sábado, 9 de novembro de 2019

A ESTABILIDADE DO SERVIDOR PÚBLICO


A moda agora no governo e em todos os setores da direita é o ataque direto aos servidores públicos. Apoiados num conceito popular que funcionário público não trabalha, começou-se a especular e criar projetos de lei que prejudicam sobremaneira toda a categoria.
A estratégia faz parte das ações elitistas e desastrosas do péssimo Paulo Guedes, um dos responsáveis pelo desastre que ocorre no Chile, com aumento da pobreza, especialmente para os mais idosos. Seus planos trazem exatamente as mesmas medidas que foram implantadas no governo Pinochet, um dos mais sanguinários da América Latina, que larga as pessoas à própria sorte.
Agora a ideia é tirar a estabilidade de servidores públicos, diminuir salários e criar uma série de barreiras, equiparando praticamente tudo ao conceito que existe numa empresa privada. Ocorre que o conceito de setor público e setor privado é completamente diferente.
A empresa privada tem como objetivo conseguir lucro. Você pode inclusive destruir seu concorrente (no sentido comercial). Já no setor público o que temos é a prestação de um serviço a quem precisa, através da coleta de tributos. Não importa se este serviço traga lucro ou prejuízo. Dessa forma, a eficiência não pode ser medida para os setores da mesma forma. Até porque o serviço público não está condicionado a ser prestado a quem tem dinheiro para pagar.
Nisso entramos no conceito de estabilidade.
O ingresso no serviço público é feito através de concurso, como dispõe a própria Constituição. As provas, a meu ver, estão bem distantes do ideal, até porque existe uma quantidade imensa de conteúdo, que deve ser apenas decorado para uma prova específica. Não mede a qualidade do profissional, nem ao menos seu conhecimento. O que significa que o processo deveria ser aprimorado, não abandonado.
Ao ingressar no serviço público, através da nomeação, o servidor passa a ter compromissos com a administração pública e com o público, em geral. Sua “missão” é prestar o serviço com presteza e eficiência (lembre-se que esse conceito não é o mesmo que uma empresa privada). E o servidor não tem vínculo com um partido ou uma ideologia. Ele pode ter sua ideologia, pode ser filiado ao partido que quiser, mas o trabalho envolve tão somente a prestação de um serviço público, não importa qual ideia, religião, filiação partidára ou qualquer pensamento de quem esteja recebendo a prestação.
A partir do momento que perde-se a estabilidade o servidor vai ficar condicionado a obedecer as ordens de quem está no poder. E isso irá incluir se curvar a um projeto específico, ou uma ideologia partidária. Se não fizer isso, o risco de demissão é total. Isso quer dizer que, de tempos em tempos, quem estiver contrário ao partido que está no poder terá sua prestação muito prejudicada.
Isso acontecia na ditadura militar. Os servidores eram demitidos de forma sumária, porque estavam contrários ao que era pregado naquele período. Aliás, tudo o que fosse contra o regime militar desaparecia misteriosamente. Seria um desastre incomensurável reviver toda essa situação.
Verdade que temos profissionais de péssima qualidade no serviço público. Exatamente como no setor privado. E neste, se você comer sua chefe, fizer um boquete pro seu chefe, for um baita puxa-saco ou fraudar resultados, por exemplo, suas chances de ser demitido sendo muito fraco profissionalmente, diminuem muito. Os problemas em geral, são muito parecidos.
Também existem cargos em comissão demais. E estes são os que têm remuneração exagerada. É necessário ter um controle maior sobre este grupo, que cria o problema de custos que ultrapassam limites. Ou categorias especiais, como ministros de tribunais, desembargadores, ministros de Estado, políticos eletivos, todos com salários que beiram os R$30.000,00. Estes, obviamente, não estão sendo perturbados com o projeto de Guedes, o que deixa claro o elitismo e o desejo de concentração de renda.
Dessa forma, o fim da estabilidade no setor público trará consequências desastrosas ao país. Não somos isentos, não somos honestos. Não adianta contar com a boa vontade de governantes, porque não irá ocorrer. O serviço público ficará preso a ideologias, muitas vezes delirantes, e somente quem compactua com estas sairá ganhando. E não há ideologia que dure para sempre no poder.

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