domingo, 19 de fevereiro de 2012

Trabalhe mais

Aula magna com o corregedor de justiça do Estado, e minha colega, presente na aula, afirmou que o mesmo foi destruído pelos presentes, com centenas de perguntas e críticas. O coitado, que acabou de assumir, provavelmente viu que não teria vida fácil, como não têm quem chefia qualquer unidade do Tribunal de Justiça.
Semanas atrás foi pedido sugestões dos funcionários, na tentativa de otimizar o serviço, e fazer as coisas fluírem. São cerca de 7.000 processos correndo por mês no grupo, número que cresce mais e mais. Mais ou menos umas 1.000 petições por semana. E apenas 14 pessoas, incluindo chefia, pra dar conta da brincadeira. Humanamente impossível.
Mas os advogados exigem mais produção. Os líderes do TJ  querem mais rapidez. A coordenadoria exige maior eficiência. Comparações infundadas, pra mostrar que alguns são ruins. E a cada palavra pra criticar, mais e mais os funcionários ficam desmotivados.
Ninguém aceita mais ser questionado sobre meios de se fazer a coisa andar. Na verdade, a resposta foi dada: precisamos contratar mais gente. E pra não ser injusto, informatizar, pra fazer a coisa andar. Qualquer outra solução é no mínimo ofender a inteligência de pessoas que precisaram estudar muito pra estarem ali.
Todo mundo está percebendo que querem espremer até a última gota de sangue de cada um, pra fazer a coisa funcionar. Todo mundo está vendo que não querem gastar pela eficiência, querem apenas explorar, se possível até a alma, quem está ali. Sem valorização, sem compreensão, sem apoio, sem condições. Querem apenas tirar o quanto puderem.
As pessoas não são tão tolas assim, elas percebem. Elas se revoltam, e querem agir cada vez menos. Se sentem enganadas, e querem apenas cumprir seu horário. Deixam de acreditar em palavras e promessas, e passam a querer apenas procurar alguma outra coisa pra fazer. Os poucos bons ficam desesperados, depois se desmotivam, e por fim, ficam ruins também. É um ciclo vicioso, sem fim. E depois, ainda temos que ouvir de pessoas sem qualquer tipo de conhecimento, que funcionário público não trabalha, que são folgados, e que vivem às custas do governo.
Enquanto isso, juízes e desembargadores ganham mais de 20 mil por mês, deputados, muitos sem qualquer qualificação, ganham quase o mesmo valor, e mantemos um partido no poder por uma era imperial, deixando nosso Estado cada dia mais próximo do colapso. Mas sempre sendo bem avaliado pelo povo. Vamos bem assim, não?

Nenhum comentário:

Postar um comentário