sábado, 7 de abril de 2012

Se mate de trabalhar


Trabalhar no Tribunal de Justiça é uma aventura diária. Todos os dias temos pilhas e mais pilhas de processo, petições chegando aos baldes, uma fila interminável de advogados para serem atendidos, corrida pra todo lado pra tentar deixar o serviço em dia. E para não ficar chato, desembargadores, presidentes e advogados pedindo coisas urgentes a cada cinco minutos, tentando levar as pessoas ao limite.
Ali quem entra se mata de trabalhar. O tempo todo no limite, o tempo todo tentando fazer coisas urgentes, o tempo todo tentando atender a todos. Obviamente que, não sendo máquinas, as pessoas não conseguem dar conta do serviço diário, e o acúmulo é regra. Você para pra fazer algum serviço urgente(que em 99% dos casos não é tão urgente assim) e o serviço diário fica pra depois. E cada vez mais serviço pra depois, pra quando você for ver, está mergulhado em coisa pra fazer.
Não sei dizer quantas empresas trabalham dessa forma, e sei que a maior parte do serviço público estadual é assim. Como diria o nosso grande filósofo contemporâneo, vive-se com a faca entre os dentes o dia todo. Quando eu saio do TJ, parece que fui atropelado por um caminhão desgovernado. E ultimamente tenho saído muito nervoso e impaciente. Às vezes tenho a sensação de que estou saindo de um hospício em rebelião.
As consequências de uma vida assim são óbvias: quanto mais nervoso e irritado se fica, menos conseguimos nos concentrar no que estamos fazendo. E isso vai gerar mais irritação. Quanto menos eficientes somos, graças à falta de concentração, mais gente irá se irritar com nosso trabalho, se queixando e tentando nos derrubar. E isso fará com que fiquemos ainda mais nervosos e ineficientes.
Por outro lado, um ser humano minimamente normal não consegue simplesmente “desligar” o botão quando sai do trabalho. Via de regra, levam os problemas pra casa. Mantém o mau humor, o nervosismo e o desespero em casa. Arrumam mais brigas, criam rachaduras nos relacionamentos. Dormem mal, quase não fazem sexo, comem muito ou quase nada. Ficam doentes.
A vida se torna uma loucura ininterrupta. Aliás, a vida, da maneira como entendemos, deixa de existir. São pessoas que se tornam zumbis, escravos do trabalho. Deixam de lado a ideia de que trabalhamos para viver, e passam a viver pra trabalhar. Não importa se vai gerar sofrimento nos que estão ao seu lado.
Acredito piamente que quando começamos a fazer uma coisa, temos que fazer bem feita. Não acho interessante começar algo sem fazer o melhor que eu posso. No entanto, acredito que só poderei fazer o melhor se estiver vivo, com saúde, e com a mente sã. Entrar numa neurose para concluir alguma coisa é aceitar um trabalho de péssima qualidade, o que joga pelo ralo a minha visão acima exposta. O corpo tem uma limitação, assim como a mente. E por mais que algum patrão tente espremer, não vai conseguir ir muito além desta limitação.
Eu sinto prazer no que faço hoje em dia. Gosto de trabalhar muito, de realizar bastante coisa ao final do dia. Mas gosto de me sentir leve com isso, fazer de maneira ordenada e sem distinção de pessoas, cargos e títulos. A ideia é realizar o melhor trabalho possível. Por isso é hora de abandonar esta ideia idiota de se matar de trabalhar, e aceitar que temos que trabalhar bem, sermos eficientes, e realizar o nosso melhor, dentro dos limites que nos são impostos. E conseguirmos viver uma vida feliz quando estivermos fora desta loucura que tem sido a vida profissional, pois se não for assim, esta merda não vale de nada.

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