terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

REFLEXÕES SOBRE A DEPRESSÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS


No dia de hoje ocorreu algo pessoal que me fez lembrar do passado. Algo ruim, que me perturbou. Não tem nada a ver com minhas discussões com amigos, não tem nada a ver com ideologias políticas, religiosas ou com polêmicas. Só sofrimento causado por uma doença psicológica que é desprezada pela maioria das pessoas.
Eu me lembro que quando eu estava nesse fundo do poço, nada fazia sentido. Tudo era sofrimento, tudo era dor. O mundo girava em torno de desespero. E cada situação fazia com que eu tivesse ainda mais certeza que a vida era uma merda. Era praticamente enxergar o lado ruim das coisas dia após dia.
Muita coisa contribuiu pra isso. Claro, uma delas foi o fato de tentar achar este deus que todo mundo fala e jamais ter qualquer sinal de que ele existia. Mas este era sem dúvida o menor dos problemas, e o que eu consegui lidar melhor. Mas eram tantos problemas, família, trabalho, relacionamentos amorosos. Eu me sentia um verdadeiro fracassado.
Claro, a coisa nunca foi completamente assim. Um pouco de sangue frio e uma reflexão neutra seria suficiente pra conseguir encontrar algumas possibilidades na época. Mas quando você passa por uma sequência de coisas ruins, não há como pensar friamente. E eu fiz coisas ruins naquela época, coisas ruins a mim mesmo. Quando você está em depressão, naturalmente você adoece seu corpo. Um homem que hoje pesa 93kg na época não passava de 58. Bastava olhar pra mim pra saber que as coisas não iam bem.
Quando este pesadelo acabou, eu percebi que era tudo muito simples. Na verdade precisei tomar remédios para controlar tal doença, e precisei frequentar sessões de terapia. Foi bom, sem dúvida. Isso esclarece a mente da maneira como pessoas comuns não podem fazer. Isso mudou tudo. Agir de maneira radical mudou minha vida. A possibilidade da morte em si não é suficiente pra te fazer mudar. Mas o sofrimento que ela causa nas pessoas, em pessoas que sequer você poderia supor, isso sim pode fazer você mudar.
Isso terminou em novembro de 2004. Minha última mais séria e mais devastadora crise. De lá pra cá, passei por inúmeros problemas. Tive momentos de grande tristeza. Mas jamais tive qualquer situação depressiva, nem de leve. Aprendi a confiar mais em mim, em acreditar no meu potencial. Aprendi a lidar com perdas e sofrimento. Aprendi que quando agente cai, tem que levantar de novo. E não da pra contar em palavras o sofrimento que passamos nos últimos anos.
Mas eu vi pessoas caírem nessa maldita doença. Pessoas que eu amo e que fazem parte da minha vida. Isso abala, e hoje tenho plena noção de como as pessoas se abalaram comigo. Mas eu sei também que as pessoas demoram e têm muita dificuldade de sair dessa situação sozinhas. Não é frescura, não é fraqueza. É algo sério e perigosíssimo. E algo que deve ser tratado.
As pessoas nessa situação se recusam a ver a luz, por mais clara que ela seja, e por mais perto que esteja. E no mundo em que vivemos hoje, onde as pessoas precisam ser cada dia mais frias e mais individualistas, e onde você tem que se moldar a uma série de coisas pra conseguir sucesso, qualquer ser humano é capaz de se anular completamente. Você deixa de lado você mesmo, e todas as pessoas que você ama, pela necessidade de ser bem sucedido num capitalismo frenético, selvagem e cruel.
Este é um dos motivos que me fizeram ser eu mesmo novamente. Me fizeram parar de ser diplomático demais com as pessoas para manter bons relacionamentos. Eu prometi que seria assim naquele fatídico 2004, e acabei quebrando minha promessa pra manter uma situação de paz. Uma situação de paz que destrói por dentro, que faz com que você se sinta falso, não com os outros, mas consigo mesmo. Uma sensação que mais cedo ou mais tarde vai te levar pro fundo.
A única forma de derrotar esta doença é assumir quem você é. Acreditar em você, saber que você é único, especial, e que muita gente moveria o mundo por você. Saber que você é uma pessoa inteligente, capaz de passar por fórmulas, regras sociais inúteis por convenções que criam futilidade e falsidade. Ser verdadeiro, mostrar quem você é, o que você pensa e porque você pensa assim. E mais importante de tudo: aceitar que as pessoas são diferentes, pensam diferente, irão argumentar de maneira diferente, e de vez em quando te criticar por você não concordar com elas, e ao mesmo tempo, são pessoas maravilhosas assim mesmo.
Você vai dizer que muitos irão te virar a cara. Verdade, vão mesmo. Algumas pessoas não aceitam o diferente. Por isso existe o preconceito. Mas pra que ficar sofrendo por gente assim? Se a pessoa não quer sua amizade, não perca tempo com ela. Se ela não quer seu amor, outro irá querer. Se ele não te deseja, outro irá. Mas se você cria um personagem, uma hora ele irá perder a graça. Se você for sincero, e for você mesmo, as pessoas poderão saber que você é alguém pra se ter ao lado pra sempre. E isso é o que vale num mundo com tanta dor como é o nosso.

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