Depois
de cinco anos deixei minha vontade falar mais alto, e voltei a estudar. Estava
muito interessado em Direito, depois que comecei a trabalhar no tribunal, e
devido às tarefas relacionadas ao casamento, acabei por adiar esta vontade,
para um momento oportuno, que ocorreu no início de 2012. E não me arrependi:
achei a UNINOVE uma faculdade excelente, no que diz respeito às aulas, infra
estrutura, quadro docente, bibliografia, etc. Existe uma grande pressão para
que leiamos muito, e especialmente autores complexos, como citei em textos
anteriores.
Em
geral, tem sido um cansaço absurdo. Acordar as 5h30 todos os dias, morrendo de
sono, caminhar até o metrô, viajar uma meia hora me sentindo uma lata de
sardinha, lutar contra o sono (o que é facilitado pelas aulas excelentes),
depois correr como um doido para o tribunal, porque eu não tenho direito a um
minuto de atraso (o que me leva a ter que sair antes do fim da aula). Lá,
aquele trabalho pesado e enlouquecido, fazendo com que eu pareça ter saído de
um moedor de carne. Por fim, ir com a noiva pra academia, correr 6km na
esteira, e alguns dias puxar um peso e em outros fazer minha terapia semanal,
que é a natação. Ao chegar em casa, umas 22:30, jantar correndo, lavar a louça,
deixar a marmita pronta, tomar banho, e se possível, estudar um pouquinho. Aos
finais de semana, estudar muito e fazer o que eu preciso pra casa.
A
rotina é exaustiva, mas prazerosa. Escolhas que eu fiz, conscientemente, e
especialmente, sem necessidade ou desespero, uma vez que sou estável no que
faço, e já tenho nível superior. Estou cursando a faculdade por puro prazer, e
vislumbrando, num futuro distante, poder lucrar com tal fato, prestando
concursos melhores.
Mas
não é que tem sempre alguém pra estragar a brincadeira? Depois de todo esse
esforço, você ter que fazer uma prova onde conceitos devem ser apresentados
numa íntegra absurda, sem muita abertura para argumentações e expressões
pessoais, da vontade de mandar tudo à merda. Você ter uma matéria que existe um
bom conhecimento prévio, como é o caso de Ciência Política, uma vez que deve
ser o tema mais corriqueira deste blog, e tirar uma nota baixa porque você não
definiu exatamente o termo virtu,
apenas dissertou a respeito do conceito, sem querer parecer um dicionário, e
ainda deixando clara a intenção de virtude para o autor solicitado. Ou quando
você expõe corretamente a ideia trazida na política romana, sua relação com a
religião, e ainda ter que ver vários pontos serem comidos por você não
escrever, nesta definição, o que é autcoritas,
mesmo quando a própria resposta define, sem ser claro.
Não
entendi este fato como rigoroso. Achei exagerado e descabido. Não entendo no
que conhecer na ponta da língua estes termos delirantes vai me fazer melhorar.
E entendo menos ainda como minha linha de raciocínio pode ser inteiramente
desprezada porque eu não defini precisamente os termos, apenas dissertei a
respeito de seus conceitos. Parece aquele tipo de professor à moda antiga, que
se você não soubesse a tabuada na ponta da língua tomava reguada na cabeça.
Como
professor, acho este tipo de prática altamente danosa para o estudante. É como
viciar o cara a ser uma tabela ambulante, decorando termos, conceitos, números
e se preocupando em descrevê-lo como está no livro, se quiser uma nota boa.
Quando você escreve sobre a ideia contida nos termos, você está fora. Isso é
educação? Isso é ensinar o aluno?
E
logo esta professora, que tem uma aula tão boa. Não gosto da postura dela, nem
da maneira como ela trata os alunos, mas o domínio que ela tem da matéria, a
maneira como ela transmite este conhecimento, e a constante ênfase dada para
que as pessoas reflitam, pensem, argumentem e se organizem, além de lutarem
pelo que é certo, me fez decepcionar com a aula como um todo, pois parece que é
bem o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Depois
de anos de vida estudantil, dezenas de concursos, duas aprovações para a
segunda fase da FUVEST e uma para a segunda fase da UNICAMP, ter nível
superior, ter sido aprovado em três concursos extremamente disputados, um deles
entre os primeiros colocados, e ser capaz de escrever textos com um mínimo de
clareza, não aceito esta primeira nota vermelha, não porque eu não possa um dia
falhar, mas sim porque a maneira como está sendo avaliada foge totalmente
daquilo que eu acredito, e com argumentos bastante lógicos e sustentáveis, que
seja um verdadeiro processo de educação. Pra manter uma situação como esta,
melhor é trocar de faculdade, para uma que valorize o pensamento, e não a memorização.
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