Trabalhar
no Tribunal de Justiça é uma aventura diária. Todos os dias temos pilhas e mais
pilhas de processo, petições chegando aos baldes, uma fila interminável de
advogados para serem atendidos, corrida pra todo lado pra tentar deixar o
serviço em dia. E para não ficar chato, desembargadores, presidentes e
advogados pedindo coisas urgentes a cada cinco minutos, tentando levar as
pessoas ao limite.
Ali
quem entra se mata de trabalhar. O tempo todo no limite, o tempo todo tentando
fazer coisas urgentes, o tempo todo tentando atender a todos. Obviamente que,
não sendo máquinas, as pessoas não conseguem dar conta do serviço diário, e o
acúmulo é regra. Você para pra fazer algum serviço urgente(que em 99% dos casos
não é tão urgente assim) e o serviço diário fica pra depois. E cada vez mais
serviço pra depois, pra quando você for ver, está mergulhado em coisa pra
fazer.
Não
sei dizer quantas empresas trabalham dessa forma, e sei que a maior parte do
serviço público estadual é assim. Como diria o nosso grande filósofo
contemporâneo, vive-se com a faca entre os dentes o dia todo. Quando eu saio do
TJ, parece que fui atropelado por um caminhão desgovernado. E ultimamente tenho
saído muito nervoso e impaciente. Às vezes tenho a sensação de que estou saindo
de um hospício em rebelião.
As
consequências de uma vida assim são óbvias: quanto mais nervoso e irritado se
fica, menos conseguimos nos concentrar no que estamos fazendo. E isso vai gerar
mais irritação. Quanto menos eficientes somos, graças à falta de concentração,
mais gente irá se irritar com nosso trabalho, se queixando e tentando nos
derrubar. E isso fará com que fiquemos ainda mais nervosos e ineficientes.
Por
outro lado, um ser humano minimamente normal não consegue simplesmente
“desligar” o botão quando sai do trabalho. Via de regra, levam os problemas pra
casa. Mantém o mau humor, o nervosismo e o desespero em casa. Arrumam mais
brigas, criam rachaduras nos relacionamentos. Dormem mal, quase não fazem sexo,
comem muito ou quase nada. Ficam doentes.
A
vida se torna uma loucura ininterrupta. Aliás, a vida, da maneira como
entendemos, deixa de existir. São pessoas que se tornam zumbis, escravos do
trabalho. Deixam de lado a ideia de que trabalhamos para viver, e passam a
viver pra trabalhar. Não importa se vai gerar sofrimento nos que estão ao seu
lado.
Acredito
piamente que quando começamos a fazer uma coisa, temos que fazer bem feita. Não
acho interessante começar algo sem fazer o melhor que eu posso. No entanto,
acredito que só poderei fazer o melhor se estiver vivo, com saúde, e com a
mente sã. Entrar numa neurose para concluir alguma coisa é aceitar um trabalho
de péssima qualidade, o que joga pelo ralo a minha visão acima exposta. O corpo
tem uma limitação, assim como a mente. E por mais que algum patrão tente
espremer, não vai conseguir ir muito além desta limitação.
Eu
sinto prazer no que faço hoje em dia. Gosto de trabalhar muito, de realizar
bastante coisa ao final do dia. Mas gosto de me sentir leve com isso, fazer de
maneira ordenada e sem distinção de pessoas, cargos e títulos. A ideia é
realizar o melhor trabalho possível. Por isso é hora de abandonar esta ideia
idiota de se matar de trabalhar, e aceitar que temos que trabalhar bem, sermos
eficientes, e realizar o nosso melhor, dentro dos limites que nos são impostos.
E conseguirmos viver uma vida feliz quando estivermos fora desta loucura que tem
sido a vida profissional, pois se não for assim, esta merda não vale de nada.
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