sábado, 19 de maio de 2012

A mania dos conteúdos decorados


Depois de cinco anos deixei minha vontade falar mais alto, e voltei a estudar. Estava muito interessado em Direito, depois que comecei a trabalhar no tribunal, e devido às tarefas relacionadas ao casamento, acabei por adiar esta vontade, para um momento oportuno, que ocorreu no início de 2012. E não me arrependi: achei a UNINOVE uma faculdade excelente, no que diz respeito às aulas, infra estrutura, quadro docente, bibliografia, etc. Existe uma grande pressão para que leiamos muito, e especialmente autores complexos, como citei em textos anteriores.
Em geral, tem sido um cansaço absurdo. Acordar as 5h30 todos os dias, morrendo de sono, caminhar até o metrô, viajar uma meia hora me sentindo uma lata de sardinha, lutar contra o sono (o que é facilitado pelas aulas excelentes), depois correr como um doido para o tribunal, porque eu não tenho direito a um minuto de atraso (o que me leva a ter que sair antes do fim da aula). Lá, aquele trabalho pesado e enlouquecido, fazendo com que eu pareça ter saído de um moedor de carne. Por fim, ir com a noiva pra academia, correr 6km na esteira, e alguns dias puxar um peso e em outros fazer minha terapia semanal, que é a natação. Ao chegar em casa, umas 22:30, jantar correndo, lavar a louça, deixar a marmita pronta, tomar banho, e se possível, estudar um pouquinho. Aos finais de semana, estudar muito e fazer o que eu preciso pra casa.
A rotina é exaustiva, mas prazerosa. Escolhas que eu fiz, conscientemente, e especialmente, sem necessidade ou desespero, uma vez que sou estável no que faço, e já tenho nível superior. Estou cursando a faculdade por puro prazer, e vislumbrando, num futuro distante, poder lucrar com tal fato, prestando concursos melhores.
Mas não é que tem sempre alguém pra estragar a brincadeira? Depois de todo esse esforço, você ter que fazer uma prova onde conceitos devem ser apresentados numa íntegra absurda, sem muita abertura para argumentações e expressões pessoais, da vontade de mandar tudo à merda. Você ter uma matéria que existe um bom conhecimento prévio, como é o caso de Ciência Política, uma vez que deve ser o tema mais corriqueira deste blog, e tirar uma nota baixa porque você não definiu exatamente  o termo virtu, apenas dissertou a respeito do conceito, sem querer parecer um dicionário, e ainda deixando clara a intenção de virtude para o autor solicitado. Ou quando você expõe corretamente a ideia trazida na política romana, sua relação com a religião, e ainda ter que ver vários pontos serem comidos por você não escrever, nesta definição, o que é autcoritas, mesmo quando a própria resposta define, sem ser claro.
Não entendi este fato como rigoroso. Achei exagerado e descabido. Não entendo no que conhecer na ponta da língua estes termos delirantes vai me fazer melhorar. E entendo menos ainda como minha linha de raciocínio pode ser inteiramente desprezada porque eu não defini precisamente os termos, apenas dissertei a respeito de seus conceitos. Parece aquele tipo de professor à moda antiga, que se você não soubesse a tabuada na ponta da língua tomava reguada na cabeça.
Como professor, acho este tipo de prática altamente danosa para o estudante. É como viciar o cara a ser uma tabela ambulante, decorando termos, conceitos, números e se preocupando em descrevê-lo como está no livro, se quiser uma nota boa. Quando você escreve sobre a ideia contida nos termos, você está fora. Isso é educação? Isso é ensinar o aluno?
E logo esta professora, que tem uma aula tão boa. Não gosto da postura dela, nem da maneira como ela trata os alunos, mas o domínio que ela tem da matéria, a maneira como ela transmite este conhecimento, e a constante ênfase dada para que as pessoas reflitam, pensem, argumentem e se organizem, além de lutarem pelo que é certo, me fez decepcionar com a aula como um todo, pois parece que é bem o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Depois de anos de vida estudantil, dezenas de concursos, duas aprovações para a segunda fase da FUVEST e uma para a segunda fase da UNICAMP, ter nível superior, ter sido aprovado em três concursos extremamente disputados, um deles entre os primeiros colocados, e ser capaz de escrever textos com um mínimo de clareza, não aceito esta primeira nota vermelha, não porque eu não possa um dia falhar, mas sim porque a maneira como está sendo avaliada foge totalmente daquilo que eu acredito, e com argumentos bastante lógicos e sustentáveis, que seja um verdadeiro processo de educação. Pra manter uma situação como esta, melhor é trocar de faculdade, para uma que valorize o pensamento, e não a memorização.

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