terça-feira, 4 de maio de 2010

A inseparável associação entre educação e política


Tenho recebido algumas críticas por fazer demasiada associação entre política e sistemas de educação no Brasil. Uma delas afirma que deve-se preocupar em agir e fazer algo de significativo para o país, e não falar sobre política. Outra delas afirma que meus textos contém um tom muito mais anti-Serra do que propriamente afirmações em defesa da educação.
Infelizmente a educação oficial, ou seja, aquela passada pelo governo está intimamente ligada a um forte sistema político. Este sistema cobre alguns interesses, assim como alguns objetivos traçados pelos governos. Todo aquele funcionário que faz parte do sistema educacional oficial deve seguir as regras impostas.
Falando especificamente do Estado de São Paulo, o governo lançou um programa curricular que está sendo constantemente analisado em exames de final de ano, como o Saresp, sistema este que, se negativado, pode apresentar dados que reflitam o mau desempenho da unidade escolar. Sendo assim, cria-se um sistema de medo nos professores para que sigam o currículo, caso queiram ser bem avaliados. Não se questiona a qualidade do mesmo, que jamais foi debatido com qualquer professor (eu mesmo cheguei e enviar algumas críticas à proposta curricular de artes, outras sugestões, mas jamais recebi qualquer resposta). Chegamos ao absurdo de ter dois “paraguais” no caderno de Geografia, puramente pela falta de revisão quando elaborado o mesmo. Um currículo imposto, que não se preocupa com questões didáticas primárias, como o nível em que se encontra determinado grupo social, os conhecimentos e experiências adquiridas, etc.
Outro ponto importante é a prova que faz a seleção dos professores temporários. Tal prova é questionável no sentido de avaliar os melhores profissionais, como insiste em afirmar o governo. Existe uma série de métodos avaliativos, e tudo se resume a um pedaço de papel que determina um momento enfrentado pelo profissional, sobre conhecimentos somente teóricos. Alguns estudos apontam inclusive problemas emocionais que poderiam afetar desempenho na prova. Além do mais, não é analisada a real capacidade do profissional em estar em sala de aula, assim como não há diagnóstico que possibilite a correção de possíveis erros. O método é extremamente subjetivo e falho, com caráter exclusivamente eleitoreiro.
Na mesma linha de pensamento seguimos quando analisamos a prova de promoção por mérito. Primeiramente, a prova é inconstitucional, pois cria profissionais que fazem parte da mesma categoria que ganhariam salários diferentes. Não existe qualquer promoção, pois os profissionais exerceriam a mesma função de seus colegas, que ganhariam salários inferiores. Depois, temos o reconhecimento mais uma vez de conhecimento teórico, medido exclusivamente por um punhado de horas, realizada em um único dia. Não é medida a competência do professor na sala de aula, sua dedicação, a capacidade efetiva de ensinar. Ou seja, não prova coisa alguma.
Um outro imenso problema que temos na educação de São Paulo, estreitamente relacionado à política chama-se Idesp. Uma grande idéia que deveria existir para guiar a educação para rumos melhores, mas que claramente é manipulada, onde alunos retidos são sumariamente aprovados para que os índices evoluam, assim como abandonos são transformados em excesso de faltas ocasionais para que o nível de evasão diminua. E esta política direciona o bônus recebido pelo professor. Sabemos que o professor ganha os menores salários dentre todos os profissionais de nível superior, então os mesmos acabam “se vendendo” em função de tal bônus (e aqui também assumo a culpa por esta falha).
Mas o mais conhecimento dos sistemas políticos que determina os rumos da educação no nosso país chama-se aprovação continuada (para os mais íntimos empurração continuada). Como afirma o governo foi uma idéia que deu certo em países desenvolvidos, pois foi implantada da maneira correta. Aqui, tudo feito de qualquer jeito, e deu no que deu. Já está mais do que provado que o sistema adotado não funcionou. Tal sistema funciona em outros países porque o número de alunos por sala de aula é bem pequeno, os professores são bem remunerados, com quantidades limitadas de aulas, o que lhes permite um trabalho exclusivo para determinadas turmas e acompanhamento integral. Além disso, em países desenvolvidos os pais são extremamente presentes na educação dos filhos.
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Outro fator a ser criticado é meu posicionamento frontalmente contrário ao governo de José Serra. A maior parte das pessoas deve conhecer pelo menos um servidor estadual. Quando tiver a oportunidade de conversar com o mesmo, questione-o sobre sua opinião a respeito do atual governo. Eu poderia afirmar sem medo que cerca de 90% dos atuais servidores sentem um profundo desejo de matar o nosso governador, da maneira mais tortuosa o possível. Alguns líderes ou dirigentes podem até serem favoráveis a seu governo, mas também não são a maioria.
Na educação, ele consegue ser pior. Ele conseguiu aumentar os erros de seus antecessores, erros estes que não são poucos, pois é de conhecimento de todos que a educação em São Paulo vai de mal a pior. Ainda dificultou ainda mais a vida dos professores, com leis e medidas esdrúxulas.
Porém, a verdade deve ser dita: José Serra consegue ser pior que os demais governos, mas a maior parte dos nossos governantes, em termos de educação, são todos muito ruins. Uma das promessas de campanha do presidente Lula foi de acabar com a aprovação continuada, discurso que eu escutei do mesmo em 2005. Até agora ainda não vi nenhuma ação para mudar tal sistema. No governo do PT pouca coisa evoluiu na educação. Eu diria que a única ação realmente boa foi a implantação da Lei do Piso para os profissionais da educação, mas é muito pouco para um governo que se diz defensor das causas sociais. Sinceramente, eu consideraria que o governo Lula foi idêntico ao governo FHC quando o assunto é educação no país.
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Por estas razões afirmo que não há como separar a educação da política no Brasil. Os profissionais fazem parte do sistema, que segue suas próprias leis. Não há como desobedecê-las, até porque os Estatutos afirmam que os servidores devem cumprir as leis e ordens superiores, exceto quando forem manifestamente ilegais. As medidas são contestáveis, mas poucas são ilegais.
A criação de ONGs ou entidades que busquem melhorias para a educação através de ações sociais são extremamente eficientes, mas elas não conseguem atingir nem sequer uma pequena fatia da quantidade de estudantes que fazem parte da nossa nação.
Enquanto não houver uma mudança radical na mentalidade sobre educação no nosso país, com a valorização extrema deste setor, colocando-a como o item de maior importância para a sociedade, juntamente com a saúde, não haverá qualquer possibilidade de uma evolução efetiva do nosso país. Sempre seremos um país economicamente próspero, com muita miséria, injustiças sociais e criminalidade em alta. E não há como separar esta situação dos nossos regimes políticos.

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