sábado, 19 de março de 2011

Decepção com a turnê do Helloween


Quem me conhece sabe o quanto sou fã da banda de heavy metal alemã Helloween. Não só acho a melhor banda do mundo, como também acho a mais importante banda de heavy metal de todos os tempos. Fui aos shows da banda em São Paulo desde 2001, em todos (2001, 2003, 2006 e 2008). Porém, estou ano estou decepcionado com as escolhas feitas pelo quinteto, que me recuso a assistir ao show da minha banda preferida.
Apenas para que as pessoas leigas se situem, a banda passou por uma série de mudanças na sua formação ao longo dos anos, tendo como membros originais o guitarrista Michael Weikath e o baixista Markus Grosskopf. O estilo da banda começou com um rock extremamente rápido, onde os bumbos duplos são usados em seu limite melodias fortes, solos de guitarras e duetos bastante “fritados” e vocais que abusam dos agudos. A consagração da banda veio com os dois álbuns Keepers Of The Seven Keys, de 1987 e 1988, considerada a página inicial do estilo Power Metal.
Em 1993, devido a problemas de relacionamento com restante da banda e uma recusa total com o heavy metal, o consagrado vocalista Michael Kiske deixa a banda e é substituído por Andi Deris. Enquanto Kiske baseava seus vocais em agudos potentes, Deris faz largo uso de suas possibilidades vocais, variando entre graves rasgados, até agudos, sejam limpos ou gritados, passando por alguns guturais vez por outra. Além disso, com Andi Deris a banda passou a explorar novas possibilidades, criando música ainda mais rápidas e pesadas, baldas extremamente emotivas, músicas bastante climáticas, músicas sombrias, épicas, hard rock e até mesmo um estilo mais pop, em seu álbum de comemoração dos 25 anos de carreira(mas nada preocupante, a banda voltou ao metal no álbum seguinte).
Mesmo não sendo considerados tão bons quanto os Keepers, praticamente tudo o que a banda fez a seguir é de extrema qualidade. Muitos dos álbuns que sucederam seriam clássicos para qualquer banda de heavy metal. Particularmente eu prefiro a banda com os vocais de Deris, pois além do cara conseguir fazer uma variedade incrível de estilos, ainda possibilitou à banda trabalhar vários gêneros dentro do rock. Aliado a isso, Andi Deris é um dos mais carismáticos vocalistas do metal, tendo total consciência de que é voltado para a banda. Mesmo assim, graças às grandes diferenças com o estilo de Kiske, alguns fãs cabeça dura ainda não o aceitam como vocalista, mesmo depois de quase 20 anos.
Dito isso, afirmo que o álbum The Time of The Oath, de 1996 foi o principal responsável por despertar em mim a paixão pelo metal, e ainda é o meu álbum preferido, com muitas canções trazendo o espírito Power metal de sempre, mas com muitas que apresentam características diferentes da banda. Os que vieram a seguir são também todos ótimos, e me tornei fã de carteirinha da banda, que compra os discos originais, vai aos shows, usa camiseta, etc.
Em 2001, por causa das brigas com a formação em questão, o show foi apenas razoável, com muitos erros dos caras. Em 2003, com novos integrantes, a banda utilizou uma ou duas músicas de cada álbum, tocando várias que jamais haviam sido executadas ao vivo, e fizeram um show inesquecível. Em 2006, com o lançamento da terceira parte dos Keepers (ótimo, por sinal), basearam o setlist nos três álbuns, com poucas músicas de outros discos, fazendo um show impecável. Porém, em 2008, a coisa começou a degringolar.
Mesmo com um ótimo álbum lançado, a turnê seguiu baseada em músicas dos Keepers, só que apenas nos dois primeiros, deixando boa parte da carreira com Andi Deris de fora. Apesar da revolta, ainda paguei caro para mim e para minha noiva assistirmos à apresentação. Os caras tocaram demais naquele dia, mas me senti um pouco desapontado, até pela existência de uma campanha rolando na internet, para que incluíssem faixas da nova fase da banda.
Porém, quando vi o set de 2010, aí deixei de ficar desapontado, e passei a ficar revoltado com a banda que eu mais adoro. Das quase vinte músicas do set, apenas cinco fazem parte da “era Deris”. O restante, tudo Keepers. É quase como ver um remake de algo muito antigo, que já foi visto tantas vezes, que já não tem mais qualquer graça.
A quantidade de pessoas que tem reclamado das escolhas cresceu ainda mais. Acompanhar trechos da turnê pela internet se tornou um porre. Quando ouvi um dos Bootlegs da atual turnê, fiquei extremamente desapontado com o que ouvi. Apesar de tecnicamente muito bom, já não tinha mais graça ouvir aquilo. Parecia que eu estava ouvindo o show de 2008.
Mas o que me deixa mais revoltado é que, como fã da banda há mais de dez anos, me sinto totalmente desrespeitado. Depois de comprar todos os discos, sou obrigado a, se quiser acompanhá-los ao vivo, escutar basicamente uma fase da banda que não sou muito fã. O que realmente me fez gostar da banda, foi deixado pra trás. É como se toda a criatividade e experimentação da banda não tivesse nenhum valor. Andi Deris salvou a banda da falência, com dois álbuns de quase nenhuma repercussão após os Keepers, devolvendo-a ao seu posto de líderes do metal, para sua fase ser esquecida.
Até mesmo os fãs da fase antiga estão de saco cheio de ouvirem somente dois discos na turnê. A maioria daqueles que preferia o antigo vocalista aceita as inegáveis qualidades do atual, gosta dos discos e quer ouvir boa parte das músicas nos shows. Mesmos estas pessoas estão cansados da overdose do guardião das sete chaves.
Então, eu me pergunto: é isso que recebemos por sermos fãs de uma banda, propagar sua arte e sustentar seu sucesso por tantos anos?

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