terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os agudos e o metal


Li há pouco a nota divulgada por Edu Falaschi, do Angra, sobre seu afastamento do cenário, para cuidar de sua voz e de sua saúde. Dizia o cara sobre as imensas dificuldades em adaptar sua voz e suas qualificações para o que o público metal exigia. No fim da nota, afirmava que não mais iria fazer força para cantar como todo mundo queria, e sim aproveitar seu estilo e sua melhor faceta, para mostrar o que ele realmente é. Fiquei feliz inclusive em ver a nota do cara, porque acho que falta um pouco de abertura nas mentes fechadas dos fãs de metal.
Pra mim, não existe um vocalista no metal como Andi Deris, do Helloween. O cara substituiu um mito na banda, Michael Kiske, que possui um dos agudos mais potentes da história do heavy metal. E a voz de Deris é grave, agressiva, rasgadona. Não faltaram críticas ao estilo do cara, e para conseguir cantar as músicas antigas, teve que mudar o tom original. Mas as adaptou para sua voz, e fez alguns arranjos diferentes em seu timbre. O resultado ficou excelente, apesar de muitas críticas. Não questionando se ficou melhor ou  pior, mas o cara impôs sua personalidade nas músicas, e mantém a fidelidade de seus fãs na banda há quase vinte anos.
O grande problema no metal é a necessidade extrema de se fazer agudos, especialmente aqueles de quebrar vidros. Não importa que o cara domine drives, consiga variar de vozes limpas para guturais, nem que tenha um fôlego que ninguém tem, ou que traga emotividade extrema para todas as músicas. Se o cara não tiver um baita agudo, não serve. E não serve também um agudo normal, tem que ser aquele típico de testar cristal. Porém, se o cara não souber fazer mais nada, mas cantar em agudo, ele será deus.
Pra quem conhece o mundo do metal, especialmente o metal melódico, sabe que isso enche o saco. Não só pelo fato de terem surgido centenas de bandas trazendo músicas rápidas, virtuosas, e abarrotadas de agudos, na maioria das vezes sem sentido. É praticamente uma banda por mês nesse rumo. Todas idênticas, sem qualquer coisa que faça com que sua proposta tenha significado. E os fãs fanáticos, obviamente, têm orgasmos múltiplos por isso.
O que mais chama a atenção é o fato de quanto criticam outras propostas, por não conseguirem “atingir o mesmo agudo” de tal pessoa, ou não serem metal o suficiente. Queria saber quando foi que soltar agudinhos por aí virou sinônimo de cantar bem. Agora o cara tem que ser um “sem bolas” pra dizermos que canta pra caralho? E, na boa, não da pra perceber que você ouvir uma hora disso, sem parar, é um puta dum porre?
Até mesmo bandas tirando sarro vieram criticar esta postura, como é o caso do Massacration. Tudo bem, o vocal dos caras é ótimo, mas ele tira sarro até dizer chega desses malditos agudinhos do metal, usando agudos prolongados o tempo todo, inclusive em clipes fazendo menção ao tempo que agüenta segurar este agudo. Fora que já fez até mesmo uma brincadeira com o próprio Edu, competindo agudos. Ele tira sarro dos dogmas do metal, e a maioria das pessoas acha graça. E os xiitas, claro, odeiam a banda, por zuarem o que eles sempre idolatraram.
Nesse cenário fico ainda mais feliz com Edu, que claramente dá um basta pra esses fãs chatos do cacete, que só aceitam essas merdas de agudo. Vai ser criticado, com certeza, mas mostra um pouco de personalidade em ser ele mesmo. Da mesma forma que fico mais fã do Deris a cada dia, sendo substituto de Kiske, reerguendo a banda do abismo, e criando um novo modo de cantar heavy metal melódico, contrário a todos os malditos dogmas existentes, suportando todas as críticas infantis que foi recebendo, mostrando que nem só de agudos viverá o metal.

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