sábado, 19 de maio de 2012

Neo liberalismo e o caminho do fundo


Eu sempre fui um crítico feroz do liberalismo econômico. Em que pese as boas intenções de John Locke e de Adam Smith, acredito que suas falhas foram exatamente as mesmas que teve Karl Marx: acreditavam na perfeição de um sistema, que englobava seres humanos perfeitos. Na prática, isso mostrou-se, por reiteradas vezes, totalmente impossível. As pessoas apresentam uma capacidade muito maior de fazerem merda do que qualquer filósofo pode prever.
Só pra tentar deixar mais claro, o liberalismo prega o individualismo, a propriedade privada, defesa desta propriedade, e esforço próprio para que cada um tenha sucesso. O governo praticamente não intervém, e a vida seria regulada pelo próprio sistema, que traria, por si só, a justiça para que todos prosperassem.
Lindo, no papel. Igual o comunismo. O grande problema é que infelizmente no capitalismo liberal aplica-se aquele velho ditado: “quem pode mais chora menos”. Quem tem o poder e o dinheiro consegue produzir o suficiente para aumentar suas riquezas, enquanto quem não tem o poder não consegue produzir o suficiente para sue próprio sustento, se tornando escravo de quem tem. Para sobreviver, aceita sub-empregos, com salários medíocres e exploração elevada ao seu máximo. Aceita uma verdadeira tortura pela falta de opção.
E como todos podemos perceber, quem não tem condições torna-se marginal. Não recebe uma educação de qualidade, nem um sistema de saúde que possa atender suas necessidades básicas, e muito menos tem qualquer segurança na vida. O crime impera nessas classes. Abuso de drogas, violência. Isso é ser liberal.
Mas quem tem o poder mantém suas posses. Compra centenas de terrenos, várias casas. Aluga imóveis, gasta dinheiro com aviões de colecionador, obras de arte caríssimas cujos autores nunca viram um centavo do valor. Desperdiçam tudo o que podem.
Uma outra praga do liberalismo, que já tive oportunidade de escrever uma série de vezes, é a privatização. Dar à iniciativa privada o controle de serviços essenciais é mais uma obra liberal, deixando o governo totalmente de fora da responsabilidade de agir. Vemos isso claramente nos EUA, onde as pessoas precisam pagar, e caro, pelo atendimento médico. Quem não tem condições morre no sofrimento. Além disso, suas casas e todos os seus bens, conquistados numa vida inteira, são tomados por causa de dívidas. Defende-se a propriedade privada dos poderosos, renegando os pobres à miséria, em nome do individualismo liberal.
Todo mundo sabe que o intuito de uma empresa privada é ganhar lucro. Nenhum ser humano minimamente normal vai abrir uma empresa com fins exclusivamente filantrópicos. E quando esta empresa presta qualquer tipo de serviço a seus consumidores, irá buscar lucro. Se tiver concorrência, pode ser que o serviço seja melhorzinho, ou até mesmo bom. Se não tiver, como vemos no caso da Eletropaulo, pode fazer a merda que quiser, porque não vai existir opção. Imagine agora que sua vida dependa disso, num caso de uma cirurgia grave, onde você tem pagar algo que não tem pra conseguir realizar. Quem quiser presenciar fatos como este, basta fazer uma busca em ações judiciais no Tribunal de Justiça de São Paulo, e ver como os planos de saúde tratam seus associados.
O liberalismo não defende a liberdade de opinião, como alguns acreditam, à sombra da ignorância. Quem faz isso é a democracia. O liberalismo defende exclusivamente o dinheiro. Não importa se isso irá gerar injustiça, ou se pessoas irão morrer na miséria. O que importa é o lucro e os bens que se puder acumular.
E o neoliberalismo é apenas uma versão moderna desta aberração, onde o governo ainda regula um pouquinho as coisas. , mas mantém o mesmo caráter privatista, individualista, egoísta e injusto do sistema liberal. É um sistema onde o que é público é vendido a preço de banana, para que alguém tente fazer o que o governo assume publicamente não ter capacidade de fazer (então pra que votar nele?). É o que tem feito à exaustão a tucanalha paulista.
O que eu não entendo é que, mesmo sabendo que este sistema leva ao colapso, como está ocorrendo em toda a Europa, e até mesmo no antes intocável EUA, onde o desemprego e a injustiça assumiram proporções alarmantes, ainda tem gente que defenda esta sistema, mesmo sabendo que centenas e milhares irão sofrer horrores. Acho que isso sim pode ser definido como verdadeira maldade.

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