sexta-feira, 17 de julho de 2020

A CERTEZA DOS NÃO ESPECIALISTAS


O ser inominável, em uma de suas lives patéticas, recomendou o uso de cloroquina como remédio para o combate ao COVID, parecendo garoto propaganda do Sucrílhos, como disseram os apresentadores da BandNews.
No programa “O Grande Debate”, Caio Copolla vomita opiniões sobre assuntos diversos, com dados sabe-se lá tirados de onde, falando sobre doenças, sobre economia, política, história… tudo com um diploma de bacharel em direito, sem advogar e o um notebook. Ele tem sido destruído de forma impiedosa por seus debatedores, especialmente pela fantástica Gabriela Prioli, mas volta no mesmo assunto como se nunca tivesse sido tocado.
São dois exemplos do momento em que vivemos, onde pessoas absolutamente leigas falam sobre todo e qualquer assunto, sem filtro e sem pesquisa. Desenvolvem uma opinião, com base puramente filosófica, e saem propagando isso como se fosse a verdade absoluta. A situação vem do nefasto e desprezível Olavo de Carvalho, um estudante que parou no ensino médio para ser auto didata e saiu criando teorias malucas, sem qualquer base, da forma mais aristotélica possível, com mais de 2000 anos de atraso.
Você ter uma opinião sobre coisas é algo normal. Acho que tendo uma boa base de dados e informações você pode tecer um raciocínio lógico sobre qualquer coisa. E diante de fatos você pode também mudar de opinião. Desde teorias econômicas, religiosas, filosóficas, sociais, etc. Mas sair falando merda, como se fossem verdades absolutas, baseado em impressão, aí não da.
Vamos manter o exemplo da cloroquina, tão falada pelo boçal que ocupa o cargo maior da nação. Há uma centenas de estudos pelo mundo sobre o medicamento. Até o presente momento, todos demonstraram ou a ineficiência total, ou um prejuízo no seu uso. Tudo indica que ele varia entre a inutilidade ou o prejuízo. As informações fornecidas pela ciência, através de pesquisa, testes e prática revelou isso. Seria muito legal que fosse a cura mágica, mas os fatos mostraram o contrário. E eu, como um homem formado em direito e artes plásticas, não tenho qualquer informação, ou base para buscar informações suficiente, para contradizer isso. Posso postar notícias divulgando esses testes e dados, mas serão os fatos divulgados por outras pessoas.
Não há como defender essa merda. Eu não tenho conhecimento suficiente para tal. Um militar expulso menos ainda. E pessoas que nem concluíram o ensino médio sequer entendem a pesquisa científica para começarem a falar sobre o assunto.
Estamos diante de um caso em que não importa o que você acha. Sua opinião não vale merda nenhuma. Existem pessoas que passaram uma vida inteira estudando e permanecem fazendo isso, com a devida técnica, para que alguma substância tenha um efeito positivo no combate à doença. Se essas pessoas estão dizendo, com base em dados firmes, que isso não ocorre, a única forma de conseguir contestar isso é fazer um estudo ainda mais amplo, com dados claros e alta taxa de testagem pra provar que está errado. Você consegue fazer isso? Se a resposta é não, recolha-se à sua ignorância no assunto.
Um outro exemplo que eu costumo dar para as pessoas é sobre a nutrição. Quem me conhece sabe que eu tive ao longo dos últimos anos em constantes e intensas brigas em diversos assuntos com minha ex mulher, mãe do meu filho. Raramente um assunto não era pautado na briga. Exceto um: nutrição. Ela tem formação acadêmica no assunto, e trabalha na área. Eu, como citado, sou formado em artes e direito. Aí, quando ela faz alguma recomendação em relação à alimentação do nosso filho, que base tenho eu pra dizer que ela está errada? Eu tenho que brigar pra deixar ele comer chocolate, por exemplo, porque é gostoso? Eu nunca parei mais de uma hora de algum dia meu pra ler sobre esse assunto. Ela estudou por cinco anos, e continua estudando ainda hoje. A diferença do nível entre nós nesse tema é um abismo. E provavelmente seria ridículo, aos olhos dela, se eu entrasse nessa briga.
Mas agora nós descobrimos uma série de especialistas em um monte de coisas, feitos nos cursos de whatsapp e twitter. Médicos, engenheiros, advogados, juízes, procuradores, psicólogos, artistas (esses são os que eu odeio com todas as minhas forças), que jamais pegaram uma porra de um livro pra ler, sobre qualquer desses assuntos. Caras que trabalham batendo carimbo, mas entendem tudo. Jamais foram a uma exposição de artes, um teatro, nunca leram Machado de Assis, ou qualquer autor minimamente consagrados, mas querem dizer o que é ou não arte.
E essa gente se espalhou pelo Brasil, de uma forma mais intensa que a própria pandemia. Tomaram conta de tudo. Arrumam encrenca com qualquer um que discorde. Vimos casos inclusive de agressão física, como no protesto de médicos em Brasília, ou o motorista de ônibus agredido em Belo Horizonte por não permitir que passageiros entrassem no veículo sem máscara.
É muita boçalidade pra pouco espaço territorial.
Deixo aqui como dica de leitura uma obra prima que mudou muito sobre meus conceitos sobre pesquisa científica. “O Maior Espetáculo da Terra”, de Richard Dawkins. Sim, um dos maiores teóricos do ateísmo. Mas nessa obra ele nada relata sobre religião. Na tentativa de explicar a Teoria da Evolução, o que é feito com um brilhantismo característico, ele desenvolve diversos exemplos sobre como funciona o método científico, como ele pode ser refutado e como a ciência não foi feita para agradar a opinião de ninguém. Uma linguagem simples e direta, possível até mesmo para cara de humanas, como eu. Exceto se sua capacidade cerebral for do nível Olavo de Carvalho.

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