sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A HIPOCRISIA SÉRGIO MORO (E DE TODO JUDICIÁRIO)


Como um homem formado em direito, bem como trabalhador do Poder Judiciário, não tenho qualquer admiração pelo trabalho do juiz Sérgio Moro. Creio que esses métodos muito peculiares, que não seguem minimamente os ritos legais, são um verdadeiro perigo para qualquer tipo de segurança jurídica. E com uma mítica criada em torno desse personagem, as consequências ficam imprevisíveis.
Por outro lado, acredito que a maioria esmagadora dos condenados é realmente culpado. Lula, por exemplo, com oito anos de governo, bem como vários escândalos de corrupção ligados ao seu partido e ao seu governo, por pessoas que eram muito próximas, ou mesmo braço direito, dificilmente estaria fora do esquema.
O processo do ex-presidente foi um fenômeno de rapidez. Condenado num tempo incrível, bem como todos os recursos julgados em poucos meses. Poucos casos chegam perto de algo assim. Associado a isso uma sentença onde a condenação foi amparada em fortes indícios de cometimento de crime, mas sem provas cabais, abre-se a suspeita de um julgamento político.
Isso não quer dizer que o condenado seja inocente. Não acredito nisso. Mas é preciso que o processo obedeça os ritos legais. Que sejam produzidas as provas de ambas as partes, que tenha o tempo regular definido na Constituição, que não reste dúvidas sobre culpa ou inocência.
Mesmo assim, fiz muita força pra acreditar que Sérgio Moro era apenas um juiz controverso e polêmico. Quis acreditar nesses anos, apesar das críticas, que ele baseava seus atos em modelos filosóficos, doutrinas internacionais, bem como em bases legais de outros países, ou seus próprios pensamentos de justiça.
Porém, quatro dias antes do primeiro turno, numa eleição embolada e equilibrada, o juiz soltou a delação premiada de Antonio Paloci, acusando Lula e Dilma de caixa 2 nas eleições anteriores para presidente. A delação foi feita em abril, mas liberada apenas no começo de outubro.
A pequena vantagem de Bolsonaro quanto aos demais candidatos transformou-se em uma quase vitória no primeiro turno. Fernando Haddad do PT teve a rejeição em crescimento geométrico, enquanto os demais candidatos perderam muitos votos. E Mesmo tendo segundo turno, a eleição decidiu-se a favor do candidato de extrema direita.
Vencida a eleição, depois de três dias Sérgio Moro é anunciado como ministro da Justiça. Um dia depois, sem muito pensar, ele aceita o cargo.
Sabemos que a Constituição proíbe expressamente ações político partidárias de juízes. Não apenas a associação a partidos, mas qualquer ação que seja voltada a favor ou contra algum partido. As ações de Sérgio Moro não deixam qualquer dúvida sobre sua postura. Suas ações há alguns anos são voltadas contra o PT. E agora agiu claramente pra ajudar o candidato do PSL, para depois se tornar integrante deste governo.
Um juiz teve ação direta no resultado de uma eleição para presidente. Em qualquer país do mundo isso seria um escândalo a ponto de criar uma guerra civil. A eleição seria judicializada. Por sorte, o PT não quis criar uma batalha jurídica pelo poder, o que eu considero um problema ainda maior. Mas pouca gente manifesta revolta por uma ação ilegal do juiz.
Nesse interim, não restou muitas dúvidas do caráter do juiz. Cria uma dúvida imensa sobre a legalidade de suas ações e de suas decisões. Coloca em risco a efetividade de condenações. E para piorar, cria um ambiente enorme para que muitos pensem que Lula é inocente e perseguido político, enquanto outros mantém a postura de idolatrar o magistrado.
Sérgio Moro é uma vergonha ao sistema judiciário. É uma vergonha para qualquer pessoa que se dedique de coração à justiça, a quem tenha dedicado parte da vida a entender e estudar as leis. É uma vergonha a qualquer combate ao crime, à corrupção. Uma vergonha à democracia e ao direito das pessoas tomarem suas decisões de acordo com sua própria consciência. Sérgio moro é uma grande vergonha.

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