terça-feira, 10 de dezembro de 2019

ENQUANTO ISSO, O LIBERALISMO


Sim, eu sou um liberal. Nos costumes. Acredito piamente que as pessoas têm o direito de serem, viverem e acreditarem no que as fazem feliz. Seja opção sexual, religiosa, amorosa, musical, ou que porra ocorrer. A própria liberdade é pressuposto básico de qualquer democracia, assim como do capitalismo. Adam Smith trouxe em sua obra a individualidade e o respeito a cada ser humano, o que foi consolidado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. E isso já deveria ser pressuposto básico na mente de cada um.
Mas não é. E em muitos aspectos, o liberalismo econômico ajuda a manter esse quadro maluco. A ideia trazida à tona por Adam Smith, como a expressão máxima do capitalismo, que inclusive foi a responsável pela criação do comunismo, em resposta, que de liberal, na prática, não tem nada.
Se você ler o que diz o liberalismo certamente você vai se apaixonar. A ideia é excelente. As pessoas são responsáveis pelo próprio sucesso. Fazem suas escolhas, seu caminho, ganham ou perdem de acordo com seu mérito, partindo de igualdade de condições, cada um buscando de acordo com suas necessidades e seus sonhos.
Lindo, né?
Mas não precisa ser nenhum gênio pra ver com clareza que isso é uma imensa merda, e que na prática é impossível dar certo. Infelizmente quase 300 anos não foram suficientes para deixar claro pra muita gente isso.
Gostaria de começar me questionando sobre essa ideia de igualdade de condições. Eduardo Bolsonaro nasceu nas mesmas condições que um catador de lixo na sua época? Se é muito, pensemos no filho do Lula em comparação com o mesmo catador. Há igualdade de condições entre essas figuras? Eles terão que participar de batalhas minimamente semelhantes para atingirem o mesmo sucesso? Eles serão brindados com a mesma educação? Com as mesmas condições de transporte? Terão ambos alimentação adequada, da mesma forma?
É óbvio que não. As condições financeiras iniciais fazem com que o caminho dos filhos de políticos sejam incrivelmente mais fáceis. E se fosse não quer pensar nesses grupos, é só imaginar filhos de empresários com fortunas, de pessoas ricas em qualquer natureza. Em contrapartida a quem não tem qualquer condição. A luta já começa absurdamente desigual, e nunca a desvantagem será relativizada nesse tipo de sociedade.
Existem as exceções. Pessoas que vêm da pobreza e se dão muito bem, fazendo fortuna, enquanto existem ricos que afundam na miséria ou em algum tipo de desgraça. O primeiro caso é muito raro. Praticamente um milagre. O segundo, na nossa sociedade tão doente e problemática, tem se tornado mais próximo da regra do que da exceção.. Mas no geral, quem nasceu pobre, irá morrer pobre, não importa o quanto se esforce.
Quem detém os meios de produção detém o poder. E nesse caso, sendo bem claro, manda quem tem dinheiro. Quem tem poder financeiro escolhe como a coisa caminha. Quem não tem, precisa dele pra sobreviver. Precisa de emprego, e este será oferecido por quem tem dinheiro. E as condições de como será essa relação será dada pelo dono do capital. Porque se o pobre não quiser se sujeitar, muitos outros famintos estão esperando por isso.
Daí temos jornadas extenuantes, cobrança de produtividade desumana, salários muito abaixo do que seria justo e muito assédio. E diante do poder nulo do trabalhador, é aceitar ou morrer de fome. Daí entramos no conceito de mais-valia, de Karl Marx, que é absolutamente perfeito. O rico ficará cada vez mais rico. E o pobre mais pobre. A desigualdade social no liberalismo econômico aumenta cada vez mais.
E o Estado pouco interfere. Não há leis de proteção, não há direitos, não há programas de incentivo, nem carga tributária que garanta a distribuição de renda. Apenas uma imensa passividade diante do caos espalhado por quem tem poder. E pensando no sistema capitalista, o objetivo é o lucro. E este se dará acima de qualquer coisa.
Não sem motivos em todos os momentos que essa aberração foi implantada, foi um desastre. Às vezes não de cara. Em geral, costuma ter alguns momentos de estabilidade, diante de problemas deixados sem solução em outros sistemas. Mas a desigualdade social cresce de forma geométrica nesse sistema, até o anseio social explodir. Isso pode ocorrer na mudança de rumos em eleições, ou em revoluções, como o que ocorre no Chile atualmente.
Até tivemos o neoliberalismo, onde o Estado intervinha, mas bem pouco. Não nego que seja melhor que o liberalismo puro, até porque pouca coisa é pior que esse caos. Mas ainda assim o capital manda e desmanda. Empresas e empresários, com dinheiro, dão as cartas. Existem limites, mas nem sempre são respeitados.
E agora o que se começou a perceber é que o liberalismo anda de mãos dadas com o autoritarismo. Para que se tire direitos e deixe-se de haver um Estado regulador, é preciso um Estado opressor. Pessoas tendem a se rebelar contra injustiças. Aí entra o governo, pra desintegrar tais manifestações. Tira-se de circulação os desordeiros, trazendo suas figuras como criminosos, enquanto as pessoas perdem cada vez mais sua dignidade.
Basta ver Paulo Guedes. Esse ser abominável esteve presente na ditadura mais sanguinária da América Latina. Foi responsável por um sistema que trouxe a pobreza extrema, especialmente aos mais velhos, o que agora transformou o país num barril de pólvora e ódio, incontrolável (e que espero que sirva de inspiração para o nosso país!). Mas não só isso: ele quer inserir essas ideias cretinas no nosso país. Acredita que pobres não poupam porque não querem (comer é só um luxo dispensável). Defende abertamente um AI-5, o ato mais repugnante da história do nosso país. Defende que direitos sejam eliminados, que pobres paguem mais e mais impostos, inclusive pra trabalhar. E a mesma pobreza na velhice. E para isso, precisa tratar quem pensa diferente como inimigo. Agora seu alvo são os servidores públicos (categoria da qual eu faço parte). Ameaça regras que dão ao Estado o poder de cortar salários.
O liberalismo é sofrimento. É o caos. A fome, e a miséria. E a tirania. Esse sistema jamais foi implantado em qualquer sociedade que tenha atingido um mínimo de igualdade social. Não há justiça. Só sofrimento e dor. É comprovadamente um desastre. A não ser para quem está cagando para seus semelhantes. Curiosamente, boa parte se auto-denomina cristãos.

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