Eu
sempre fui um crítico feroz do liberalismo econômico. Em que pese as boas
intenções de John Locke e de Adam Smith, acredito que suas falhas foram
exatamente as mesmas que teve Karl Marx: acreditavam na perfeição de um
sistema, que englobava seres humanos perfeitos. Na prática, isso mostrou-se,
por reiteradas vezes, totalmente impossível. As pessoas apresentam uma
capacidade muito maior de fazerem merda do que qualquer filósofo pode prever.
Só
pra tentar deixar mais claro, o liberalismo prega o individualismo, a
propriedade privada, defesa desta propriedade, e esforço próprio para que cada
um tenha sucesso. O governo praticamente não intervém, e a vida seria regulada
pelo próprio sistema, que traria, por si só, a justiça para que todos
prosperassem.
Lindo,
no papel. Igual o comunismo. O grande problema é que infelizmente no
capitalismo liberal aplica-se aquele velho ditado: “quem pode mais chora
menos”. Quem tem o poder e o dinheiro consegue produzir o suficiente para
aumentar suas riquezas, enquanto quem não tem o poder não consegue produzir o
suficiente para sue próprio sustento, se tornando escravo de quem tem. Para
sobreviver, aceita sub-empregos, com salários medíocres e exploração elevada ao
seu máximo. Aceita uma verdadeira tortura pela falta de opção.
E
como todos podemos perceber, quem não tem condições torna-se marginal. Não
recebe uma educação de qualidade, nem um sistema de saúde que possa atender
suas necessidades básicas, e muito menos tem qualquer segurança na vida. O
crime impera nessas classes. Abuso de drogas, violência. Isso é ser liberal.
Mas
quem tem o poder mantém suas posses. Compra centenas de terrenos, várias casas.
Aluga imóveis, gasta dinheiro com aviões de colecionador, obras de arte
caríssimas cujos autores nunca viram um centavo do valor. Desperdiçam tudo o
que podem.
Uma
outra praga do liberalismo, que já tive oportunidade de escrever uma série de
vezes, é a privatização. Dar à iniciativa privada o controle de serviços
essenciais é mais uma obra liberal, deixando o governo totalmente de fora da
responsabilidade de agir. Vemos isso claramente nos EUA, onde as pessoas
precisam pagar, e caro, pelo atendimento médico. Quem não tem condições morre
no sofrimento. Além disso, suas casas e todos os seus bens, conquistados numa
vida inteira, são tomados por causa de dívidas. Defende-se a propriedade
privada dos poderosos, renegando os pobres à miséria, em nome do individualismo
liberal.
Todo
mundo sabe que o intuito de uma empresa privada é ganhar lucro. Nenhum ser
humano minimamente normal vai abrir uma empresa com fins exclusivamente
filantrópicos. E quando esta empresa presta qualquer tipo de serviço a seus
consumidores, irá buscar lucro. Se tiver concorrência, pode ser que o serviço
seja melhorzinho, ou até mesmo bom. Se não tiver, como vemos no caso da
Eletropaulo, pode fazer a merda que quiser, porque não vai existir opção.
Imagine agora que sua vida dependa disso, num caso de uma cirurgia grave, onde
você tem pagar algo que não tem pra conseguir realizar. Quem quiser presenciar
fatos como este, basta fazer uma busca em ações judiciais no Tribunal de
Justiça de São Paulo, e ver como os planos de saúde tratam seus associados.
O
liberalismo não defende a liberdade de opinião, como alguns acreditam, à sombra
da ignorância. Quem faz isso é a democracia. O liberalismo defende
exclusivamente o dinheiro. Não importa se isso irá gerar injustiça, ou se
pessoas irão morrer na miséria. O que importa é o lucro e os bens que se puder
acumular.
E
o neoliberalismo é apenas uma versão moderna desta aberração, onde o governo
ainda regula um pouquinho as coisas. , mas mantém o mesmo caráter privatista,
individualista, egoísta e injusto do sistema liberal. É um sistema onde o que é
público é vendido a preço de banana, para que alguém tente fazer o que o
governo assume publicamente não ter capacidade de fazer (então pra que votar
nele?). É o que tem feito à exaustão a tucanalha paulista.
O
que eu não entendo é que, mesmo sabendo que este sistema leva ao colapso, como
está ocorrendo em toda a Europa, e até mesmo no antes intocável EUA, onde o
desemprego e a injustiça assumiram proporções alarmantes, ainda tem gente que
defenda esta sistema, mesmo sabendo que centenas e milhares irão sofrer
horrores. Acho que isso sim pode ser definido como verdadeira maldade.
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