quinta-feira, 23 de junho de 2011

Greve, o único caminho


Estou maravilhado com o mundo árabe. Depois de tantos séculos, o povo finalmente resolveu que é hora de colocar um basta em regimes totalitários, que oprimem e matam. Saíram as ruas, pegaram em armas, enfrentaram inimigos poderosos. Aos poucos, foram derrubando todos. E os poucos que ficaram, continuam sob pressão tão grande, que fica claro que é questão de tempo para que cheguem ao fim.
Mas, ao mesmo tempo, estou mais decepcionado do que nunca com o povo brasileiro. Aqui, manifestação é sinônimo de baderna. Como fez a Rede Globo, e a Bandeirantes, em seus telejornais, quando afirmou que as greves no serviço público atrapalhavam a população. E a matéria se resumiu a isso. Praticamente nada foi falado sobre as reivindicações dos grevistas, na maioria esmagadora das vezes, justa.
Criou-se uma ilusão, na cabeça do povo, que greve é coisa de vagabundo, que não quer nada com a vida. Coisa de baderneiro, pra quebrar tudo, sair na mão com a polícia, e ferrar com a vida de todo mundo. E o povo tem criado uma raiva imensa, de todo grupo que se reúne pra protestar contra alguma coisa. O que importa é que o trânsito não anda, e não o fato de os professores ganharem salários medíocres, terem dois empregos, e uma estrutura de trabalho absolutamente precária.
Aqui neste país, que está cada vez mais próximo do primeiro mundo, as pessoas continuam bestificadas, assistindo a tudo com a mesma “cara de nada” de 200 anos atrás. Aqui todo mundo pode roubar, matar, todo mundo pode desrespeitar leis de trânsito, pode violentar quantas mulheres quiserem, que o povo no máximo vai querer linchar um cidadão (como se isso fosse realmente resolver alguma coisa). Não há um forte sentimento de revolta contra a merda que fazem contra trabalhadores, contra ciclistas, contra pedestres, contra usuários de transportes, etc.
Aqui cada um quer saber do seu. E se um grupo de pessoas está reclamando de alguma coisa, no meio de uma avenida, o que importa é que estão te atrapalhando na chegada ao seu compromisso. Tudo pode continuar uma merda, desde que você flua no trânsito, seu filho vá pra mesma merda de escola, toda quebrada, com profissionais totalmente insatisfeitos e doentes, e tenham a mesma merda de aula. Contanto que você consiga receber um sorinho na mesma merda de hospital, que mal tem leitos pra quem estiver morrendo. Contanto que você consiga sair do trabalho e curtir a balada na sexta feira, ficando bêbado e pegando todas as “mina” (ou mano, sei lá) que você puder. Isso é o que importa.
Parece que as pessoas aqui neste país se recusam a entender que somente o sentimento de revolta vai mudar alguma coisa. Somente quando mostrarmos que estamos fartos de tanta “roubalheira” é que as coisas vão realmente pra frente aqui. E não reclamar em bar, e sim sair às ruas, gritar, berrar, pressionar, se manifestar. Somente quando mostrarmos que nós os colocamos no poder, nós tomamos os rumos que as coisas seguirão, e nós criamos a lei, não eles. Nós é que decidimos o que eles irão fazer, porque somos nós que votamos para que eles estejam onde estão.
E se você é empresário, não venha dizer que isso é coisa de sonhador, porque você também é o mesmo covarde que desconta no consumidor sua impotência diante do governo. Você também aceita que seu negócio seja mega tarifado, pagando uma quantidade absurda de impostos, para que nossos políticos tenham ternos caros, carros à sua disposição, materiais e comida da melhor qualidade, trabalhando três vezes por semana, ganhando um super salário. Você tem medo desses caras, e desconta em quem paga a conta, porque estes, nós, ficamos quietos, xingamos baixinho, pechinchamos, e aceitamos as coisas como são.
Mas imagine que todos você se unam, e façam greve no pagamento dos impostos, até que os valores sejam justos, e que sejam bem aplicados. Imagine que todas as médias e pequenas empresas se revoltem e simplesmente parem de pagar o que consideram excessivo. Imagine que façam sua própria greve. Será que o recado não seria claro? Será que eles demorariam tanto pra atenderem algumas das reivindicações?
Mas, não. Nós somente continuamos olhando, reclamando, e permanecendo alheios a tudo. E no meu caso, totalmente descrente em mudanças drásticas, especialmente quando a educação é reflexo dessa política desastrosa.

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