segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Educação significativa ou atrativa?

Em mais uma das minhas tentativas de encontrar alguma coisa de boa na revista Nova Escola, li uma reportagem onde a revista tentava nos ensinar como combater a indisciplina dentro da sala de aula. Num dos pontos que mais me chamou a atenção eles comentavam que as aulas e os conteúdos deveriam ser significativos para os alunos, fazendo com que a aula prendesse sua atenção. Não sei dizer se quando leio esse tipo de coisa fico altamente revoltado, ou se perco completamente a esperança de alguma melhora algum dia.

Quando eu era criança, apesar de não ter recebido uma educação extremamente rígida, eu deveria cumprir algumas regras, das quais não tinha escolha: dormir cedo, não responder aos meus pais, comer de tudo e especialmente ser um bom aluno. Eu lembro que, na 6ª série, quando fiquei de recuperação em inglês, simplesmente porque tirei nota azul em tudo, e quando relaxei por ter passado, tirei uma última nota abaixo de cinco, a professora me deixou de recuperação pela minha “queda de rendimento”, meu pai enlouqueceu. Acho que aquele mês foi um dos mais infernais da minha infância. Não podia mais sair com amigos, jogar bola, nada. Tive que estudar 24 horas por dia, sendo que eu não corria qualquer risco de ser reprovado.

Tem coisas que eu realmente odeio estudar, como é o caso da Química, ou da Biologia. Alguns aspectos desta disciplina eu até acho fascinante, mas sinceramente, evito ao máximo pegar qualquer coisa desse tipo pra ler. Mas, de qualquer forma, eu sempre dei a mesma importância para estas matérias que dava para as demais, e sempre me esforcei de igual maneira. Isso aconteceu porque meu pai sempre me fez estudar, nem que eu tivesse que “sofrer” pra isso. Por outro lado, minha mãe praticamente devorava livros. Então eu sempre fui estimulado a querer aumentar meus conhecimentos, e estar aberto a tudo o que eu eventualmente pudesse aprender.

Nunca ninguém me perguntou se eu achava interessante aquilo que estava aprendendo na escola. Tão pouco me perguntaram se teria algum significado para a minha vida, até porque eu nem sabia que raios eu iria fazer quando me tornasse um adulto. Eu tinha que me dedicar, porque meus pais me ensinaram a ser responsáveis. Eu tinha que cumprir certas obrigações, até mesmo para não sofrer certas punições ou certas críticas.

É errado isso? Alguns dos mais malditos e estúpidos tecnocratas dizem que sim. Mas, quando fui prestar meus vestibulares, por exemplo, ninguém me perguntou quais matérias eu gostava mais, quais me interessavam e despertavam minha atenção. Eu tive que fazer as provas de biologia assim como qualquer um. E como vim do ensino público, cujas limitações estruturais e governamentais são óbvias, tive que estudar feito um condenado para conseguir sucesso na vida. Deixei de sair, de ver meus amigos, de me preocupar em namorar, ou seja, deixe de viver. E alguém por acaso acha que eu me diverti com isso?

Depois, comecei a prestar concursos públicos. E como sabemos, pela péssima qualidade das organizadoras, o conteúdo muitas vezes não tem qualquer relação com o trabalho. Tive que estudar as mais absurdas coisas. E tive que estudar muito! Cheguei algumas vezes a brigar com a minha noiva, perder a paciência com tudo, perder noites de sono, engordar... não foi divertido!

E no trabalho então? Agente tem que engolir cada sapo... e às vezes o brejo inteiro de uma vez! Tem hora que parece que o coração vai explodir de tanto nervoso que agente passa. Às vezes temos péssimos colegas, às vezes patrões insuportáveis, às vezes temos um emprego chatíssimo, que precisamos manter para pagar as contas (que nunca se preocupam se estamos gostando do que fazemos ou não), e na maioria esmagadora das vezes, ganhamos muito menos do que todo esforço vale. Mas temos que fazer, porque temos responsabilidade, muitas vezes para com outras pessoas.

Aí, quando estes gênios criam seu sistema infalível de educação, fazem de conta que a criança vive em um conto de fadas. Não devemos obrigá-las a nada. Não devemos forçar nada. Não podemos ser mais rígidos, e muito menos puni-la. Temos que preparar a criança para o mundo, sem deixar que ela sinta como é o mundo. E não estamos falando em exageros, crueldade, nem rigidez excessiva. Apenas ensinar o que temos para ensinar.

Com toda a certeza do mundo cada aluno vai preferir uma determinada disciplina. Cada aluno irá detestar mortalmente uma ou mais. Por isso devemos colocar nestes jovens o senso de responsabilidade e de necessidade. Temos que fazê-los entender que o mundo não é feito somente do que se gosta, e de que eles têm como obrigação fazerem o melhor na escola, mesmo que não seja a aula mais divertida do mundo para eles. A consciência deve vir no sentido de um esforço pela melhoria individual, independente de se gostar ou não gostar.

Mas é sempre mais fácil se culpar os professores.

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