quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

SOCIEDADE DESTRUÍDA

 

Você já teve o desprazer de estar em casa, num sábado à noite, super cansado, precisando dormir, e um filho da puta maldito ligar aquela merda de som estourado de carro no último volume, fazendo tremer o bairro todo, e acabar com qualquer possibilidade de você ter sua boa noite de sono no único dia possível? Se você está vivendo no Brasil, certamente passou por isso. E sabe que pra esse tipo de coisa a polícia é completamente inútil, pois não faz absolutamente nada para quem precisa descansar.

Eu não tenho nada contra festas. Já participei de várias. Mais ainda de shows, que eu amo e sinto falta nessa pandemia. Mas estamos vivendo em uma sociedade, um grupo de pessoas. E dentro desse grupo há regras que fazem com que as pessoas precisam respeitar para conseguir viver harmonicamente.

Eu não vou relatar aqui problemas sociais gravíssimos que temos, em geral pautados na extrema desigualdade social e de renda que existe nesse país, assim como a péssima educação oferecida em praticamente todas as instituições de ensino (recomendo muitíssimo o livro “A Elite do Atraso”, de Jessé Sousa, pra aprimorar alguns conceitos). Mas a vida social requer limitações.

Eu amo sexo, de verdade. E hoje, com minha namorada, ainda mais. Eu acho que todas as pessoas deveriam transar muito, para serem felizes. Mas você já imaginou chegar um casal (ou várias pessoas) numa praça, e começarem a transar? Ou de repente no meio do seu escritório, no lugar de trabalho? E por que você não faz isso? Simples: existe uma convenção social, onde pra viver dentro dessa sociedade de forma harmônica, convencionou-se que você tem relações sexuais no seu ambiente privado, e em geral, sem espalhar a notícia pra niinguém.

Então por que eu tenho que aguentar um bosta ligando o som dele, numa música que no geral eu odeio, no meio da madrugada? Ou em qualquer horário do dia! Eu tenho direito ao meu sossego, e ter minha privacidade dentro da minha casa, ouvir as músicas que eu gosto, ver os filmes que eu gosto, ou deixar tudo desligado, ler alguma coisa, sem ser atrapalhado, ou sem atrapalhar nenhuma outra pessoa.

Viver em sociedade é isso. Você abre mão de fazer aquilo que lhe dá na telha porque algumas coisas interferem no direito do outro. Ao mesmo tempo que tem alguns direitos básicos respeitados, e não interfere na vida do outro. Isso tem muito a ver com empatia, e respeito aos direitos e necessidades alheias

Mas aqui isso está cada vez mais fora de sintonia. Temos uma porrada de fiscais de cu, pessoas que estão preocupadas com o que fazem homossexuais, e o que pensam. Pessoas que querem impor alguma maldita religião aos outros. Chegamos ao ponto de termos pessoas agredindo outras porque têm uma visão política diferente.

A mais notória fase dessa incapacidade de viver em sociedade é esse movimento retardado anti-vacina. As pessoas decidiram, sabe-se lá como, que as vacinas fazem mal às pessoas. As mesmas pessoas que usam celular, fazem compras online e usam Google acham que a vacina chinesa vai colocar um chip nas pessoas e rastrear cada movimento (eu até acho que essas pessoas precisam de camisa de força, e realmente, não de vacina). Mas não se incomodam em espalhar doenças pra todo mundo, só pra não se vacinarem. E quando o STF, num acerto total, determina que as pessoas são obrigadas a se vacinarem, se querem fazer parte dessa sociedade, começam a falar que é uma violência, igual a um estupro, fere a liberdade individual… um show de horrores!

Se você não está inserido nessa sociedade, e acredita que seus direitos individuais são muito mais importantes que o coletivo, a melhor coisa que você pode fazer pra si e para os outros é se isolar. Vai pra uma fazenda no meio do mato, uma ilha deserta, um local de difícil acesso no meio das montanhas. Lá você vai poder viver da forma que achar melhor, sem ter que prestar contas. Mas enquanto estiver em sociedade, aja a contento. Não seja mais imbecil.

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