Li
agora há pouco uma carta de Leila Lopes, divulgada após sua morte. Nela a moça
se dizia feliz, por estar indo para perto de Deus, e cansada da vida, e dos
problemas que envolvem o ato de viver. Foi a carta suicida mais branda que já
li, mais decidida, e mais em paz. Parecia que a moça não tivera qualquer
desespero na atitude tomada, nem estava envolvida numa explosão de depressão,
onde não conseguia ver as coisas claramente, como a maioria das pessoas faz.
Comecei
a refletir sobre o tema, tanto nas palavras doces da moça, quanto nas minhas
experiências pessoais. Para todos que leem meus textos, é clara a ideia que sou
ateu, e não ligo muito para este filosofia cristã, de punição ao suicida.
Acredito que punição maior do que a que recebemos nesta vida já passa a ser tortura
cruel, o que, em certo modo, afasta qualquer das ideias cristãs.
Também
me lembro que a bíblia vive falando sobre livre arbítrio e perdão divino. Sendo
assim, acredito que a escolha de viver ou não pertence exclusivamente à pessoa
que detém a própria vida. É liberdade de cada um não querer mais participar
desta loucura, ainda mais analisando a quantidade de injustiças, tristezas e
desesperos pelas quais somos obrigados a enfrentar diariamente. É o mesmo que
não querer mais ficar num emprego que não nos faz bem.
Na
verdade, a ideologia cristão pouco tem ajudado qualquer coisa nesta vida, uma
vez que muitas guerras têm sido travadas em nomes de Deus, pessoas se matam em
nome de Deus, tentam machucar as outras em nome de Deus, e desrespeitam
semelhantes em nome de Deus, especialmente se aqueles outros acreditam em
outros deuses, outros profetas, ou simplesmente não acreditam em Deus. Aceitar
uma ideologia que propaga coisas tão ruins, ao contrário do que escreve, parece
um tanto quanto contraditório.
No
entanto, aceitando a ideia jurídica de liberdade, o suicida é alguém altamente
egoísta. Como citei, ele está exercendo sua liberdade em tirar a própria vida,
algo que ele não quer mais, mas se esquece do que deixará para trás. Vivendo
algo semelhante, eu já percebi que, para quem fica, perder alguém é o mesmo que
perder uma parte de si. Quando você perde alguém que ama muito, é como se um
pedaço de você estivesse morrendo naquele momento. E isso tratando-se de morte
por causas naturais.
Sendo
assim, dá pra imaginar a dor, o desespero e a loucura que serão causados nas
pessoas em perder alguém que tenha tirado a própria vida. A incompreensão e a
aceitação do fato, por si só, podem fazer uma pessoa perder o juízo. A razão da
vida, então, acaba de vez. Uma pessoa que tira a própria vida está,
invariavelmente, condenando muitas outras à desgraça, e uma desgraça
praticamente sem chance de cura. Por mais que se diga que ninguém se importa
conosco, sempre temos um punhado de pessoas que nos amam mais do que qualquer
coisa na vida, e que estariam arrasadas com nossa partida. Acredito que ser bom
é se preocupar com estas pessoas.
Por
isso, acredito que a moral cristão é desprezível, uma vez que as práticas são
incompatíveis com as teorias, mesmo sabendo que o que é pregado é bom e
auxiliaria uma vida feliz. Mas acho que o ato de se preocupar com as pessoas é
motivo suficiente para mantermos a firmeza nas horas difíceis, mesmo que tudo
pareça perdido. Como um ex depressivo extremo, sei que a vida tem coisas
horríveis. O que achava horrível naquela época continuo achando hoje. Tem horas
que tudo parece um inferno interminável, repleto de sofrimento e lágrimas.
Parece que tudo tende a afundar.
Mesmo
assim, depois que você consegue olhar melhor e centrar um pouco sua razão, você
percebe que a vida tem ainda mais coisas boas. Quem tem pelo menos um amigo de
verdade sabe disso. Coisas como o prazer de ler e aprender, o carinho de
animal, o prazer de ter sua qualidades reconhecidas, mesmo que por um inferior
hierárquico, o amor, o sexo, o prazer de dormir bem... são tantas coisas
realmente boas na vida, que não da pra enumerar. Coisas que podem fazer agente
ter uma paciência um pouquinho maior, e aguentar as pontas nas horas difíceis,
se não por nós mesmos, pelo menos por aqueles que iremos destruir com ato tão
estúpido. Por isso digo, com conhecimento de causa: o suicídio não vale a pena!
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