domingo, 27 de junho de 2010

O fim de uma era


Hoje, dia 27 de abril de 2010, estou a poucos dias de deixar definitivamente o meu cargo de professor, e ingressar no de escrevente do Tribunal de Justiça. Fui aprovado também na perícia médica, sem necessidade de exames complementares, devendo agora apenas entregar minha certidão de nascimento. Por imposição legal, deverei ficar apenas no cargo de escrevente. Com isso, deixarei definitivamente a carreira na qual sou formado, e a qual exerço, mesmo que com interrupções, desde 2003.
Fiquei muito surpreso com o fato de muitos alunos terem lamentado tanto minha saída. Achei que pouco era o interesse, mas muitos chegaram a me dizer que eu era o melhor professor que eles tinham. Muitos gostavam da minha aula porque eu nunca dei muita importância para a técnica em si, gostava de propor alguns desafios mentais, onde eles seriam obrigados a pensar sobre algum tema polêmico, e expressar o que sentem a tal respeito. Por ser uma questão de opinião, acabava soltando boas notas, sem dar crédito pela qualidade técnica do trabalho. E isso mostrou grandes resultados, ajudando, mesmo que apenas inicialmente, com que meus alunos começassem a refletir sobre temas e aceitar visões contrárias.
Porém, muita coisa pesou para que eu tomasse a decisão de deixar minha vocação para trás e buscasse algo mais burocrático. O salário, as condições de trabalho, a importância dada a um e a outro... tudo o que eu já discuti em textos anteriores.
Fico decepcionado com o nosso governo. Tenho muita raiva do PSDB pelo caos em que eles transformaram a educação. Especialmente quando o partidário em questão é José Serra. Ele afirma que melhorou a educação, mas o que ele fez foi afundar o que já estava à deriva no meio da tempestade. E não só afundou como o fez com requintes de crueldade. Muitos dos efeitos serão sentidos com maior profundidade no futuro, mas até lá o povo não irá mais lembrar nem associar quem foi o responsável pelo desastre.
O PSDB trata os professores como lixo, paga mal, divide a categoria, os culpa pela situação, faz com que o público sinta raiva. Se qualquer órgão fizer uma pesquisa dentre os servidores públicos sobre o que pensam do governo Serra, apontaria, sem medo de errar, que 90% estará insatisfeita com o seu trabalho. Talvez boa parte queira que ele morra, com muito sofrimento e dor.
Outro fator importante para frustração de qualquer professor é a maneira como a sociedade vê a educação. Não sei se influenciados pela mídia, não sei se por culpa da Internet, por culpa exclusivamente de cada um (acho que um pouco de tudo), as pessoas não se interessam em estudar, não se interessam em construir um futuro, nem em ler bons livros, assistir bons filmes, ouvir boas músicas, nada... tudo vem muito mastigado, sem a necessidade de pensar. Ninguém tem argumentos o suficiente para contestar notícias vindas da mídia, nem opiniões de pessoas com “título de doutor”. Gilberto Dimenstein torna-se um grande colunista porque as pessoas não entendem o suficiente do assunto para saber que o cara fala mais besteira do que faz meu gato na caixinha de areia...
A luta torna-se com os próprios pais, para conscientizá-los que aquele momento, em que seu filho está estudando, é o de maior importância em sua vida, e fará toda a diferença. É uma luta incrível conscientizar um pai que ele é o responsável pela educação de seu filho, ele deve ensinar o garoto a ser um cidadão, e não a escola. Os pais são o exemplo maior que tem uma criança, e parece que isso não entra na cabeça deles!
Mas um dos pontos cruciais para a minha decisão foi ver como age a mídia quando o assunto é educação. Não há debates aprofundados, não há relatos de todas as partes envolvidas, não há críticas além de comentários sobre notícias. Manifestações de professores são tratadas como empecilhos ao trânsito, não uma mostra da realidade em que se encontra a educação. Não há o estímulo por uma programação de qualidade, somente Gugu, Faustão e Silvio Santos, o tempo todo (nada contra o entretenimento, mesmo que seja desse tipo desprovido de qualidade, mas apenas eu acho que deveria haver uma dosagem maior de níveis de qualidade ao longo de uma programação).
A mídia  faz críticas aos professores, mas quase nunca ouve a palavra do sindicato, apenas relata o que foi dito em uma breve frase. Não há depoimento de professores, nem a crítica de especialista que se colocam contrários ao governo. Não há sequer um debate de qualidade sobre o que se pode ser aproveitado nas ações do governo(e neste ponto devo dar os parabéns ao sr. Dimenstain, pois mesmo falando bobagem, ele ainda tenta trazer à luz a discussão a respeito. Se ele fosse um pouco mais verdadeiro em suas afirmações, mostrando o que realmente ocorre na sala de aula, ele seria um bom colunista).
A mídia ataca a categoria, mas não da chance para que ela se defenda. Alguns destes jornalistas que fazem as críticas à nossa insatisfação ganham três vezes mais do que nós. Quem consegue buscar se aprimorar sabendo que nunca será valorizado, exceto por uma provinha medíocre?
Ainda dou meus parabéns à Rede Record, pois eles buscaram mostrar em uma série de reportagens o que é a profissão professor, os riscos, desilusões e inúmeros problemas pelos quais passamos.
Por tudo isso que além do claro e inquestionável fator salarial, que faz com que qualquer homem que tenha o objetivo de se casar e constituir uma família, pagar um apartamento e queira dar uma condição mínima de qualidade de vida à sua esposa e seus futuros filhos, também toda a decepção e desilusão  com a área da educação, e todos os setores sociais que a cercam, fizeram com que eu tomasse a decisão de abandonar aquilo pela qual estudei a vida toda, investi dinheiro, para seguir um cargo burocrático, de nível médio, bem do tipo “apertar parafuso”, mas que pagará quase o dobro.
Precisa dizer onde a educação vai parar com toda esta situação? Salvem o Brasil, porque eu fui incompetente nisso!

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