quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O lamentável fim do carnaval paulista


A única parte do carnaval que gosto de acompanhar é a apuração. Gosto de números, do lado competitivo. Acho interessante acompanhar a tensão e o desespero das pessoas aguardando notas para celebrar ou para chorar. É interessante ouvir o grito de campeão ao final, ou o inconformismo com a derrota. É hora onde a festa acaba, e começa o drama.
Todos sabem como funciona, há anos e anos. Algumas pessoas, ditas como entendidas, irão avaliar com notas os quesitos estipulados no regulamento. Sua interpretação será baseada no conhecimento sobre o determinado assunto, assim como sua interpretação pessoal sobre o desenvolvimento. Todos sabemos que isso poderá gerar controvérsias, injustiças sob os olhos de alguns. Não adianta reclamar depois que tudo ficou decidido.
Então, o que leva algumas pessoas, que dirigem agremiações que movimentam milhões por ano, entrarem em conflito físico por causa das notas atribuídas? O que leva alguém a estimular um quebra quebra, agressões, roubo de documentos, só porque não se conforma com as notas recebidas? Por que não apresentou mudanças antes da competição começar?
O que vimos em São Paulo, no dia 21 de fevereiro, foi uma das maiores vergonhas da nossa longa história. Conseguiu ser mais abominável do que as brigas entre torcidas de futebol. Ali estava dirigentes, líderes de escolas, que devem sempre ser o exemplo. E eles promoveram o início de uma barbárie incompatível com o espírito festivo da época.
Um líder, que rasgou notas de jurados, foi preso, e descobriu-se que o cara tinha diversas passagens pela polícia, assim como condenações, por vários crimes. Recentemente, em operações militares, líderes de escolas de samba no Rio foram presos ligados ao crime organizado. Não são raros os caras de presidentes de escolas presos por estarem envolvidos com o tráfico. É uma bandidagem comandando a festa.
A conseqüência disso é óbvia: líderes exaltados estimulando torcedores, passionais, a extravasarem suas frustrações. Um bando de animais irracionais, urrando freneticamente, sedentos por sangue, destruindo tudo em seu caminho. Quando estes animais vestem camisas de torcidas organizadas, o banho de sangue promete ser ainda maior.
Carros incendiados por sambistas. A razão de estarem ali era colocada abaixo por pura selvageria. A irracionalidade ganha limites tão gigantescos, que eles se voltam contra aquilo que pagaram pra ver, que esperam um ano todo. Nada mais imbecil. E estendem sua ira para quem não tem nada a ver com isso, depredando pedaços de vias públicas, colocando vidas em risco ao andarem numa via rápida repleta de carros. Algo impensável, ainda mais com a situação em que o país está inserido.
Tiramos daí uma importante lição: não temos requisitos mínimos de civilização. Aqui perder um jogo é o mesmo que ofende a honra. Ver o outro vencer é um convite à vingança, de preferência sangrenta. Imaginem numa final de Copa do Mundo, se a seleção brasileira perde pra Argentina, no Maracanã. Se o jogo for decidido por um erro de arbitragem então, teremos o início de uma guerra civil. Isso não pode ser considerado uma coisa normal.
Acho que temos muita coisa pra repensar, e especialmente, ponderar, se vale mesmo a pena manter uma festa de tais proporções, para colocar a vida de tanta gente em tamanho risco. E depois rockeiros é que são revoltados...

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