domingo, 1 de abril de 2012

Textos filosóficos e viajados


No curso de direito tenho que ler a Introdução ao Estudo do Direito, do professor Tércio Sampaio Ferraz Jr. Pra quem já teve que ler este livro, sabe o quanto o cara deve ter se drogado antes de escrever tais palavras. Um texto complexo, cheio de retórica, prolixo e muitas vezes incompreensível.
O cara começa escrevendo um capítulo, sobre um tema simples, como é o caso da definição de direito público e direito privado. Depois de um parágrafo de introdução, o cara começa a escrever uma série de coisas sobre possíveis problemas que poderiam vir a acontecer na área, definindo minuciosamente termos referentes a tais problemas, e por fim, não chegando a conclusão nenhuma. Num determinado momento do tópico, você já não lembra mais qual era o objeto de estudo proposto. Na verdade, fica difícil, com tantas digressões, manter um foco.
Textos como deste cara são escritos como uma praga, em geral, enaltecidos como bíblias. Parece que o ato de escrever difícil, relacionar temas com outros, criar centenas de ramificações sobre micro assuntos dentro do assunto, é o mesmo que escrever bem.
Obviamente entender um livro assim faz-se necessário para quem quer dominar algum assunto. Não da pra fugir. Mas o que eu não entendo é como autores como este podem ser tratados como grandes nomes de sua área, quando possuem uma capacidade limitadíssima de expressão. Suas obras são destinadas a um público limitadíssimo dentro de um outro grupo, já seleto. É o mesmo que declarar que somente quem tem uma capacidade intelectual extremamente avançada pode se atrever a desvendar o tema por ele proposto.
E ao longo da vida vimos pessoas que tinham bem menos conhecimento sobre algum assunto, que conseguiram sucesso através de esforço e de qualidades demonstradas na prática. Não imagino que um Picasso, por exemplo, fosse alguém com uma escrita tão rebuscada e cheios de teorias malucas, mas mesmo assim, foi um dos maiores artistas plásticos da história da humanidade. O que dizer de Silvio Santos, que nem estudo tem direito, mas construiu um dos maiores impérios que já se teve notícia?
É claro que agir como um Silvio Santos é algo para poucos. Isso exige um talento inato que poucas pessoas possuem (e eu estou longe desse grupo). Para a maioria das pessoas normais o que resta é estudar, praticar e melhorar. Ler muito é a saída para um desempenho minimamente aceitável, e um pouco de sucesso profissional, além, é claro, de uma boa articulação com as pessoas. Mas a leitura não precisa ser nesse nível. Entender conceitos, entender informações, dominar ideias que ajudem na vida prática é o suficiente para ser um profissional.
Logicamente que faz bem pro ego ser capaz de compreender um livro como do Tércio, e talvez por isso eu esteja insistindo em ler com atenção, resumindo e grifando. Acho que pros desafios que tive ao longo da vida, compreender as ideias do professor em questão virou questão de honra. E quando você lê com calma, percebe que o texto é perfeitamente compreensível, e perfeitamente redundante. E entende que filósofos como estes servem apenas pra enaltecer o próprio orgulho, criar situações de embaraço, fazer com que vários leitores sintam-se burros por não entenderem o que está escrito, e criar uma tremenda confusão mental. Algo totalmente desnecessário, e perfeitamente substituível.

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