domingo, 27 de outubro de 2019

ENFIM, OS LOUROS DA ALEGRIA


Daqui a uma semana completo meus 39 anos. Beirando os 40. De uma vida turbulenta, cheia de problemas, conflitos e sofrimento. Como qualquer um.
Escrevi aqui, no facebook e sei lá mais em qual rede social, que sempre me considerei um vencedor. Comprei minha casa própria, em um condomínio fechado. Comprei um carro à vista. Tive várias nomeações em concursos públicos. Tenho dois diplomas de nível superior. E hoje, quase quarenta anos depois, eu vejo que tudo isso não passa de um monte de lixo inútil, que trouxe pouca coisa útil à minha vida.
Eu vivi seis anos em casa que eu comprei, que eram o sonho da minha vida. Tive por mais tempo esse carro, pela qual até aprendi a dirigir, e fiquei bom nisso. Tive uma família completa, que era meu grande sonho. Me tornei chefe no cartório em que trabalho. E não fui feliz um único dia.
Eu vejo um monte de gente falando em ganhar dinheiro, ser rico, montar negócio, viajar o mundo. Vejo gente tentando ter o corpo dos sonhos. Pagar a escola mais cara do mundo aos filhos. Gente que quer carro novo todo ano. O tempo todo. E isso é nada. Não vale nada. E quando você menos espera, toda essa merda sem sentido está te levando pro fundo.
Passado um ano do pior pesadelo que eu poderia viver, não consigo expressar em palavras a grande mudança que tive na minha vida. Vivo numa casa de aluguel, sem carro, fazendo tudo no sacrifício, tendo basicamente a conta no vermelho todo mês, tendo que bater boca com meio mundo no trabalho... mas nunca me senti tão feliz como nesse momento.
Eu posso dizer que hoje sei quem eu sou, descobri meu verdadeiro valor e minhas qualidades. Aprendi a lidar com muitos dos meus defeitos, ainda tendo consciência dos muitos que existem por lidar. Sei quais valores devem ser mantidos, e quais eu quero longe da minha vida.
Sou um homem livre de qualquer preconceito. Tenho relacionamento perfeito com pessoas de qualquer cor, de qualquer orientação sexual, de qualquer religião... mas na verdade tenho amigos que ao longo de quase quarenta anos fizeram uma vida toda valer a pena. Pessoas diferentes de mim, que já travaram altas discussões por motivos mais estúpidos o possível, mas que podem ser considerados irmãos de uma vida.
Vi minha família, sempre desestruturada, encontrar um norte. Cada um de seu jeito, com problemas que não ficaram muito solucionados, mas com união. União à distância, porque todo mundo mora longe pra caralho, e quem vive com a conta no vermelho não tem muitas condições de ficar indo ver toda hora. Mas união.
Eu tenho um filho lindo, espetacular. E mais: eu nunca achei que teria capacidade de ser um bom pai. Quando soube da gravidez entrei em pânico. Medos vieram como um bombardeio. Mas as coisas se arrumaram. Hoje, com quase dois anos, esse menino é quase um grude comigo. Não da um trabalho maior do que testar minha capacidade física de acompanhar sua energia. Dificilmente está ao meu lado de alguma forma que não seja sorrindo. Já tive que ouvir muita merda sobre minha relação com ele. Até mesmo que não era bom pai, que era ausente e que não ligava pro meu filho. Pessoas viraram a cara pra mim por causa disso. Mas o resultado é evidente e inegável. Quem me vê na convivência com ele percebe claramente o quão podres e mentirosas são tais palavras, de pessoas que vivem num amargor de ressentimento e frustração. Enquanto eu simplesmente vejo o lindo sorriso desse pequeno ser. E vivo ouvindo “Quem diria, hein?”
Aprendi a impor limites. Por muitos anos vivi uma história infeliz, porque acreditava que tinha que aturar coisas insuportáveis por viver uma posição social definida, e por não poder abandonar uma pessoa que escolheu deliberadamente viver em problemas. O resultado é que os problemas se aprofundaram e tomaram conta de mim também. E hoje se a coisa for contra mim, o pau come. Não aceito mais o que é errado, ou o que pode me ferir. O que não significa que não aceite nada. Muitas vezes tomamos medidas que não são as mais perfeitas, para adequar uma boa vida de um filho. Até porque muitas vezes o outro lado tem uma boa parcela de razão.
Eu fiz uma tatuagem. Algo que eu queria há 20 anos. E por motivos diversos nunca concretizava. Ainda não consegui terminar, porque foram tortuosas 6 horas de dor, restando ainda mais. Mas é questão de cicatrizar de vez a pele e finalizar o processo. E o resultado é que estou completamente apaixonado por essa maravilha! É um sonho estúpido virando realidade. E já estou pensando em mais! Irei fechar meu braço esquerdo de desenhos. Sim, isso irá acontecer, gostem ou não. E não percam seu tempo tentando me fazer mudar de ideia. Nada vai. Se eu vou perder algum cargo importante por isso? Foda-se! Não é o que me preocupa na vida mais.
Comi mulheres ao longo desse tempo. E só uso esse termo porque usei com elas. E tenho um orgulho absurdo em dizer que elas se tornaram boas amigas. Pessoas que mudaram a forma que eu me via. Levei alguns foras também. Talvez mais do que as que tenha comido. E a maioria também virou minha amiga. E também ajudou a melhorar o meu modo de ver e agir. Acredito que tenha sido bom pra elas também. Pelo menos consegui arrancar delas sorrisos e risadas. Acho que isso vale muito a pena.
Conheci muita gente bacana. Continuo conhecendo. Vivi momentos que nem imaginava serem mais possíveis. Encontrei muito do que eu buscava ao longo de quarenta anos. E ainda falta coisa pra caralho pra encontrar. Minha saúde melhorou, meu corpo melhorou, minha mente melhorou. As pessoas demonstram muito mais felicidade em estarem ao meu lado. Eu escuto com uma frequência incrível o quão melhor eu estou.
E eu encontrei o vegetarianismo. Está entre as melhores coisas que me aconteceu. Ter a possibilidade de viver sem fazer parte de um ciclo de morte e dor é algo que faz muito, mas muito bem para o espírito. Saber que qualquer ser vivo é digno de respeito e paz, e que na medida do possível eu faço minha parte para isso, é fantástico. A sensação de felicidade em fazer parte desse mundo é indescritível. E espero muito em breve fazer parte do veganismo. Ainda faltam algumas etapas, mas eu chego lá.
E ainda veio o Eddie. Um gatinho magro e abandonado que apareceu no quintal de casa. Um doce, que eu sabia que faria parte da minha vida, e hoje, uns seis meses depois, dorme agora no sofá, gordo pra cacete, extremamente dócil e o “brinquedo” preferido do meu filho - “anedi”.
Eu perdi muita coisa ao longo desses anos. Materialmente fui à ruína. Mas emocionalmente, espiritualmente, nunca fui tão rico.
Depois de tanto tempo, nem tenho ideia de qual foi a última vez, poderei passar um aniversário realmente feliz.

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