sábado, 20 de fevereiro de 2010

A arte

Acabo de perceber que, muitos textos escritos, boa parte deles imensos, e quase nada sobre a arte. Talvez algumas poucas linhas, mas nenhuma idéia registrada.

Engraçado que, sendo uma das maiores paixões da minha vida, não registro quase nenhuma idéia sobre o assunto. Pouco gosto de conversar sobre minhas idéias a respeito com qualquer pessoa. Não gosto de discutir, e menos ainda de ficar ouvindo o monte de baboseiras que administradores, advogados, pedreiros, marceneiros e médicos acreditam ser arte.

Conforme os anos passam vou percebendo que a arte é algo extremamente profundo, difícil de ser relatado. É um turbilhão de idéias, de emoções, técnicas, tentativa e erro, que não da pra explicar isso em um conjunto de palavras.

Acredito, piamente, que a arte envolve primordialmente a expressão de emoções ( por mais redundante que isso possa parecer). Se você não consegue impor seus sentimentos na obra, e fazer com que os observadores sintam alguma coisa, creio que não será jamais uma obra de arte. Com isso, desconsidero totalmente o Construtivismo como um movimento artístico. Os historiadores, teóricos e todo tipo de estudiosos podem dizer o que quiserem, mas não dá pra aceitar que um monte de figuras geométricas sejam arte. Podemos aceitar com facilidade o caráter técnico, a precisão de composição, a pesquisa de formas e cores, como uma boa atividade prática. Mas não arte.

Outro fator importantíssimo é a idéia de se criar algo novo. A arte não aceita cópia. Não da pra fazer o que um monte de gente já fez. Você se apoiar em idéias que outros tiveram é fácil demais. Daí você ouve aquele imbecil que vê uma obra de arte moderna, e no auge de sua ignorância diz: “isso até eu faço!”. Claro que faz, depois que alguém descobriu a técnica, qualquer macaco adestrado é capaz de repetir o procedimento.

E essa vem a ser a maior diferença entre a arte e o artesanato: a criação, ou seja, fazer algo novo, partindo do zero. Você pode ter o intuito de fazer algum objeto bonito, mostrar o quanto sua técnica é apurada, decorar algum ambiente. Mas aí você irá cair no artesanato. Não que seja algo ruim, mas não da pra bater tudo no liquidificador, sendo coisas bastante diferentes.

Por fim, creio que devemos comunicar algo com a obra. Pode ser uma idéia, como pode ser a explosão de sensações, como ocorre na obra abstrata, onde sentimos as relações de figuras, cores, texturas, etc., mesmo sem conseguirmos captar uma idéia concreta na imagem. A arte deve ajudar as pessoas a melhorarem intelectualmente, deve fazer com que as pessoas pensem mais. Somente com uma comunicação obra-público isso pode fluir.

Daí, você se inscreve num salão de artes, e os críticos pedem que você mande uma quantidade de obras, com determinadas especificações. Pedem que estas obras se relacionem entre si, existindo então uma “poética” na sua produção.Além disso, querem que você explique o que quis passar com suas obras, através de um projeto justificativo.

Ora, sinceramente, poética não depende da sua produção. Sua vida é poética. Tudo o que ocorre ao longo dos seus dias mantém inter-relações com suas escolhas e decisões. Você passa por uma série de emoções, situações e escolhas ao longo dos seus dias. E tudo está sempre inter ligado. Você não precisa se fixar em um único tema para demonstrar isso, nem fazer uma série idêntica para mostrar que seu trabalho é poético. Estes críticos, tão medíocres como sempre na história da arte, esquecem que você vive um processo na criação de cada obra. Este processo inicia-se do momento em que aquele tema te tocou, passando pela pesquisa a seu respeito, na busca material para a criação da obra, e enfim para as varais tentativas até que cheguemos a um resultado final. A poética ocorre o tempo todo.

E demonstram também sua incapacidade de análise, pois esperam que nós expliquemos as nossas intenções com a obra. Meu Deus! A obra fala por si própria. Não é preciso enfiar legendas, nem criar um memorando para detalhar os elementos que a compõe. Quando você explica sua obra para alguém, simplesmente aniquila a magia da descoberta, as infinitas possibilidade de interpretação que estas pessoas teriam ao viajarem pela sua criação. Isso é inaceitável.

Mais uma vez estamos vivendo um momento em que a criação está sendo “regrada” por alguns pseudo entendidos do assunto. Como sempre, na história da arte, temos uma conjunção de babacas que afirma que pode definir o que tem qualidade ou não. E como sempre, todos os que discordam desta idiotice ficam marginalizados do circuito.

Por essas e outras que eu continuo meu procedimento criativo da maneira que acredito ser a certa. Continuo materializando sempre que possível minhas idéias, expressando meus sentimentos, mas sem me preocupar em divulgar todas as minhas idéias para grupos especializados, que tentarão me dizer se eu sou bom ou não. Eu sou bom pra mim mesmo. Acredito no que faço, e consigo tocar o sentimento de muitas pessoas com minhas obras. Muitas pessoas me pedem trabalhos meus. Outras têm medo do que eu creio, sentem nojo, repulsa. Tenho visto a maior parte não ficar neutra diante de alguma coisa que eu crio, e isso é um prêmio muito maior do que ser agraciado por um grupo que se acha além do bem e do mal.

Não existe coisa melhor na vida do que não ter um único estilo, e poder viajar livremente por todos os que existem.

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