamente retrógrado do ponto de vista social e
econômico. As pessoas passaram a se alinhar com ideias totalmente
radicas e autoritárias, odiar todos os que pensam diferente e
defenderem abertamente sofrimento e morte.
Não sem motivos o liberalismo
econômico volta à pauta. Um sistema criado em 1772, por Adam Smith,
implantado várias vezes, com modificações específicas para tentar
se adaptar ao tempo em que vivia. O liberalismo é a expressão
máxima do capitalismo, em seu momento mais radical e cruel, o que
levou ao surgimento do comunismo e a outro estado de radicalismo e
soluções mirabolantes, que trouxeram inclusive inúmeras guerras
absurdas.
O liberalismo é o livre mercado.
Quase não há Estado, e o controle de tudo está nas mãos do
mercado: preço, acesso, emprego... o que quer dizer, de forma bem
clara, que se você não tem dinheiro, você não tem nada. Não tem
saúde, não tem educação, não tem comida...
E pra isso você precisa se sujeitar
ao dono do capital. Você precisa de emprego, seja qual for. E
dependendo da concorrência, se você não aceita algo muito ruim que
está disponível, seu concorrente vai aceitar. E esta vaga, uma das
raras disponíveis, paga um salário baixo, com um trabalho
exaustivo, às vezes cheio de assédio. E esse valor quase nunca é o
suficiente para suprir necessidades básicas.
A consequência é uma concentração
absurda de renda, empobrecimento das camadas mais pobres, disparada
da violência. Como não há quem controle o abismo social, estamos
na mãos da boa vontade do mercado. Mas o mercado, como citamos, quer
lucro. E lucro significa apenas ganhar dinheiro, sem se importar as
consequências, ou mesmo com a vida humana. Esse é o capitalismo em
sua forma mais selvagem e cruel.
Mas a crítica aqui não é contra o
capitalismo. Acredito, mesmo sendo um esquerdista assumido, que
existem muitos aspectos positivos no capitalismo. A própria direita,
e este ideal liberal tem seus méritos, em alguns quesitos. A parte
da evolução pessoal, crescimento com próprio esforço, deve ser
elogiada e propagada. O que não significa que tenhamos que aceitar
isso a qualquer preço.
Justiça social e equilíbrio nas
situações é muito mais importante que dinheiro. Se a ideia prega a
existência de extrema pobreza, sofrimento, dor e morte, então esse
sistema é ruim, por si só. Não é possível manter algo com esse
pensamento.
E o liberalismo já foi implantado
várias vezes ao longo dos anos. Algumas vezes com sucesso inicial,
mas com queda vertiginosa com o passar do tempo, até mudar para um
regime menos agressivo, como a social democracia, por exemplo, algo
que eu admiro bastante.
Basta olhar para o Chile. O
liberalismo está trazendo o país a uma convulsão social jamais
vista. As pessoas cansaram da extrema pobreza, da desigualdade, e
agora colocaram todo ódio pra fora. Essa é a consequência única e
óbvia de um sistema que foi criado para aumentar abismos. Está
fadado ao fracasso.
O que se tem defendido nesse país,
por um ministro da economia que está preso à década de 1970, por
partidos de direita que não conseguem se adaptar à realidade atual,
especialmente um que de forma quase cômica se auto-denomina “Novo”,
é o retrocesso. O retorno a problemas que deveriam ter sido
superados há cerca de quarenta anos. E uma ideia que, se não
apoiarmos essa pegada, estamos rumando ao comunismo. De onde se tiram
essas ideias?
O resultado dessa política explode no
mundo. Aqui dificilmente teremos essa comoção popular. Mas os
resultados também virão. É fato. E isso vem na forma de violência,
tensões, pobreza, sujeira... não há nada de positivo numa
ideologia que prega a normalidade da desigualdade social.
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