segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ser um chato


Tenho escutado algumas pessoas reclamarem sobre a propagação das minhas ideias ateias, assim como das polêmicas que tenho causado, especialmente em redes sociais. Isso não é de hoje, mas é especial, pois é a primeira vez que estou mexendo com vontade nesse ninho de marimbondo que é a fé. Em geral marquei minha vida por polêmicas, defendendo comunismo, falando sobre política, criticando o PSDB, metendo o pau em novelas e reality shows, falando mal de barulhos, cachorros, etc. As defesas que fiz também foram de coisas que geram controvérsias, o que me acirrou no meu nível de polêmica e de chatice.
Acredito que o brasileiro tenha um péssimo hábito de ser acomodado. Mesmo que odeie a situação, aceita por temer ser chato ao reclamar. É algo tipicamente brasileiro, e explica muita coisa errada pela qual temos passado. E em certo ponto tenho ciúme do que vejo na Argentina, na França, no Egito, na Grécia. Lá as pessoas não ficam sentadas esperando o mundo desabar em suas cabeças, nem se contentam com o que é ruim por achar que o mundo é injusto e não podemos fazer nada.
Sim, eu sou um chato para os padrões brasileiros. Acho muita coisa errada na religião, e critico isso. A religião já criou uma quantidade incontável de sofrimento e de assassinatos, e não acho que eu tenha qualquer razão pra respeitar isso. Recentemente a igreja católica apoiou o nazismo. Milhares de pessoas foram torturadas e assassinadas, roubadas e tiveram seu pensamento cerceado por causa disso. Acredito que essas pessoas dariam tudo na época por chatos que contestassem esses valores.
Também sou um chato com a política, porque vivemos num país onde a corrupção impera. Aqui o normal é político ser ladrão, e todo mundo dar risada da situação ou tentar tirar seu próprio proveito disso. E falar sobre política é ser ainda mais chato, pois é um assunto sem graça, e que exige grande conhecimento. Até se criou um discurso de que política não se discute. Mais uma excelente explicação do porque as coisas estarem como estão.
Sou um chato ao criticar reality shows e suas consequências para um povo que não se interesse por um mínimo de conhecimento mas perde horas e gasta dinheiro com programas estúpidos que ao invés de agregarem cosias somente fazem com que tenhamos preguiça de pensar. Assim como critico mídias que apresentam reportagens tendenciosas, mostrando determinados grupos como arruaceiros e criminosos, enquanto outros, por agirem das mesma forma ou de forma pior, são mostrados de maneira isolada e independente, sem qualquer relação com a filosofia que praticam.
Sou chato pra caralho com barulho, porque acredito que todas as pessoas têm o direito ao seu sossego, assim como têm o direito de escolher não partilhar determinada festa, reunião ou brincadeira. Todo mundo tem o direito de ficar em casa, sossegado, sem ter que aguentar barulho dos outros. E sou chato com rojões, porque qualquer pessoa que tenha um bebê ou animalzinho sabe que esta merda de divertido não tem nada.
Um amigo meu recentemente me disse que o direito de um termina no direito de outro, e por isso sou tão chato e tão polêmico. Acredito que o direito religioso transcendeu a própria fé, quando matou tantas pessoas. O direito de não falar de política deixou de ser individual quando eu estou sendo roubado no uso dos meus impostos. O direito da pessoa se divertir acabou quando ela me força a ouvir a merda de uma música que eu não quero ouvir, especialmente de madrugada. O direito de alguém assistir um programa acaba quando ele quer me forçar a entender o que está bosta representa, mas não quer sequer conversar sobre política.
Por isso eu sou chato, e insisto na minha chatice. Não acredito e nem tenho a pretensão de que as pessoas irão seguir minhas ideias. Não acho que ninguém vai virar ateu por minha causa, ou se tornar um esquerdista, nem começar a ouvir heavy metal, ou sequer irá ser amante de gatos porque eu gosto desse bicho.
Mas acredito que as pessoas irão comentar alguns assuntos, se eles forem propostos. E irão pensar a respeito. E esta é a ideia: se questionar. Duvidar dos limites que têm sido impostos, ou de até onde se está chegando, e de que isso vai trazer benefícios. Se questionar se as atitudes que temos tomado são as melhores pra se viver em uma sociedade, se conseguimos viver em grupo. Se questionar se você está praticando o que sua própria fé prega, ou se você tem sido hipócrita. Se questionar se os seus líderes religiosos agem de acordo com o que pregam, se agem de acordo com sua fé. Questionar se temos o direito de impedir a liberdade das pessoas por elas fazerem escolhas diferentes.
Pra muitos eu quero aparecer. Talvez eu queira mesmo. Mas infelizmente as pessoas ainda estão olhando pro meu nome, e as ideias ficam de lado. Eu gostaria de aparecer como a pessoa que está provocando a discussão, como alguém que tenta acrescentar alguma coisa. Pra isso estudei arte por um longo tempo, com dedicação, e estou apenas aplicando algumas coisas que aprendi.
Claro, sou um cara isolado. Tenho alguns poucos amigos que gostam de falar de política, mas em muitos assuntos, estou isolado, e talvez isso me faça ridículo pra muita gente. Mas, quer saber, quando que vocês me viram me preocupar com o que os outros pensam a meu respeito? Um outro grande amigo quando foi questionado disse que estava fazendo sua parte para o bem estar do país. Pois é isso que penso. Não consegui agir desta forma como professor, porque existiam muitas rédeas, apesar de aplicado muita polêmica dentro do conteúdo que passava, e ter sido feliz em fazer as pessoas refletirem muitas vezes. Mas faço o que posso como cidadão, até porque jamais alguém deixará de ser um artista ou um professor, e agora, um profissional do direito.
Eu espero que meus amigos continuem seguindo sua fé, sua ideologia política, continuem ouvindo as músicas que gostem, os programas de televisão que amam... espero que continuem defendendo seus pontos de vista, e entendo que de vez em quando agente perca um pouco o controle quando os defenda enfaticamente. Isso é bom, e acho que só tem a agregar ambas as partes. Acredito que adquiri bastante conhecimento e um pouco mais de percepção “do outro lado” com essas discussões. Isso tem feito com que mude alguns enfoques que eu abordo, e enfatize outros.
Mas fico feliz que pelo menos um seleto grupo de pessoas está pensando e argumentando, e provavelmente fazendo algumas pessoas, por menor que seja o número, pensar a respeito do que tem sido discutido. Analisar pontos das duas partes ou mais partes que argumentam. Em qualquer país do mundo isso é o que diferencia um país subdesenvolvido de um país justo. E acho que precisamos disso pra atingirmos um bom grau de respeito e de convivência das nossas infinitas e diversas expressões.
Por isso eu agradeço imensamente aos meus grandes amigos, Igor Félix, André Luis, Rodrigo Gallo, Nivaldo Menezes, Rodrigo Reis, Wagner Novais, Alessandro Lima, e minha esposa Vanessa Vieira, e as pessoas que pela minha terrível memória eu esqueci de mencionar, pelos inúmeros debates. Mesmo que vocês não acreditem, acho que me sinto um homem muito melhor depois deles, do que era antes. Se para o resto das pessoas não tiver servido pra nada, pelo menos pra mim ajudou bastante.

Um comentário:

  1. Roberto, concordo bastante com os seus pontos, aliás sempre concordei. Mas na minha opinião você ser chato não é o problema, todos gostamos de você assim. O que gerou estes ultimos problemas é o seu extremismo. Como você disse precisamos viver em sociedade, em grupos e nem todas as pessoas interpretam da mesma forma, que não só por sua culpa deixamos de compartilhar pelo menos dois momentos de confraternizaçao com amigos. Veja bem não estou tirando a mi há culpa, do meu marido Rodrigo ou até da Vanessa, mas gostaria que você voltasse a ler os comentários referente ao vídeo de ateísmo que o gallo compartilhou para ver a opinião dos seus amigos e sua esposa.
    Espero que no ano que vem você continue sendo chato como sempre, pois gostamos de você assim, mas que os assuntos sejam mais claros para continuarmos vivendo em grupo. Feliz ano novo!

    Juliana Luzio Reis

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