domingo, 4 de abril de 2010

Uma arte que não seja bonita


Depois de ter deixado alguns dos meus quadros na casa da minha vizinha por causa da reforma que passei em casa, o filho dela afirmou que minhas pinturas são assustadoras e perturbadoras. Realmente, não acho que a visão de um Cristo em decomposição seja a coisa mais agradável de se ver, especialmente quando a pessoa é religiosa. 
Mesmo assim, defendo arduamente a criação de pinturas com imagens perturbadoras, quando não extremamente polêmicas. Entendo a linha de pensamento que defende a arte pela arte, feita somente pela admiração de um público que não possui a devida compreensão de todos os estilos artísticos. Acho até mesmo necessário que tenhamos alguns momentos de descontração e de prazer estético, tendo a possibilidade de admirar alguns quadros que demonstrem a criatividade do artista, associado à obras consideradas bonitas.
Mas não é função da arte ser bonita. Ela pode vir a ser, mas não é um dever. A arte tem que representar o aspecto criativo do artista, e na minha opinião, expressar algum sentimento de quem a cria, assim como comunicar algo ao público observador, desde que seja um sentimento. E vou mais além: acho que a arte deve estar a serviço da sociedade, apresentando idéias e contestando situações, ajudando o público a desenvolver um pensamento crítico.
Acho que quando você vê uma pintura, você tem que refletir sobre o que está presente na tela. Não quer dizer que você tem que concordar com o artista, até porque, na maior parte das vezes, você nem sequer saberá o que quis dizer exatamente o artista. O importante é você refletir sobre o que está sendo proposto.
Algumas vezes a pintura pode ser macabra, como corpos em uma guerra, todos dilacerados, animais mortos, uma floresta destruída, uma pessoa acabada pelo vício da droga ou da bebia. Mas esta é parte da nossa realidade, problemas que estamos enfrentando há tempos, denunciados por boa parte da mídia, e ignorados pela maioria da população. O que você vê nestas obras é a realidade da vida, algo que deveríamos odiar e refutar na realidade, e não na pintura.
Estas pinturas servirão para que você saiba o que existe, e lute contra tal realidade. Estas pinturas são, além de formas de arte, uma forma de denúncia. É uma forma de se pedir socorro, de se pedir que você use sua consciência e seu poder de cidadão para tentar mudar a realidade. Assim fizeram os muralistas mexicanos, assim fez Picasso, assim fez Van Gogh, assim fizeram os Realistas, os Expressionistas, etc.
Esta forma de arte deve ser polêmica, deve ser macabra, deve ser agressiva, pois só assim irá chamar sua atenção para alguns fatos que você não dá muita importância. Algumas vezes, irá fazer com que você conteste verdades que você tem como inabaláveis, sem que você tenha em qualquer momento se perguntado porquê. Esta é a arte que realmente fala com as pessoas, que dá um tapa na cara e faz com que você tenha a chance de voltar a ser um verdadeiro cidadão.

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