quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

LINCHAMENTO PÚBLICO

 

Essa semana ouvi uma notícia que me fez refletir sobre uma grande ferida que ficou na minha vida.

Alguns anos atrás uma pessoa tentou de todas as formas possíveis, numa briga, provocá-la para que eu a agredisse. Inclusive dando pequenos “tapinhas” no meu rosto pra ver se me tirava do sério (e quem já passou por isso sabe o nível de ódio extremíssimo que isso causa). Foi um dos dias que eu fiquei mais nervoso na minha vida. E eu percebi que apesar de ter um gênio muito forte eu sou um cara pacífico, porque minha vontade realmente era de ter matado na porrada.

O simples fato de eu ter segurado o punho dessa pessoa e a afastado, com um “sai de perto de mim” foi o suficiente para ter acusação de agressão (se ela soubesse qual era o meu real desejo naquele momento, ia chamar isso de carinho). E isso me causou um problema imenso.

Aconteceram coisas correlatas a essa no seguir dos dias que me fizeram inclusive querer ajuizar uma ação contra essa pessoa, e alguns amigos estúpidos dela. No dia já tinha procurado uma delegacia de polícia para relatar o ocorrido. E eu só fui convencido a não judicializar o problema graças à minha excelente advogada, que me mostrou o que poderia gerar de sofrimento para inocentes próximos, bem como meu pai, que me acalmou bastante ao longo dos dias.

Mas ambos sofreram bem pra me tirar essa ideia da cabeça. E até hoje eu tenho dúvidas se eu tomei a melhor solução. Eu realmente acho que eu deveria ter ajuizado a ação. Uma das coisas que eu mais me importo na vida é com caráter e honestidade. Minha namorada foi conquistada pelo meu caráter, assim como já recebi diversos elogios por isso, de várias pessoas ao longo da minha vida. Eu não aceito que tenham me colocado essa situação.

Além disso foram envolvidas diversas mentiras posteriormente. Algumas envolvendo pessoas que eu amo. E isso me trouxe consequências. Muita gente virou a cara pra mim, do dia pra noite, sem nunca ouvir minha versão. Pessoas que até então eu gostava muito. Essa situação me causou uma imensa e irremediável mágoa, além de uma revolta que perdura até hoje. Pessoas que eu considerava amigos tomaram alguns depoimentos e se voltaram contra mim. Não tiveram sequer a vergonha na cara de investigar os fatos.

Eu fui atrás de todas as pessoas que colocaram fogo na situação. Arrumei algumas brigas e xinguei alguns até a última geração. Uma dessas brigas está registrada em whats app, e já prometi que será mostrado ao meu filho quando ele tiver idade suficiente para entender, porque eu faço questão dele saber quem são essas pessoas e o que fizeram com o pai dele.

Recebi também um pedido de desculpas da pessoa que fez a merda. Mas eu nunca senti sinceridade. E mesmo que tivesse sentido, nunca vi uma mudança de comportamento que justificasse o arrependimento. Bem como quando você leva uma dessas se abre uma ferida que eu acho que nunca mais se cura. O que aconteceu naquele dia eu lembro, como se fosse hoje, segundo por segundo. E isso não tem mais volta. Uma atitude impensada, com raiva, que poderia ter gerado ainda mais prejuízos. Eu poderia ter sido agredido por pessoas que acreditaram nessa merda, poderia ter sido prejudicado profissionalmente, poderia ter sido preso. Seria até que fácil provar a inocência, como foi. Mas a merda estaria feita, como realmente está. E em nenhum momento se pensou nos danos emocionais que são causados com isso.

E eu vejo isso, todos os dias. As pessoas olham manchetes de jornal, e julgam. Qualquer fato, narrado, especialmente com sensacionalismo, vira um linchamento público imediato. As pessoas nem sabem o que realmente ocorreu e já tomam partido. Viram acusadores, juízes e carrascos. Destroem vidas pelo que escutam. Lembram do caso da mulher que foi linchada e morta por ter sido confundida com uma pedófila, e no fim era inocente? Ela deixou filhas, e o que foi feito a ela, e à família dela, jamais poderá ser reparado. Tudo por um ato impensado de alguns idiotas.

Existem instituições específicas pra fazer justiça. Algumas investigam, outras acusam, outras defendem, e outras julgam. Elas estão legalmente constituídas dessa incumbência. E toda e qualquer punição seguirá os trâmites. Se a lei está errada, muito frouxa, ou não é corretamente aplicada, deve-se cobrar as autoridades competentes, com vontade, para que as cumpram. Votar em pessoas que busquem essa aplicação. Justiça com as próprias mãos é o ápice da barbárie, e um prato cheio para fazer merda, matar pessoas inocentes (o que o torna também um assassinato), ou destruir a vida de alguém que não tem qualquer relação com o ato criminoso.

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