sábado, 1 de junho de 2019

EVANGÉLICO NO STF?


O presidente, em mais uma de suas intermináveis pérolas, em uma conferência de igrejas evangélicas, afirmou que já está na hora de colocar um evangélico no STF, um “cristão assumido”, numa reação à decisão do órgão supremo em classificar homofobia como crime, além de demonstrar sua total ignorância ao afirmar que o judiciário legislava, 31 anos depois da CF ter sido promulgada sem regulamentação da lei.
Pelo que podemos entender, ao colocar no STF um evangélico, o ministro em questão seria guiado por dogmas religiosos e bíblicos. Segundo sua informação, destilando preconceito e isolando grupos que, segundo a interpretação de alguns líderes, são contrários à doutrina cristã. Nosso presidente afirma que os evangélicos são preconceituosos, homofóbicos e não se pautam pela lei do país. Uma quantidade incrível de problemas em poucas palavras.
Primeiramente, falando sobre os evangélicos em si. Sou um “ateu praticante”, como já me definiram. Apesar disso, meu melhor amigo é evangélico. Amigo há uns 30 anos, que conhece minhas críticas ferozes à religião, e isso nunca virou motivo de brigas. Da mesma forma que ele manifesta com certa frequência sua fé, sem gerar qualquer problema.
Além dele, conheço inúmeros evangélicos que são pessoas excelentes, com opiniões diferentes das minhas, mas que respeitam quem com eles não concorda. Costumo ter uma relação melhor com pessoas dessa religião do que muitas outras, consideradas mais light.
Dessa forma, o presidente coloca os evangélicos numa situação altamente desconfortável, classificando-os como pessoas incrivelmente separatistas, inimigas de tudo o que é diferente. Não sou capaz de afirmar a porcentagem de pessoas que realmente pensam assim dentro da religião, talvez metade. Mas existem muitos que apenas seguem a fé, mas de forma alguma nutrem preconceito ou ódio por ninguém. Espero que dentro do grupo sejam a maioria. Ou seja, o presidente age contra os evangélicos.
Mas o maior problema dessa fala é a regulamentação legal dentro do país. Qual a importância do cara ser evangélico, católico, espírita, ateu, ou qualquer merda, dentro de um poder como o judiciário? E o mesmo deveria valer para os demais poderes!
Juízes estão ali pra julgar todos os cidadãos, de acordo com a lei nacional. E a nosssa CF da liberdade para as pessoas seguirem a fé que quiserem, para agirem ideologicamente como quiserem, e para se relacionarem como quiserem. Se sua religião não permite algum tipo de relação, de ideias, dentro da sua fé você faz o que acha correto. O que não pode, em hipótese alguma, é trazer isso como uma determinação para todas as pessoas.
A homofobia tem sido classificada como crime porque pessoas são mortas especificamente pelo fato de serem homossexuais. Além do crime do homocídio, já definido em lei, há um agravante, que poderia ser classificado motivo torpe, mas diante do crescente número de pessoas mortas por isso, podendo também ser enquadrado numa categoria dentro do racismo, fez-se necessário o enquadramento penal.
Um juiz, seja da crença que for, da ideologia, da idade e do gênero que for, deve interpretar o fato de uma pessoa ter o direito de seguir o que quiser, transar com quem quiser, bem como a ofensa desse direito, e a ofensa do direito à vida.
O que importa é o juiz ter respeito pelos direitos, pelos seres humanos e seres vivos em geral, respeito pelo fato de sermos um país democrático, laico e plural. Não há problema algum no cara ser evangélico. O problema é se ele usar isso como desculpa para implantar sua crença, e não a lei.
Essa foi uma imensa bola fora do presidente, combinada com mais um monte, que torna constantemente nosso país como motivo de piada total.


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