sábado, 7 de dezembro de 2019

O MOMENTO MAIS SOMBRIO


Tenho 39 anos. Quando encerrou-se a ditadura militar eu tinha oito anos. Era pequeno demais, e com pouco conhecimento social para entender o momento. Aquele sem dúvida foi nosso momento mais triste.
Porém, do que eu vivi, sem a menor sombra de dúvida estamos vivendo o momento mais triste da história desse país. A eleição do fascista e mais alguns que vieram a tira colo, seus ministros e aliados, revelaram o lado mais podre e desprezível do nosso povo. Pessoas, até então tidas como boas e sensatas, se revelaram, ou ficaram completamente malucas. Eu diria que cerca de um terço do nosso povo mostrou seu lado repulsivo. E isso não tem volta.
Já escrevi muito sobre as ações desse psicopata. É um show de horrores sem fim. E eu definitivamente não consigo aceitar seres humanos não tendo um pingo de compaixão com outros seres humanos. O que temos aqui nesse momento é uma perseguição imensa contra vários tipos de minorias, bem com um estímulo institucional a essa perseguição, muitas vezes violenta. E o povo que apoiou esse doente ao invés de se revoltar com essa situação tenta usar todo tipo de argumento para justificar a barbárie.
Desde que ele se tornou o nome forte da extrema direita, o que tivemos foi uma perseguição declarada aos homossexuais, inclusive com declarações diretas desse boçal afirmando que o Brasil não gosta de gays. Seguiu-se na mesma época a perseguição às mulheres, especialmente as que seguem o movimento feminista.
Depois disso tivemos ataques diretos ao meio ambiente e aos povos indígenas, com queimadas e desmatamento recorde e absoluta inércia do governo, sendo atacados inclusive por outros países, revoltados com a letalidade desse atual governo. No embalo seguiu-se assassinatos a ambientalistas, e uma série infindável de ameaças.
O movimento negro também foi alvo, com declarações desprezíveis de que o Brasil não teve escravidão, seguidas de que a escravidão ocorreu por causa dos próprios negros, e depois afirmando que a escravidão foi boa para os negros. Aquela coisa que tentava arrumar e ficava ainda pior.
Uma pregação religiosa imensa, onde o programa evangélico passou a fazer parte do programa de governo, e todos aqueles que não eram evangélicos passaram a ser alvos desse governo doente. Especialmente os seguidores das religiões de origem africana. Com tentativa de imposição de culturas, costumes e regras.
Os funcionários públicos passaram a ser perseguidos. Foram tratados como culpados pela situação do país, como se estivessem recebendo verdadeiras fortunas e não trabalhassem para isso. Iniciamos uma série de projetos de retirada total de direitos, cortes de salários, xingamentos.
Por fim, essa semana veio o massacre de Paraisópolis. Um baile funk, repleto de pessoas pobres, negras e com baixa escolaridade, foi reprimida com absurda violência. Nove mortos, um de 14 anos. Pessoas espancadas apesar de rendidas. E olha que eu abomino baile funk e os exageros na perturbação que causam. Mas você não reprime barulho com assassinato.
Isso pensando no que eu fui capaz de lembrar agora. Vários grupos, geralmente fazendo parte de minorias, tratados com ódio. Atacados, especialmente com fake news (vai dizer que você nunca recebeu declarações que feministas tinham pelo no sovaco?). Que passaram a ataques reais. O programa de ódio se espalhou.
Uma das regras básicas para ser considerado humano é ter compaixão pelos semelhantes. Analisar o sofrimento alheio e ter um pingo de sensibilidade. Tentar ajudar, de alguma forma, nem que seja criticando atos criminosos, ainda mais os cometidos de forma institucional.
Aqueles que não conseguem agir de forma minimamente humana, que não só não ligam, como justificam e enaltecem o sofrimento, não podem, em hipótese alguma, serem chamados de seres humanos. Não merecem respeito, não merecem qualquer atitude positiva.
Pessoas assim não devem fazer parte de uma sociedade. Esse tipo de pensamento deve ser estirpado. Muitas dessas coisas já deveriam ter sido tornadas crime há muito tempo.
O apoio a este governo psicopata não é só o apoio ao atraso. É o apoio ao ódio, à morte, ao sofrimento. E o apoio a que todos os que pensam diferente sejam esmagados. Não há nada mais entre direita e esquerda, até porque ser feminista, ser laico, não ser racista, ou tudo aquilo que foi descrito, não é uma característica de alguém da esquerda. É de alguém com um mínimo de vergonha na cara. E existem sim muitas pessoas da direita que sabem disso e defendem pontos de vista que valorizem a raça humana.
Até quando vamos aceitar essa barbárie sem fazer nada? Já passou da hora de nos levantarmos e mostrar que ainda temos um pouco de decência como seres humanos.

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