sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A VERGONHOSA ESCOLA SEM PARTIDO


Meu último dia como professor. Aula numa sexta série, na escola pública. Sala e aula agitadíssima. Um menino provoca sem parar uma menina, que fica irritada. Apesar de algumas broncas, ele não para. Chega um momento que ela fica de saco cheio, pega a carteira e arremessa com tudo no menino, que naquele momento estava do outro lado da sala. No último segundo ele abaixa e a carteira acerta a parede, arrancando um pedaço considerável.
Fico tentando entender que tipo de doutrinação é possível num ambiente desses. Existe uma dificuldade imensa de controlar uma sala de aula. Poucos alunos se interessam em prestar atenção. Poucos também respeitam a figura do professor.
Os poucos professores que conseguem manter a sala de aula mais ou menos controlada o fazem com ameaças e com uma postura incrivelmente ditatorial, algo que não propicia um ambiente saudável para aprendizado, mas é a única opção a se seguir.
Agora existe uma corrente inacreditável que fala em doutrinação de esquerda nas escolas. Na grande maioria, pessoas que jamais pisaram numa sala de aula e que acham que entendem bem o problema do ensino. E pregam que este é o problema.
Uma doutrinação de esquerda que não consegue explicar o conceito de comunismo, de anarquismo, de justiça social, de convivência coletiva. Uma doutrinação de esquerda que traz um povo absurdamente conservador, onde busca-se mais o controle das ações sexuais das pessoas do que combate à violência sexual, por exemplo.
Aprendi sobre comunismo no cursinho, porque na escola era impossível alguém dar aula. Meu professor era abertamente de esquerda. Mas também ensinou sobre o nazismo, sobre o liberalismo, sobre monarquia, sobre feudalismo... em 2000, meu último ano na escola, aprendi sobre vários temas políticos, que me fascinaram na época, e mantém fascinando até hoje. Eu particularmente me engajei pela esquerda, mas pessoas que estudaram comigo mantém posições de direita, assistindo às mesmas aulas.
Queria saber quantas dessas bestas que pregam essa aberração já pararam pra ler algum livro de Marx, de Locke ou de Adam Smith. Acredito que uma meia dúzia talvez tenha folhado e lido algumas frases. Isso com muito boa vontade.
Escola sem partido poderia ser definida como escola sem cérebro. O controle absoluto do que é passado em sala de aula, com censura a determinados temas e definição por outros. Isso sim, um controle e uma doutrinação expressa. Algo expressamente proibido pela nossa Constituição, que prevê a integral liberdade de aprendizagem e de ensino.
Pelo que pude acompanhar até agora, os Órgãos Especiais dos tribunais estaduais têm dado ganho de causa a quem crítica essa baboseira. O próprio tribunal de São Paulo, que eu considero o mais conservador do país, já determinou a inconstitucionalidade desse projeto acéfalo. Por 24 votos a zero. Unânime. Em decisão liminar, o STF suspendeu essa besteira, com a sustentação de Barroso de que a liberdade de ensinar e aprender não pode ser restrita.
O desconhecimento da nossa lei, inclusive nossa lei maior, leva pessoas a apoiarem essa aberração. O desconhecimento total leva pessoas a acharem que doutrinação é nosso problema. Pessoas acham que barrar determinados tipos de conhecimento é a solução para alguma coisa.
Enquanto isso, nossos professores são muito mal pagos; salas de aula e escolas estão destruídas, sem material, sem estrutura, sem estímulo. Mas para essas pessoas, essas são coisas banais, que não interferem no ensino.

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