sábado, 24 de julho de 2010

Sensacionalismo não


Um dia destes estava esperando minha noiva se arrumar para sairmos, na casa dela. A televisão estava ligada, sintonizada no Brasil Urgente, da Band, com apresentação do Datena. Foi relatado um caso de estupro. O apresentador fez vários comentários furiosos contra o acusado, sem que o mesmo tivesse sido julgado. A condenação ocorreu ali mesmo, num programa transmitido para todo o Estado, sem chance de defesa pelo réu, nem possibilidade de se ouvir pessoas com pensamento contrário.
Em seguida, foi feita uma pesquisa aos ouvintes, para saber o que aquele cidadão merece: pena de morte ou prisão perpétua. As opções eram somente essas, sem qualquer outro tipo de punição ou corretivo. Ou matávamos o cidadão, ou o deixávamos preso pelo resto da vida. A direção do programa nos deu estas duas escolhas.
É lamentável que a população brasileira ainda dê tanta audiência para esse tipo de lixo, que é o jornalismo sensacionalista. Não existe qualquer tipo de informação, apenas casos de violência, a maior parte das vezes regado a mortes violentas, estupro, espancamento, etc. É criada uma situação para emocionar o telespectador, deixando-o revoltado contra os bandidos, fazendo com que fiquem sedentos por sangue e vingança.
Em nenhum momento tais programas abrangem as possíveis causas do alto índice de violência da nossa sociedade. Os problemas ligados à educação, ao desemprego, a estrutura familiar simplesmente são ignorados. O que se busca é apenas a vingança, o extermínio do bandido. Parece que esta atitude irá resolver todo o problema.
Obviamente que pessoas mais instruídas percebem a péssima qualidade de tal programa e deixam de acompanhá-los. Porém, a grande massa da população não consegue ter o discernimento necessário para entender a situação como um todo, e enxerga ali homens que lutam por elas, guerreiros que irão acabar com seus principais inimigos (ou aqueles que eles pensam ser). Cria-se então uma situação de propagação do ódio, instigando o povo ao ódio.
É complicado comentar sobre o tema, mas creio que caberia por parte das autoridades uma investigação minuciosa contra tais pseudo jornalistas, com punição severa por criarem tais sentimentos na população. Temos no nosso código penal claramente que incitar a violência é crime. Fazer justiças com as próprias mãos é igualmente um ato criminoso. E o que tais jornais fazem?
Será que estamos tão traumatizados com a censura e a ditadura, que agora qualquer um pode fazer qualquer coisa sem ser punido? Será que um jornaleco de merda como essa é menos criminoso do que o estuprador?

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