domingo, 1 de abril de 2012

Reflexões sobre o suicídio


Li agora há pouco uma carta de Leila Lopes, divulgada após sua morte. Nela a moça se dizia feliz, por estar indo para perto de Deus, e cansada da vida, e dos problemas que envolvem o ato de viver. Foi a carta suicida mais branda que já li, mais decidida, e mais em paz. Parecia que a moça não tivera qualquer desespero na atitude tomada, nem estava envolvida numa explosão de depressão, onde não conseguia ver as coisas claramente, como a maioria das pessoas faz.
Comecei a refletir sobre o tema, tanto nas palavras doces da moça, quanto nas minhas experiências pessoais. Para todos que leem meus textos, é clara a ideia que sou ateu, e não ligo muito para este filosofia cristã, de punição ao suicida. Acredito que punição maior do que a que recebemos nesta vida já passa a ser tortura cruel, o que, em certo modo, afasta qualquer das ideias cristãs.
Também me lembro que a bíblia vive falando sobre livre arbítrio e perdão divino. Sendo assim, acredito que a escolha de viver ou não pertence exclusivamente à pessoa que detém a própria vida. É liberdade de cada um não querer mais participar desta loucura, ainda mais analisando a quantidade de injustiças, tristezas e desesperos pelas quais somos obrigados a enfrentar diariamente. É o mesmo que não querer mais ficar num emprego que não nos faz bem.
Na verdade, a ideologia cristão pouco tem ajudado qualquer coisa nesta vida, uma vez que muitas guerras têm sido travadas em nomes de Deus, pessoas se matam em nome de Deus, tentam machucar as outras em nome de Deus, e desrespeitam semelhantes em nome de Deus, especialmente se aqueles outros acreditam em outros deuses, outros profetas, ou simplesmente não acreditam em Deus. Aceitar uma ideologia que propaga coisas tão ruins, ao contrário do que escreve, parece um tanto quanto contraditório.
No entanto, aceitando a ideia jurídica de liberdade, o suicida é alguém altamente egoísta. Como citei, ele está exercendo sua liberdade em tirar a própria vida, algo que ele não quer mais, mas se esquece do que deixará para trás. Vivendo algo semelhante, eu já percebi que, para quem fica, perder alguém é o mesmo que perder uma parte de si. Quando você perde alguém que ama muito, é como se um pedaço de você estivesse morrendo naquele momento. E isso tratando-se de morte por causas naturais.
Sendo assim, dá pra imaginar a dor, o desespero e a loucura que serão causados nas pessoas em perder alguém que tenha tirado a própria vida. A incompreensão e a aceitação do fato, por si só, podem fazer uma pessoa perder o juízo. A razão da vida, então, acaba de vez. Uma pessoa que tira a própria vida está, invariavelmente, condenando muitas outras à desgraça, e uma desgraça praticamente sem chance de cura. Por mais que se diga que ninguém se importa conosco, sempre temos um punhado de pessoas que nos amam mais do que qualquer coisa na vida, e que estariam arrasadas com nossa partida. Acredito que ser bom é se preocupar com estas pessoas.
Por isso, acredito que a moral cristão é desprezível, uma vez que as práticas são incompatíveis com as teorias, mesmo sabendo que o que é pregado é bom e auxiliaria uma vida feliz. Mas acho que o ato de se preocupar com as pessoas é motivo suficiente para mantermos a firmeza nas horas difíceis, mesmo que tudo pareça perdido. Como um ex depressivo extremo, sei que a vida tem coisas horríveis. O que achava horrível naquela época continuo achando hoje. Tem horas que tudo parece um inferno interminável, repleto de sofrimento e lágrimas. Parece que tudo tende a afundar.
Mesmo assim, depois que você consegue olhar melhor e centrar um pouco sua razão, você percebe que a vida tem ainda mais coisas boas. Quem tem pelo menos um amigo de verdade sabe disso. Coisas como o prazer de ler e aprender, o carinho de animal, o prazer de ter sua qualidades reconhecidas, mesmo que por um inferior hierárquico, o amor, o sexo, o prazer de dormir bem... são tantas coisas realmente boas na vida, que não da pra enumerar. Coisas que podem fazer agente ter uma paciência um pouquinho maior, e aguentar as pontas nas horas difíceis, se não por nós mesmos, pelo menos por aqueles que iremos destruir com ato tão estúpido. Por isso digo, com conhecimento de causa: o suicídio não vale a pena!

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