sábado, 26 de maio de 2012

E a polêmica greve dos metroviários


Vinte e quatro horas sem metrô, e o caos apoderou-se de São Paulo. Um dia de óbvio congestionamento recorde, muita gente chegando atrasado ao trabalho, outros muitos faltando. Gente estressada e amaldiçoando a categoria dos metroviários. Uma greve que vinha sendo anunciada há mais de um mês, com centenas de possibilidades de negociação, o que, como percebemos, não ocorreu.
Pra quem conhece minimamente o serviço público, especialmente aquele que é liderado pelo PSDB (apesar de não ser o único problemático), sabe o que é ter que dar nó em pingo d´água pra fazer um serviço razoável. Todo mundo sabe que os tucanos não investem nada no serviço público, não valorizam seus servidores, cobram resultados impossíveis, e ainda por cima pintam todo o serviço público de maneira degradante na mídia. E disso não foge nenhuma das áreas.
Quem tiver um pouco de curiosidade, perceberá que o maio número de pedidos de exoneração em serviço público ocorre em autarquias guiadas pelo PSDB. As pessoas simplesmente não aguentam a loucura que vivem dia após dia, a pressão, a humilhação, e trocam a estabilidade e o salário razoável por uma chance de evoluírem na carreira, e por maior reconhecimento e respeito. Outros tentam conscientizar o povo da realidade em que vivem, sem muito sucesso.
Analisando o exemplo dos metroviários, temos um grupo de pessoas com um serviço bastante específico, com possibilidade de erro nula, sujeitos a uma enorme pressão e um grande desgaste mental. A remuneração, disponível no site do governo, não é das melhores, mas também não é das piores: cerca de R$2.000,00. E lembremos que o metrô é alvo de várias investigações, onde seu presidente é suspeito de fraudar licitação, criar contratos irregulares, e responsável direto pelo assassinato de sete pessoas na construção da linha amarela.
Vamos lembrar que a Constituição Federal assegura o direito à greve. Além disso, assegura a reposição das perdas da inflação, para garantir o poder de compra. São direitos que estão lá, e não há como tirá-los. Direitos sociais básicos. E reposição de inflação não é aumento de salário, e sim a reposição de todo o aumento de custos que temos no dia a dia, com a média de inflação. Nada mais justo.
Diversas categorias no governo tucano passaram anos sem terem esta reposição. Os professores, por exemplo, ficaram doze anos sem qualquer reajuste. Por mais que se reclame, se divulgue na mídia, e que se faça campanhas educativas, o governo não abre mão de sua posição. Além de manter os salários congelados, não investe nada na estrutura do serviço, nem na melhoria da qualidade dos funcionários, ou mesmo tornar o serviço mais atraente, para que mais profissionais qualificados se interessem. Pelo contrário, além de tirar tudo isso, ainda limita até o número de faltas por motivo de saúde. Nem sequer ficarem doentes podem os servidores públicos do Estado de São Paulo.
Diante dessa situação, restam poucas alternativas. Não há diálogo com o governo. A mídia trás uma imagem do servidor como vagabundo e incompetente. Não há motivação, crescimento, ou estrutura pra fazer um trabalho descente. Quem aguenta isso? A greve, depois de anunciada e gritada aos quatro cantos, acaba sendo colocada em prática.
Só que neste Estado as pessoas são cada dia mais individualistas. Cada um só quer saber de manter sua rotina feliz, dentro de um trânsito mais ou menos controlado, onde terá poucos problemas, calculando bem o horário que acorda, que sai de casa, que chega ao trabalho. Ninguém aceita ter um incômodo porque alguém está brigando por seus direitos, assegurados por lei, inclusive pela nossa lei magna, assim como reiteradas decisões judiciais.
Os metroviários pediram aumento de cerca de 20%. Isso, em valores reais, vai dar algo em torno de 200 a 250 reais. Um aumento pequeno, diga-se de passagem, mas justo, diante do que passam os profissionais. A grande crítica dos cidadãos contrários, foi que o oferecido pelo metrô, 5,7%, era mais do que qualquer profissional da área privada consegue ganhar. É verdade. Mas, primeiramente, vamos lembrar que praticamente os profissionais da área privada não se mexem pelos seus direitos. O medo de serem mandados embora é maior do que qualquer senso de justiça.A competição impede uma atuação coletiva, e os sindicatos são medíocres. Isso, porém, não pode ser usado como desculpa para anular os direitos de ninguém. Se uns não querem exercer seus direitos, isso não impede que outros exerçam. Dizer que eles não podem ser contemplados por pedirem algo que está além do possível, é uma piada, num momento em que são gastos milhões do governo para obras particulares com estádios para Copa do Mundo. Isso pouca gente reclama.
Mas, vamos lembrar que o governador, este mesmo que negou até onde pôde o aumento, e ainda por cima chamou a greve de eleitoreira, em seu primeiro ato como governador, se deu um singelo aumento de 26%, apenas para repor a inflação dos quatro anos anteriores, passando de míseros R$14.000,00 para o pequeno valor de R$17.000,00. Estas vivas almas que gritam em alto e bom som contra os R$200,00 para os metroviários mantiveram-se em silêncio quando o aumento foi de R$3.000,00 do governador. Mas claro, naquele momento ninguém fez greve, nem parou algum meio de transporte, nem dificultou a chegada de ninguém ao serviço.
Claro, o serviço é essencial, e foi um erro colossal parar completamente. A greve serve como forma de protesto, não como arma de guerra. Se o serviço tivesse sido paralisado pela metade, já teria causado danos, mas ainda assim não deixaria muitas pessoas impossibilitadas de chegarem ao serviço. Acho que parar 100% é perder até mesmo o pouco apoio popular que ainda têm, e dar farta munição para que a mídia continue sua campanha de demonização.
Como disse um amigo, não seria cabível uma paralisação de 100% dos médicos, ou de 100% dos professores. Como todo movimento grevista, inflamado pela revolta e pelo cansaço em se lidar com um governo de péssima qualidade, eles agem por emoção, e acabam exagerando na dose. Neste ponto, não há como defender os metroviários.
Mesmo assim, em geral, a greve foi justa. As reivindicações foram totalmente pertinentes, e foi mostrado que se você não vai à luta, não consegue sucesso. Estas mesmas pessoas já precisaram se preparar para um concurso, vencer muitas pessoas (talvez até alguns dos que hoje estão metendo o pau), dar um duro danado com o pouco que tem, e não têm seu direito respeitado. Se o povo não lutar pelo que é certo, e não começar a demonstrar claramente aos seus governantes que quer um pouco de justiça, viverá sempre dessa mesma forma, com insegurança, educação precária, hospitais públicos medíocres. Sempre irá se conformar com a merda que vive, e criticar aqueles que quebram os paradigmas desse direitismo paulista, e fazem sua voz ser ouvida. Mas aí eu acho que estou sendo esperançoso demais, não é?

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