quarta-feira, 10 de março de 2010

Memórias

Este ano completarei 30 anos. Parece até uma brincadeira. Outro dia destes eu pulava o muro do Bradesco para jogar bola com meus amigos, organizava campeonatos de futebol de botão e vídeo game e procurava saber o que falar diante de uma mulher, e agora estou quase com trinta...

Acho engraçado que quase não tenho lembranças da minha infância. Lembro de pouquíssimas coisas que aconteceram antes dos meus 12 anos. E também não muito mais até uns quinze. Não me lembro de ter sido exatamente infeliz, mas não lembro também de ter sido feliz. Mas, uma coisa eu me lembro: minha adolescência foi absolutamente terrível. E posso dizer, sem medo de errar, que não sinto qualquer saudade do meu período que durou até os 20 anos.

Viver na minha casa era um inferno. Não apanhava constantemente, nem era abusado, nem nada disso. Mas isso não fez com que as coisas fossem melhores. E por causa de um simples fato: álcool. Acho péssimo um cara alcoólatra, mas quando o caso vem de uma mulher, aí o negócio fica realmente feio. E quando vem da sua mãe, a casa cai!

Sim, minha mãe é o tipo de pessoa que não consegue viver sem álcool. E isso se tornou um dos maiores, senão o maior trauma da minha vida. Pra começar, ela jamais foi o tipo carinhosa ou cuidadosa. Acho que até nem queria ser mãe, simplesmente aconteceu. Minha casa era um nojo, suja e fedida. A comida ficava aberta em cima da pia. Minhas roupas eram sempre encardidas. Mas nada disso fez a diferença.

O que contava era na festa de quinze anos da sua irmã sua mãe estar bêbada a ponto de não ser mais um ser humano no sentido da palavra, fazer um baita show e ameaçar sair de casa, deixando toda a família arruinada por algumas horas, provocando choros e constrangimento por parte dos convidados. Aquilo era um pesadelo.

E quando não tínhamos visitas, o pesadelo era ainda maior. A pessoa estava tão bêbada que nem banho tomava. Começava a provocar e queria o tempo todo arrumar brigas. Uma vez cheguei a vias de fato: fiquei tão revoltado com aquela maldita situação, e com o fato dela querer me impedir de sair de casa para ir ver alguns amigos, porque estava totalmente calibrada, que a empurrei para o chão com toda a minha força.

A época da Praia Grande então foi o pior momento da minha vida. Éramos só eu e ela, e minha irmã, que sempre se calou e auxiliou nesta situação. Foi naquele momento que eu desenvolvi um desejo enorme de me matar. Aquilo era a própria morte. Eu não esqueço nunca da vez em que ela falou pro meu pai que eu às tratava mal, e meu pai me deu uma bronca imensa, cheia de ameaças. Eu não falei uma única palavra, não respondi, só o olhei, cheio de ódio. Era verdade, eu às tratava muito mal, e não ia mudar isso. Eu odiava viver aquela situação, e o odiei mais ainda por falar aquelas coisas sem saber o que acontecia. E como demorou pra eu esquecer este evento e perdoar por completo...

Quando voltamos a São Paulo, cheguei a ficar um mês sem falar com ela. E ali fui desenvolvendo um ódio mortal pro ela. Eu queria que ela sumisse, simplesmente. Meus pais se separaram uma dúzia de vezes. Toda vez que ela sumia, era ótimo. Era a paz. Aí, eles se reconciliavam, e meu desespero recomeçava. E era tudo sempre igual, ou até pior.

Muitos acreditam que por causa da minha ex-namorada, Joyce, eu entrei numa profunda depressão. Coitada. Ela teve pouca culpa, só deu aquele empurrãozinho que faltava. O maior motivo foi o familiar. Aquilo era insuportável, e me levou a fazer grandes besteiras.

Por fim, tive uma trégua. De 2003 a 2005 estive longe dela. E estive feliz. Até que resolvi dar uma chance, e voltei a morar com ela, em 2005. Durou até 2007. E foram dois anos que senti o inferno retornar à minha vida. Aquilo não era um pesadelo, era O PESADELO. Bebida direto. Brigas, sujeira, fedor. Eu não agüentava mais aquilo. Pensei que depois de todo o sofrimento que passamos, era a conciliação, mas foi pior. Foi um erro terrível voltar a morar com ela. E ela viu meu avô e o cunhado dele morrerem em decorrência do cigarro e da bebida. Mesmo assim, mantinha essa posição burra.

Abandonei aquela loucura. Não queria mais saber mesmo. Preferia me ferrar no mundo do que continuar daquele jeito. Foi a decisão mais correta que já tomei na vida. Passei um ano sem falar com ela. E não senti a menor falta. Arrumei briga com toda a família dela, minhas tias, e sinceramente, achei melhor assim. As pessoas simplesmente não conseguem entender o que acontece na vida de uma pessoa, e o que as leva a tomarem certas decisões. Costumam julgar sem conhecer, mas nem podemos condenar as pessoas por serem ignorantes.

E hoje, acho chocante e trágico isso, mas não sinto qualquer amor pela minha mãe. Ela uma pessoa que simplesmente existe, com uma ligação sanguínea comigo. Depois de muita insistência da minha noiva, minha avó, e um pouco do meu pai, voltei a falar com ela. Mas acho que foi mais por pena do que por vontade, na ocasião do meu noivado. Conversamos o necessário hoje.

Mas o pior é estar junto com todos os parentes dela. Não tenho nada contra ninguém, e verdadeiramente adoro este pessoal, mas na hora que começam a beber... Cristo! A última festa foi inesquecível: secaram garrafas de vodka, gente dormindo no meio da festa, outros caindo, pessoas que nem dava para entender o que falavam. Pensando com mais carinho, acho que este é o maior motivo de eu raramente querer ir para São Carlos.

E o resultado de toda essa situação: uma ótima tentativa de suicídio em 2004 (o que, no fim das contas, foi o que salvou a minha vida); ódio mortal a qualquer tipo de bebida alcoólica e uma intolerância irrestrita a gente bêbada (chego ao ponto de sentir um prazer absoluto quando vejo um bêbado cair no chão, especialmente quando ele se machuca, e mais ainda quando vejo sangue escorrendo); praticamente não bebo; detesto falar sobre minha mãe, e geralmente procuro fugir do assunto; não sinto nada por ela, nem amor, nem raiva. Ela simplesmente existe.

Um comentário:

  1. Bem, eu vivi uma pequena porcentagem desses acontecimentos, mas desconhecia a maioria das coisas, e realmente acho terrível tais vícios como cigarro e bebida.

    Mas como seu amigo, eu te falo que todas as atitudes boas ou más de nossos pais, avós, tios e etc... devem ser levadas apenas como "Não faça isso", "não viva dessa forma", é o que eu tenho feito, desde me desgrudar da vida jovem "sem nenhuma responsabilidade alguma", em meados de 2001, ao entrar no Hospital aonde trabalhei, quando tive que assumir uma casa (e que casa, rs) nas costas, convivendo com mais exemplos de "Não faça isso", "não viva dessa forma", por parte de meus irmãos.

    O que você acha que eu penso quanto ao casamento de meus pais? você sabe que desde os 12 anos, quando perguntado pela minha mãe se eu gostaria que ela voltasse para o meu pai, eu respondi um sonoro... NÃO!.

    Da mesma forma que sei que nunca serei perfeito, temos que viver aprendendo a não fazer tais coisas, é isso que faz crescermos.

    Eu acho que você deveria conviver com sua mãe, mas se guardar rancor ou ódio, apenas esquecer e evitar as atitudes que tanto te atrapalham.

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