Vinte
e quatro horas sem metrô, e o caos apoderou-se de São Paulo. Um dia de óbvio
congestionamento recorde, muita gente chegando atrasado ao trabalho, outros
muitos faltando. Gente estressada e amaldiçoando a categoria dos metroviários.
Uma greve que vinha sendo anunciada há mais de um mês, com centenas de
possibilidades de negociação, o que, como percebemos, não ocorreu.
Pra
quem conhece minimamente o serviço público, especialmente aquele que é liderado
pelo PSDB (apesar de não ser o único problemático), sabe o que é ter que dar nó
em pingo d´água pra fazer um serviço razoável. Todo mundo sabe que os tucanos
não investem nada no serviço público, não valorizam seus servidores, cobram
resultados impossíveis, e ainda por cima pintam todo o serviço público de maneira
degradante na mídia. E disso não foge nenhuma das áreas.
Quem
tiver um pouco de curiosidade, perceberá que o maio número de pedidos de
exoneração em serviço público ocorre em autarquias guiadas pelo PSDB. As
pessoas simplesmente não aguentam a loucura que vivem dia após dia, a pressão,
a humilhação, e trocam a estabilidade e o salário razoável por uma chance de
evoluírem na carreira, e por maior reconhecimento e respeito. Outros tentam
conscientizar o povo da realidade em que vivem, sem muito sucesso.
Analisando
o exemplo dos metroviários, temos um grupo de pessoas com um serviço bastante
específico, com possibilidade de erro nula, sujeitos a uma enorme pressão e um
grande desgaste mental. A remuneração, disponível no site do governo, não é das
melhores, mas também não é das piores: cerca de R$2.000,00. E lembremos que o
metrô é alvo de várias investigações, onde seu presidente é suspeito de fraudar
licitação, criar contratos irregulares, e responsável direto pelo assassinato
de sete pessoas na construção da linha amarela.
Vamos
lembrar que a Constituição Federal assegura o direito à greve. Além disso,
assegura a reposição das perdas da inflação, para garantir o poder de compra.
São direitos que estão lá, e não há como tirá-los. Direitos sociais básicos. E
reposição de inflação não é aumento de salário, e sim a reposição de todo o
aumento de custos que temos no dia a dia, com a média de inflação. Nada mais
justo.
Diversas
categorias no governo tucano passaram anos sem terem esta reposição. Os
professores, por exemplo, ficaram doze anos sem qualquer reajuste. Por mais que
se reclame, se divulgue na mídia, e que se faça campanhas educativas, o governo
não abre mão de sua posição. Além de manter os salários congelados, não investe
nada na estrutura do serviço, nem na melhoria da qualidade dos funcionários, ou
mesmo tornar o serviço mais atraente, para que mais profissionais qualificados
se interessem. Pelo contrário, além de tirar tudo isso, ainda limita até o
número de faltas por motivo de saúde. Nem sequer ficarem doentes podem os
servidores públicos do Estado de São Paulo.
Diante
dessa situação, restam poucas alternativas. Não há diálogo com o governo. A
mídia trás uma imagem do servidor como vagabundo e incompetente. Não há
motivação, crescimento, ou estrutura pra fazer um trabalho descente. Quem
aguenta isso? A greve, depois de anunciada e gritada aos quatro cantos, acaba
sendo colocada em prática.
Só
que neste Estado as pessoas são cada dia mais individualistas. Cada um só quer
saber de manter sua rotina feliz, dentro de um trânsito mais ou menos
controlado, onde terá poucos problemas, calculando bem o horário que acorda,
que sai de casa, que chega ao trabalho. Ninguém aceita ter um incômodo porque
alguém está brigando por seus direitos, assegurados por lei, inclusive pela
nossa lei magna, assim como reiteradas decisões judiciais.
Os
metroviários pediram aumento de cerca de 20%. Isso, em valores reais, vai dar
algo em torno de 200 a 250 reais. Um aumento pequeno, diga-se de passagem, mas
justo, diante do que passam os profissionais. A grande crítica dos cidadãos
contrários, foi que o oferecido pelo metrô, 5,7%, era mais do que qualquer
profissional da área privada consegue ganhar. É verdade. Mas, primeiramente,
vamos lembrar que praticamente os profissionais da área privada não se mexem
pelos seus direitos. O medo de serem mandados embora é maior do que qualquer
senso de justiça.A competição impede uma atuação coletiva, e os sindicatos são
medíocres. Isso, porém, não pode ser usado como desculpa para anular os
direitos de ninguém. Se uns não querem exercer seus direitos, isso não impede
que outros exerçam. Dizer que eles não podem ser contemplados por pedirem algo
que está além do possível, é uma piada, num momento em que são gastos milhões
do governo para obras particulares com estádios para Copa do Mundo. Isso pouca
gente reclama.
Mas,
vamos lembrar que o governador, este mesmo que negou até onde pôde o aumento, e
ainda por cima chamou a greve de eleitoreira, em seu primeiro ato como
governador, se deu um singelo aumento de 26%, apenas para repor a inflação dos
quatro anos anteriores, passando de míseros R$14.000,00 para o pequeno valor de
R$17.000,00. Estas vivas almas que gritam em alto e bom som contra os R$200,00
para os metroviários mantiveram-se em silêncio quando o aumento foi de
R$3.000,00 do governador. Mas claro, naquele momento ninguém fez greve, nem
parou algum meio de transporte, nem dificultou a chegada de ninguém ao serviço.
Claro,
o serviço é essencial, e foi um erro colossal parar completamente. A greve
serve como forma de protesto, não como arma de guerra. Se o serviço tivesse
sido paralisado pela metade, já teria causado danos, mas ainda assim não
deixaria muitas pessoas impossibilitadas de chegarem ao serviço. Acho que parar
100% é perder até mesmo o pouco apoio popular que ainda têm, e dar farta
munição para que a mídia continue sua campanha de demonização.
Como
disse um amigo, não seria cabível uma paralisação de 100% dos médicos, ou de
100% dos professores. Como todo movimento grevista, inflamado pela revolta e
pelo cansaço em se lidar com um governo de péssima qualidade, eles agem por
emoção, e acabam exagerando na dose. Neste ponto, não há como defender os
metroviários.
Mesmo
assim, em geral, a greve foi justa. As reivindicações foram totalmente
pertinentes, e foi mostrado que se você não vai à luta, não consegue sucesso.
Estas mesmas pessoas já precisaram se preparar para um concurso, vencer muitas
pessoas (talvez até alguns dos que hoje estão metendo o pau), dar um duro
danado com o pouco que tem, e não têm seu direito respeitado. Se o povo não
lutar pelo que é certo, e não começar a demonstrar claramente aos seus
governantes que quer um pouco de justiça, viverá sempre dessa mesma forma, com
insegurança, educação precária, hospitais públicos medíocres. Sempre irá se
conformar com a merda que vive, e criticar aqueles que quebram os paradigmas
desse direitismo paulista, e fazem sua voz ser ouvida. Mas aí eu acho que estou
sendo esperançoso demais, não é?
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