sábado, 26 de maio de 2012

Propagação de ideias ateias


Imagine-se passando a vida toda ouvindo teorias que você considera completamente malucas e com pouquíssimo sentido. Imagine que as pessoas que você mais ama e admira falam disso com uma frequência suficiente pra te deixar furioso. Imagine que você faz parte daquela pequena minoria que não tem tanta oportunidade assim de expor seu ponto de vista, e que tem que ficar ouvindo este tipo de loucura por anos e anos por ela ser socialmente aceita, e pra que você não arrume mais encrenca do que consegue por pensar diferente.
Pois é assim que eu me sinto como ateu. Não posso dizer que sou discriminado por isso, porque meus grandes amigos são pessoas incríveis, e mesmo com fé diversificada, de acordo com cada um, sempre tiveram um respeito enorme pelo pensamento diferente. Mas a vida toda eu passei sendo taxado de rebelde de momento, onde um dia, quando fosse necessário, acreditaria em Deus. Algumas pessoas se revoltaram, outras tantas apenas deram de ombros, com a certeza que um dia Deus tocaria minha vida.
Pois bem. Não é necessário relatar os inúmeros e graves problemas de família que eu tive, que me arremessaram para uma profunda depressão. É bem verdade que todos temos que ser fortes o suficiente para superar problemas, mas quando se tem vinte anos, a vida familiar arruinada parece destruir tudo o que está ao redor, e não há tanta maturidade, experiência e perspectiva assim para se enxergar muito longe.
Também é desnecessário relatar fatos como amar enlouquecidamente uma mulher que não vale nada, te engana e te faz ficar pior do que você estava, te descartando quando você não trazia muita distração. Até porque, mesmo com a inexperiência do momento, a escolha de estar ao lado dela foi minha, e eu sou responsável pelas coisas que passei.
Mas acho que é necessário comentar que, não me parece lógico se esforçar por realizar um sonho de uma pessoa, sonho este de se casar com uma linda cerimônia, mesmo você sendo contrário a este tipo de evento, e quando, depois de você se esforçar muito por fazer deste momento único, poucos meses próximo ao casamento, receber a notícia, espetacular por ser justamente naquele momento, de que a mãe dela está com câncer. Um câncer que pode ser vencido, como está sendo, mas um câncer. Algo que qualquer um pode passar, e não deveria ser motivo suficiente para mudar o rumo das coisas.
Mas quando você vê esta pessoa, uma das melhores pessoas que alguém tem a oportunidade de conhecer, honesta, trabalhadora, uma amiga que qualquer um quer ter, perder seu pai, de maneira súbita e inexplicável, não só faltando menos de dois meses para seu casamento, como no dia anterior ao chá de cozinha, que ela fazia tanta questão, que coincidentemente era o dia de seu 29º aniversário, e você ter que vê-la no próprio aniversário escolhendo um caixão para o pai, sinceramente, não sei onde se pode ver deus nisso.
Mas, tudo bem, eu sei que sou egoísta em falar sobre isso. E pensando de maneira lógica, é um argumento demasiadamente pobre para justificar a existência ou não de Deus. Por isso prefiro pensar em todas as milhares de crianças que morrem de maneira miserável na África, muitas delas pela fome, enquanto outras pessoas vivem num luxo inigualável, como vemos no Vaticano. Ou pensar em pessoas que vivem a vida toda cercadas, por guerras justificadas por religiões e terras prometidas, que chegam num momento de desespero tão grande, que não veem outras alternativa senão explodirem tudo ao seu redor, inclusive elas mesmas. Ou pensar em mulheres sendo apedrejadas, em nome de Deus, por terem sentido desejo sexual por outro homem. Ou pensar em crianças sendo pegas pelo vício das drogas, numa idade em que não há discernimento suficiente para conseguir entender o perigo que representam. Pensar também em crianças que são violentadas pelos próprios pais. Pensar em gente perdendo até sua casa por causa de dívidas, sendo espancadas pela polícia.
Não, eu não vejo Deus nessas obras. Já tentei uma série de vezes, mas nunca vi, nunca senti. Ele simplesmente não me mostra o que ele tem feito de tão bom quando eu olho para estas cenas. Sim, temos bons momentos na vida, a natureza, os animais, um grande amor. Muitos momentos que me fazem crer que a vida vale muito a pena. Mas estes momentos não conseguem apagar o que ocorre de errado na vida, de maneira inexplicável, pra me convencer que Deus pode existir.
Quem me conhece sabe que quando uma pessoa vem falar de Deus pra mim eu escuto sem reclamar. Na pior das hipóteses, quando sou questionado, emito minha opinião, mas em geral, deixo as pessoas se expressarem, mesmo discordando delas. Acho interessante cada um manter seu ponto de vista de acordo com cada assunto, inclusive Deus. Até porque isso deve fazê-la feliz de algum modo, então seria interessante deixar que ela expanda sua alegria. O que não significa que eu concorde, ou tenha aceitado esta fé.
Mas acho que existe uma diferença entre ter fé, e ser cego pela fé. E eu realmente fiquei bastante irritado quando as pessoas, num momento terrível de nossas vidas, falaram tanto de Deus. Não quero influenciar na fé de ninguém, mas Deus não fez nada pela minha família, menos ainda pela minha noiva, ou pela família dela. Aliás, se for pra acreditar em Deus, eu diria que ele foi eficiente ao extremo em foder completamente o momento que deveria ser o mais feliz de nossas vidas. E não quero ser fútil, mas são poucos os momentos que temos de real e plena felicidade, e este nosso conseguiu ser estragado, apesar de todo o esforço. Por isso, podemos contar com qualquer coisa neste momento difícil, menos com Deus.
E provavelmente pouca gente sabe o que passamos nestes seis meses. Pouca gente sabe o que ela e a mãe dela passaram. Elas são devotas a Deus, rezam. Ela gosta de centros espíritas, uma religião que eu particularmente admiro pelas boas coisas que são pregadas. E eu não tenho intenção de mudar ou enfraquecer isso. Mas, na boa, esses seis meses foram de um esforço sobre humano para superar a dor. Foram um grande esforço para relevar grandes problemas por causa da fraqueza do momento, e foi um momento para encontrar forças que eu não posso realmente explicar, para superar algo que parecia perdido. E foi uma luta que travamos no limite, já exaustos, tendo que nos levantar quando nem dava mais vontade, assim como travei esta batalha anos atrás. E não tive nenhum deus que viesse me ajudar.
Por isso estou propagando tão ferrenhamente a doutrina ateísta. Primeiramente, porque não divido esta fé, e não quero mais ouvir nada sobre ela. Eu tive o cuidado de me informar, pesquisar e frequentar alguns cultos de diversas religiões, e posso dizer que nada me tocou, apesar do espiritismo me agradar em muita coisa. E posso dizer mais ainda que, no momento difícil, como todos diziam, eu passei a acreditar menos ainda. Depois, porque seria bom pensar um pouco nesta ideia absurda, de deixar nas mãos de uma ilusão uma luta que nós temos que travar. Jogar a culpa dos erros em um demônio, e dar as glórias da vitória numa divindade, a meu ver, parece algo bem imbecil. Coisa típica de perdedor. Nada contra cada um acreditar no
Deus, nos deuses, santos e espíritos que quiser, mas que cada pessoa seja homem o suficiente pra assumir as merdas que faz na vida, e tenha a decência de se levantar e lutar, sem esperar forças do além.
Mas, mais do que isso, espero deixar claro que não quero mais ouvir nenhuma mensagem divina na minha vida. Quero deixar claro que fiz a minha escolha, e ela não é passível de mudança. E mesmo que seja, não será pela palavra de ninguém que irá mudar. Estou deixando muito claro que, pela primeira vez na minha vida, estou fechando por completo as portas para uma fé que nunca me trouxe nada de bom, nem para as pessoas que estão ao meu redor.

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