domingo, 31 de janeiro de 2010

Promoção e deturpação

Tenho pensado demais na nova lei sancionada pelo nosso governador, que institui um projeto de promoção para professores da rede estadual. Segundo tal projeto, os professores farão uma prova, e um número que atingirá ATÉ os 20% melhores classificados nesta prova, terão um aumento de 25% em seu salário. Cada professor prestará esta prova, a cada três anos, se obedecer algumas regras, como poucas faltas, permanecer na mesma escola, etc.

Pra começar isto não é promoção coisa nenhuma. É quase um sistema de premiação por um desempenho em um determinado momento. Não se leva em consideração o histórico profissional do professor, nem sua capacidade, nada. Apenas um pedaço de papel, e sua estabilidade emocional em um determinado momento. O mais curioso nisso tudo é que temos uma enxurrada de pensadores, incluindo os oficiais dos nossos governos, em suas publicações institucionais, que nos condenam por pensarmos nas avaliações tradicionais, como provas, onde são simplesmente atribuídas notas para alunos, num critério classificatório. Então, deixa ver se eu entendi: nós não podemos fazer isso com eles, mas o governo pode fazer isso conosco.... interessante.

Mas um dos pontos que acho que seja provavelmente o mais grave, é a questão da quantidade de beneficiados por este plano. Teremos, dos cerca de 230.000 profissionais da área, um limite máximo de 20% beneficiados, ou seja, menos de 60.000. Isso se este número atingir a nota determinada pelo governo. Teremos então, cerca de 170.000 profissionais que estarão marginalizados do processo, continuando a ganhar muito mal. Isso gerará uma enorme divisão na categoria, obviamente pelo salário, e pela própria situação profissional, sabendo que cada um ganha uma quantidade diferente para exercer a mesma função, num processo que pode ser bastante questionado.

Mais estranho ainda é que o nosso ilustre governador não respeita a data-base, que apenas iria possibilitar a reposição com as perdas da inflação, o que geraria, anualmente, um reajuste bem baixo, para todos, não para uma parte, que tiver uma boa nota numa prova.

Os professores, em sua imensa maioria, se sentirão ainda mais desvalorizados, num sentimento de inferioridade extrema. Os problemas permanecerão os mesmos, e o salário da imensa maioria continuará muito defasado. Ou seja, esta lei vem criar mais um grande problema no meio deste mar que temos na nossa educação.

E para piorar, boa parte da mídia apóia esta aberração, com alguns jornais expressando em seus editoriais, como um ponto a ser enaltecido por nosso governador. Não percebem, ou não querem perceber, que é uma distorção imensa, que irá rachar em definitivo a carreira, irá afastar ainda mais profissionais da educação e contribuir para um imenso e desnecessário clima de competição. Então, só podemos pensar em duas hipóteses para justificar tal apoio: ou os jornalistas defensores desta proposta são completamente ignorantes quando comentam sobre educação, ou são totalmente mal intencionados.

Quanto ao nosso governador, não restam muitas dúvidas.

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