segunda-feira, 18 de julho de 2011

O esporte mais sacal de todos


Perdi alguns minutos da minha vida assistindo ao segundo set da semi final da Liga Mundial de Volei, entre Brasil e Argentina. Bem disputado, com vitória do Brasil, por quarenta e alguma coisa. Um tempão de set. Até aí, tudo legal, senão fosse pela vitória do Brasil. Final de jogo, 3X0. Emocionante, difícil, disputado, e com vitória do Brasil. Mais uma.
Há dez anos esse time vem dominando com folga totalmente o esporte. Com oito títulos da liga, num total de nove, dois títulos mundiais, dois da Copa, e um olímpico. Praticamente não tivemos outros times campeões de algum torneio, com exceção de uma vitória americana nas Olímpiadas, uma da Rússia na liga, e uma surpreendente da Venezuela no Pan. De resto, só Brasil. Pode ser 3X2, com dificuldade, mas no fim, o resultado é sempre o mesmo.
Chega uma hora que não da mais. Pra que raios eu vou assistir um jogo do Brasil, se eu sei que no fim vai ganhar? E pra que acompanhar o torneio, se mesmo perdendo um jogo no meio do campeonato, vai ser campeão? Não tem graça! Não tem mais aquela emoção de torcer, imaginando que qualquer vacilo pode ser fatal, e que o time pode ser eliminado a qualquer momento. Não, você sabe que isso não vai acontecer. E as outras torcidas também sabem, por isso praticamente não temos mais público nos ginásios, com exceção dos jogos ocorridos no Brasil, é claro, e na Polônia, fanáticos por vôlei.
O problema é que isso não é algo que ocorre nestes dez anos. Antes do domínio do Brasil, a Itália ganhava tudo, exceto Olimpíadas. Antes, eram os EUA. Mas sempre tem um time que vence a tudo e a todos, e que raramente perde um campeonato. Quando alguém consegue encerrar este domínio, começa outro. Não há como suportar acompanhar um campeonato com final previsível, ao menos que entendamos o jogo como um “Cirque de Solei”, onde apenas queremos ver o show. Mas se você pegar como esporte, é um saco!
O vôlei é um jogo feito pra ser chato: não há contato entre os adversários, e os times têm a obrigação de atacar. Um time fraco tem os mesmos três toques pra atacar, e muitas vezes não conseguem fazer com qualidade suficiente para vencer a defesa adversária, quando esta é melhor. Sendo assim, um time mais fraco não tem qualquer chance de vencer o jogo. Não há como um time pressionar e não vencer, e nem como um time compensar a falta de qualidade com a bola com alguma opção tática, com algum artifício pra irritar o adversário, ou com uma defesa impenetrável. O jogo torna-se previsível.
E os (poucos) fãs de vôlei reclamam que as pessoas não dão tanta importância para o esporte quanto para o futebol, mesmo a seleção brasileira sendo imbatível. E é exatamente por isso: você sabe qual será o resultado, enquanto no futebol, mesmo o time sendo o melhor do mundo, pode pegar um adversário bem fechado, que nos contra ataques consegue surpreender e vencer o jogo. Basta ver que no futebol tivemos a Grécia campeã da Eurocopa, sem qualquer tradição no futebol, o Once Caldas campeão da Libertadores, Santo André e Paulista campeões da Copa do Brasil, e São Caetano na final da Libertadores (coisa que time grande ainda não conseguiu). Ou seja, o fator surpresa é presente. Quando isso acontece no vôlei? Uma vez a cada vinte anos? Menos?
Por isso que este esporte não consegue ser tão popular. Por isso que no Brasil poucas pessoas o acompanham. Não há como o público se interessar quando não tem qualquer emoção ou a chance do inesperado. Quem vai pagar pra saber que seu time vai perder? Quem quer gastar dinheiro sabendo que o adversário é uma baba? Pra que esse esporte inútil existir?

Nenhum comentário:

Postar um comentário