terça-feira, 5 de março de 2019

FILHO DE PAIS SEPARADOS


Eu não aguento mais meu casamento, só não me separo por causa dos meus filhos”. Já devo ter escutado isso umas mil vezes. Hoje foi uma delas. Pessoas que estão infelizes em seus relacionamentos, não vêem qualquer perspectiva, mas preferem manter essa situação de sofrimento por medo de perder o vínculo com seus filhos.
Meus pais são separados. Desde que me lembro como um ser pensante e consciente, era pelo menos uma separação por ano, e depois voltavam. Passavam um longo tempo infelizes e se separavam de novo. Não consigo lembrar nada de positivo nessa situação, nem algo que me fizesse querer manter os dois juntos porque eram meus pais. Basicamente isso era uma merda. Sofrimento gera sofrimento. E a coisa vira uma bola de neve. Quando eles finalmente se separaram de vez, meu sentimento foi de alívio. Aquele loucura chegou ao fim.
Meu casamento foi ruim desde o começo. Mas enquanto éramos eu e ela, tinha expectativa de ver as coisas melhorarem. Muitas vezes ignorava o problema por acreditar que tudo poderia ser diferente. Acreditava, acima de tudo, que quando fazemos votos de casamento, temos que tentar manter contra todos os problemas. Como todas as coisas que fiz na vida, tentei até onde era possível.
Mas quando meu filho nasceu, os problemas aumentaram, a tensão cresceu e as brigas se tornaram muito frequentes. Num dos dias mais críticos, numa das brigas mais intensas e quase violentas, com erros absurdos, percebi que aquilo não poderia ser a vida que eu gostaria de passar para o meu filho. Uma criança inocente, crescendo com duas pessoas infelizes e num ambiente repleto de brigas.
Muita gente tentou me fazer “pensar melhor”. Mas não havia o que pensar. Acredito que meu filho deva crescer num ambiente feliz e saudável. Meu casamento foi altamente infeliz, mas meu filho não precisa ser. Acredito que ele possa ter o melhor dos pais, cada um vivendo sua vida e buscando a própria felicidade.
O acordo de guarda é um pé no saco. Muito mais chato que o divórcio. Vários detalhes estressam e criam algumas rusgas até serem resolvidos. Mas como temos buscado um meio termo para o bem dele, até que temos conseguido solucionar relativamente bem, comparado a muitos casos que vemos por aí. Eu basicamente deixei a guarda com ela. Não tenho muito jeito com criança e ainda faço umas bizarrices no cuidado (trocar a fralda demonstra minha total falta de habilidade). Ao passo que tenho inúmeras críticas à minha ex, mas não em relação aos cuidados com o meu filho. Sem dúvida é uma das coisas que mais vi ela se dedicar, o que me tranquiliza.
Meu contato com ele diminui muito. Mas em compensação, nas vezes que eu o vejo, duas ou três vezes por semena, é uma relação altamente positiva e proveitosa. Consigo me divertir com ele e lidar melhor com as situações de tensão. Isso nunca aconteceu quando casado. Nunca questionei minha ex, mas creio que pra ela deva ser a mesma coisa.
Vejo meu filho mais próximo e mais ligado a mim do que antes. Meu estresse diminui consideravelmente. Isso tornou a relação mais suave. Cada vez que estou ao lado dele, não só tenho certeza que tomei a melhro atitude, como fico intrigado em como pessoas podem achar que o melhor para um filho é ver os pais quererem se matar dia a dia.
Infelizmente existem inúmeras pessoas que fazem uso do filho para atingir o ex. Seja pela razão que for, acham que o filho é uma arma. Vira uma guerra, levada aos tribunais, sem fim. Um quer de todo modo prejudicar o outro e criam ainda mais sofrimento aos filhos.
Pra mim isso nem sequer é amor. Fico pensando apenas em resolver todas as questões da forma mais tranquila e ponderada possível (mesmo às vezes não conseguindo), recuo em coisas que eu gostaria (e creio que a mãe dele faz a mesma coisa em outros pontos), porque penso no que é melhor pra ele. Como citei, pra mim o melhor é ficar com a mãe, então pra que vou criar problemas pra massagear o meu ego? Isso não é amor.
Hoje vejo que amor aos filhos é tentar fazê-los felizes. Às vezes isso significa abrir mão de muitas coisas. Mas sem dúvida, se as pessoas não forem felizes, não farão de seus filhos pessoas felizes.

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