domingo, 9 de maio de 2010

O professor e o sistema apostilado


Hoje discutimos o sistema apostilado implantado desde 2008 pelo Governo do Estado na Educação. Existe quase um consenso entre os professores que o material é de péssima qualidade. Criado por grandes universidades, como a USP, a apostila é uma tentativa de padronizar os conteúdos curriculares e dar algumas aulas mastigadas para os professores.
Primeiramente, vamos ao mais óbvio: a pessoa que perde alguns anos de sua vida para ser professor tem alguns sonhos e ideologias, especialmente em dar sua contribuição para mudar o mundo.  Suas atitudes buscarão trazer a reflexão para seus alunos, fazendo com que os mesmos aprendam a pensar e tirar suas próprias conclusões, diante de algumas situações problema propostas. Quando você joga uma apostila que deve ser seguida aula por aula, o papel do professor é reduzido a um mero executor de tarefas, mais ou menos como um carimbador de papéis. Isto constitui uma grande frustração para os profissionais, que se vêem como meros fantoches, e bonecos desprezíveis na constituição da educação.
Um segundo ponto a ser destacado é que o Estado de São Paulo possui uma diversidade incrível de populações. Se ainda formos um pouco mais bonzinhos, e ficarmos apenas na cidade de São Paulo, já encontraremos grupos bem diferentes um do outro de bairro para bairro. Determinar alguns conteúdos mínimos que todos tenham que aprender pode até ser uma medida interessante, mas despreza totalmente a realidade de cada um dos grupos, seus conhecimentos e experiências, assim como dificuldades. Um aluno que não conheça o que tem sido proposta na apostila irá se desestimular rapidamente em virtude da dificuldade encontrada, assim como um aluno que esteja muito à frente do que é proposto pelo infame livrinho irá achar a aula um saco, desestimulando-se da mesma forma.
Por outro lado, para quem já teve o desprazer de ler um destes livros, irá perceber que os cadernos de alunos trazem algumas imagens, e uma série de questões, a maior parte das mesmas bem simplificadas, e que muitas vezes não trazem muitos conhecimentos para o alunado. A maior parte das questões adota um cunho filosófico, quando muito. Em termos práticos, poucos conhecimentos trazem para as crianças e adolescentes.
Alguns países do mundo adotaram o sistema de currículo unificado, mas não apostilas. Tais países entendem por currículo algumas diretrizes a serem ensinadas que são entendidas como conhecimentos obrigatórios para todas as pessoas da nação. Porém, a maior parte destes países é bem menor que o Estado de São Paulo, e com uma diversidade populacional bem inferior. Além disso, os professores são bem melhor remunerados, a estrutura escolar é infinitamente superior, e a própria população da uma grande importância para a educação.
Acho realmente engraçado que alguns tecnocratas de plantão continuem apoiando este sistema, sendo que os professores, aqueles que são responsáveis por ministrar conteúdos, pelo processo de ensino-aprendizagem, e que lidam com a realidade de uma sala de aula todos os dias, estejam criticando veementemente este procedimento mal implantado. O dinheiro de impostos de grande parte da população tem sido investida nesta porcaria, e ninguém faz uma pesquisa para saber a qualidade de tal investimento.

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